Reanimação Neonatal e Novas Diretrizes
Karinne Cardoso Muniz. Neonatologista. Coordenadora do PRN-SPDF
Brasília, 25 de maio de 2022
Karinne Cardoso Muniz. Neonatologista. Coordenadora do PRN-SPDF
Brasília, 25 de maio de 2022
Umbilical Cord Milking vs Delayed Cord Clamping and Associations with In-Hospital Outcomes among Extremely Premature Infants.Kumbhat N, Eggleston B, Davis AS, DeMauro SB, Van Meurs KP, Foglia EE, Lakshminrusimha S, Walsh MC, Watterberg KL, Wyckoff MH, Das A, Handley SC; Generic Database Subcommittee of the National Institute of Child Health and Human Development Neonatal Research Network. J Pediatr. 2021 May;232:87-94.e4. doi: 10.1016/j.jpeds.2020.12.072. Epub 2021 Jan 5.PMID: 33417919.
Apresentação:Larissa A. Dutra da Silveira – R5 Neonatologia, Lays Silveira P. Pimentel – R4 Neonatologia. Coordenação: Paulo R. Margotto, Nathália Bardal.
Sabemos das vantagens do clampeamento tardio do cordão (CTC) (1 minuto para os a termo e 30 segundos para os prematuros, ambos que não necessitam de reanimação sobre o precoce), no entanto, muitos prematuros requerem alguma intervenção para fazer a transição para o ambiente extrauterino, o que pode limitar as oportunidades de clampeamento tardio do cordão nessa população. Para esse grupo, a ordenha de cordão (OC) passou a ser uma possível alternativa para a transfusão placentária com os benefícios semelhantes ao CTC. No presente envolvendo prematuros de 22 sem a 28 sem 6 dias, 432 foram expostos à OC e 1402 ao CTC (pelo menos 30 segundos de atraso). Na faixa entre 25-28sem e 6 dias, as taxas de hemorragia intraventricular (HIV) grave foram 2x maiores para ordenha de cordão (Odds ratio ajustadas de 1.89 com IC a 95% de 1.22-2.95), achados semelhantes a estudos recentes, realçando que o CCT nesses bebês é preferível à OC. A ocorrência da HIV se deve ao aumento do retorno venoso ao átrio direito, mais sangue entrando na aorta e cérebro (frágil matriz germinativa, deficiente autorregulação do fluxo sanguíneo) devido ao shunt D-E. No entanto Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano Eunice Kennedy Shriver e o conselho de monitoramento de dados e segurança aprovaram um novo ensaio da ordenha do cordão umbilical em comparação com o clampeamento tardio do cordão umbilical em bebês com idade gestacional maior (30-32 semanas de idade gestacional) e também em Avaliação a OC nos RN≥35 semanas deprimidos ao nascer. A reanimação com o cordão intacto não mostrou benefícios esperados, no entanto são necessários mais estudos. Assim, para os pré-termos <29 semanas, escolher o CCT (30-60 segundos) e evitar a OC.
Instituto Fernando Filgueira (IFF); FIOCRUZ -Fundação Oswaldo Cruz; Quali-Neo; Neonatologia Brasil e Instituto Protegendo Cérebros, Salvando Vidas
Ola Didrik Saugstad , University of Oslo, Noruega, ocorrida no dia 27/3/2021 por ocasião do VI Encontro Internacional e Neonatologia, sob Coordenação Geral dos Drs. Rita Silveira e Renato Procianoy (RS), 100% online.
Realizado por Paulo R. Margotto.
