Mês: novembro 2022

Disfunção hemodinâmica na sepse neonatal (Hemodynamic dysfunction in neonatal sepsis)

Disfunção hemodinâmica na sepse neonatal (Hemodynamic dysfunction in neonatal sepsis)

Hemodynamic dysfunction in neonatal sepsis

Kharrat A, Jain A.Pediatr Res. 2022 Jan;91(2):413-424. doi: 10.1038/s41390-021-01855-2. Epub 2021 Nov 24.PMID: 34819654 Review.

Apresentação:  Amanda do Carmo Alves|R4 Neonatologia). Coordenação: Paulo Roberto Margotto.

Muitos lactentes com sepse desenvolvem instabilidade cardiovascular; prematuros são particularmente vulneráveis devido às características únicas de sua função e reserva cardiovascular. O objetivo desta revisão é destacar os mecanismos fisiopatológicos envolvidos em um distúrbio hemodinâmico na sepse neonatal, fornecer insights obtidos a partir de estudos clínicos direcionados baseados em ecocardiografia neonatal (TNE) e sugerir sua potencial incorporação no manejo diário. Em pacientes adultos,  predomina o choque quente, enquanto que em crianças, a sepse tende a produzir principalmente a fisiologia do choque frio. Estudos fisiológicos em prematuros, semelhantes aos adultos, demonstraram que a fisiologia do choque quente é o fenótipo predominante, caracterizado por menor retorno venoso (maior colapsabilidade da veia cava inferior), menor RVS calculado e maior débitos cardíacos em comparação com controles ou valores normativos publicados (a hipotensão geralmente começa como pressão arterial [PA] diastólica baixa e progride para PA diastólica e sistólica baixas). As diversas manifestações hemodinâmicas são produtos de vias inflamatórias variáveis, imaturidade cardíaca e respostas hormonais. Vale a pena ler esse artigo  a nós enviado pelo nosso amigo Guilherme Sant´Ana (Canadá).

Determinação da Posição Precisa de Cateteres Venosos Umbilicais em Prematuros

Determinação da Posição Precisa de Cateteres Venosos Umbilicais em Prematuros

Determination of Accurate Position of Umbilical Venous Catheters in Premature Infants. Akar S, Dincer E, Topcuoğlu S, Yavuz T, Akay H, Gokmen T, Karatekin G.Am J Perinatol. 2022 Mar;39(4):369-372. doi: 10.1055/s-0040-1716405. Epub 2020 Sep 3.PMID: 32882742.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O objetivo do estudo é determinar o comprimento e a posição mais precisos do cateter venoso umbilical (CVU). Embora a radiografia é o método mais utilizado para avaliação da posição do cateter após a inserção, a ecocardiografia  e a ultrassonografia são bastantes convenientes para a determinação da posição do cateter após a inserção.. Após a sua inserção o CVU foi avaliado primeiramente através de radiografia de tórax e, em seguida, com ecocardiograma para confirmar sua posição. Cateteres vistos na radiografia de tórax foram classificados como posição exata quando  a ponta estava ao nível das vértebras T9-T10  e aqueles vistas acima da vértebra T9 como posição alta (risco de derrame pericárdico com tamponamento) e  os identificados abaixo da vértebra  T10 vértebra foram classificadas como posição baixa (risco de extravasamento hepático com lesões hepáticas graves). Agora veja QUE RESULTADO PREOCUPANTE: em 68 bebês com menos de 36 semanas de gestação, na avaliação ecocardiográfica, 80% dos casos identificados como “posição correta”, 100% dos casos classificados como “posição alta” e 33% dos casos definidos como “posição baixa” no  Raio X de tórax foram intracardíacos! Cateteres intracardíacos foram puxados para trás com ecocardiograma guiado e fixados em posição adequada. Na nossa norma da UTI Neonatal:  a zona alvo para o posicionamento da extremidade distal do CVU é na porção torácica da VCI ou na junção da Veia Cava Inferior com o átrio direito (VCI/AD). A ponta do cateter  deverá estar localizada de 0,5 a 1,0 cm acima do diafragma. O cateter deve ser instalado, não só fora da silhueta cardíaca, mas também fora da porção intrapericárdica da veia cava inferior e superior – 1 cm fora da silhueta cardíaca em pré-termos e 2 cm em RN a termo). Para melhor avaliar a fixação do cateter essa deve ser guiada por ecocardiografia, reduzindo as complicações relacionadas ao mau posicionamento do cateter. Estamos deixando o CVU por 48 horas, quando optamos pelo Cateter central de inserção periférica (PICC). A efusão pericárdica pode, inclusive ocorrer com CVU colocado corretamente, devendo sempre ter alto índice de suspeita.

