Categoria: Distúrbios Cardiológicos

Controvérsias no tratamento do canal arterial

Controvérsias no tratamento do canal arterial

Augusto Sola. 7o Simpósio Internacional de Neonatologia do Rio de Janeiro, 24 a 26/6/2010. Realizado por Paulo R. Margotto

O furosemide aumenta a prevalência do canal arterial pérvio, pois aumenta a prostaglandina renal e inibe o efeito da indometacina. Anos atrás se usou clorotiazida ou furosemide de forma aleatória e se observou que com o furosemide havia menor resposta à indometacina. Aumenta o risco para hipocalemia, hipercalciúria, alcalose metabólica. Nos RN recebendo gentamicina com furosemide, há aumento de hipoacusia. O furosemide não é benéfico nos prematuros com PCA (quem diz que produzir urina é benéfico para a saúde?). Não há qualquer benefício do furosemide nos prematuros com canal arterial, até onde pesquisei na literatura nos últimos dias.

FUROSEMIDE FOR PREVENTION OF MORBIDITY IN INDOMETHACIN-TREATED INFANTS WITH PATENT DUCTUS ARTERIOSUS. Brion LP,Campbell DE.

 

Canal arterial patente: da fisiologia ao tratamento

Canal arterial patente: da fisiologia ao tratamento

Martin Kluckow (Austrália).IX Congresso Iberoamericano de Neonatologia-SIBEN, 20 a 23 de junho de 2012, Belo Horizonte, MG. Realizado por Paulo R. Margotto

A literatura nos tem recheado de informações (controversas) a respeito da melhor conduta na persistência do canal arterial (PCA), a começar pela definição do que é uma PCA hemodinamicamente significativa (PCAhs). A combinação de dados clínicos (dificuldade de desmame de suporte ventilatório, hipotensão arterial refratária, sinais de insuficiência respiratória) e com os dados ecocardiográficos fluxo reverso na aorta descendente ao nível do diafragma e padrão de shunt pulsátil, medidas do volume ventricular esquerdo e da pressão de enchimento, diâmetro do canal arterial – um diâmetro acima de 2,2mm no terceiro dia de vida, associado a sinais clínicos prediz ausência de fechamento espontâneo, segundo estudo de Afiune et al ([Echocardiographic post-neonatal progress of preterm neonates with patent ductus arteriosus]. Afiune JY, Singer JM, Leone CR. J Pediatr (Rio J). 2005 Nov-Dec;81(6):454-60. Portuguese.Artigo Integral) tem sido usado em 66% dos ensaios clínicos avaliados para esta definição. Estamos na fase do desenho de estudo prospectivo envolvendo recém-nascidos abaixo de 30 semanas de idade gestacional que apresentam escape diastólico cerebral detectado na ultrassonografia transfontanela Doppler, com o objetivo de detectar se há associação entre dados clínicos e ecocardiográficos de PCAhs com este achado.  Outros autores utilizam somente sinais clínicos, como a presença de hemorragia pulmonar (secreção sanguinolenta persistente no tubo endotraqueal) isoladamente ou sinais de PCA com cardiomegalia e edema pulmonar evidenciado ao Rx de tórax com um dos seguintes: hipotensão necessitando de vasopressor numa dose acima de 10ug/kg/min ou insuficiência respiratória não identificada por outra causa que não a PCA, com parâmetros elevados no respirador).

Na avaliação do tratamento levar em consideração a idade gestacional (75% das PCA na idade gestacional >29 semanas fecham espontaneamente). Na avaliação do tratamento profilático, levar em consideração, no seu Serviço,   a presença de cardiologista, as   incidências de hemorragia intraventricular severa e hemorragia pulmonar (em estudo recentemente publicado, a incidência destas duas morbidades  foi, respectivamente de 32,2% e 20% (grupo de 25 semanas-27sem6dias), 20,9% e 11,1% (28 semanas a 29sem6dias) e 7,3% e 1,3% (30semanas a 31sem6dias). A PCA ocorreu em 44%,20% e 19,8%, respectivamente em cada grupo de idade gestacional (Survival and morbidity of premature babies with less than 32 weeks of gestation in the central region of Brazil]. de Castro MP, Rugolo LM, Margotto PR. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012 May;34(5):235-42. Português). Artigo Integral. Como se refere o Dr. Martin Kluckow, seria simplicista demais  dizer para tratar todos  ou não tratar ninguém. Aceitar a hipótese nula implica que não seja necessário o fechamento de todas as PCA, principalmente em RN > 1000g, além da falta de benefício do fechamento profilático, à luz das evidências. A medicina tornar-se uma arte quando a exercemos combinando a evidência com a experiência; não podemos deixar nossas  práticas serem tiranizadas somente com a evidência, pois muitas vezes a “ausência de evidência não é a evidência da ausência”. Nos RN com PCA hemodinamicamente significativa (sinais clínico = ecocardiográficos), principalmente nos RN <1000g nos primeiros dias de vida em suporte ventilatório a opção pelo seu fechamento farmacológico (e não cirúrgico!) pode resultar em diminuição de repercussões adversas. A opção pelo ibuprofeno oral advém da dificuldade de  se obter ibuprofeno venoso no nosso meio, associado com evidências de melhor benefício do oral sobre o venoso, inclusive em recém-nascidos pré-termos extremos, além de não expor estes RN ao risco de hipertensão pulmonar ocasionada pelo ibuprofeno venoso, inclusive o ibuprofeno lisina. Também não dispomos de indometacina endovenosa. Devemos lembrar sempre: Na UTI, identificar subgrupos de neonatos com maior risco para resultados adversos (e nestes, somente nestes atuar!). Esta é a orientação que temos seguido na abordagem da persistência do canal arterial no nosso Serviço.

