Categoria: Farmacologia Neonatal

Drogas em Neonatologia: Inúteis (Bicarbonato) e Usos Indevidos e Controversos (Albumina e Diuréticos)

Drogas em Neonatologia: Inúteis (Bicarbonato) e Usos Indevidos e Controversos (Albumina e Diuréticos)

Paulo R. Margotto.

Quanto ao bicarbonato: A oxigenação adequada, assim como ventilação devem ser garantidas antes de se pensar em usar NaHCO3. Lembrar que os efeitos adversos com a administração do NaHCO3 incluem: flutuação no fluxo sanguíneo cerebral, hemorragia intracraniana diminuição do aporte de O2 aos tecidos e piora da acidose intracelular. Os clínicos devem resistir ao impulso e deixar o  uso rotineiro de bicarbonato em recém-nascido com acidose metabólica. Focar seus esforços na compreensão e tratamento das acidoses iniciais. Quanto à Albumina: Em síntese, o estudo conclui que a terapêutica com albumina não está indicada para o tratamento da hipoalbuminemia isoladamente, nem está indicada em neonatos como tratamento inicial de hipotensão, desconforto respiratório ou exsanguineotransfusão parcial. Em pacientes com hipoalbuminemia e aumento da permeabilidade capilar, a suplementação de albumina freqüentemente leva a maior extravasamento de albumina através da membrana capilar, contribuindo para a formação do edema sem melhora no prognóstico. Com base na evidência, a albumina deveria ser raramente usada na UTI neonatal. Quanto aos Diuréticos: Para o uso racional dos diuréticos torna-se importante o conhecimento do desenvolvimento da fisiologia renal dos pré-termos, assim como os conhecimentos dos mecanismos de ação dos vários diuréticos, principalmente da furosemida, o diurético mais usado, assim como as limitações e seus efeitos adversos. De todas as terapias adjuntas no prematuro com displasia broncopulmonar, a terapia diurética é uma das mais abusadas, sem evidência de benefícios substanciais. Evite de usar furosemida em bolus; taxa máxima de infusão da furosemida de 0,5 mg/kg/min ou 4mg/mL para evitar a ototoxicidade.

Levetiracetam versos fenitoína como tratamento de segunda linha do status epilepticus convulsivo em crianças (ConSEPT): ensaio de rótulo aberto, multicêntrico, randomizado e controlado

Levetiracetam versos fenitoína como tratamento de segunda linha do status epilepticus convulsivo em crianças (ConSEPT): ensaio de rótulo aberto, multicêntrico, randomizado e controlado

Levetiracetam versus phenytoin for second-line treatment of convulsive status epilepticus in hildren (ConSEPT): an open-label, multicentre, randomised controlled trial.
Dalziel SR, Borland ML, Furyk J, Bonisch M, Neutze J, Donath S, Francis KL, Sharpe C, Harvey AS, Davidson A, Craig S, Phillips N, George S, Rao A, Cheng N, Zhang M, Kochar A, Brabyn C, Oakley E, Babl FE; PREDICT research network.Lancet. 2019 Apr 17. pii: S0140-6736(19)30722-6. doi: 10.1016/S0140-6736(19)30722-6. Similar articles.

Apresentação: Gabriela Rabelo Cunha. Residente Medicina Intensiva Pediátrica- HMIB/SES/DF. Coordenação: Alexandre Peixoto Serafim.

Esse grande estudo da UTI Pediátrica, envolvendo 233 crianças de 6 meses a 16 anos mostrou que levetiracetam não é superior a fenitoína para tratamento de segunda linha no estado convulsivo epiléptico em crianças; semelhante grande estudo (286 crianças) realizado no Reino Unido mostrou semelhante resultado, no entanto os autores sugerem o levetiracetam como uma alternativa apropriada à fenitoína devido ao melhor perfil de segurança do levetiracetam (não induz apoptose neuronal como o fenobarbital e fenitoína). Nos complementos:nas convulsões neonatais, segundo Ahrens S et al [2019] o  uso de  levetiracetam tem aumentado de 1,4% para 14%, entre 2005 e 2014, sendo considerado o fármaco de segunda linha após fenobarbital; no entanto existe limitada evidência de alto nível  para orientar o tratamento das convulsões neonatais.

