Categoria: Assistência ao Recém-nascido na Sala de Parto

CUIDADO INTEGRAL AO RECÉM-NASCIDO ASFIXIADO NA UNIDADE NEONATAL (1o Congresso Internacional de Neonatologia do Distrito Federal, 30/11 a 1/12/2022)

CUIDADO INTEGRAL AO RECÉM-NASCIDO ASFIXIADO NA UNIDADE NEONATAL (1o Congresso Internacional de Neonatologia do Distrito Federal, 30/11 a 1/12/2022)

Katti Randall (EUA).

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

Sabemos que procedimento Hipotermia Terapêutica (HT) é seguro, efetivo, mas nem sempre sem consequência! No entanto, o risco vale o benefício! Mesmo nos EUA nem todos os Centros oferecem hipotermia e temos que separar o bebê da família, enviando-o a um Centro preparado para o seu resfriamento. E isso constitui para o bebê um estresse tóxico. Essa separação é estressante para o bebê e a família. E assim, combinamos dano cerebral + estresse. É de grande importância que saiamos aplicar os CUIDADOS DO DESENVOLVIMENTO a esses bebês submetidos à HT ( proteger o sono, a dor e o estresse  e atividades de apoio na vida diária [alimentação, posicionamento, cuidado centrado na família]) e depois o ambiente, que não seja barulhento, cheio de muito superestímulo.  Como podemos aplicar aos recém-nascidos que estão sendo resfriados os Cuidados de Desenvolvimento. Aplicando as seis letras COOLME (Conter e oferecer um bom suporte postural: apoiar o corpo do bebê prematuro o mais próximo  possível da posição em que o bebê estaria no útero; Ofereça um ambiente sensorial de cura, observando o sono e procurar ataques epilépticos no EEG de amplitude (o cérebro danificado não pode organizar os padrões de sono: lactentes resfriados com resultados ruins tiveram retorno do ciclo sono-vigília após 48 horas; lactentes normotérmicos com bons resultados eram mais propensos a ter retorno do ciclo sono vigília antes de 24 horas); Otimize a nutrição e talvez ofereça alimentação; Look (olhe para a pele com frequência; Minimizar a dor e o sofrimento (há uma tendência nos  Estados Unidos  ao uso de analgesia no resfriamento (em  estudo sobre  uso da dexmedetomidina durante o resfriamento [DICE TRIAL, com previsão de término em 2024) e finalmente  a última letra (E) que é  Encorajar o abraço e conectar com o bebê. Segundo Katti Randall  esse é o seu preferido. A Experiência Emocional foi dividida em 3 categorias principais a partir dos pais: Experiência traumática (“quero dizer, foi horrível vê-lo tremer e sentir frio”); Perda da normalidade (incapacidade de fornecer cuidados básicos ao bebê, como  troca de fraldas, alimentação) e  Separação do bebê (a separação física imposta pela hipotermia afetou negativamente sua capacidade de se relacionar com o bebê). Então para minimizar esses sentimentos  devemos mudar a nossa atitude, nessas 72 de resfriamento, incorporando os pais nos cuidados da UTIN, recuperando a paternidade (de segurar para defender) e apoiando outras família com casos de hipotermia. A Equipe de Randall avaliou a segurança da família EM SEGURAR O BEBÊ EM HIPOTERMIA TERAPÊUTICA (28 a 200 minutos, média de 82 horas). Não houve mudanças na temperatura  ritmo cardíaco,  saturação de O2 e outros dados. Sabemos então  que podíamos fazer isso seguramente. Os bebês com encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) não têm a chance de ter essas experiências iniciais de vínculo. É importante lembrar que os bebês com EHI resfriados não tem a mesma experiência dos demais outros recém-nascidos. Então temos  reassumir  o mais rapidamente possível e quando fazemos o reaquecimento é quase uma segunda chance  da experiência do nascimento (contato pele a pele, amamentar, banho). Façam essas coisas o mais rapidamente possível para conectá-los aos pais. Nos complementos, Renato Procianoy (RS) realça a importância de se evitar a hipertermia nesses bebês (3,6 a 4 vezes para cada grau acima de 37oC!)  aos 6 a 7 anos de idade morte. Morte, QI < 70 e paralisia cerebral ocorreram em maior número no grupo que teve temperatura mais alta, ou seja, a hipertermia é mais deletéria do que a proteção dada pela hipotermia terapêutica. E agora, o que você vai escolher fazer? Sou apenas um (a). Não posso fazer tudo. Não dá para fazer tudo de uma vez, mas posso fazer algo! Com absoluta certeza, podemos sim!

