Categoria: Urgências Cirúrgicas

DIRETO AO PONTO: Dipirona na Neonatologia

DIRETO AO PONTO: Dipirona na Neonatologia

Paulo R. Margotto.

O mecanismo do efeito analgésico da dipirona  não é exatamente conhecido. A dipirona é um inibidor da ciclooxigenase, tanto COX-1 quanto COX-2. Acredita-se que a inibição da biossíntese de prostaglandinas contribua para a atividade analgésica. Em contraste, seu uso em muitos outros países foi proibido devido ao possível risco de agranulocitose (contagem de neutrófilos ˂500/μL ). A agranulocitose é uma condição de saúde potencialmente fatal. Esse risco de agranulocitose parece aumentar com o tempo de uso, embora desapareça 10 dias após a última dose. Devido ao risco de agranulocitose, não é mais utilizado nos Estados Unidos desde o início da década de 1970, quando foi retirado do mercado farmacêutico. Na Alemanha, o seu uso é liberado a partir de 3 meses.  Outras complicações: hipotensão arterial, sudorese excessiva, hipotermia  e edema. Documento Científico elaborado pelos Departamentos Científicos de Pediatria Ambulatorial e de Infectologia sobre a dipirona alerta o uso de dipirona 1gta/kg (1 gota contém 25 mg de dipirona!!!!). Documento Científico desse Departamento   cita o  paracetamol  como  o único antitérmico recomendado para febre em menores de 1 mês, sendo sua dose ajustada segundo a idade  gestacional. A literatura não respalda usar a combinação de dois deles (paracetamol, ibuprofeno, dipirona), intercalando-os para melhor efeito terapêutico (baixar a temperatura), pois o risco de eventos adversos. Todos os antitérmicos têm o mesmo mecanismo de ação (inibição da PgE2). O paracetamol pode ter efeitos centrais, mediados através de vias serotoninérgicas e tem uma influência metabólica ativa nos receptores canabinóides. Já disponível no Brasil o paracetamol endovenoso.

The phenotype of cardiovascular disease in Congenital Diaphragmatic Hernia – O fenótipo da doença cardiovascular na hérnia diafragmática (1o Congresso Internacional de Neonatologia do DF, 30/11 a 1/12/2022)

The phenotype of cardiovascular disease in Congenital Diaphragmatic Hernia – O fenótipo da doença cardiovascular na hérnia diafragmática (1o Congresso Internacional de Neonatologia do DF, 30/11 a 1/12/2022)

Gabriel Altit (Canada)

Estratégias de extubação após correção de Atresia de Esôfago

Estratégias de extubação após correção de Atresia de Esôfago

Extubation strategies after esophageal atresia repair.Aworanti OM, O’Connor E, Hannon E, Powis M, Alizai N, Crabbe DCG.J Pediatr Surg. 2022 Mar;57(3):360-363. doi: 10.1016/j.jpedsurg.2021.07.013. Epub 2021 Jul 24.PMID: 34344531. Reino Unido.

Apresentação: Gabrielly Nascimento Ferreira – Residente de Neonatologia HMIB/SES/DF. Coordenação: Carlos Alberto Moreno Zaconeta.

A extubação na UTIN dentro de 24 HORAS APÓS a cirurgia apresentou o menor risco de reintubação. Para bebês com anastomose apertada, a ventilação pós-operatória eletiva pareceu conferir um benefício protetor sem incorrer em alto risco de complicações de reintubação. O uso de CPAP nasal no período pós-extubação imediato parecia ser seguro e pode não estar associado a um risco aumentado de vazamento da anastomose ou recorrência da fístula. Isso deve ser considerado especialmente em bebês prematuros nos quais a ventilação invasiva prolongada  leva à doença pulmonar e, portanto, deve ser cuidadosamente transferida para ventilação não invasiva o mais rápido possível.

CATETERISMO UMBILICAL: PRECISAMOS FALAR SOBRE OS RISCOS

CATETERISMO UMBILICAL: PRECISAMOS FALAR SOBRE OS RISCOS

Marta David Rocha de Moura e Paulo R. Margotto.