Eficácia comparativa e segurança da cafeína e aminofilina para apneia da prematuridade em neonatos prematuros (≤34 semanas) : ensaio controlado randomizado

Eficácia comparativa e segurança da cafeína e aminofilina para apneia da prematuridade em neonatos prematuros (≤34 semanas) : ensaio controlado randomizado

Comparative Efficacy and Safety of Caffeine and Aminophylline for Apnea of Prematurity in Preterm (≤34 weeks) Neonates: A Randomized Controlled Trial. Shivakumar M, Jayashree P, Najih M, Lewis LES, Bhat Y R, Kamath A, Shashikala -. Indian Pediatr. 2017 Apr 15;54(4):279-283.PMID: Free Article.Similar articles. Artigo Livre

Apresentação:Daniela Megumi – R4 Neonatologia – HMIB. Coordenação: Dra Marta Rocha e Dr. Paulo R. Margotto.

◦Tanto a cafeína como a aminofilina são igualmente eficazes na redução das apneias.

◦ Talvez mais pesquisas devam ser realizadas para comparar a segurança e eficácia das metilxantinas nos RNs AIG e PIG separadamente.

◦Sabendo que a taquicardia é proeminentemente vista em bebês tratados com aminofilina, a otimização da dosagem de aminofilina pode ser tentada para a população prematura em países em desenvolvimento.

◦O uso de aminofilina pode ser continuada sob supervisão rigorosa quando em situação de pobres recursos como na Índia.

Nos complementos, a Trajetória da Cafeína na Neonatologia nos últimos 13 anos, com o estudo da Rede Canadense de Neonatologia que mostrou que nos bebês<29 semanas, o uso precoce da cafeína [primeiros 2 dias de vida] associou-se com significante menor chance de deficiente neurodesenvolvimento aos 18-24 meses de idade corrigida.

Um estudo controlado randomizado de baixa dose de hidrocortisona versus placebo em neonatos hipotensos tratados com dopamina em tratamento com hipotermia para encefalopatia hipóxico-isquêmica

Um estudo controlado randomizado de baixa dose de hidrocortisona versus placebo em neonatos hipotensos tratados com dopamina em tratamento com hipotermia para encefalopatia hipóxico-isquêmica

A Randomized Controlled Study of Low-Dose Hydrocortisone Versus Placebo in Dopamine-Treated Hypotensive Neonates Undergoing Hypothermia Treatment for Hypoxic−Ischemic Encephalopathy.

Kata Kovacs1, Eniko Szakmar1, Unoke Meder1, Laszlo Szakacs2, Anna Cseko, Barbara Vatai1, Attila J. Szabo1,3, Patrick J. McNamara4, Miklos Szabo1, Agnes Jermendy1 DOI: https://doi.org/10.1016/j.jpeds.2019.04.008. Publication stage: In Press Corrected Proof. Published online: May 30, 2019.

Realizado Por Paulo R. Margotto

35 recém-nascidos (RN) asfixiados com hipotensão resistente a volume foram aleatoriamente designados para receber 0,5 mg/kg/ 6/6 horas de hidrocortisona (16 RN) ou placebo (19 RN) além do tratamento padrão com dopamina durante a hipotermia; os resultados mostraram que a administração de hidrocortisona foi eficaz em elevar a pressão arterial de pacientes com EHI com hipotensão resistente a volume durante a hipotermia terapêutica; além disso, a terapia com dopamina adjuvante foi reduzida e os inotrópicos foram desmamados mais cedo no grupo de tratamento com hidrocortisona, em comparação com o grupo placebo; de interesse: os inotrópicos vasopressores, quando administrados em doses inadequadamente altas, podem ser contraproducentes em crianças asfixiadas com função miocárdica comprometida, especialmente porque a própria hipotermia terapêutica eleva a resistência vascular sistêmica com consequente exposição a aumento da pós-carga. Por exemplo, embora a pressão arterial média aumente, o débito cardíaco pode permanecer baixo, levando à hipoperfusão sustentada de órgãos vitais, que pode não ser reconhecida clinicamente! [ao evitar altas doses de dopamina, a fisiologia cardiovascular pode ser otimizada e os sintomas de baixo débito cardíaco podem ser evitados]; a lógica por trás da terapia com hidrocortisona em casos de hipotensão resistente ao volume é que ela pode atuar diretamente na etiologia subjacente, ao contrário dos inotrópicos, que apenas fornecem tratamento sintomático; outra variável importante, é a ocorrência da insuficiência adrenal nesses recém-nascidos.