 

PCA no prematuro: fechar ou aguardar

PCA no prematuro: fechar ou aguardar

Eduardo Bancalari (EUA)

220 Congresso Brasileiro de Perinatologia, 19 a 22 de novembro de 2014, Brasília

Realizado por Paulo R. Margotto

É um dilema fechar ou deixar o canal arterial aberto. Ainda não se sabe como fazer com o canal arterial ao nascer (o canal arterial é uma questão de desenvolvimento). Devido a várias controvérsias na melhor abordagem da PCA na literatura, a Equipe do Dr. Bancalari realizou estudo com RN com peso de 500 a 1250g com PCA não hemodinamicamente significativa, randomizando um grupo para o tratamento precoce e outro, mais tardiamente. Surpreendentemente, houve mais displasia broncopulmonar no grupo de tratamento precoce, não havendo diferenças entre os grupos quanto à ocorrência de hemorragia pulmonar, mortalidade, hemorragia intraventricular e óbito. Além do mais a taxa de fechamento espontâneo neste estudo foi de 49%. Estes resultados provocaram mudanças radicais na Equipe quanto á abordagem da PCA (passaram a ser mais conservadores, tratando aqueles canais arteriais com evidências hemodinâmicas significativas). Assim, houve uma redução de 55% do tratamento da PCA (versos 92% antes). Concomitantemente, na Austrália, Kluckow et al randomizaram recém-nascidos (RN) com PCA hemodinamicamente significativa para tratamento mais precoce e outro grupo, tratamento mais conservador. Sem diferenças entre os grupos quanto à displasia broncopulmonar e óbito. No entanto, houve significativamente mais hemorragia pulmonar no grupo conservador nos primeiros 3 dias de vida. Nos links citamos estudo de janeiro de 2015, mostrando taxa de fechamento espontâneo, nos RN entre 24-27 semanas de 73%, além de que manuseio expectante não aumenta o risco de DBP.  Portanto, esperar não produz efeitos deletérios, mas para os RN com PCA hemodinamicamente significativa está indicado o seu tratamento, pois diminui significativamente a hemorragia pulmonar e possivelmente a DBP; evitar a ligação cirúrgica precoce, devido as suas complicações. Segundo Kaemp (2011)         “os neonatologistas tem a obrigação ética de conduta  adequada com critérios objetivos para a terapia de fechamento da PCA”.Devemos lembrar sempre: Na UTI, identificar subgrupos de neonatos com maior risco para resultados adversos (e nestes, somente nestes atuar!).

 

Hipertensão Arterial no Recém-Nascido

Hipertensão Arterial no Recém-Nascido

                Capítulo de autoria das  Dras. Maya Caetano P. Almeida/ Cláudia Janaína S. Cruz

  da 4a Edição do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco (em preparação)

A partir da melhora dos cuidados da atenção ao recém-nascido, do desenvolvimento de métodos diagnósticos e da definição de critérios, tem-se diagnosticado cada vez maishipertensão arterial sistêmica (HAS) em recém-nascidos. No entanto, a HAS neonatal ainda tem sido subdiagnosticada tanto em países desenvolvidos quanto nos paísesem desenvolvimento conforme demonstrado por vários estudos.

Mesmo entre pacientes com fatores de risco para hipertensão, como os recém-nascidos com anormalidade cardiovascular ou renal, aqueles que realizaram cateterismo umbilical ou portadores de displasia broncopulmonar, a pressão arterial não é aferida rotineiramente em muitas unidades de atendimento neonatal.A incidência de HAS neonatal é desconhecida. Acredita-se que somente 1 a 2% dos neonatos são avaliados em relação a pressão arterial.Além disso, relata-se que, na maioria das vezes, afere-se a pressão arterial nesses pacientespara diagnosticar hipotensão ao invés de detectar hipertensão.

Os seguintes fatoressão identificados como limitadores tanto da aferição da pressão arterial quanto da interpretação dos valores encontrados nessa população de pacientes: a seleção da braçadeira de tamanho apropriado, a dificuldade de interpretação dos valores encontrados em função de fatores que podem interferir nesses resultados como o paciente estar choroso ou agitado, a variação dos valores de acordo com peso e idade gestacional e a limitação da ausculta dos sons de Korotkoff em função da baixa frequência e amplitude do pulso nesses pacientes.

Considera-se hipertenso o paciente que apresente pressão arterial persistentemente acima do P95, de modo que podem ser necessárias várias aferições para confirmação.

Idade pós-concepção   P50 P95 P99
 

26 semanas

PAS 55 72 77
PAD 30 50 56
PAM 38 57 63
 
28 semanas PAS 60 75 80
PAD 38 50 54
PAM 45 58 63
 
 

30 semanas

PAS 65 80 85
PAD 40 55 60
PAM 48 63 68
 
 

32 semanas

PAS 68 83 88
PAD 40 55 60
PAM 49 64 69
 
 

34 semanas

PAS 70 85 90
PAD 40 55 60
PAM 50 65 70
 
36 semanas PAS 72 87 92
PAD 50 65 70
PAM 57 72 77
 
 

38 semanas

PAS 77 92 97
PAD 50 65 70
PAM 59 74 79
 
 

40 semanas

PAS 80 95 100
PAD 50 65 70
PAM 60 75 80
 
 

42 semanas

PAS 85 98 102
PAD 50 65 70
PAM 62 76 81
 
 

44 semanas

PAS 88 105 110
PAD 50 68 73
PAM 63 80 85

PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; PAM: pressão arterial média.