Categoria: Distúrbios Neurológicos

A CAFEÍNA E O CÉREBRO

A CAFEÍNA E O CÉREBRO

Palestra realizada pelo Dr. Maurício Magalhães (SP) no NEOBRAIN BRASIL 2024 entre os dia 8/3-9/3/2024 em São Paulo.

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

A cafeína bloqueia o receptor da adenosina (principal efeito), inibe a fosfodiesterase, mobiliza a cálcio intracelular (sabemos na asfixia da importância da lesão celular quando há um influxo de cálcio intracelular) e interfere com o receptor GABA. A adenosina é produzida principalmente por neurônios e desempenha um importante papel no desenvolvimento da lesão  cerebral nos lactentes imaturos, como lesão da substancia branca. A cafeína promove a diferenciação e maturação de oligodendrócitos hipóxicos por regular o equilíbrio do Ca2+, exercendo assim um efeito protetor na lesão hipóxica neonatal. No prematuro isso é muito importante! Estudos de ressonância magnética (RM)  mostraram que   a exposição à cafeína estava relacionada à melhora induzida no desenvolvimento da microestrutura da substância branca em prematuros. A administração de cafeína dentro de 48-72 horas após o nascimento reduz a ocorrência de  persistência do canal arterial, normalizando o fluxo sanguíneo cerebral, estabilizando a flutuação da pressão arterial  sistêmica conferindo efeito neuroprotetor no prematuro, desempenhando papel  indireto na neuroproteção. Usando o NIRS demonstrou-se que com a dose de ataque de cafeína houve uma capacidade aguda aumentada de autorregulação cerebral, além de redistribuição  hemodinâmica preferência cerebral e esplâncnica, controlando assim o hiperfluxo sanguíneo cerebral  redistribuindo para órgãos periféricos. Efeito hemodinâmico importante no SNC. Cuidar do cérebro do prematuro  é evitar lesão cerebral (hemorragia cerebral, leucomalácia periventricular ) e esse é cuidar da hemodinâmica cerebral. Assim, estamos estimulando a plasticidade/desenvolvimento cerebral. Em comparação com grupo controle (aminofilina) a cafeína pode melhorar o desenvolvimento cerebral de bebês de baixo peso com apneia melhorando atividade elétrica cerebral e promovendo o desenvolvimento da função e maturidade cerebral.

NEUROIMNAGEM NA ASFIXIA PERINATAL

NEUROIMNAGEM NA ASFIXIA PERINATAL

Paulo R. Margotto.

Para um diagnóstico preciso da encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) neonatal é necessária neuroimagem, constituindo  tratamento padrão em recém-nascidos com EHI. A natureza e o momento da lesão cerebral, afetam a utilidade terapêutica da neuroimagem na EHI neonatal. A ressonância magnética cerebral (RM), incluindo imagens ponderadas em difusão e espectroscopia de prótons durante a primeira semana pós-natal, é reconhecida como o padrão ouro para imagens de bebês com EHI, embora devemos aconselhar as famílias  que mesmo a RM normal, o bebê pode  ter problemas neurológicos no futuro. Realizamos a RM entre 5-21 dias.  A ultrassonografia Doppler cerebral (USD-c) desempenha importante papel nos quadros de asfixia perinatal, constituindo poderosa ferramenta alternativa à ressonância magnética, quando não disponível ou quando  o bebê não está estável o  suficiente para ser transportado. Às vezes é a única ferramenta disponível na imensa maioria das Unidade Neonatais do país para avaliar o cérebro dos recém-nascidos. Em neonatos com USD-c normais ou levemente anormais, quase todos (95% e 96%, respectivamente) tiveram ressonância magnética cerebral normal ou levemente anormal, enquanto em neonatos com USD-c gravemente anormal, a maioria (83%) teve ressonância magnética cerebral gravemente anormal. Realizamos USD-c nas primeiras 24 horas de vida, 24 horas após o reaquecimento, com 7 e  14 dias de vida.

Hiperoxemia precoce e resultados em 2 anos em bebês com encefalopatia hipóxico-isquêmica: uma análise secundária do ensaio de avaliação de resfriamento infantil

Hiperoxemia precoce e resultados em 2 anos em bebês com encefalopatia hipóxico-isquêmica: uma análise secundária do ensaio de avaliação de resfriamento infantil

Early Hyperoxemia and 2-year Outcomes in Infants with Hypoxicischemic Encephalopathy: A Secondary Analysis of the Infant Cooling Evaluation Trial. Badurdeen S, Cheong JLY, Donath S, Graham H, Hooper SB, Polglase GR, Jacobs S, Davis PG.J Pediatr. 2024 Apr;267:113902. doi: 10.1016/j.jpeds.2024.113902. Epub 2024 Jan 5.PMID: 38185204 Artigo Grátis!