Utilidade da Procalcitonina do líquido cefalorraquidiano e procalcitonina sérica para o diagnóstico de meningite neonatal.

Utilidade da Procalcitonina do líquido cefalorraquidiano e procalcitonina sérica para o diagnóstico de meningite neonatal.

Utility of Cerebrospinal Fluid and Serum Procalcitonin for the Diagnosis of Neonatal MeningitisRajial T, Batra P, Harit D, Singh NP.Am J Perinatol. 2022 Mar;39(4):373-378. doi: 10.1055/s-0040-1716406. Epub 2020 Sep 13.PMID: 32920797. India

Realizado por Paulo R. Margotto

Esses autores canadenses planejaram este estudo com o objetivo de comparar os níveis séricos e líquores de PCT e a razão entre soro e PCT líquor em neonatos (>34 semanas) com grupos confirmados, prováveis ​​e sem meningite. Diferença significativa foi observada na média da PCT do LCR em recém-nascidos com grupos confirmados (0,31 ng/mL), prováveis (0,22 ng/mL) e não meningite (0,11 ng/mL). A proporção de soro para PCT no LCR foi comparável. No ponto de corte de 0,2 ng/mL, a PCT do LCR apresentou sensibilidade de 95,2% e especificidade de 96% no diagnóstico de meningite. a PCT do LCR é um marcador útil para o diagnóstico precoce de meningite neonatal onde os sintomas, outras investigações de sangue e parâmetros do LCR são inconclusivos.

Fatores de risco e preditores de hiperbilirrubinemia de rebote em um recém-nascido a termo e prematuro tardio com hemólise

Fatores de risco e preditores de hiperbilirrubinemia de rebote em um recém-nascido a termo e prematuro tardio com hemólise

Risk Factors and Predictors of Rebound Hyperbilirubinemia in a Term and Late-Preterm Infant with Hemolysis. Almohammadi H, Nasef N, Al-Harbi A, Saidy K, Nour I.Am J Perinatol. 2022 Jun;39(8):836-843. doi: 10.1055/s-0040-1718946. Epub 2020 Nov 23.PMID: 33231268.

Realizado por Paulo R. Margotto

 

Este estudo apresentado  teve como objetivo avaliar a incidência e os preditores de rebote em recém-nascidos a termo e prematuros tardios com hiperbilirrubinemia hemolítica pós-fototerapia. Terapia prolongada indevida aumenta o risco de permanência hospitalar prolongada, custo injustificado, falha na amamentação e rompimento do vínculo do recém-nascido, além do risco de epilepsia e câncer. O rebote da bilirrubina foi definido como o retorno da bilirrubina sérica total (TSB) ao limiar de fototerapia dentro de 72 horas após pós-fototerapia. Nessa coorte de estudo, 11,4% (44 de 386) tiveram hiperbilirrubinemia de rebote. O único preditor independente de hiperbilirrubinemia rebote em recém-nascidos com evidência de hemólise foi o nível de bilirrubina total sérica na descontinuação da fototerapia em relação ao limiar de tratamento da Academia Americana de Pediatria após o controle de outras variáveis (nesse estudo, 11,11mg%- alta predicção ocorrência de rebote (98%).

Na Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF adotamos essa regra de previsão mais simples para hiperbilirrubinemia de rebote de Chang PW, Newman TB:

 (mg% de bilirrubina total abaixo do nível que indicou)

   RN38 semanas: 2mg%

   RN <38 semanas: 5,5 mg%

 

 

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL: ENTENDENDO O SIGNIFICADO DA VASCULOPATIA LENTICULOESTRIATA

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL: ENTENDENDO O SIGNIFICADO DA VASCULOPATIA LENTICULOESTRIATA

Placental pathology associated with lenticulostriate vasculopathy (LSV) in preterm infants. Sisman J, Leon RL, Payton BW, Brown LS, Mir IN.J Perinatol. 2022 Nov 15. doi: 10.1038/s41372-022-01557-5. Online ahead of print.PMID: 36376451.

Realizado por Paulo R. Margotto

A vasculopatia lenticuloestriada (LSV) é diagnosticada pela ultrassonografia craniana (USc) com base na aparência de ramificação linear de ecogenicidades nos gânglios da base e/ou tálamo.

 

Em conclusão, recém-nascidos com estágio mais alto de vasculopatia lentículoestriata  parecem ter aumento do risco de placenta GIG sem associação materna diabetes. Dado que as placentas GIG podem refletir uma adaptação ambiente intrauterino adverso, a LSV pode representar o sequelas de estresse intrauterino, déficit nutricional, hipóxia e/ou inflamação. Embora a LSV seja um achado radiológico com variada correlação patológica, representa um distúrbio neurológico pouco estudado que merece foco contínuo para elucidar sua etiologia e significado. Estudos adicionais são necessários para confirmar esta associação entre placenta GIG e LSV, e explorar bases fisiopatológicas potenciais.

