Mês: setembro 2022

Idade da primeira tentativa de extubação e óbito ou morbidades respiratórias em prematuros extremos

Idade da primeira tentativa de extubação e óbito ou morbidades respiratórias em prematuros extremos

Age at First Extubation Attempt and Death or Respiratory Morbidities in Extremely Preterm Infants. Shalish W, Keszler M, Kovacs L, Chawla S, Latremouille S, Marc B, Kearney RE, Sant’Anna GM.J Pediatr. 2022 Aug 23:S0022-3476(22)00760-0. doi: 10.1016/j.jpeds.2022.08.025. Online ahead of print.PMID: 36027.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Nos últimos anos, as práticas respiratórias em recém-nascidos extremamente prematuros passaram a evitar a ventilação mecânica (VM) após o nascimento e minimizar a duração da VM por meio da promoção da extubação precoce para suporte respiratório não invasivo, pela ligação bem estabelecida entre VM e aumento da mortalidade e morbidades. Bebês que necessitam de mais de 7 dias cumulativos de VM têm maior risco de displasia broncopulmonar (DBP) e necessidade de suplementação de oxigênio (O2) na alta da Unidade de Terapia intensiva Neonatal (UTIN). Além disso, cada semana adicional de VM está associada ao aumento do risco de morte ou incapacidade de desenvolvimento neurológico. Após uma primeira tentativa de extubação, uma grande porcentagem de bebês exige reintubação e restabelecimento da VM. A necessidade de reintubação prolonga a VM por 10-12 dias extras, o que por si só aumenta o risco de morte/DBP, e pode ainda estar associado a esse desfecho indesejado independente da duração da VM. Assim, os médicos concordam em extubar esses bebês mais precocemente (48 horas-7 dias), mesmo correndo o risco de falha de extubação. Há uma racionalidade para a extubação precoce!Trata-se de uma análise secundária de um estudo de coorte observacional multicêntrico chamado APEX a partir de 5 UTINs de atenção terciária no Canadá e nos Estados Unidos entre 2013 e 2018 lactentes com peso ao nascer (PN) ≤ 1250g e sem anomalias congênitas, necessitando de VM em qualquer momento após o nascimento e submetidos à primeira extubação planejada. A idade na extubação foi dividida em “precoce” (dentro de 7 dias da nascimento) vs. “tardio” (dias de vida 8-35). Dos 250 lactentes incluídos, 52% tiveram sua primeira tentativa de extubação na primeira semana de vida. As taxas de falha de extubação aumentaram de 26% para extubações nas primeiras 72h de vida, para 40% para extubações na segunda e terceira semanas pós-natais. Embora a extubação precoce e bem-sucedida tenha sido associada às menores taxas de morte/DBP e morbidades respiratórias, a extubação precoce, mas com falha, não foi associada a melhores ou piores resultados respiratórios em comparação com a extubação tardia. Esse achado demonstra a importância do potencial do resultado da extubação e não apenas do momento da extubação, na modulação do risco de morte/DBP. Uma vez que lactentes com extubação precoce e bem sucedida têm os resultados respiratórios mais favoráveis, e na ausência de preditores precisos de prontidão para extubação nesta população, ainda cabe a nós tentar a extubação o mais cedo possível. Abordagem rotineira de retardar a extubação entre bebês potencialmente prontos para um teste de extubação parece injustificada no momento. No entanto, pesquisas futuras são necessárias para desenvolver e validar preditores capazes de identificar prontamente lactentes prontos para extubação e aqueles com maior risco de falha na extubação na primeira semana de vida.