Realizado por Paulo R.Margotto.

À medida que a disponibilidade de oxigênio aumenta em ambientes com poucos recursos,  a questão de saber se a hiperóxia pode causar danos em bebês com isquemia hipóxica perinatal tornou-se cada vez mais importante. Após o início da reanimação em ar ambiente, as diretrizes sugerem aumentar afração inspirada de oxigênio (FiO2 ) para 100% se as compressões torácicas forem iniciadas. Uma vez restaurada a circulação, a FiO é normalmente titulada para atingir os níveis de saturação de oxigênio  (SpO 2 ) que foram observados em bebês saudáveis ​​durante a transição fetal-neonatal saudável. Esta estratégia pode resultar num fornecimento excessivo de oxigênio em relação ao consumo cerebral de oxigênio.  Após a admissão na terapia intensiva neonatal, não há recomendações específicas para metas de SpO 2. Nesta análise causal secundária de dados de bebês no estudo ICE (Infant Cooling Evaluation), os autores relataram  que a hiperoxemia arterial dentro de 2 horas após o nascimento aumentou o risco de morte ou incapacidade, após ajuste para gravidade da isquemia hipóxica perinatal e pCO2. Em ratos moderadamente asfixiados, o efeito efeito neuroprptetor da hipotermia terapêutica foi quase totalmente anulado pelo aumento da lesão ao usar oxigênio a 100% por 30 minutos durante a reoxigenação, quando comparado com o ar ambiente (a exposição acentuada à hepreoxia  cerebral ocorre logo nos primeiros minutos após o retorno da circulação com as estratégias atuais de uso de oxigênio suplementar). Estratégias para evitar a hiperóxia podem exigir uma reavaliação de como direcionamos a oxigenação na fase pós-ressuscitação imediata.

Predicção a longo prazo baseado nos achados clínicos de imagens

Predicção a longo prazo baseado nos achados clínicos de imagens

Sonia Bonifácio (EUA). Palestra administrada no NEOBRAIN BRASIL-2024, São Paulo, 8-9 de março de  2024.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O  objetivo foi  de usar achados clínicos e de imagens nos prematuros para predizer resultados a longo prazo, com destaque para a hemorragia intraventricular (maior risco entre os bebês29 semanas e <1500g). Na classificação n sistema Antigo (Papile) e Volpe, o destaque para o Infarto Hemorrágico Periventricular(IHPV) conhecido por Hemorragia Grau IV . A hemorragia na matriz germinativa e o IHPV tem impacto no córtex cerebral e dismaturação do tálamo, diminuição da mielinização, dismaturação axonal e dismaturação cerebelar. De acordo com o grau de hemorragia deficiência  neurológica definitiva é maior no grau IHPV, chegando a 75% (GRAU 1: 15% , Grau 2: 25% e Grau 3: 5º%). A dilatação pós hemorrágica é vista em: Grau II-20%,  Grau III- 55%  e  Infarto hemorrágico periventricular: 80%. Pode apresentar com sinais de aumento da pressão intracraniana. Na intervenção da dilatação ventricular pós-hemorrágica a abordagem precoce  por punção do líquido cefalorraquidiano por punções lombares (LPs) (máx. 3), seguida de punções de um reservatório ventricular, para reduzir o índice ventricular uma derivação ventriculoperitoneal (VP) se a estabilização do índice ventricular não ocorrer      mostrou melhor resultados a longo prazo (associada a uma menor chance de morte ou incapacidade grave do neurodesenvolvimento em recém-nascidos prematuros com dilatação ventricular pós-hemorrágica progressiva (ELVIS STUDY (Early vs Late Ventricular Intervention Study). O US craniano precoce é importante para identificar a severa HIV e tomada de decisão e  seriado US craniano para o seguimento da severa HIV para dilatação ventricular e manuseio dessa. Se sobreviver à idade equivalente a termo, repetir o US craniano com vistas na mastoide para avaliar o cerebelo e considerar RM, importante na avaliação da substância branca (acima de 50% dos prematuros extremos tem lesão na substância branca e essa lesão é associada com deficiências cognitivas, linguística e motora na infância precoce).