Clampeamento precoce x tardio do cordão umbilical e resultados maternos e neonatais

Clampeamento precoce x tardio do cordão umbilical e resultados maternos e neonatais

Early versus delayed umbilical cord clamping on maternal and neonatal outcomes.Qian Y, Ying X, Wang P, Lu Z, Hua Y.Arch Gynecol Obstet. 2019 Sep;300(3):531-543. doi: 10.1007/s00404-019-05215-8. Epub 2019 Jun 15.PMID: 31203386 Free PMC article. Review. Artigo Livre!

Apresentação: Lucas do Carmo (R4 em Neonatologia). Coordenação: Miza Vidigal. Residência em Neonatologia do HMIB/SES/DF.

                         Nos complementos: Reanimação Neonatal com o cordão umbilical intacto versos clampeado!

(outubro de  2022)

Estudo de superioridade randomizado controlado, aberto, de grupos paralelos, foi realizado em um hospital terciário na Índia. Os recém-nascidos nascidos com ≥ 34 semanas de gestação após uma gravidez complicada ou trabalho de parto foram randomizados imediatamente antes do nascimento para receber reanimação de acordo com o algoritmo do Programa de Reanimação Neonatal com um cordão intacto (reanimação de cordão intacto ou grupo ICR) ou após clampeamento precoce do cordão (reanimação do cordão ou grupo ECR). A intervenção do estudo alocada foi administrada se o neonato precisasse de VPP ao nascimento. O desfecho primário foi “escore de Apgar expandido” aos 5 minutos após o nascimento.

Resultados

Peso ao nascer, gestação e incidência de complicações na gravidez foram semelhantes nos dois grupos de estudo. A proporção de neonatos que receberam VPP foi menor no grupo ICR (28,7% vs 36,5%, P=0,05, RR: 0,79; IC 95%: 0,61 a 1,01). Entre os recém-nascidos que receberam VPP, o escore de Apgar expandido em 5 minutos foi significativamente maior no grupo ICR (mediana: 15; IQR: 14 a 15 vs 14; 13 a 15; P <0,001). O escore de Apgar expandido em 10 minutos, os escores de Apgar em 5 e 10 minutos e a saturação de oxigênio em 1, 5 e 10 minutos também foram maiores no grupo ICR.

 Conclusão

Em recém-nascidos prematuros e a termo, a ressuscitação com cordão intacto resulta em melhor transição fisiológica pós-natal do que a prática padrão de ressuscitação após clampeamento imediato do cordão.

Ordenha do cordão umbilical x atraso do clampeamento do cordão e desfechos em recém-nascidos prematuros extremos

Ordenha do cordão umbilical x atraso do clampeamento do cordão e desfechos em recém-nascidos prematuros extremos

Umbilical Cord Milking vs Delayed Cord Clamping and Associations with In-Hospital Outcomes among Extremely Premature Infants.Kumbhat N, Eggleston B, Davis AS, DeMauro SB, Van Meurs KP, Foglia EE, Lakshminrusimha S, Walsh MC, Watterberg KL, Wyckoff MH, Das A, Handley SC; Generic Database Subcommittee of the National Institute of Child Health and Human Development Neonatal Research Network. J Pediatr. 2021 May;232:87-94.e4. doi: 10.1016/j.jpeds.2020.12.072. Epub 2021 Jan 5.PMID: 33417919.

Apresentação:Larissa A. Dutra da Silveira – R5 Neonatologia,  Lays Silveira P. Pimentel – R4 Neonatologia. Coordenação: Paulo R. Margotto, Nathália Bardal.

