Categoria: Distúrbios Neurológicos

Hemorragia peri/intraventricular no recém-nascido pré-termo

Hemorragia peri/intraventricular no recém-nascido pré-termo

Capítulo de autoria dos Drs. Paulo R. Margotto/ Joseleide de Castro,   da 4a Edição do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco. Hospital de Ensino Materno Infantil de Brasília,SES/DF, 4a Edição, 2021 .

A despeito dos avanços nos cuidados perinatais nas últimas décadas, o recém-nascido (RN) pré-termo continua de alto risco para o desenvolvimento de hemorragia intraventricular e lesão da substancia branca adjacente. Ambas as condições constituem o maior problema no cuidado neonatal moderno e contribuem significativamente para a morbimortalidade nestes RN, assim como déficits neurocomportamentais a longo prazo.

A HIV é estudada há mais de 25 anos. A sua incidência está relacionada à prematuridade, ao aumento da sobrevivência nos RN com peso ao nascer abaixo de 1000g e, sobretudo às práticas neonatais e a gerência dos serviços obstétricos e neonatais.  Em 1978, Papile e cl relataram uma incidência de 35 – 45 % (1 ¤ 3 a 1 ¤ 2 das autópsias) nos RN com peso ao nascer abaixo de 1500g. Atualmente, as formas mais severas de HIV ocorrem nos RN abaixo de 1000g: aproximadamente 26% nos RN entre 501 e 759g e 12% nos RN com peso ao nascer entre 751 e 1000g. A importância desta informação se deve por duas razões: a sobrevivência dos RN nestas faixas de peso aumenta cada vez mais e tanto a mortalidade como os déficits neurocomportamentais ocorrem com maior probabilidade nos RN com severa HIV. Nos RN <32 semanas, Inder e cl relataram uma incidência entre15-25% e Brower e cl, 5,6%

Na Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF, no ano de 2008, a HIV (todos os graus) ocorreu em 11.6% nos RN entre 26 e 34 semanas de idade gestacional. Estudo da nossa Unidade, em 2011 mostrou uma incidência de HIV graus II-IV em 20% nos RN entre 25-27 semanas 6 dia, 11% entre 28-29 semanas 6 dias,   caindo para 1,3% entre 30 semanas e 31 semanas e 6 dias.

Os efeitos da hemorragia intraventricular leve na matriz germinativa no desenvolvimento microestrutural da substância branca de neonatos prematuros: Um estudo DTI

Os efeitos da hemorragia intraventricular leve na matriz germinativa no desenvolvimento microestrutural da substância branca de neonatos prematuros: Um estudo DTI

De Tortora D et al , Itália, 2017, artigo complexo brilhantemente Apresentado pelas Acadêmicas (6a Série) da Faculdade de  Medicina da Universidade Católica de Brasília, sob nossa Coordenação. Antigamente acreditava-se que as leves hemorragias intraventriculares graus I e II (HIV leve) não aumentavam o risco de comprometimento do desenvolvimento neurológico além do risco relacionado a própria prematuridade. No entanto, já tem sido evidenciado que a HIV leve associava-se com maiores taxas de comprometimento neurológico aos 2-3 anos de idade corrigida, além de diminuição do volume cortical e crescimento cerebelar reduzido. Por outro lado, pouco ainda é conhecido a respeito do substrato anatômico do deficiente resultados  neurocognitivos e motores nas crianças com HIV leve.No presente estudo italiano de Tortora et al, esta informação é trazida através das estatísticas espaciais baseadas em tratos, para avaliação das diferenças nos parâmetros imagem de  tensor de difusão (DTI), uma abordagem amplamente utilizadas para explorar anormalidades microestruturais da substância branca em crianças nascidas pré-termo. Este estudo de ressonância foi realizado na idade equivalente a termo. Os autores relataram, nos recém-nascidos (RN) <29 semanas com HIV leve mais comprometimento microestrutural severo em regiões periventriculares e nos RN≥29 semanas alterações mais leves  na substância branca e também na substância branca subcortical. As anormalidades de DTI foram associadas com uma deficiente coordenação  locomotora e mão-olho e resultados de desempenho em 24 meses.Assim este estudo mostra a organização anormal da microestrutura da substância branca nos pré-termos com HIV leve. Sabemos que a matriz germinativa é a principal fonte de células precursoras oligodendrogliais, que mais tarde, no terceiro trimestre, migram para a substância, onde eles se diferenciam e produzem mielina durante os primeiros anos de vida. Portanto, há o dano inicial à substância branca decorrente da mielinização inadequada, dano axonal, ou incoerências das fibras  e estas alterações são provavelmente associadas com déficits de desenvolvimento neurológico aos 24 meses de idade. Nos links, a discussão da corticoneurogênese: a matriz germinativa representa o remanescente da zona germinativa; entre 10-24 semanas de gestação, esta região celular é a fonte de precursores neuronais; após 24 semanas de gestação, a migração neuronal se completou, mas a matriz germinativa provê precursores gliais que se tornarão oligodendrócitos e astrócitos. Neste estágio tardio da gliogênese, os astrócitos migram às camadas superiores corticais e são cruciais para a sobrevivência neuronal e o desenvolvimento normal do córtex cerebral.É importante este conhecimento para melhor  orientação aos país deste prematuros com  HIV leve.

