Categoria: Distúrbios Gastrintestinais

ENTEROCOLITE NECROSANTE (ECN): DA EVIDÊNCIA CIENTÍFICA À PRÁTICA CLÍNICA

ENTEROCOLITE NECROSANTE (ECN): DA EVIDÊNCIA CIENTÍFICA À PRÁTICA CLÍNICA

Palestra realizada por Roger Soll (EUA)  no 27º Congresso de Perinatologia, Rio de Janeiro, 19-22/11/2025.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A enterocolite necrosante permanece uma das complicações mais graves em recém-nascidos prematuros de muito baixo peso (VLBW), com incidência atual de ~5–6% (queda de ~10% nos anos 2000) e mortalidade de 10–50%, especialmente alta na forma cirúrgica (~35–45%). Sobreviventes apresentam sequelas neurodesenvolvimentais graves, reinternações e cirurgias pós-alta. A patogênese é multifatorial: disbiose intestinal, isquemia/reperfusão e imaturidade da mucosa.Prevenção baseada em evidências Cochrane (até 2024–2025): Estratégias de alimentação (início precoce/tardio, aumento lento/rápido, nutrição trófica) não alteram o risco de ECN ou mortalidade; Leite humano doado reduz o risco de ECN em ~47% (RR 0,53; NNT ≈ 33) sem impacto significativo na mortalidade ou sepse tardia; Probióticos (principalmente combinações Lactobacillus + Bifidobacterium) diminuem ECN em ~46–54%, mortalidade em ~23–32% e sepse tardia levemente, com risco de sepse pelo probiótico <0,1% em produtos de qualidade; Transfusões de hemácias mostram associação temporal, mas ensaios randomizados não confirmam causalidade; Iniciativas de melhoria da qualidade (aumento de leite materno/doado, protocolos padronizados de alimentação/transfusão, stewardship de antibióticos e probióticos em alguns Centros) reduziram a incidência de ECN para <2% em várias UTIs. Portanto,  Leite humano doado é a intervenção mais consensual e segura. Probióticos mostram benefício robusto, mas sua adoção depende de produto regulamentado e contexto local. Há um grande estudo que está sendo realizado agora  que está avaliando com um produto  investigacional específico que será comercializado COMO FÁRMACO o primeiro para neonatos (produto: Lactobacillus reuteri). Na decisão do uso de probióticos é importante que você conheça a sua incidência de ECN e assim você pode calcular o número necessário para tratamento para evitar 1 caso de ECN-há uma tabela interessante Para esse cálculo (se a sua Unidade tem uma incidência de 1%  ou 2%, talvez você tenha que dar probióticos  para 172 a 2940 bebês para prevenir um caso!!!).  E esse é o julgamento se vale apenas  os custos, esforços e  riscos potenciais.

AUDIO POR IA:Enterocolite Necrosante(ECN): da evidência científica à prática clínica

AUDIO POR IA:Enterocolite Necrosante(ECN): da evidência científica à prática clínica

Palestra realizada por Roger Soll (EUA)  no 27º Congresso de Perinatologia, Rio de Janeiro, 19-22/11/2025.

Realizado por Paulo R. Margotto

 

A enterocolite necrosante permanece uma das complicações mais graves em recém-nascidos prematuros de muito baixo peso (VLBW), com incidência atual de ~5–6% (queda de ~10% nos anos 2000) e mortalidade de 10–50%, especialmente alta na forma cirúrgica (~35–45%). Sobreviventes apresentam sequelas neurodesenvolvimentais graves, reinternações e cirurgias pós-alta. A patogênese é multifatorial: disbiose intestinal, isquemia/reperfusão e imaturidade da mucosa.Prevenção baseada em evidências Cochrane (até 2024–2025): Estratégias de alimentação (início precoce/tardio, aumento lento/rápido, nutrição trófica) não alteram o risco de ECN ou mortalidade; Leite humano doado reduz o risco de ECN em ~47% (RR 0,53; NNT ≈ 33) sem impacto significativo na mortalidade ou sepse tardia; Probióticos (principalmente combinações Lactobacillus + Bifidobacterium) diminuem ECN em ~46–54%, mortalidade em ~23–32% e sepse tardia levemente, com risco de sepse pelo probiótico <0,1% em produtos de qualidade; Transfusões de hemácias mostram associação temporal, mas ensaios randomizados não confirmam causalidade; Iniciativas de melhoria da qualidade (aumento de leite materno/doado, protocolos padronizados de alimentação/transfusão, stewardship de antibióticos e probióticos em alguns Centros) reduziram a incidência de ECN para <2% em várias UTIs. Portanto,  Leite humano doado é a intervenção mais consensual e segura. Probióticos mostram benefício robusto, mas sua adoção depende de produto regulamentado e contexto local. Há um grande estudo que está sendo realizado agora  que está avaliando com um produto  investigacional específico que será comercializado COMO FÁRMACO o primeiro para neonatos (produto: Lactobacillus reuteri). Na decisão do uso de probióticos é importante que você conheça a sua incidência de ECN e assim você pode calcular o número necessário para tratamento para evitar 1 caso de ECN-há uma tabela interessante Para esse cálculo (se a sua Unidade tem uma incidência de 1%  ou 2%, talvez você tenha que dar probióticos  para 172 a 2940 bebês para prevenir um caso!!!).  E esse é o julgamento se vale apenas  os custos, esforços e  riscos potenciais.