Sabemos das vantagens do clampeamento tardio do cordão (CTC) (1 minuto para os a termo e 30 segundos para os prematuros, ambos que não necessitam de reanimação sobre o precoce), no entanto, muitos prematuros requerem alguma intervenção para fazer a transição para o ambiente extrauterino, o que pode limitar as oportunidades de clampeamento tardio do cordão nessa população. Para esse grupo, a ordenha de cordão (OC) passou a ser uma possível alternativa para a transfusão placentária com os benefícios semelhantes ao CTC. No presente envolvendo prematuros de 22 sem a 28 sem 6 dias, 432 foram expostos à OC e 1402 ao CTC (pelo menos 30 segundos de atraso). Na faixa entre 25-28sem e 6 dias, as taxas de hemorragia intraventricular (HIV) grave foram 2x maiores para ordenha de cordão (Odds ratio ajustadas de 1.89 com IC a 95% de 1.22-2.95), achados semelhantes a estudos recentes, realçando que o CCT nesses bebês é preferível à OC. A ocorrência da HIV se deve ao aumento do retorno venoso ao átrio direito, mais sangue entrando na aorta e cérebro (frágil matriz germinativa, deficiente autorregulação do fluxo sanguíneo) devido ao shunt D-E. No entanto Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano Eunice Kennedy Shriver e o conselho de monitoramento de dados e segurança aprovaram um novo ensaio da ordenha do cordão umbilical em comparação com o clampeamento tardio do cordão umbilical em bebês com idade gestacional maior (30-32 semanas de idade gestacional) e também em Avaliação a OC nos RN≥35 semanas deprimidos ao nascer. A reanimação com o cordão intacto não mostrou benefícios esperados, no entanto são necessários mais estudos. Assim, para os pré-termos <29 semanas, escolher o CCT (30-60 segundos) e evitar a OC.