Associação da administração de surfactante por métodos menos invasivos com desfechos em prematuros extremos com menos de 27 semanas de gestação

Associação da administração de surfactante por métodos menos invasivos com desfechos em prematuros extremos com menos de 27 semanas de gestação

Association of Administration of Surfactant Using Less Invasive Methods With Outcomes in Extremely Preterm Infants Less Than 27 Weeks of GestationHärtel C, Herting E, Humberg A, Hanke K, Mehler K, Keller T, Mauer I, Frieauff E, Meyer S, Thome UH, Wieg C, Schmidtke S, Kribs A, Göpel W; German Neonatal Network.JAMA Netw Open. 2022 Aug 1;5(8):e2225810. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2022.25810.PMID: 35943742 Free PMC article. Artigo Livre! Rede Alemã de Neonatologia.  

Realizado por Paulo R. Margotto.

Com o objetivo de clarear incertezas sobre os critérios ideais e tratamento de bebês muito prematuros usando a administração menos invasiva de surfactante pulmonar (LISA) foram avaliados RN entre 22 a 26 semanas de idade gestacionais dentro do esforço colaborativo da Rede Neonatal Alemã (68 Unidades de Terapia Intensiva Neonatal de nível terciário) incluindo mais de 10 anos de experiência com a estratégia LISA. Foram comparados resultados de curto prazo entre bebês que receberam LISA nas primeiras 72 horas vs crianças que não receberam LISA. Um total de 6.542 crianças com média de idade gestacional de 25,3 semanas; média peso ao nascer, 715g foram analisados; 2.534 bebês (38,7%) receberam LISA, que foi mais frequentemente administrado quase-profilaticamente durante o gerenciamento na Sala de Parto. O uso de LISA não pareceu representar um risco de segurança, pois foi associado a menores riscos de morte por todas as causas, displasia broncopulmonar (DBP), DBP ou morte, pneumotórax, cirurgia para ROP e hemorragia intracerebral. Há lógica por trás do conceito LISA, uma vez que ocorrem rápidas mudanças fisiológicas no pulmão após a administração de surfactante, mesmo um tempo limitado de ventilação mecânica invasiva que pode ser prejudicial para o pulmão imaturo. A grande maioria dos bebês extremamente prematuros são elegíveis para LISA, desde que a equipe possa aplicar ventilação não invasiva eficiente.

 

Entendendo Bioestatística Básica-2022

Entendendo Bioestatística Básica-2022

Paulo R. Margotto.

Apresentação realizada no dia 28/9/2022 na Residência Médica de  Neonatologia do Hospital Materno Infantil de Brasília Dr. Márcio Lisboa.

A ciência não é um conhecimento definitivo sobre a realidade, mas é um conhecimento hipotético que pode ser questionado e corrigido. Ensinar ciências não significa apenas descrever fatos,     anunciar leis e apresentar novas descobertas, mas…

Ensinar o método científico: é a maneira  crítica e racional de buscar o conhecimento

(Vieira S, 1991)   

Impacto de múltiplas tentativas de intubação em eventos adversos associados à intubação traqueal em recém-nascidos: um relatório do NEAR4NEOS

Impacto de múltiplas tentativas de intubação em eventos adversos associados à intubação traqueal em recém-nascidos: um relatório do NEAR4NEOS

Impact of multiple intubation attempts on adverse tracheal intubation associated events in neonates: a report from the NEAR4NEOS. Singh N, Sawyer T, Johnston LC, Herrick HM, Moussa A, Zenge J, Jung P, DeMeo S, Glass K, Howlett A, Shults J, Barry J, Brei BK, Kim JH, Quek BH, Tingay D, Mehrem AA, Napolitano N, Nishisaki A, Foglia EE; National Emergency Airway Registry for Neonates (NEAR4NEOS).J Perinatol. 2022 Sep;42(9):1221-1227. doi: 10.1038/s41372-022-01484-5. Epub 2022 Aug 18.PMID: 35982243.