Uso excessivo de medicamentos para refluxo em neonatos

Uso excessivo de medicamentos para refluxo em neonatos

Overuse of reflux medications in NeonatesRatnasamy K, Mostamand S.Semin Perinatol. 2025 Oct 10:152160. doi: 10.1016/j.semperi.2025.152160. Online ahead of print.PMID: 41076374.  Review.

Realizado por Paulo R. Margotto

O artigo aborda o uso excessivo de medicamentos para refluxo gastroesofágico (RGE) em neonatos, especialmente prematuros, destacando a distinção entre RGE fisiológico (comum e auto-limitado até 12 meses) e doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), que causa sintomas problemáticos como regurgitação excessiva, choro inexplicável e complicações respiratórias. A prevalência é alta em UTINs (10-37% dos neonatos recebem tratamento), impulsionada por sintomas vagos e diagnóstico empírico, com custos econômicos elevados (até US$ 70.000 adicionais por caso). Apesar de diretrizes da NASPGHAN recomendando abordagens não farmacológicas iniciais (como modificações alimentares e posicionamento), há variação significativa nas práticas, com supressores ácidos (H2RAs e IBPs) sendo os mais prescritos, embora evidências mostrem pouca eficácia em reduzir sintomas e riscos como infecções, alterações no microbioma, hipomagnesemia e fraturas ósseas. Outros agentes, como alginatos e procinéticos (ex.: metoclopramida), têm dados limitados e efeitos adversos graves. Os autores enfatizam a necessidade de diagnóstico objetivo (ex.: impedância-pH intraluminal multicanal  [pH/MII]), tomada de decisão compartilhada e administração institucional para reduzir o uso excessivo, priorizando cuidados conservadores e testes curtos de medicação apenas quando necessário.

Eixo intestino-pulmão-cérebro: detalhes que mudam o prognóstico

Eixo intestino-pulmão-cérebro: detalhes que mudam o prognóstico

Palestra apresentada pelo Dr. Mauricio Magalhães no XXXII Encontro Internacional de Neonatologia do Hospital Santa Casa de São Paulo, 16-17/6/2025.

Realizado por Paulo R. Margotto

A Palestra destaca a comunicação bidirecional e complexa entre intestino, pulmão e cérebro em neonatos, que é crucial para o sistema imunológico, maturação de órgãos e bem-estar, mediada por vias neurais, hormonais e imunológicas. O desenvolvimento da microbiota intestinal é um evento chave na vida neonatal, influenciado por bactérias maternas, tipo de parto e, principalmente, pela alimentação (leite materno ou fórmula). A disbiose (desequilíbrio da microbiota) tem graves consequências, como displasia broncopulmonar (DBP) e enterocolite necrosante (ECN) em prematuros, e impacta negativamente o neurodesenvolvimento, associando-se a sepse neonatal, déficits cognitivos e comportamentais, ansiedade, depressão e Transtornos do Espectro Autista (TEA). A falta de nutrição enteral precoce pode levar a um “intestino permeável”, que induz inflamação sistêmica afetando todos os órgãos, incluindo o cérebro. Metabólitos produzidos pela microbiota, como ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e metabólitos do triptofano, influenciam positivamente o desenvolvimento e a função cerebral. O leite materno (da própria mãe) é o padrão ouro da nutrição, rico em IgA, bactérias probióticas e oligossacarídeos (HMOs), que reduzem a incidência de ECN, sepse, retinopatia da prematuridade (ROP) e DBP, além de promoverem maior volume cerebral e melhor conectividade. A colostroterapia (0,2 ml a cada 3 horas) é uma prática importante, estimulando bifidobactérias e fortalecendo a barreira intestinal. O leite humano doado pasteurizado (DHM) é a melhor alternativa ao leite da própria mãe, pois favorece um microbioma intestinal mais semelhante ao leite materno do que a fórmula, apesar de algumas perdas no processo de pasteurização. O uso de antibióticos em neonatos, mesmo necessário para prevenir sepse, pode ser prejudicial à microbiota, alterando sua diversidade e impactando o neurodesenvolvimento. Estudos mostraram que o uso de antibióticos por mais de 5 dias em prematuros extremos aumenta a incidência de ECN e mortalidade. Pesquisas com camundongos indicam que a exposição precoce à penicilina altera substancialmente a microbiota intestinal e a expressão gênica em áreas cerebrais cruciais para o neurodesenvolvimento, com efeitos de longo prazo no microbioma. A cafeína, usada para apneia da prematuridade, melhora o prognóstico pulmonar e influencia positivamente o neurodesenvolvimento. O rápido crescimento cerebral requer alta demanda nutricional, sendo o DHA e ARA importantes para a inteligência e redução de ROP.