 

Viabilidade e Segurança do Sildenafil para Reparar Lesão Cerebral Secundária à Asfixia no Nascimento (Sane-01): Um Ensaio Clínico de Fase Ib Randomizado, Duplo-Cego e Controlado por Placebo

Viabilidade e Segurança do Sildenafil para Reparar Lesão Cerebral Secundária à Asfixia no Nascimento (Sane-01): Um Ensaio Clínico de Fase Ib Randomizado, Duplo-Cego e Controlado por Placebo

Feasibility and Safety of Sildenafil to Repair Brain Injury Secondary to Birth Asphyxia (SANE-01): A Randomized, Double-blind, Placebo-controlled Phase Ib Clinical Trial.Wintermark P, Lapointe A, Steinhorn R, Rampakakis E, Burhenne J, Meid AD, Bajraktari-Sylejmani G, Khairy M, Altit G, Adamo MT, Poccia A, Gilbert G, Saint-Martin C, Toffoli D, Vachon J, Hailu E, Colin P, Haefeli WE.J Pediatr. 2024 Mar;266:113879. doi: 10.1016/j.jpeds.2023.113879. Epub 2023 Dec 22.PMID: 38142044 Clinical Trial. Artigo Livre!

Realizado por Paulo R. Margotto.

A hipotermia terapêutica (HT) é o único tratamento disponível para neonatos com encefalopatia neonatal (EM) para prevenir o desenvolvimento de lesões cerebrais. No entanto, 29% dos neonatos tratados ainda desenvolvem sequelas neurológicas graves. Estão em andamento pesquisas para encontrar estratégiasneuroprotetoras adicionais , agindo sinergicamente com a TH. Entre essas, o sildenafil que demonstrou propriedades neurorestauradoras, diminuindo a extensão das lesões cerebrais e influenciando a neurogênese, a arquitetura neuronal e a angiogênese. Esse estudo é o primeiro ensaio que tenta reparar o cérebro neonatal lesionado. 79 neonatos com EN foram tratados com HT durante o período do estudo. 8 neonatos foram randomizados para receber sildenafile 3 para placebo (5 dos 7 neonatos (71%) tratados com sildenafil apresentaram recuperação parcial da lesão na ressonância magnética do dia 30, bem como menos lesões císticas e menos sinais de perda de volume cerebral.

Hipoglicemia Neonatal – Fatores de Risco e Resultados (Nos complementos: A Glicemia nos RN com Encefalopatia Neonatal em Hipotermia Terapêutica)

Hipoglicemia Neonatal – Fatores de Risco e Resultados (Nos complementos: A Glicemia nos RN com Encefalopatia Neonatal em Hipotermia Terapêutica)

Neonatal HypoglycemiaRisk Factors and Outcomes.Stomnaroska O, Petkovska E, Jancevska S, Danilovski D.Pril (Makedon Akad Nauk Umet Odd Med Nauki). 2017 Mar 1;38(1):97-101. doi: 10.1515/prilozi-2017-0013.PMID: 28593892 Artigo Gratis!

Apresentação R5 Paolla Bomfim R4 Luísa Fisher (Residência Neonatologia-34 Anos! Coordenação: Marta DR de Rocha.

Nos complementos:  tanto a  hipoglicemia como  a hiperglicemia neonatal estão associadas a um risco aumentado de morte ou resultado adverso do neurodesenvolvimento na encefalopatia neonatal.Níveis mais baixos de substrato energético podem piorar a insuficiência energética secundária e aumentar a neuroapoptose em modelos animais de asfixia. Durante a hipotermia terapêutica  EVITE tanto a hipo como a hiperglicemia!

Persistência do canal arterial e repercussões no cérebro prematuro

Persistência do canal arterial e repercussões no cérebro prematuro

Valerie Chock (EUA). NEOBRAIN BRASIL, São Paulo, 8-9 março de 2024.

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

Tanto a saturação cerebral (Csat) como a renal (Rsat) estavam baixas na PCA hemodinamicamente significativa (hsPCA) que melhoraram com o uso da indometacina. Pressões arteriais mais baixas durante um importante PCA hemodinamicamente significativa e menor oxigenação cerebral regional com maior extração de oxigênio cerebral. Isto provavelmente indicou um fornecimento reduzido de oxigênio induzido pelo roubo ductal e uma consequente diminuição da perfusão cerebral em comparação com bebês controle sem PCA. o tratamento da hsPCA com paracetamol não afeta a oxigenação e a perfusão cerebral em bebês  muito prematuros e isso confirma seu bom perfil de segurança. Bebês que necessitam de ligadura cirúrgica de hsPDA podem ter risco aumentado de passividade da pressão cerebral nas 6 horas após a cirurgia. O Risco da síndrome pós – ligadura  é de  28-45%  e está associado a maior mortalidade. O monitoramento NIRS cerebral e somático no pós-operatório pode melhorar a identificação  da síndrome pós-ligadura da hsPCA em estágios iniciais.

