Categoria: Neurossonografia Neonatal

Predicção a longo prazo baseado nos achados clínicos de imagens

Predicção a longo prazo baseado nos achados clínicos de imagens

Sonia Bonifácio (EUA). Palestra administrada no NEOBRAIN BRASIL-2024, São Paulo, 8-9 de março de  2024.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O  objetivo foi  de usar achados clínicos e de imagens nos prematuros para predizer resultados a longo prazo, com destaque para a hemorragia intraventricular (maior risco entre os bebês29 semanas e <1500g). Na classificação n sistema Antigo (Papile) e Volpe, o destaque para o Infarto Hemorrágico Periventricular(IHPV) conhecido por Hemorragia Grau IV GRAU III. A hemorragia na matriz germinativa e o IHPV tem impacto no córtex cerebral e dismaturação do tálamo, diminuição da mielinização, dismaturação axonal e dismaturação cerebelar. De acordo com o grau de hemorragia deficiência  neurológica definitiva é maior no grau IHPV, chegando a 75% (GRAU 1: 15% , Grau 2: 25% e Grau 3: 5º%). A dilatação pós hemorrágica é vista em: Grau II-20%,  Grau III- 55%  e  Infarto hemorrágico periventricular: 80%. Pode apresentar com sinais de aumento da pressão intracraniana. Na intervenção da dilatação ventricular pós-hemorrágica a abordagem precoce  por punção do líquido cefalorraquidiano por punções lombares (LPs) (máx. 3), seguida de punções de um reservatório ventricular, para reduzir o índice ventricular uma derivação ventriculoperitoneal (VP) se a estabilização do índice ventricular não ocorrer      mostrou melhor resultados a longo prazo (associada a uma menor chance de morte ou incapacidade grave do neurodesenvolvimento em recém-nascidos prematuros com dilatação ventricular pós-hemorrágica progressiva (ELVIS STUDY (Early vs Late Ventricular Intervention Study). O US craniano precoce é importante para identificar a severa HIV e tomada de decisão. Seriado US craniano para o seguimento da severa HIV para dilatação ventricular e manuseio dessa. Se sobreviver à idade equivalente a termo, repetir o US craniano com vistas na mastóide para avaliar o cerebelo e considerar RM, importante na avaliação da substância branca (acima de 50% dos prematuros extremos tem lesão na substância branca e essa lesão é associada com deficiências cognitivas, linguística e motora na infância precoce).

 

Tumores do Sistema Nervoso Central em Neonatos: O Que o Neonatologista Precisa Saber?

Tumores do Sistema Nervoso Central em Neonatos: O Que o Neonatologista Precisa Saber?

Central nervous system tumours in neonates: what should the neonatologist know? Toniutti M, et al. Eur J Pediatr. 2024. PMID: 38206395 Review.

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

A maioria dos autores define as neoplasias como definitivamente congênitas se os sintomas aparecerem no período pré-natal ou no nascimento, provavelmente congênitas se os sintomas aparecerem na primeira semana de vida, e possivelmente congênitas se os sintomas aparecerem dentro de seis meses após o nascimento. O primeiro sinal de um tumor congênito com início pré-natal é geralmente polidrâmnio, mais comumente no segundo e terceiro trimestre, secundário à disfunção hipotalâmica e ao alto débito cardíaco. Mesmo no início neonatal, o principal sinal de um tumor cerebral neonatal é a macrocefalia (50-60%). No período neonatal, a ultrassonografia transfontanelar costuma ser a principal etapa diagnóstica. a ultrassonografia pode observar diretamente massas intracranianas ou indicar sua presença por meio de sinais indiretos, como a hidrocefalia. No entanto, o padrão-ouro diagnóstico continua sendo a ressonância magnética. O prognostico dos tumores neonatais do SNC costuma ser ruim, sobretudo devido às opções terapêuticas limitadas. .  Os neonatologistas desempenham um papel fundamental na detecção precoce, avaliação diagnóstica, manejo e cuidados de suporte desses neonatos.

Espectro de encefalopatia hipóxico-isquêmica neonatal: análise estratificada por gravidade de modalidades de neuroimagem e associação com resultados de neurodesenvolvimento

Espectro de encefalopatia hipóxico-isquêmica neonatal: análise estratificada por gravidade de modalidades de neuroimagem e associação com resultados de neurodesenvolvimento

Neonatal HypoxicIschemic Encephalopathy SpectrumSeverity-Stratified Analysis of Neuroimaging Modalities and Association with Neurodevelopmental Outcomes.