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens: INFARTO HEMORRÁGICO/HEMORRAGIA NA SUPRARRENAL – TROMBOCITOPENIA

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens: INFARTO HEMORRÁGICO/HEMORRAGIA NA SUPRARRENAL – TROMBOCITOPENIA

Paulo R. Margotto.

Trata-se de um bebê de cesariana por sofrimento fetal durante o trabalho e paro, 36 semanas, Apgar de 7/9, peso de 2.695g, AIG. Apresentou desconforto respiratório precoce, sendo transferido a UTI Neonatal com O2 contínuo em cateter nasal por 3 dias e depois intermitente por mais 4 dias. Apresentou trombocitopenia (plaqueta de 60.000/mm3). Eco abdominal realizado pela Dra. Naima que mostrou imagem sugestiva de hemorragia adrenal a esquerda sendo repetida com 7 dias, mostrando evolução típica (em fase de liquefação). Alta em acompanhamento com a neuropediatria e hematologia. Entre os tipos de trombocitopenia, a trombocitopenia isoimune neonatal é uma causa incomum, mas importante, de lesões hemorrágicas intrauterinas. Quanto a hemorragia na suprarrenal trouxemos a lembrança do ESCROTO AZUL como sinal de hemorragia na suprarrenal. Confira na discussão!

Tendências da Contagem Absoluta de Monócitos no Sangue em Recém-Nascidos Prematuros com Suspeita de Enterocolite Necrosante: uma Ferramenta Complementar para o Diagnóstico?

Tendências da Contagem Absoluta de Monócitos no Sangue em Recém-Nascidos Prematuros com Suspeita de Enterocolite Necrosante: uma Ferramenta Complementar para o Diagnóstico?

Blood absolute monocyte count trends in preterm infants with suspected necrotizing enterocolitis: an adjunct tool for diagnosis? Moroze M, Morphew T, Sayrs LW, Eghbal A, Holmes WN, Shafer G, Mikhael M.J Perinatol. 2024 Aug 1. doi: 10.1038/s41372-024-02070-7. Online ahead of print.PMID: 39090351

Realizado por Paulo R. Margotto.

A enterocolite necrosante (ECN) é caracterizada pela infiltração de macrófagos nos tecidos afetados. Como os macrófagos intestinais são derivados do recrutamento e diferenciação in situ de monócitos sanguíneos na mucosa intestinal, os autores mostraram que  o aumento do recrutamento de monócitos para o intestino durante a ECN reduz a concentração de monócitos sanguíneos e que essa queda nos monócitos sanguíneos pode ser um biomarcador útil para a ECN. Em pacientes com ECN estágio 2 ou 3, a contagem de monócitos  caiu em média 43% do valor basal no início da suspeita em comparação com aqueles sem ECN ou  ECN estágio 1(ECN estágio 1 pode não mostrar a mesma diminuição na contagem de monócitos devido à provável ausência de inflamação intestinal). Uma diminuição na contagem de monócitos  pode ser um biomarcador auxiliar para confirmar o diagnóstico de ECN.

FALTA DE ALIMENTAÇÃO ENTERAL ASSOCIADA À MORTALIDADE NA PREMATURIDADE E ENTEROCOLITE NECROSANTE (ECN)

FALTA DE ALIMENTAÇÃO ENTERAL ASSOCIADA À MORTALIDADE NA PREMATURIDADE E ENTEROCOLITE NECROSANTE (ECN)