OU SEJA: A associação entre LSV e placenta GRANDE PARA A IDADE GESTACIONAL pode indicar uma resposta vascular compartilhada a um AMBIENTE PR-E-NATAL ADVERSO

CATETERISMO UMBILICAL: PRECISAMOS FALAR SOBRE OS RISCOS

CATETERISMO UMBILICAL: PRECISAMOS FALAR SOBRE OS RISCOS

Marta David Rocha de Moura e Paulo R. Margotto.

As complicações com cateteres umbilicais são geralmente causadas por mau posicionamento., embora a posição correta do cateter não garante uma cateterização memorável, isenta de possíveis complicações.

A ponta do cateter deve ser colocada entre o diafragma e o átrio esquerdo.

O risco de complicações do cateter umbilical aumenta com base no tempo de permanência. Para avalia a localização use de preferência a ecocardiografia funcional ou ultrassonografia.

TOXOPLASMOSE CONGÊNITA

TOXOPLASMOSE CONGÊNITA

Liú Campello Porto.

Capítulo do livro Assistência ao Recém-nascido de Risco, 4a Edição, HMIB/SES/DF, Brasília, 2021

O protozoário Toxoplasma gondii é um parasita de distribuição mundial com as mais altas prevalências registradas na Europa, América e África Centrais(80%)  e Brasil (60%), devido ao clima quente e úmido e hábitos alimentares e de higiene. Na  América Latina, as manifestações clínicas são muito mais prevalentes e severas, especialmente em relação à coriorretinite pela predominância de cepas mais virulentas do parasito (tipos I e III).

No Brasil, mais de 20% da população apresenta coriorretinite por toxoplasmose, sendo a maior causa de cegueira na Améerica Latina .Entre as gestantes, a incidência de infecção é de 1 a 8 por 1000 entre as gestantes suscetíveis e, entre os nascidos vivos, varia entre 1:1.000 e 1:10.000.

A toxoplasmose adquirida caracteriza-se por ser autolimitada e benigna, exceto em pacientes imunossuprimidos. A infecção aguda entre as gestantes poderá resultar em transmissão transplacentária e infecção fetal com graves sequelas neurológicas e oculares de manifestação precoce ou tardia. Porém, diferentemente da maioria das infecções congênitas, a toxoplasmose é tratável e as graves sequelas podem ser evitadas em caso de diagnóstico e tratamento precoces.

Acesso Vascular no recém-nascido (cateterismo de vasos umbilicais/cateterismo venoso central de inserção periférica)

Acesso Vascular no recém-nascido (cateterismo de vasos umbilicais/cateterismo venoso central de inserção periférica)

Capítulo do Livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, HMIB/SES/DF, 4a Edição, 2021.

Carla Pacheco Brito, Felipe Teixeira de Mello Freitas, Kátia Rodrigues Menezes, Ludmylla de Oliveira Beleza, Renilde de Barros Tavares, Paulo R. Margotto.

A inserção de Cateteres Intravasculares é um dos procedimentos mais comuns em UTI Neonatal. O uso de dispositivos intravasculares centrais em neonatologia é indispensável, pois são utilizados principalmente para a infusão de fluidos, eletrólitos, nutrição parenteral, hemoderivados, exsanguíneotransfusão, drogas, monitorização dos pacientes graves e intervenções cardíacas/vasculares. A sua utilização, muitas vezes necessária por períodos prolongados, é devido às características próprias dos pacientes que, frequentemente, apresentam impossibilidade de via oral para nutrição e medicamentos, disponibilidade limitada de vasos periféricos e pela sua própria gravidade. É um acesso vascular imprescindível, mas que coloca os pacientes em risco de várias complicações

Sequência de Policitemia-anemia gemelar espontânea: diagnóstico, manejo e desfecho em uma coorte internacional de 249 casos

Sequência de Policitemia-anemia gemelar espontânea: diagnóstico, manejo e desfecho em uma coorte internacional de 249 casos

-Spontaneous twin anemia polycythemia sequence: diagnosis, management, and outcome in an international cohort of 249 cases.Tollenaar LSA et al. E.Am J Obstet Gynecol. 2021 Feb;224(2):213.e1-213.e11. doi: 10.1016/j.ajog.2020.07.041. Epub 2020 Jul 27.PMID: 32730900 Free article. Artigo Livre!