As complicações com cateteres umbilicais são geralmente causadas por mau posicionamento., embora a posição correta do cateter não garante uma cateterização memorável, isenta de possíveis complicações.

A ponta do cateter deve ser colocada entre o diafragma e o átrio esquerdo.

O risco de complicações do cateter umbilical aumenta com base no tempo de permanência. Para avalia a localização use de preferência a ecocardiografia funcional ou ultrassonografia.

Acesso Vascular no recém-nascido (cateterismo de vasos umbilicais/cateterismo venoso central de inserção periférica)

Acesso Vascular no recém-nascido (cateterismo de vasos umbilicais/cateterismo venoso central de inserção periférica)

Capítulo do Livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, HMIB/SES/DF, 4a Edição, 2021.

Carla Pacheco Brito, Felipe Teixeira de Mello Freitas, Kátia Rodrigues Menezes, Ludmylla de Oliveira Beleza, Renilde de Barros Tavares, Paulo R. Margotto.

A inserção de Cateteres Intravasculares é um dos procedimentos mais comuns em UTI Neonatal. O uso de dispositivos intravasculares centrais em neonatologia é indispensável, pois são utilizados principalmente para a infusão de fluidos, eletrólitos, nutrição parenteral, hemoderivados, exsanguíneotransfusão, drogas, monitorização dos pacientes graves e intervenções cardíacas/vasculares. A sua utilização, muitas vezes necessária por períodos prolongados, é devido às características próprias dos pacientes que, frequentemente, apresentam impossibilidade de via oral para nutrição e medicamentos, disponibilidade limitada de vasos periféricos e pela sua própria gravidade. É um acesso vascular imprescindível, mas que coloca os pacientes em risco de várias complicações

A perfuração intestinal espontânea (PIE) logo se tornará a forma mais comum de doença intestinal cirúrgica no recém-nascido de extremo baixo peso (ELBW)

A perfuração intestinal espontânea (PIE) logo se tornará a forma mais comum de doença intestinal cirúrgica no recém-nascido de extremo baixo peso (ELBW)

Spontaneous intestinal perforation (SIP) will soon become the most common form of surgical bowel disease in the extremely low birth weight (ELBW) infant. Swanson JR, Hair A, Clark RH, Gordon PV. J Perinatol. 2022 Apr;42(4):423-429. doi: 10.1038/s41372-022-01347-z. Epub 2022 Feb 17.PMID: 35177793 Review.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Os recentes dados nos dizem que a enterocolite necrosante (ECN) está diminuindo enquanto a PIE está a caminho de se tornar a forma cirúrgica mais prevalente de doença intestinal neonatal adquirida em nossos bebês menores. As implicações desta observação são profundas. ECN cirúrgica e PIE (que universalmente requer intervenção cirúrgica) são conhecidas por terem resultados de longo prazo igualmente ruins e juntos são os dois maiores fatores de morbidade pós-natal na UTIN. Entre os fatores responsáveis pela diminuição da ECN estão a otimização das dietas com leite humano, redução do uso de antibióticos precoces e bloqueio ácido e a administração mais prudente de transfusão sanguínea. Quanto ao aumento a PIE, principalmente entre os RN de 22-24 semanas (já supera a ECN) se deve ao aumento da sobrevida desses bebês na zona perivíavel. No entanto há uma prevalência grande de diagnóstico errôneo de PIE, sugerindo fortemente que a grande maioria dos ensaios controlados e randomizados de probióticos provavelmente foram contaminadas por PIE. Essa pode ser uma das razões pelas quais não temos recomendações universais para probióticos (podem funcionar ou não) na prevenção da ECN.  É importante que saibamos que A ECN é uniformemente uma doença de inflamação da mucosa, enquanto a PIE se apresenta como uma doença de distúrbio contrátil do músculo liso e remodelação mesenquimal. Os autores propõem definição para ambas as condições, enfocando que a PIE ocorre nos primeiros 10 dias e, sobretudo nos bebês <28semanas de gestação. Interessante: estudos mais recentes não mostraram a associação ente sulfato de magnésio pré-natal e perfuração intestinal espontânea.