Cizmeci MN, Wilson D, Singhal M, El Shahed A, Kalish B, Tam E, Chau V, Ly L, Kazazian V, Hahn C, Branson H, Miller SP.J Pediatr. 2024 Mar;266:113866. doi: 10.1016/j.jpeds.2023.113866. Epub 2023 Dec 5.PMID: 38061422.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A neuroimagem é o tratamento padrão em recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) para confirmar o diagnóstico e determinar o momento e a natureza da lesão. Atualmente, a ressonância magnética cerebral (RM), durante a primeira semana pós-natal, é reconhecida como o padrão ouro para imagens de bebês com EHI. No entanto, a ultrassonografia craniana (USc) também é amplamente utilizada nesta população. A USc tem alta sensibilidade na detecção de lesão hemorrágica que pode acompanhar lesão hipóxico-isquêmica e também pode demonstrar causas de encefalopatia neonatal mimetizando EHI e inclusive já detecta alterações da EHI nas primeiras 48 horas de vida. Portanto, foi sugerido que a USc precoce deveria ser obtida em bebês que apresentam EHI. É digno de nota que nenhum bebê com EHI leve apresentou USc gravemente anormal e nenhum bebê com EHI grave apresentou USc normal. Interessante: Em neonatos com USc normais ou levemente anormais, quase todos (95% e 96%, respectivamente) tiveram ressonância magnética cerebral normal ou levemente anormal, enquanto em neonatos com USC gravemente anormal, a maioria (83%) teve ressonância magnética cerebral gravemente anormal. a USc e a ressonância magnética são modalidades complementares em bebês com EHI. Os achados desses estudo canadense sugerem  que a USc precoce pode ajudar a identificar neonatos com alto risco de lesão cerebral grave. Notavelmente, todos os bebês que apresentaram lesão na substância branca cinzenta profunda na USc também apresentaram extensa lesão da substância branca cinzenta profunda na ressonância magnética cerebral. Na maioria das Unidades Neonatais públicas, sabemos a dificuldade da realização da RM, sendo muitas vezes o ultrassom cerebral o único dispositivo de imagem do cérebro.

A Associação de Dexametasona e Hidrocortisona com Crescimento Cerebelar em Bebês Prematuros

A Associação de Dexametasona e Hidrocortisona com Crescimento Cerebelar em Bebês Prematuros


The Association of Dexamethasone and Hydrocortisone with Cerebellar Growth in Premature Infants.
v/Warmerdam LA, van Wezel-Meijler G, de Vries LS, Groenendaal F, Steggerda SJ.Neonatology. 2023;120(5):615-623. doi: 10.1159/000531075. Epub 2023 Jun 28.PMID: 37379806 Artigo Gratis!

Realizado por Paulo R Margotto

Esse estudo mostrou uma relação estatisticamente significativa entre o diâmetro transcerebelar (TCD) e o tratamento com dexametasona e hidrocortisona. Durante a segunda metade da gestação, o cerebelo cresce mais rapidamente do que qualquer outra estrutura cerebral. Também contém o maior número de receptores de glicocorticoides no cérebro em desenvolvimento, localizados na camada granular externa. Estudos pré-clínicos mostraram que tratamento sistêmico com glicocorticoides resultou na diminuição da proliferação e aumento da apoptose das células granulares da camada granular externa e isso pode impactar negativamente o crescimento cerebelar.  No entanto, o crescimento cerebral não foi afetado. Portanto, as políticas restritivas relativas à administração de corticosteroides parecem apropriadas. Além disso, os efeitos dose-dependentes merecem atenção.

Correlatos do neurodesenvolvimento de anormalidades na ressonância magnética cerebral em bebês com peso extremamente baixo ao nascer

Correlatos do neurodesenvolvimento de anormalidades na ressonância magnética cerebral em bebês com peso extremamente baixo ao nascer

Neurodevelopmental Correlates of Brain Magnetic Resonance Imaging Abnormalities in Extremely Lowbirthweight Infants.Martini S, Lenzi J, Paoletti V, Maffei M, Toni F, Fetta A, Aceti A, Cordelli DM, Zuccarini M, Guarini A, Sansavini A, Corvaglia L.J Pediatr. 2023 Nov;262:113646. doi: 10.1016/j.jpeds.2023.113646. Epub 2023 Jul 28.PMID: 37516269. Artigo Livre!

Realizado por Paulo R. Margotto.

