Categoria: Dor Neonatal

Analgesia e sedação no recém-nascido em ventilação mecânica/sequência rápida de intubação

Analgesia e sedação no recém-nascido em ventilação mecânica/sequência rápida de intubação

Capítulo de autoria dos Drs. Paulo R. Margotto/ Marta David Rocha Moura,  da 4a Edição do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, Hospital de Ensino Materno Infantil de Brasília SES/DF, 2019 (em preparação)

O cuidado intensivo é uma experiência dolorosa para o recém-nascido com importantes repercussões no futuro (nos prematuros o limiar da dor diminui após repetido estímulo sensorial e mesmo estímulo não doloroso pode ser percebido como estresse). Embora os médicos estimem que muitos procedimentos na UTI Neonatal são dolorosos, acima de 65% dos pacientes do estudo de Simons e cl não receberam terapia analgésica apropriada. O número de procedimentos é significativamente maior nos RN que requerem suporte ventilatório, principalmente no primeiro dia de internação, devido à estabilização inicial, monitorização e a avaliação diagnóstica. Assim, para estes RN considerar a infusão endovenosa de opióide.

Aranda chama atenção para o uso de morfina em neonatos pré-termos ventilados (o seu grupo passou a usar o fentanil, mas existe aquela preocupação, pois o fentanil é um opiáceo e poderia produzir os mesmos efeitos da morfina).

A despeito dos efeitos adversos, os opióides são usados em muitas UTIs Neonatais e  os benefícios da analgesia quando usada cuidadosamente podem suplantar os riscos destas drogas.

O grupo do Aranda está examinando o papel do ibuprofeno endovenoso: este tem 50% de efeito que poupa o opiáceo. São bons para o tratamento da dor. Possivelmente teremos no futuro drogas não opióides no controle da dor. Isto ainda deverá ser estudado.

A evidência presente sobre o uso de analgesia nos RN ventilados de forma rotineira não mostra claros benefícios em termos de melhora do prognóstico neurológico a curto prazo dos RN pré-termos ventilados e benefícios marginais nos RN a termo ventilados. Dor prolongada e estresse são difíceis de medir nos RN prematuros criticamente doentes, particularmente nos RN extremamente prematuros. Assim é difícil estabelecer a eficácia clínica da analgesia e sedação prolongada nestes RN.

Os efeitos a longo prazo da exposição a dor/estresse repetitivo ou a drogas analgésicas e sedativas nos primeiros dias de vida continua inexplorado. Mais pesquisas em diversas populações de RN prematuros e RN a termo ventilados são necessárias antes de se colocar a analgesia e a sedação no RN em uma base científica.

Segundo Linda Frank, comentando o estudo de Jacqz-Aigrain e cl, preocupação teórica a respeito da provisão de agentes amnésticos durante o período crítico do desenvolvimento do cérebro deve também ser bem pensado antes do uso generalizado de infusão prolongada de midazolam. Até que possamos definir medidas apropriadas da eficácia de sedativo e toxicidade a curto e longo prazo para esta população, o uso de infusão contínua de midazolam nos neonatos parece prematuro.

Até que seja determinada a relação risco/benefício por futuros estudos e uma vez que a administração de benzodiazepínicos frequentemente foi associada com efeitos adversos, o seu uso na vulnerável população de recém-nascidos deve ser realizado com critérios rigorosos.

Segundo Perlman é essencial que o potencial para a dor associado com medicação faça parte de qualquer estratégia de manuseio neonatal. No entanto, qualquer intervenção para minimizar a dor, deve incluir agentes que alcancem os objetivos desejados, enquanto ao mesmo tempo minimize os efeitos potenciais adversos.

Segundo Kennedy e Tyson, o mais efetivo meio de reduzir a dor e o sofrimento dos RN pré-termos na UTI Neonatal seria encontrar o melhor método de prevenir a hemorragia intracraniana, a doença pulmonar crônica, a enterocolite necrosante e outras causas de morbidade de longo prazo.

A intubação endotraqueal no recém-nascido é dolorosa e está associada com efeitos fisiológicos adversos. Muitos bebês podem ser intubados com boa analgesia e com somente breve e leve hipoxia e sem bradicardia.

 

Implicações da dor e da exposição à morfina no neurodesenvolvimento

Implicações da dor e da exposição à morfina no neurodesenvolvimento

De Kesavan K et al, 2015, Apresentado pela Dr. Letícia Rodrigues de Moraes, R3 em Neonatologia do HMIB/SES/DF, sob Coordenação da Dra. Evely Mirela. Os opiáceos como morfina e fentanil atuam nos receptores mu, kappa e delta e ativam várias vias intracelulares de sinalização que são responsáveis não só pelos efeitos analgésicos mas também pela modulação na proliferação, sobrevivência e diferenciação de células tronco, neurônios, a células da glia que expressam receptores opióides. A exposição repetida à morfina, tanto longa (>7 dias) como curta modifica a neuroplasticidade sináptica nos locais pós-sinápticos do sistema límbico, o que leva a um permanente efeito de reorganização das conexões sinápticas nas áreas que regulam motivação, recompensa e aprendizagem ao longo da vida adulta. Essas mudanças são permanentes e permanecem mesmo após a remoção da morfina. A maior exposição à morfina foi associada a maiores características de internalização como padrão ansioso/depressivo e triste/depressivo ou problemas somáticos. A exposição neonatal a opióides pode ter implicações duradouras para a estrutura e função do cérebro, PRINCIPALMENTE NA AUSÊNCIA DE DOR. Tal como acontece com toda decisão clínica, os riscos e benefícios da analgesia com opióides deve ser considerado com cautela. Quano ao fentanil: causa menos hipotensão, menos efeito sedativo, pode causar menor desenvolvimento cerebelar. São necessários estudos posteriores prospectivos, que avaliem os riscos e benefícios do uso de sedativos e analgésicos mais comuns, particularmente em relação ao crescimento cerebral.Torna-se importante que saibamos avaliar as consequências clínicas de tudo que fazemos na UTI Neonatal, pois tratamos de cérebros, principalmente relacionadas coma precoce administração de opióides nestes vulneráveis pré-termos. Há sugestão da necessidade de um novo projeto de agentes que podem alterar as mudanças neuroplásticas induzidas pelos opiáceos. NA UTI NEONATAL TODOS OS CAMINHOS CONDUZEM AO CÉREBRO! particularmente em relação ao crescimento cerebral.Torna-se importante que saibamos avaliar as consequências clínicas de tudo que fazemos na UTI Neonatal, pois tratamos de cérebros, principalmente relacionadas coma precoce administração de opióides nestes vulneráveis pré-termos. Há sugestão da necessidade de um novo projeto de agentes que podem alterar as mudanças neuroplásticas induzidas pelos opiáceos