Variabilidade na duração do antibiótico para enterocolite necrosante e resultados em uma grande coorte multicêntrica

Variabilidade na duração do antibiótico para enterocolite necrosante e resultados em uma grande coorte multicêntrica

Variability in antibiotic duration for necrotizing enterocolitis and outcomes in a large multicenter cohort.Ahmad I, Premkumar MH, Hair AB, Sullivan KM, Zaniletti I, Sharma J, Nayak SP, Reber KM, Padula M, Brozanski B, DiGeronimo R, Yanowitz TD; Children’s Hospitals Neonatal Consortium NEC Focus Group.J Perinatol. 2022 Jun 27. doi: 10.1038/s41372-022-01433-2. Online ahead of print.PMID: 35760891.

Apresentação: Amanda Silva Franco Molinari (R4 em Neonatologia da Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF). Coordenação: Miza Vidigal.

O tratamento da enterocolite necrosante (NEC) é de suporte e inclui antibioticoterapia devido à preocupação com a inflamação induzida por bactérias como uma possível causa da NEC. Os cursos de antibióticos demonstraram alterar o microbioma intestinal, o que pode afetar a tolerância à alimentação. Nesse estudo, bebês nas categorias de antibióticos mais longos levaram mais tempo para atingir a alimentação completa e tiveram um tempo de internação hospitalar mais longo, além de maior incidência de estenose pós-NEC. É imperativo que desenvolvamos diretrizes padronizadas de antibióticos para o manejo da NEC clínica e cirúrgica. Uma maneira de promover um microbioma intestinal saudável é o uso do leite materno, que contém vários fatores de crescimento, células imunes, oligossacarídeos que promovem o crescimento de bactérias benéficas e microbiota para colonizar o intestino. Embora vários estudos tenham mostrado que o leite materno reduz o risco de NEC, ele também pode ajudar na fase de recuperação, promovendo o crescimento e a adaptação intestinal. Isso é consistente com a descoberta de que o leite materno é um fator significativo na análise multivariável, minimizando o tempo para alimentação completa em bebês com NEC médica e cirúrgica.

HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA CONGÊNITA (Congenital diaphragmatic hernia)

HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA CONGÊNITA (Congenital diaphragmatic hernia)

Zani A, Chung WK, Deprest J, Harting MT, Jancelewicz T, Kunisaki SM, Patel N, Antounians L, Puligandla PS, Keijzer R.Nat Rev Dis Primers. 2022 Jun 1;8(1):37. doi: 10.1038/s41572-022-00362-w.PMID: 35650272 Review.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Excelente e profunda revisão sobre essa grave patologia nas Unidades Neonatais publicada esse mês, enviada a nós pelo colega Dr. Guilherme Sant´Anna (Canadá). As altas taxas de mortalidade e morbidade associadas à HDC estão diretamente relacionadas à gravidade da fisiopatologia cardiopulmonar (tem origem poligênica em aproximadamente um terço dos casos!). O manejo pós-natal concentra-se na estabilização cardiopulmonar (é importante o ecocardiograma nas primeiras 24 horas de vida!) e, em casos graves, pode envolver suporte de vida extracorpóreo. As diretrizes de prática clínica continuam a evoluem devido à rápida mudança no cenário das opções terapêuticas, que incluem o manejo da hipertensão pulmonar, estratégias de ventilação e abordagens cirúrgicas. Sobreviventes muitas vezes têm morbidades multissistêmicas de longo prazo, incluindo disfunção pulmonar, refluxo gastroesofágico, deformidades musculoesqueléticas e comprometimento do neurodesenvolvimento. o tratamento da HDC não deve ser interrompido quando os neonatos recebem alta hospitalar. O acompanhamento multidisciplinar de longo prazo visando à morbidade ao longo da vida associada à HDC e a transição dos cuidados para a vida adulta são necessários para caracterizar o curso da HDC ao longo da vida e permitir os melhores resultados possíveis para os pacientes.

Atresia de vias biliares

Atresia de vias biliares

Flávia de Azevedo Belêsa.

Capítulo do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, HMIB/SES/DF, Brasília, 4a Edição, 2021.