A ressonância magnética (RM) cerebral em idade equivalente a termo (TEA-MRI) permite a identificação de anormalidades típicas relacionadas à prematuridade, como volumes cerebrais reduzidos, microestrutura alterada da substância branca e conectividade anormal, podendo ajudar na previsão de quais áreas funcionais poderiam ser particularmente afetadas para ajudar a otimizar abordagens de habilitação direcionadas para bebês prematuros em risco. Foram incluídos 109 prematuros com extremo baixo peso. A redução do volume da substância branca e a mielinização retardada foram associadas a pior desenvolvimento geral, habilidades sociais e coordenação olho-mão.  Lesões císticas da substância branca foram associadas a piores resultados motores, enquanto anormalidades de sinal da substância branca e adelgaçamento do corpo caloso foram associados a piores desempenhos cognitivos não-verbais. A redução do volume de substância cinzenta profunda correlacionou-se com piores trajetórias de desenvolvimento. Assim, a TEA-MRI poderia ajudar a identificar bebês que podem se beneficiar de estratégias de reabilitação precoce que, de outra forma, talvez não estivessem disponíveis nos primeiros meses, que são uma janela crítica de oportunidade para o neurodesenvolvimento.

Avaliação Ultrassonográfica do Parênquima Cerebral em Bebês Prematuros com Exposição Pré-Natal aos Opioides

Avaliação Ultrassonográfica do Parênquima Cerebral em Bebês Prematuros com Exposição Pré-Natal aos Opioides

Ultrasound evaluation of brain parenchyma in preterm infants with prenatal opioid exposure. Tivnan P, Setty BN, Howard E, Agarwal J, Farris CW, Wachman EM, Castro-Aragon I.J Perinatol. 2023 Oct 20. doi: 10.1038/s41372-023-01804-3. Online ahead of print.PMID: 37863985. Estados Unidos.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O  estudo mostrou tamanhos diminuídos do cérebro (diâmetro biparietal) e do cerebelo (transcerebelar), bem como outras medidas que incorporaram diversas estruturas, incluindo o comprimento dos gânglios da base até a ínsula, além  diferenças volumétricas parenquimatosas reduzidas. Esses bebês têm perímetro cefálico menor em relação aos bebês não expostos ao nascer. Esse volumes cerebrais reduzidos persistem mais tarde na vida, com volumes reduzidos mostrados em crianças em idade escolar com exposição pré-natal, bem como em adultos jovens. aumentando potencialmente o risco de anomalias do desenvolvimento neurológico.

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens: ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA: LESÃO TALÂMICA E DO BRAÇO POSTERIOR DA CÁPSULA INTERNA (PLIC: posterior limb of the internal capsule)

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens: ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA: LESÃO TALÂMICA E DO BRAÇO POSTERIOR DA CÁPSULA INTERNA (PLIC: posterior limb of the internal capsule)

Paulo R. Margotto.

Caso Clínico:

RN de  39 semanas e 2 dias, peso ao nascer de 2890g, Est 46,5  cm / PC 36,5 cm, Apgar de 1,4,6. Parto normal. Amniorrexe de 36h. Período expulsivo prolongado e uso de vácuo-extrator. RN nasceu banhado em líquido amniótico meconial, não chorou, atônico, em morte aparente, palidez importante e cianose generalizada. Realizado clampeamento imediato do cordão e levado para berço de reanimação. Feito aspiração de vias aéreas com saída de grande quantidade de líquido meconial. RN estava bradicárdico. Realizado VPP sem melhora. Intubado com TOT 3,5, sem intercorrências, com frequência cardíaca  > 100 bpm após ventilação. Seguia atônico, sem respiração espontânea e com palidez cutânea. Mantido intubado, monitorizado, ventilado com PI de 20 e PEEP 5. Sarnat e Sarnat grave. Gasometria da primeira hora com acidose metabólica grave (pH: 7.03; PCO2: 32; Lac>135; HCO3: 8.5 e B2: -22.3). Apresentou movimentos de hipertonia nas primeiras horas de vida, sendo feita dose de fenobarbital (ataque e manutenção). Evoluiu com instabilidade hemodinâmica, com necessidade de droga vasoativa (adrenalina em dose baixa). Enzimas cardíacas e hepáticas elevadas; além de aumento das escórias nitrogenadas. Reaquecimento sem intercorrências.