Lack of Enteral Feeding Associated with Mortality in Prematurity and Necrotizing Enterocolitis. Jeziorczak PM, Frenette RS, Aprahamian CJ.J Surg Res. 2022 Feb;270:266-270. doi: 10.1016/j.jss.2021.09.028. Epub 2021 Oct 26.PMID: 34715538.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O objetivo principal deste estudo é avaliar o impacto da alimentação enteral na sobrevivência de neonatos prematuros entre 22-29 semanas e ECN. Houve um AUMENTO significativo na taxa de ECN para o grupo incapaz de obter alimentação enteral em comparação com aqueles capazes de obter alimentação enteral (nenhum um único paciente que conseguiu receber alimentação enteral morreu!). A diferença na taxa de infecção bacteriana é de 40,5%, enquanto a diferença na taxa cirúrgica é de 29,4%, sendo os neonatos incapazes de receber alimentação enteral mais altos em ambas as categorias. Existe uma associação significativa entre alimentação enteral e NEC, sobrevivência e taxas de infecção em neonatos prematuros. Estas descobertas apoiam a importância da imunidade intestinal e da microbiota na ECN.Nos complementos, segundo Josep Neu: alimentação trófica precoce não aumenta o risco de ECN ou mortalidade. Então:iniciar a alimentação trófica o mais rápido possível.No entanto, a nutrição parenteral associa-se a maior probabilidade de ECN (devido ao aumento da permeabilidade intestinal  facilitando  a translocação de bactérias devido ao malfuncionamento das junções de oclusões e da maior permeabilidade do trato gastrointestinal!!!). É a nutrição enteral que  faz o intestino crescer. Assim, não devemos ficar parados no 20ml/kg//dia por 5-10 dias. Uma progressão mais rápida da alimentação reduz o uso de nutrição parenteral, reduz o número de dias com acesso central permanente e reduz o tempo para atingir a nutrição enteral completa.  Portanto  o avanço mais rápido da alimentação tem sido  seguro tanto em bebês de baixo peso quanto de muito baixo peso.

 

Lúpus Eritematoso Neonatal como Causa Rara de Envolvimento Gastrointestinal em Neonatos.

Lúpus Eritematoso Neonatal como Causa Rara de Envolvimento Gastrointestinal em Neonatos.

Neonatal lupus erythematosus as a rare trigger of gastrointestinal involvement in neonates. Fu C, Sun W, Peng H, Zhu X.Sci Rep. 2024 Feb 15;14(1):3791. doi: 10.1038/s41598-024-54091-z.PMID: 38360914 ARTIGO GRATIS!

Realizado por   Patrícia Caiado – Residente de Neonatologia do Hospital Santa Lúcia Sul. Coordenação:  Paulo R. Margotto.

Os sintomas gastrointestinais em pacientes com LEN são diversos, compreendendo principalmente hiperbilirrubinemia conjugada, transaminases elevadas, intolerância alimentar (IF), hepatomegalia, esplenomegalia e diarreia, entre outros. 69,23% dos pacientes desse  com LES neste estudo apresentavam manifestações no sistema gastrintestinal associada à presença de hipocomplementemia e anticorpos anti-SSA. os médicos devem estar alertas para a possibilidade de LES quando os pacientes apresentam fenótipos gastrointestinais durante o período neonatal e infantil, particularmente quando são acompanhados por erupção cutânea ou disfunção de outros sistemas orgânicos.

A nutrição enteral durante a hipotermia terapêutica aumenta o risco de enterocolite necrosante?

A nutrição enteral durante a hipotermia terapêutica aumenta o risco de enterocolite necrosante?

Does enteral nutrition during therapeutic hypothermia increase the risk for necrotizing enterocolitis? Gillen MC, Patel RM. J Perinatol. 2023 Sep 6. doi: 10.1038/s41372-023-01771-9. Online ahead of print.PMID: 37673941 No abstract available.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A introdução da nutrição enteral durante a hipotermia terapêutica não foi associada a um risco aumentado de enterocolite necrosante e foi associada a uma melhor sobrevida, menor tempo de internação e diminuição da duração da nutrição parenteral

 

Alimentação transpilórica na apneia associada ao refluxo em recém-nascidos prematuros: um estudo prospectivo

Alimentação transpilórica na apneia associada ao refluxo em recém-nascidos prematuros: um estudo prospectivo

Transpyloric Feed in Reflux-Associated Apnea in Preterm Newborns: A Prospective Study. Biswas T, Sabui TK, Roy S, Mondal R, Majumdar S, Misra S.HCA Healthc J Med. 2023 Jun 28;4(3):229-234. doi: 10.36518/2689-0216.1417. eCollection 2023.PMID: 37434910. ARTIGO LIVRE!

Apresentação: Júlia de Andrade Figueiredo (R5 em UTI PEDIÁTRICA). Coordenação: Diogo Pedroso.

É controversa a associação entre apneia e refluxo gastroesofágico (RGE).  E difícil provar que o refluxo é a causa da apneia.  Esse estudo mostrou, em um grupo selecionado de neonatos prematuros com apneia associada ao refluxo, a alimentação transpilórica iniciado com 2,5 dias mostrou  ser uma modalidade terapêutica eficaz