Realizado por Paulo R. Margotto

 

A partir do National Emergency Airway Registry for Children (NEAR4KIDS), um registro internacional de vias aéreas de intubações em UTIP de 17 Centros acadêmicos (7.708 intubações), 1474 (22%) requereram ≥ 3 tentativas. Houve um aumento de quase 10 vezes nas chances ajustadas para qualquer evento adverso associado à intubação traqueal (TIAE), um aumento de 8 vezes nas chances ajustadas para TIAE grave e um aumento de 6 vezes nas chances ajustadas de dessaturações graves de oxigênio com várias tentativas (≥3) comparado ao sucesso da primeira tentativa. As chances de quaisquer TIAEs foram significativamente maiores em ITs com 2 tentativas (OR ajustado 5,00, IC 95% 4,20–5,94, p  < 0,001) e Tem com ≥3 tentativas (aOR 9,50, IC 95% 8,00–11,28, p  < 0,001) em comparação com ITs com uma tentativa. Os autores observaram menor sucesso na primeira tentativa e maior taxa de múltiplas tentativas entre os residentes como provedor de primeira tentativa. Assim, a escolha de um provedor mais experiente para tentar a intubação de prematuros extremos pode minimizar o número de tentativas e TIAEs na população neonatal mais vulnerável.

DIRETO AO PONTO – Respostas a questionamentos: Uso de ferro, Uso de Dexametasona (Esquema DART), Tratamento da Sífilis Congênita

DIRETO AO PONTO – Respostas a questionamentos: Uso de ferro, Uso de Dexametasona (Esquema DART), Tratamento da Sífilis Congênita

Paulo R Margotto.

Para os lactentes nascidos pré-termos ou com muito baixo peso ao nascer:

(a partir do 30º dia até 12 meses)

– Maior de 1500 gramas: 2 mg/kg/dia

– Entre 1000 gramas e 1500 gramas: 3 mg/kg/dia

– Menor de 1000 g: 4 mg/kg/dia

Após um ano de idade em todos os prematuros, independente do peso ao nascer, a dose deve ser reduzida para 1 mg/kg /dia até completarem os dois anos

Ofertas enterais de Ferro > 5 mg kg/kg/dia devem ser evitadas em RNPT pelo possível risco de retinopatia da prematuridade.

FERRITINA E INFECÇÃO

Segundo Mattiello A et al (Suíça) a interpretação dos níveis de ferritina podem ser difícil em casos de condições inflamatórias agudas ou crônicas concomitantes, pois a ferritina é uma regente de fase aguda e pode estar aumentada por semanas durante e após a infecção e inflamação. Em situações em que um estado inflamatório ou uma infecção são clinicamente suspeitos antecipadamente, avaliar a proteína C reativa a fim de excluir possíveis modificadores de confusão das medições do nível de ferritina.

Diagnosis and management of iron deficiency in children with or whithout anemiaconsensus recommendations of the SPOG Pediatric Hematology Working Group. Mattiello V, Schmugge M, Hengartner H, von der Weid N, Renella R; SPOG Pediatric Hematology Working Group.Eur J Pediatr. 2020 Apr;179(4):527-545. doi: 10.1007/s00431-020-03597-5. Epub 2020 Feb 4.PMID: 32020331 Review.

Ventilação com Pressão Positiva Intermitente Nasal versus Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas e Apneia da Prematuridade: Uma Revisão Sistemática e Metanálise

Ventilação com Pressão Positiva Intermitente Nasal versus Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas e Apneia da Prematuridade: Uma Revisão Sistemática e Metanálise

Nasal Intermittent Positive Pressure Ventilation versus Continuous Positive Airway Pressure and Apnea of Prematurity: A Systematic Review and MetaAnalysisSabsabi B, Harrison A, Banfield L, Mukerji A.Am J Perinatol. 2022 Sep;39(12):1314-1320. doi: 10.1055/s-0040-1722337. Epub 2021 Jan 15.PMID: 33450781.

Apresentação: Júlia de A. Figueiredo (MR4UTIP-HMIB). Coordenação: Carlos Zaconeta.

Apesar da heterogeneidade dos estudos, essa metanálise canadense mostrou que a Nasal Intermitent Positive Pesssure Ventilation-NIPPV (que conhecemos como  ventilação não invasiva-VNI) não foi associada à diminuição da frequência de apneia da prematuridade (AP), embora demonstrou menores chances de desenvolver qualquer  AP.