O que queremos dizer com o Minuto de Ouro? Quando devemos começar o Minuto de Ouro? Quando os ombros saem? Quando o cordão umbilical é cortado? Quando o bebê está na mesa de reanimação? Acho que temos que concordar que devemos começar o cronômetro quando o bebê saiu. O Minuto de Outro é dividido em duas partes e cada uma delas com um tempo de 30 segundos (na primeira parte: secar o bebê, mantê-lo quente e se < 28 semanas enrolar em plástico, estimular a respiração se necessário e a via aérea deve ser posicionada na posição correta; devemos monitorar a frequência cardíaca (FC) e frequência respiratória (FR) e nos próximos 30 segundos devemos estabelecer o suporte respiratório se necessário e colocar o oxímetro de pulso se for necessário e disponível. É possível conseguir isso durante o Minuto de Ouro? É difícil estabelecer a primeira ventilação dentro de um minuto, mas é possível fazer isso em torno de 60 -70 segundos de vida! O Minuto de Ouro é influenciado pelo IMC da mãe (há um aumento linear com a morte perinatal), uso do corticosteroide pré-natal (mesmo que não haja tempo para um curso completo, mesmo assim o corticoide deve ser administrado e o tipo de parto (a taxa ótima de cesariana está entre 10-20%).Entre as novas recomendações: não indicado insuflação sustentada acima de 5 segundos, considere interromper a reanimação após 20 minutos do nascimento se não houver nenhuma reação, batimento cardíaco (antes era 10 minutos!). Ao invés de contarmos a FC só 6 segundos, conte por 10 segundos e essa falta de precisão da avaliação da FC pela ausculta pode ser eliminada. A ausculta é o padrão ouro para avaliar a FC ao nascimento, pelo menos inicialmente, antes de estabelecer o ECG e a oximetria de pulso. Em relação ao clampeamento do cordão, em 60 segundos, 70% do sangue é transfundido da placenta para o bebê devendo o cordão umbilical ser clampeado depois de 1 minuto. Metanálise de 19 estudos mostrou benefício nos prematuros com o clampeamento tardio de 30 segundos. A ventilação com o cordão intacto é factível, mas não levou a nenhuma melhora clínica imediatamente após o parto e nem reduziu a morbidade neonatal subsequente. Quanto à ordenha do cordão: para os bebês d<27 semanas ocorreu 4 vezes mais hemorragia intraventricular grave no grupo da ordenha principalmente 7 dias após o (22% [20/93] vs 6% [5/89]-p=0,002). O benefício do clampeamento fisiológico, ou seja, começa a ventilar o bebê e depois cortar o cordão, foi demonstrado muito bem no estudo animal de Hooper S em Melbourne há alguns anos. Se você cortar o cordão antes de ventilar, a pressão arterial aumenta muito e também o fluxo carotídeo aumenta. Por outro lado se você clampeia o cordão após a ventilação não há aumento significativo da pressão arterial ou no fluxo carotídeo. Quanto à oxigenação: o clampeamento tardio do cordão aumenta mais rapidamente a Saturação de O2, os bebês < 32 semanas em CPAP chegam a uma saturação de 80% em 1 minuto mais cedo do que se não estiver em CPAP, as meninas alcançam Saturação de O2 de 80% 1 minuto antes dos meninos! Iniciando com saturação alta e baixa, observou-se que ambos os grupos alcançaram saturação de 80% mais ou menos ao mesmo tempo. Isso ilustra que talvez não seja tão importante quanto você começa. O mais importante é como você ajusta a FiO2 para chegar a saturação de 80%. No entanto, devido a tantos riscos adversos potenciais começando com FiO2 alta, sugere que ainda comece com FiO2 baixa (30%). É importante manter os bebês em instabilidade térmica (envolver em sacos plásticos os <28 semanas).
A Comparison of Strategies for Managing the Umbilical Cord at Birth in Preterm Infants.El-Naggar W, Afifi J, Dorling J, Bodani J, Cieslak Z, Canning R, Ye XY, Crane J, Lee SK, Shah PS; Canadian Neonatal Network and the Canadian Preterm Birth Network Investigators.J Pediatr. 2020 Oct;225:58-64.e4. doi: 10.1016/j.jpeds.2020.05.018. Epub 2020 May 20.PMID: 32442446.
Apresentação:R3 em UTI Pediátrica 9HMIB) : João Paulo S. Cezar. Coordenação: Miza Vidigal. Revisão e Complementação: Paulo R. Margotto.