O futuro do monitoramento da oxigenação cerebral neonatal: orientações após o ensaio SafeBoosC-III

O futuro do monitoramento da oxigenação cerebral neonatal: orientações após o ensaio SafeBoosC-III

The Future of Neonatal Cerebral Oxygenation Monitoring: Directions after the SafeBoosC-III Trial.Chock VY, et al. J Pediatr. 2024. PMID: 38492916 No abstract available.

Realizado por Paulo R. Margotto

Valerie Chock comenta sobre os resultados do ensaio sobre a Monitorização da Oxigenação Cerebral  Neonatal realizada em 72 países que não mostrou, em prematuros extremos, monitorizados pela  oximetria cerebral durante as primeiras 72 horas após o nascimento associação  a uma menor incidência de morte ou lesão cerebral grave às 36 semanas de idade pós-menstrual do que os cuidados habituais. Foram usadas pelo menos cinco combinações diferentes de dispositivos e sensores usadas no estudo SafeBoosC-III que não correspondiam à configuração de dados de referência. Futuros ensaios neonatais de NIRS devem estipular o uso de sensores neonatais. A uniformidade dos dispositivos e sensores NIRS usados ​​clinicamente é uma questão importante a ser resolvida e deve ser abordada tanto pelos fornecedores quanto pelos usuários do monitoramento NIRS neonatal. O monitoramento da saturação cerebral de oxigênio  (rScO 2 ) derivado do NIRS precisa de maior desenvolvimento, particularmente com a robustez e validade da tecnologia subjacente e a uniformidade entre os fabricantes comerciais.

NEUROLOGIA NEONATAL:VISÃO DE VOLPE: ERITROPOETINA E O ESTUDO DE CURA: QUESTÕES DE TEMPO

NEUROLOGIA NEONATAL:VISÃO DE VOLPE: ERITROPOETINA E O ESTUDO DE CURA: QUESTÕES DE TEMPO

Joseph J. Volpe

Realizado por Paulo R. Margotto

A EPO leva à diminuição da ativação microglial, diminuição da lesão oligodendroglial e melhora da mielinização com inclusive efeitos angiogênicos. Na lesão cerebral neonatal, o desenvolvimento neuronal, o crescimento axonal e o desenvolvimento oligodendroglial podem ser prejudicados pela ação prolongada de astrócitos reativos e microglia ativada.23 Pelo menos em modelos experimentais, a EPO parece ter o potencial de interromper esses efeitos quando administrada a longo prazo, após os períodos agudos de lesão. Claramente, porque no cérebro humano estes processos de desenvolvimento ocorrem durante muitas semanas a meses, a terapia prolongada com EPO pode ser necessária e potencialmente benéfica

Estratégias nutricionais atualizadas para otimizar o desenvolvimento do cérebro

Estratégias nutricionais atualizadas para otimizar o desenvolvimento do cérebro

2º Internacional de Neuromonitorização da PBSF  em Neuroproteção e Neuromonitorização Neonatal. Nicholas Embleton (Inglaterra).

Realizado por Paulo R. Margotto.

O crescimento do cérebro  é muito mais expressivo nos bebês em relação aos macacos ( de 24 semanas a 2 anos o cérebro cresce 90% em volume no bebês!). O cérebro humano é 10-20 maior do que o dos animais, porque nos temos a capacidade de crescer o cérebro. O aumento do suprimento nutricional para o recém-nascido de muito baixo peso associou-se com melhora da maturação da substância branca e crescimento da cabeça. A baixa ingesta de energia durante as primeira 4 semanas de vida aumenta o risco de severa retinopatia da prematuridade (ROP). DHA (ácido ducosahexanoico) e ARA (ácido aracdônico) diminui a ROP e melhora a inteligência aos 5 anos de idade. Quanto ao leite materno, de preferência  sempre o da própria mãe, os que o receberam apresentaram maiores volumes cerebrais, amígdala-hipocampo, cerebelo e organização da substância branca (corpo caloso, braço posterior da cápsula interna e cerebelo). O leite da própria mãe reduz doença como displasia broncopulmonar, enterocolite necrosante, levando a menos inflamação e melhor cérebro (maior crescimento cerebral  com maior conectividade à ressonância magnética).