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL-Compartilhando imagens: Leucomalácia Periventricular (Entendendo a sua ocorrência a despeito de 2 casos. O papel da INFECÇÃO e da VENTILAÇÃO MECÂNICA PROLONGADA)

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL-Compartilhando imagens: Leucomalácia Periventricular (Entendendo a sua ocorrência a despeito de 2 casos. O papel da INFECÇÃO e da VENTILAÇÃO MECÂNICA PROLONGADA)

Paulo R.  Margotto

Em conclusão, tratam-se de dois prematuros com   leucomalácia periventricular (LPV) multicística, cujo fator de risco preponderante foi a INFECÇÃO no caso 1 com o desenvolvimento das lesões císticas mais precoces, aos 14 dias. No caso 2,   o fator de forte evidência foi o longo tempo de VENTILAÇÃO MECÂNICA (43 dias). Interessante que o gemelar 1 não desenvolveu LPV (só necessitou de assistência respiratória  em CPAP nasal)

A seguir descrevemos:

– o entendimento da LPV quanto à linha de tempo para o seu desenvolvimento,

– a importância o ultrassom cerebral seriado nesses bebês prematuros extremos na sua detecção precoce (acurácia de 91% sensibilidade de 100%), permitindo intervenção precoce  com melhora dos  resultados do neurodesenvolvimento

– a ênfase em dois fatores importantes de  risco, que foram a INFECÇÃO (caso 1) destaque para a rotura prematuras de membranas e a corioamnionite (dois preditores significante de LPV) e a DURAÇÃO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA (caso 2) que leva a alterações na mielinização e adelgaçamento do corpo caloso, além  de perda neuronal difusa no córtex cerebral mais profundo, tálamo, hipocampo, globo pálido e cerebelo. EVITE VENTILAÇÃO MECÂNICA PROLONGADA!

 

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL-compartilhando imagens: HIDROCEFALIA-DVP-INFECÇÃO

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL-compartilhando imagens: HIDROCEFALIA-DVP-INFECÇÃO

Paulo R. Margotto

                                                                                                              DVP-INFECÇÃO

A derivação ventrículo-peritoneal (DVP) é um dos procedimentos mais realizados em neurocirurgia. No entanto, a incidência de infecção secundária ao shunt V-P é um problema sério com uma taxa de infecção variando de 0,3% a 40%. A recorrência de infecção pelo shunt ocorreu em 27,27%. Todos os pacientes com infecção do shunt foram tratados com drenagem ventricular externa (DVE) e antibióticos. Staphylococcus epidermidis, Enterococcus fecium e Escherichia coli foram os organismos mais frequentemente identificados. S. epidermidis, E. fecium e E. coli foram freqüentemente detectados em pacientes com shunt associado à mielomeningocele.

Shunts inseridos para o tratamento de hidrocéfalos são mais vulneráveis à infecções bacterianas. No estudo de Arslan et al, as infecções de shunt ocorreram a uma taxa de 19,39%.

Com base na etiologia do hidrocéfalo, vários estudos foram realizados. A incidência de infecção de shunt é de 16 a 40% para crianças com mielomeningocele, 11 a 33% para aquelas com hemorragia intraventricular, 6 a 35% para pacientes com hidrocéfalo por obstrução congênita e 27 a 45% para crianças com infecção recorrente de shunt.

A hemorragia da matriz germinativa é o tipo mais comum de hemorragia intraventricular em bebês prematuros, particularmente bebês com muito baixo peso ao nascer. Crianças com hidrocéfalo secundário à hemorragia intraventricular são mais vulneráveis a desenvolver infecções de shunt devido à deficiência imunológica congênita. Portanto, a hemorragia intraventricular de recém-nascidos é um fator de risco potencial.

A colocação precoce de shunt para hidrocefalia  pós-hemorrágica é amplamente ineficaz e associada a um risco aumentado de infecção. Um estudo que incluiu 19 prematuros com hidrocefalia  pós-hemorrágica revelou uma taxa de infecção do shunt de aproximadamente 21%.

Medidas temporárias, como drenagem extraventricular ou punção ventricular, podem ser realizadas até que a tolerância do paciente aumente.

No estudo de Arslan et al a  incidência de infecção pelo shunt ventrículo-peritoneal ocorreu em 14,5% dos bebês com hemorragia intraventricular.

A perfuração intestinal tardia após a operação de DVP é uma causa de meningite recorrente, ocorrendo com uma incidência de 43%-48%. Para pacientes com meningite recorrente frequente, a perfuração intestinal deve ser considerada.

Sciubba et al, citados por Arslan et al,  relataram que a colocação de shunt V-P em neonatos prematuros foi associada a um aumento de aproximadamente cinco vezes no risco de infecções do shunt.

Uma revisão retrospectiva de Vinchon et al (citados por Arslan et L). sobre a incidência de infecções de shunt em neonatos prematuros levantou a recomendação de que punções ventriculares  e drenagem ventricular externa nessas crianças são eficazes até o tratamento mais definitivo com colocação de shunt.