Gabriel Variane (SP)
Prezados colegas segue uma Importante iniciativa do grupo da PBSF (Protegendo Cérebros Salvando Vidas) sob a Coordenação do nosso querido Gabriel Variane intitulado SETEMBRO VERDE ESPERANÇA, uma campanha importantíssima no sentido da conscientização da Asfixia Perinatal, uma das importantes causas de morte neonatal e de graves sequelas que não escolhe classe socioeconômica. UM GRAVE PROBLEMA DE SAUDE PÚBLICA. No mundo a Asfixia Perinatal atingi 1,15 milhão por ano (2 bebês por hora no Brasil!). Com a autorização desse grupo estamos participando na divulgação e solicitamos também que faça aos seus pares (Paulo R. Margotto)
Apresentação: Jamille Coutinho Alves
Coordenação: Nathalia Bardal
Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF
▪A presença de líquido amniótico tinto de mecônio é um sinal potencialmente sério de comprometimento fetal e está associado com aumento da mortalidade perinatal.
▪ Muitos autores acreditam que a causa da passagem de mecônio para o líquido amniótico (LA) seja devido à hipoxia que leva ao relaxamento do esfíncter anal.
▪ O comprometimento do bem estar fetal pode levar ao LA tinto de mecônio e este comprometimento pode ser devido à infecção, evidenciado pela corioamnionite. A infecção poderia aumentar a sensibilidade a hipóxia e poderia ser um fator contribuinte de sofrimento fetal durante o trabalho de parto.
Apresentação: Pollyana Alves Gouveia Assunção
Coordenação: Carlos Alberto Zaconeta.
Asfixia perinatal é uma injuria sofrida pelo feto ou pelo recém-nascido (RN) devido à má oxigenação (hipoxia) e/ou má perfusão (isquemia) de múltiplos órgãos. Associa-se a acidose láctica e, na presença de hipoventilação, a hipercapnia. A asfixia pode ser o resultado do insulto crónico, subagudo ou agudo sofrido pelo feto.
Realizar um diagnóstico bem fundamentado de asfixia confirmando ou refutando a etiologia perinatal é de extrema importância para a família e para os profissionais, pois um diagnóstico apressado pode acarretar sofrimento familiar e, cada vez com maior frequência, repercussões médico-legais tanto para obstetras como para neonatologistas.
Contudo, definir asfixia não é simples e isto faz com que seja difícil comparar todos os trabalhos clínicos existentes, uma vez que com freqüência, as definições utilizadas são diferentes. Vários estudos têm evidenciado que o escore de Apgar é insuficiente, como critério único, para o diagnóstico de asfixia perinatal. Uns dos critérios mais usados para caracterizar a presença de asfixia são os da Academia Americana de Pediatria que reserva o termo asfixia para pacientes que apresentam os seguintes fatores associados:
XXVII Encontro Internacional de Neonatologia da Santa Casa de São Paulo (Versão Inédita Online).
Guilherme Sant´Anna (Canadá).
Realizado por Paulo R. Margotto.Neurossonografista das UTI Neonatais do Hospital Santa Lúcia, da Maternidade Brasília e Hospital Materno Infantil de Brasília.pmargotto@gmail.com. www.paulomargotto.com.br.