Pathophysiology, diagnosis, and management of twin anemia polycythemia sequence in monochorionic multiple gestations.Baschat AA, Miller JL.Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2022 Mar 30:S1521-6934(22)00051-7. doi: 10.1016/j.bpobgyn.2022.03.012. Online ahead of print.PMID: 35450772 Review. ARTIGO LIVRE!

Apesentação: Amanda Franco. Coordenação: Miza Vidigal.

  • Por que esse estudo foi realizado? Este estudo teve como objetivo investigar o diagnóstico, manejo e desfecho na sequência de Policitemia-anemia gemelar espontânea.
  • Principais conclusões: A sequência de policitemia-anemia gemelar (TAPS) espontânea (forma crônica de transfusão feto-fetal desequilibrada através de minúsculas anastomoses placentárias em gêmeos monocoriônicos, levando à anemia no doador e policitemia no receptor)  pode se desenvolver de 15 a 35 semanas de gestação. A mortalidade perinatal ocorreu em 15% dos gêmeos com TAPS e foi significativamente maior nos doadores do que nos receptores. A morbidade neonatal grave ocorreu em 33% dos gêmeos e foi fortemente prevista pelo alto estágio pré-natal da TAPS e baixa idade gestacional ao nascimento.
  • O que isso acrescenta ao que é conhecido? Este grande estudo internacional relata que a TAPS espontânea pode se desenvolver em uma ampla faixa de gestações e está associada a altas taxas de mortalidade perinatal e morbidade neonatal grave, a primeira especialmente em gêmeos doadores.
  • Embora possa haver sobreposição clínica com a síndrome de transfusão gêmeo-gêmeo ( TTTS), bem como restrição do crescimento fetal seletivo, a detecção e o diagnóstico dependem da aplicação universal das medições de velocidade  sistólica de pico da artéria cerebral média no monitoramento de gestações múltiplas monocoriônicas.
Estratégias de ventilação na displasia broncopulmonar grave (Ventilation Strategies in Severe Bronchopulmonary Dysplasia)

Estratégias de ventilação na displasia broncopulmonar grave (Ventilation Strategies in Severe Bronchopulmonary Dysplasia)

Ventilation Strategies in Severe Bronchopulmonary Dysplasia. Gibbs K, Jensen EA, Alexiou S, Munson D, Zhang H.Neoreviews. 2020 Apr;21(4):e226-e237. doi: 10.1542/neo.21-4-e226. PMID: 32238485 Review.

Apresentação: Anna Lopes Jorge R5 UTIP-HMIB/SES/DF. Coordenação: Carlos Moreno Zaconeta. Complementação: Paulo R. Margotto.

É importante reforçar o conhecimento de que  estratégias utilizadas para prevenir a lesão pulmonar em uma criança com SDR geralmente não correspondem às necessidades da maioria das crianças com DBP grave (DBPg) estabelecida e assim, a abordagem também mudará à medida que a doença pulmonar progride. A doença pulmonar em pacientes com DBP é heterogênea e muitas vezes difícil de gerenciar. O lactente típico com SDR tem um padrão homogeneamente não complacente e resistência normal das vias aéreas. Em contraste, uma criança com DBP podem ter diferenças na resistência das vias aéreas e complacência pulmonar em diferentes regiões do pulmões. Embora a ventilação limitada a volume mostrou ser superior à ventilação com pressão limitada no lactente, não há dados para orientar essa abordagem em um lactente com DBPg. Os presentes autores  comumente usam SIMV com volume controlado e pressão de suporte. O objetivo é otimizar a complacência e diminuir a resistência. Nos bebês mais velhos com DBPg, usam-se volumes correntes  maiores na faixa de 8 a 12 mL/kg. Em pacientes com parênquima pouco complacente e com alta resistência, é necessário uma PIP mais alta ( 30 a 40 cm H2O ) para fornecer volumes correntes  adequados. Bebês com DBPg se beneficiarão de frequências menores (<20/min) e tempos inspiratórios mais longos (>0,5 segundos) e suporte pressórico suficiente para que as respirações mandatórias e as espontâneas sejam aproximadas. Dada a heterogeneidade típica da doença frequentemente presente dentro de um único paciente, raramente usamos modo assistido-controlado, que forneceria um único tempo  inspiratório para todas as respirações. Nos traqueostomizados, a decanulação ocorre em uma mediana de 3 anos de idade. Nesses bebês cm DBPg há uma combinação de nova e antiga DBP. Há uma aparência arquitetônica heterogênea com áreas de atelectasia e hiperinsuflação. Assim, esses bebês não devem ser ventilados como se estivessem na fase aguda da síndrome do desconforto respiratório.