DIRETO AO PONTO – questionamentos que nos chegam: IMPORTÂNCIA DE CLASSIFICAR (E SUBCLASSIFICAR) OS PREMATUROS EXTREMOS

DIRETO AO PONTO – questionamentos que nos chegam: IMPORTÂNCIA DE CLASSIFICAR (E SUBCLASSIFICAR) OS PREMATUROS EXTREMOS

Paulo R. Margotto.

 

Com frequência cada vez maior esses bebês prematuro extremos, incluindo RN de 23 semanas estão ocupando leitos das nossas UTIs e temos observado que esses bebês não tem sido classificados adequadamente e de preferência com padrões de crescimento intrauterinos derivados de uma população representativa das gestantes da região, com base na demografia, nos fatores de risco e no resultado perinatal.   Assim podemos melhor definir o risco de morbimortalidade neonatal.

Também é importante que o recém-nascido PIG seja subclassificado em simétrico (comprometimento do crescimento da cabeça e do comprimento) e assimétrico (sem comprometimento do crescimento da cabeça e do comprimento), ou seja, que seja reavaliado o impacto da severidade da restrição do crescimento nesses bebês pequenos para a idade gestacional entre os prematuros.

Trombose sinovenosa cerebral em recém-nascido com mutação de MTHFR C677T tratado com enoxaparina

Trombose sinovenosa cerebral em recém-nascido com mutação de MTHFR C677T tratado com enoxaparina

[Cerebral sinovenous thrombosis in a newborn with mutation of MTHFR C677T treated with enoxaparin].Fasce J, Calbacho M, Oyarzun M, Reinbach K, Daza A, García-Alix A.Rev Chil Pediatr. 2020 Jun;91(3):417-423. doi: 10.32641/rchped.v91i3.1270.PMID: 32730524 Free article. Spanish. Artigo Livre!

Apresentação: Lucas do Carmo e Gabrielly (R4). Coordenação: Nathalia Bardal e Paulo R. Margotto. Unidade de Neonatologia  do HMIB/SES/DF.

  • Apesar de ser uma patologia rara, a trombose do seio venoso cerebral neonatal costuma ser grave, exigindo diagnóstico precoce e plano de manejo adequado.
  • No caso de um recém nascido a termo com convulsões e sem causa clara, devemos completar o estudo de imagem por meio de ultrassonografia cerebral e ressonância magnética.
  • Se houver hemorragia intraventricular ou talâmica, devemos descartar trombose sinovenosa cerebral neonatal.
  • Embora controverso em neonatos, o tratamento anticoagulante tem se mostrado seguro e na prevenção da disseminação da trombose.
Hemorragia intraventricular no recém-nascido a termo (19/9/2022)

Hemorragia intraventricular no recém-nascido a termo (19/9/2022)

Paulo R. Margotto

Apresentação realizada na Residência de Neonatologia do HMIB/SES/DF no dia 19 de setembro de 2022

 

É importante que saibamos que a sua patogênese é diferente do que ocorre nos pré-termos, incluindo inclusive estudo genético.

-Os livros textos disponíveis escrevem pouco sobre o tema altamente angustiante para os Pediatras e Neonatologistas: RN a termo, de parto normal, Apgar de 9/10 que se apresenta com quadro neurológico grave ao Pronto Socorro, com 7-14 dias de vida! -Impulsionados pela necessidade de melhor compreender esta condição, escrevemos um capítulo específico sobre o tema nos nossos 2 livros Assistência ao Recém-Nascido de Risco, ESCS, Brasília, 3ª Edição, 2013 e Neurossonografia Neonatal, ESCS, Brasília, 2013.

-Em uma coorte de 2.397 recém nascidos com idade gestacional média de 38,3 semanas e peso médio ao nascer de 3 Kg, Wu et al relataram a ocorrência  da HIV em 29 RN (1,2%) , com a determinação da causa  e a apresentação clínica.