Implicações da dor e da exposição à morfina no neurodesenvolvimento

Implicações da dor e da exposição à morfina no neurodesenvolvimento

De Kesavan K et al, 2015, Apresentado pela Dr. Letícia Rodrigues de Moraes, R3 em Neonatologia do HMIB/SES/DF, sob Coordenação da Dra. Evely Mirela. Os opiáceos como morfina e fentanil atuam nos receptores mu, kappa e delta e ativam várias vias intracelulares de sinalização que são responsáveis não só pelos efeitos analgésicos mas também pela modulação na proliferação, sobrevivência e diferenciação de células tronco, neurônios, a células da glia que expressam receptores opióides. A exposição repetida à morfina, tanto longa (>7 dias) como curta modifica a neuroplasticidade sináptica nos locais pós-sinápticos do sistema límbico, o que leva a um permanente efeito de reorganização das conexões sinápticas nas áreas que regulam motivação, recompensa e aprendizagem ao longo da vida adulta. Essas mudanças são permanentes e permanecem mesmo após a remoção da morfina. A maior exposição à morfina foi associada a maiores características de internalização como padrão ansioso/depressivo e triste/depressivo ou problemas somáticos. A exposição neonatal a opióides pode ter implicações duradouras para a estrutura e função do cérebro, PRINCIPALMENTE NA AUSÊNCIA DE DOR. Tal como acontece com toda decisão clínica, os riscos e benefícios da analgesia com opióides deve ser considerado com cautela. Quano ao fentanil: causa menos hipotensão, menos efeito sedativo, pode causar menor desenvolvimento cerebelar. São necessários estudos posteriores prospectivos, que avaliem os riscos e benefícios do uso de sedativos e analgésicos mais comuns, particularmente em relação ao crescimento cerebral.Torna-se importante que saibamos avaliar as consequências clínicas de tudo que fazemos na UTI Neonatal, pois tratamos de cérebros, principalmente relacionadas coma precoce administração de opióides nestes vulneráveis pré-termos. Há sugestão da necessidade de um novo projeto de agentes que podem alterar as mudanças neuroplásticas induzidas pelos opiáceos. NA UTI NEONATAL TODOS OS CAMINHOS CONDUZEM AO CÉREBRO! particularmente em relação ao crescimento cerebral.Torna-se importante que saibamos avaliar as consequências clínicas de tudo que fazemos na UTI Neonatal, pois tratamos de cérebros, principalmente relacionadas coma precoce administração de opióides nestes vulneráveis pré-termos. Há sugestão da necessidade de um novo projeto de agentes que podem alterar as mudanças neuroplásticas induzidas pelos opiáceos