Entre os destaques: não há confirmação convincente de que haja transmissão vertical da COVID-19 no atual momento, a maior parte dos bebês não apresentam problema algum e a transmissão horizontal precoce é possível. Assim, o desconforto respiratório logo após o nascimento não é causado pela COVID-19 e sim pela prematuridade e outras morbidades. Talvez o problema maior seja nos Profissionais de Saúde que estão trabalhando dentro da UTI e os pais. Quanto à abordagem respiratória: seguir as normas do Programa de Reanimação, com pequenas modificações comentadas a seguir, minimizar a exposição do Profissional (menor número de pessoas na Sala de Parto), encaminhar o RN à UTI numa incubadora pelo caminho mais curto. Quanto à transmissão: ocorre por gotículas de ar que não tem capacidade de ficar flutuando no ar a longa distância (manter a distância entre 1-2 metros), contato com superfícies, aerossóis (vírus pode permanecer viável e contagioso em aerossóis por horas). Os adultos transmitem pela fala, tosse e respiração (no caso do RN, quando chora). Não se conhece a quantidade de vírus que contém essas partículas, porque a carga viral é diferente em cada paciente. O grande problema é quando produzimos aerossol através do procedimento ventilação mecânica, ventilação não invasiva, aspiração oral, nasal e traqueal, cânula de alto fluxo, ambú e máscara. No entanto, esses procedimentos são pobres na produção de aerossóis e os modelos matemáticos demonstram que a chance do Profissional de Saúde pegar a infecção por aerossol é muito baixa. Os Profissionais de Saúde que usaram máscaras cirúrgicas ficaram tão protegidos quando a N95. Não há um quadro típico de SARS-COV-2 em RN. Revisão sistemática de ventilação manual, antes ou depois da intubação, não foi associada a um aumento do risco de transmissão viral. Já a intubação traqueal aumenta 3 vezes mais a chance de adquirir a infecção (essa deve ser realizada pelo colega de maior experiência nesse momento de pandemia) A dispersão do ar em procedimentos geradores de aerossol no RN de 3Kg, em relação a do adulto, é 23 vezes menor (ao redor de 2 cm!). Assim a idéia de não querer usar a ventilação com ambú e máscara para evitar a produção de aerossol, não é uma idéia correta, pois, como vimos a dispersão é pequena em adulto e muito menor ainda em recém-nascidos (é importante evitar escape pela máscara! Com operador inexperiente, o escape pode ocorrer em até 40%). Devem ser usados os filtros hidrofóbicos bacterianos/virais na parte expiratória do sistema (não colocar entre o ambú e o paciente, pelo risco do aumento do espaço morte e aumento do CO2, principalmente em bebês <1000g). Em CPAP selo d´agua colocar o filtro antes do ar entrar na água para não espalhar no ar!Lembrar que esses bebês não nascem com coronavirus. A transmissão vertical é muito rara. Quanto à aspiração, revisão sistemática mostrou que a aspiração de secreção não se associou ao aumento do risco de transmissão. Existe alguma evidência que se for entubar por estar próximo ao doente, fazer a aspiração de forma contínua. Sempre aspirar o tubo em um sistema fechado.Não há nenhuma evidência que haja novos modos de ventilação para os pacientes positivos ou suspeitos que possa diminuir a produção de aerossóis e melhorar o prognóstico do paciente. É bom você lembrar que o bebê é seu amigo, você é o maior inimigo dele
Renato Soibelmann Procianoy, Rita C. Silveira, Paolo Manzoni, Guilherme Sant’Anna. Neonatal COVID‐19: little evidence and the need for more information Jornal de Pediatria (Versão em Português), Volume 96, Issue 3, May–June 2020, Pages 269-272. Download PDF. Artigo Integral!
Com base nos relatos disponíveis (até o momento da redacão deste editorial) e nos dados científicos relatados pela China, Itália e pelos Estados Unidos, recém-nascidos parecem ser significativamente menos afetados pela COVID-19 do que os adultos. No entanto, a falta de evidências de alta qualidade para essa situacão e o ritmo constante de informacões novas e conflitantes têm sido um desafio geral para todas as especialidades médicas, inclusive a terapia intensiva neonatal. Em realidade, o conhecimento atual sobre infeccão por coronavírus 2 (SARS-CoV-2) na síndrome respiratória aguda grave neonatal é limitado. Portanto, várias perguntas permanecem sem resposta e, ao mesmo tempo, a comunidade neonatal precisa agir. Não é de surpreender que isso tenha causado um estresse significativo entre os prestadores de cuidados de saúde neonatal. Em todo o mundo, vários grupos importantes têm trabalhado diligentemente no desenvolvimento de protocolos e diretrizes para a COVID-19 neonatal.No Brasil, um número significativo de documentos sobre esse assunto foi produzido rapidamente por entidades nacionais como a Sociedade Brasileira de Pediatria, o Ministério da Saúde e o Programa de Reanimacão Neonatal. Sem dúvida, essas são etapas críticas e fundamentais na luta contra a COVID-19, mas, dada a constante atualizacão e algumas informacões conflitantes, os profissionais de saúde enfrentam dificuldades para determinar as melhores diretrizes locais. Para tornar as coisas ainda mais desafiadoras, notícias diárias (e muitas vezes não científicas) são divulgadas pela imprensa.