Achados de ultrassom craniano neonatal em bebês nascidos extremamente prematuros: associações com resultados de neurodesenvolvimento aos 10 anos de idade.

Achados de ultrassom craniano neonatal em bebês nascidos extremamente prematuros: associações com resultados de neurodesenvolvimento aos 10 anos de idade.

Neonatal Cranial Ultrasound Findings among Infants Born Extremely Preterm: Associations with Neurodevelopmental Outcomes at 10 Years of Age. Campbell H, Check J, Kuban KCK, Leviton A, Joseph RM, Frazier JA, Douglass LM, Roell K, Allred EN, Fordham LA, Hooper SR, Jara H, Paneth N, Mokrova I, Ru H, Santos HP Jr, Fry RC, O’Shea TM.J Pediatr. 2021 Oct;237:197-205.e4. doi: 10.1016/j.jpeds.2021.05.059. Epub 2021 Jun 4.PMID: 34090894.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Em comparação com crianças nascidas a termo, aquelas nascidas prematuras extremas (<28 semanas de gestação) apresentam risco aumentado de deficiências do neurodesenvolvimento de longo prazo. Estudos anteriores mostraram que anormalidades do ultrassom craniano (CUS), como áreas hipoecoicas (ecoluscentes) na substância branca predizem comprometimento cognitivo, paralisia cerebral e transtorno do espectro do autismo, com uma limitação de que poucos estudos seguiram essas crianças até a meia-infância, quando muitos resultados do neurodesenvolvimento, como função executiva e responsividade social, são avaliadas com mais precisão e estáveis ​​do que quando avaliados na primeira infância. No presente estudo os autores descreveram a relação entre as anormalidades do CUS identificadas durante os cuidados intensivos neonatais iniciais a hospitalização e os resultados do neurodesenvolvimento identificados aos 10 anos de idade, com foco em achados de ultrassom após as primeiras semanas pós-natais. Esta análise foi baseada em dados coletados para o estudo Extremely Low Gestational Age Newborn (ELGAN), um estudo longitudinal prospectivo no qual 889 (92%) participaram de avaliações neurodesenvolvimentais e neurocomportamentais abrangentes aos 10 anos de idade. As formas específicas de lesão da substância branca foram observadas nos grupos “lesão da substância branca isolada (LSBi) que inclui ecolucência cerebral ou aumento ventricular independente da idade pós-natal  E “ lesão da substância branca + hemorragia intraventricular (LS+HIV).  A LSBi ou com HIV associou-se a um risco aumentado de prejuízo cognitivo, paralisia cerebral e epilepsia. NO ENTANTO, HIV isolada, ou seja, sem associação com lesão da substância branca, não se associou a esses desfechos. Além disso, a lesão da sustância branca foi associada à depressão, conforme relatado pelo professor da escola da criança e não ao Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (esse mais associado com a HIV com OR de 1,6-IC a 95% de 1,1 a 2,5) e uma forma de lesão da substância branca, a ventriculomegalia, foi associada com espectro autista. Assim, vejam que a lesão da substância branca cerebral é o preditor mais importante do resultado do neurodesenvolvimento a longo prazo, principalmente a paralisia cerebral (14 vezes mais!). Entre as limitações está a falha de se obter ótimas imagens do cerebelo, limitando a capacidade de detectar lesões que estão fortemente associadas ao comprometimento do neurodesenvolvimento posterior. No entanto, mesmo entre as crianças com lesão da sustância branca identificada por ultrassom, quase metade não apresentava deficiência cognitiva e mais de um terço estavam livres de cada um dos quatro principais transtornos do desenvolvimento neurológico aqui estudo. Esse achado implica que, ao aconselhar a família de um bebê prematuro extremo sobre o prognóstico, o otimismo cauteloso pode ser apropriado mesmo para bebês cujo ultrassom é indicativo de dano à substância branca cerebral. A ressonância magnética é mais sensível para detecção de lesão de substância branca, embora não esteja claro se a maior sensibilidade da ressonância magnética na verdade se traduz em melhor previsão de resultados clinicamente importantes e o ultrassom permanece amplamente utilizado durante a Terapia Intensiva Neonatal. Temos realizado vários ultrassons cranianos, principalmente nos bebês abaixo de 28 semanas e com cuidado muito especial para aqueles no respirador.