Manuseio do Recém-Nascido na Sala De Parto

Manuseio do Recém-Nascido na Sala De Parto

Ola Didrik Saugstad , University of Oslo, Noruega, ocorrida no dia 27/3/2021 por ocasião do VI Encontro Internacional e Neonatologia, sob Coordenação Geral dos Drs. Rita Silveira e Renato Procianoy (RS), 100% online.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O que queremos  dizer com o Minuto de Ouro? Quando devemos começar o Minuto de Ouro? Quando os ombros saem?  Quando o cordão umbilical é cortado? Quando o bebê está na mesa de reanimação? Acho que temos que concordar  que devemos  começar o cronômetro quando o bebê saiu. O Minuto de Outro é dividido  em duas partes e cada uma delas com um tempo de 30 segundos (na primeira parte: secar o bebê,  mantê-lo quente e se < 28 semanas enrolar em plástico, estimular a respiração se necessário  e a via aérea deve ser posicionada  na posição correta;  devemos monitorar a frequência cardíaca (FC) e frequência respiratória (FR) e  nos próximos 30 segundos  devemos estabelecer  o suporte  respiratório se necessário  e colocar o oxímetro de pulso  se for necessário  e disponível. É possível conseguir isso  durante o Minuto de Ouro? É difícil estabelecer a primeira ventilação dentro  de um minuto, mas é possível fazer  isso em torno de 60 -70 segundos de vida! O Minuto de Ouro é influenciado pelo IMC da mãe (há um aumento linear com a morte perinatal),  uso do corticosteroide  pré-natal (mesmo que não haja tempo para um curso completo, mesmo assim o corticoide deve ser administrado e o tipo de parto (a taxa ótima de cesariana está entre 10-20%).Entre as novas recomendações: não indicado insuflação sustentada acima de 5 segundos, considere interromper a reanimação após 20 minutos do nascimento se não houver  nenhuma reação, batimento cardíaco (antes era 10 minutos!). Ao invés de contarmos  a FC só 6 segundos, conte por 10 segundos e essa falta de precisão  da avaliação da FC pela ausculta pode ser eliminada. A ausculta é o padrão ouro para  avaliar a FC ao nascimento, pelo menos inicialmente,  antes de estabelecer o ECG e a oximetria de pulso. Em relação ao clampeamento do cordão, em 60 segundos, 70% do sangue é transfundido da placenta para o bebê devendo o cordão umbilical ser clampeado depois de 1 minuto. Metanálise de 19 estudos mostrou benefício nos prematuros com o clampeamento tardio de 30 segundos. A ventilação  com o cordão intacto  é factível, mas  não levou  a nenhuma melhora  clínica imediatamente após o parto e nem  reduziu a morbidade neonatal subsequente. Quanto à ordenha do cordão: para os bebês d<27 semanas ocorreu  4 vezes mais  hemorragia intraventricular grave   no grupo da ordenha principalmente  7 dias após o (22% [20/93] vs 6% [5/89]-p=0,002). O benefício do clampeamento fisiológico, ou seja, começa a ventilar o bebê  e depois cortar o cordão,  foi demonstrado muito bem  no estudo animal de  Hooper S  em Melbourne há alguns anos. Se você cortar o cordão antes de ventilar, a pressão arterial aumenta muito e  também o fluxo carotídeo aumenta. Por outro lado se você clampeia  o cordão após a ventilação  não há aumento significativo da pressão arterial  ou no fluxo carotídeo. Quanto à oxigenação: o clampeamento tardio do cordão aumenta mais rapidamente a Saturação de O2,  os bebês < 32 semanas em CPAP chegam a uma saturação  de 80% em 1 minuto mais cedo do que se não estiver em CPAP, as meninas alcançam  Saturação de O2 de 80% 1 minuto antes dos meninos!  Iniciando com saturação alta e baixa, observou-se que ambos os grupos alcançaram saturação de 80% mais ou menos ao mesmo tempo. Isso ilustra que talvez não seja tão importante  quanto você começa. O mais importante  é como você ajusta a FiO2  para chegar a saturação de 80%. No entanto, devido a tantos riscos adversos potenciais começando com FiO2 alta, sugere  que ainda   comece  com FiO2 baixa  (30%). É importante manter os bebês em instabilidade térmica (envolver em sacos plásticos os <28 semanas).

Uma comparação de estratégias de manejo do cordão umbilical no nascimento em bebês prematuros.

Uma comparação de estratégias de manejo do cordão umbilical no nascimento em bebês prematuros.

Comparison of Strategies for Managing the Umbilical Cord at Birth in Preterm Infants.El-Naggar W, Afifi J, Dorling J, Bodani J, Cieslak Z, Canning R, Ye XY, Crane J, Lee SK, Shah PS; Canadian Neonatal Network and the Canadian Preterm Birth Network Investigators.J Pediatr. 2020 Oct;225:58-64.e4. doi: 10.1016/j.jpeds.2020.05.018. Epub 2020 May 20.PMID: 32442446.

Apresentação:R3 em UTI Pediátrica 9HMIB) : João Paulo S. Cezar. Coordenação: Miza Vidigal. Revisão e Complementação: Paulo R. Margotto.

  • Em neonatos <33 semanas em 30 UTI Neonatais, foram comparados morbimortalidade, necessidade de transfusão e hiperbilirubinemia  com 3 estratégias de clampeamento do cordão umbilical entre o ECC (Clampeamento do cordão Precoce < 30s), DCC (Clampeamento tardio do cordão  ≥ 30s) e UCM (Ordenha do cordão 3-5x). Nesse grande estudo envolvendo 9729 crianças, comparando ordenha de cordão com o clampeamento tardio do cordão, após ajuste para potenciais confundidores, ocorreu significativamente maior incidência de hemorragia intraventricular  com a ordenha de cordão (OR=1,38-IC a 95% de 1,05-1,81), provavelmente  devido à falta de autorregulação cerebral e o possível papel inflamatório da corioamnionite associada.      Não ocorreu hiperbilirrubinemia com a ligadura tardia do cordão.      Assim, a questão de saber se UCM seria preferível a ECC, especialmente em situações em que o DCC é contra-indicado, permanece sem resposta e necessita de mais pesquisas.