Atresia de vias biliares é uma doença progressiva, idiopática, fibroproliferativa da árvore biliar extra e intra-hepática causada pela obstrução biliar ou ausência da mesma, que ocorre exclusivamente no período neonatal, de extensão e graus variáveis.

Tem uma prevalência relativamente baixa variando entre 1:10.000 a 1:15.000 nascidos vivos, com leve predisposição sexual (1,4F : 1 M), porém é a indicação mais comum de transplante hepático em crianças (corresponde a 50% dos transplante hepático em crianças).

A atresia de vias biliares pode ser dividida em 2 formas:

Atresia de Vias biliares Perinatal ou Não-sindrômica: ocorre em 75-80% dos bebês com este diagnóstico. Normalmente as crianças nascem sem icterícia com sistema biliar permeável. Este por sua vez, passa a sofrer uma inflamação progressiva e fibroproliferação iniciada por algum insulto perinatal. Desta forma, nos 2 primeiros meses de vida, a icterícia se desenvolve e as fezes se tornam progressivamente acólicas.

-Atresia de Vias biliares Síndrômica ou Embrionária: atinge cerca de 10-20% dos recém-nascidos em que a atresia de vias biliares está associada a outras malformações congênitas, tais como, síndrome da poliesplenia, malformações cardíacas, malformações renais, ânus imperfurado, atresias intestinais, má rotação intestinal, poliesplenia, situs inversus abdominal, etc. Neste caso, a formação e diferenciação ductal biliar estaria prejudicada por mutações genéticas causando secundariamente uma resposta inflamatória no sistema ductal.

Independe do tipo de atresia de vias biliares ambos os grupos apresentam histologia e colangiograma característicos: inflamação e fibrose do tracto portal, colestase (caracterizada pela presença de pigmentos biliares nos hepatócitos e ductos biliares), necrose focal de células hepáticas, transformação de células gigantes e proliferação do ducto biliar que geram perda da permeabilidade dos ductos biliares extra-hepáticos. Destes achados os mais sugestivos de atresia de vias biliares seriam fibrose portal e proliferação ductular.

A hiponatremia no início da enterocolite necrosante (ECN) está associada à cirurgia intestinal, maior mortalidade e maior risco de perfuração intestinal

A hiponatremia no início da enterocolite necrosante (ECN) está associada à cirurgia intestinal, maior mortalidade e maior risco de perfuração intestinal

Hyponatremia at the onset of necrotizing enterocolitis is associated with intestinal surgery and higher mortality. Palleri E, Frimmel V, Fläring U, Bartocci M, Wester T.Eur J Pediatr. 2022 Apr;181(4):1557-1565. doi: 10.1007/s00431-021-04339-x. Epub 2021 Dec 21.PMID: 34935083 Free PMC article. Artigo Livre!


Hyponatremia as a Specific Marker of Perforation in Infants with Necrotizing Enterocolitis.
Li Y, Du X, Zhao X, Wang J, Yang F, Zhang A, Dai C, Hu B.Indian J Pediatr. 2022 Mar 5. doi: 10.1007/s12098-022-04138-8. Online ahead of print

Realizado por Paulo R. Margotto.

A hiponatremia (nesses estudos:<135 mEq/L) tem sido descrita como um dos distúrbios metabólicos relacionados à deterioração clínica na ECN e outras doenças cirúrgicas pediátricas, porque parece refletir a gravidade da inflamação através da ativação da arginina-vasopressina (AVP) resultando em retenção de água e hiponatremia. Para cada mmol/l na diminuição do sódio plasmático no início da ECN, as chances de ECN grave aumentam em quase 20%. A hiponatremia ou uma diminuição súbita do nível de sódio sérico pode ser um preditor precoce de falha do tratamento conservador em lactentes com ECN, com maior risco de perfuração intestinal (9x mais!), constituído um sinal de alerta para a transferência mais precoce para centros cirúrgicos e cirurgia mais precoce, possivelmente resultando em salvamento de intestino viável. Hiponatremia nesses pacientes: marcador específico de perfuração em lactentes com enterocolite necrosante!