Evitando a ototoxicidade da furosemida associada ao reparo do ventrículo único em lactentes jovens

Evitando a ototoxicidade da furosemida associada ao reparo do ventrículo único em lactentes jovens

 

Avoiding Furosemide Ototoxicity Associated With Single-Ventricle Repair in Young Infants. 

Robertson CMT, Bork KT, Tawfik G, Bond GY, Hendson L, Dinu IA, Khodayari Moez E, Rebeyka IM, Garcia Guerra G, Joffe AR.Pediatr Crit Care Med. 2019 Apr;20(4):350-356. doi: 10.1097/PCC.0000000000001807. PMID: 30489485Similar articlesUniversidade  de Alberta, Canadá

Apresentação: Fernanda Rocha. Coordenação: Alexandre Peixoto Serafim.

Estudo da Universidade de Alberta, Canadá, onde é evidenciado que a mudança de prática na forma de administrar a furosemida ELIMINOU a ototoxicidade pela furosemida (em bomba de infusão por 5-15 minutos!).

Hiperglicemia nos recém-nascidos extremamente prematuros-tratamento com insulina, mortalidade e ingesta de nutrientes

Hiperglicemia nos recém-nascidos extremamente prematuros-tratamento com insulina, mortalidade e ingesta de nutrientes

Hyperglycemia in Extremely Preterm Infants-Insulin Treatment, Mortality and Nutrient Intakes.Zamir I, Tornevi A, Abrahamsson T, Ahlsson. J Pediatr. 2018 Sep;200:104-110.e1. doi: 10.1016/j.jpeds.2018.03.049. Epub 2018 May 3.PMID: 29731360.Similar articles. Suécia

Apresentação:Daniela Megumi – R4 de Neonatologia- HMIB/SES/DF.

Coordenação: Dra Joseleide de Castro e Dr. Paulo Margotto.

  • Os autores relataram  nesse estudo que a hiperglicemia durante os primeiros 28 dias pós-natais era comum na coorte EXPRESS de prematuros extremos (Coorte sueca), modestamente afetados pela ingestão de carboidratos, e associada ao aumento da mortalidade.
  • Tratamento com insulina em bebês extremamente prematuros com hiperglicemia durante esse período foi associado a menor mortalidade.
  • Estes resultados sugerem a importância clínica potencial do momento do tratamento com insulina e da definição das concentrações limiares de glicose para o uso de insulina, se indicado.

 No entanto, a insulina tem riscos potenciais que devem ser considerados antes de poder ser recomendada.

Efeito da terapia com hidrocortisona iniciada de 7 a 14 dias após o nascimento na mortalidade ou displasia broncopulmonar entre os bebês muito prematuros que recebem ventilação mecânica.

Efeito da terapia com hidrocortisona iniciada de 7 a 14 dias após o nascimento na mortalidade ou displasia broncopulmonar entre os bebês muito prematuros que recebem ventilação mecânica.

Effect of Hydrocortisone Therapy Initiated 7 to 14 Days After Birth on Mortality or Bronchopulmonary Dysplasia Among Very Preterm Infants Receiving Mechanical Ventilation: A Randomized Clinical Trial.Onland W, Cools F, Kroon A, Rademaker K, Merkus MP, Dijk PH, van Straaten HL, Te Pas AB, Mohns T, Bruneel E, van Heijst AF, Kramer BW, Debeer A, Zonnenberg I, Marechal Y, Blom H, Plaskie K, Offringa M, van Kaam AH; STOP-BPD Study Group.JAMA. 2019 Jan 29;321(4):354-363. doi: 10.1001/jama.2018.21443.PMID:30694322.Similar articles.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF.

Hospital Maternidade Brasília.

pmargotto@gmail.com

Este estudo multicêntrico randomizado não encontrou diferença significativa no desfecho composto primário de morte ou displasia broncopulmonar (DBP) com 36 semanas de idade pós-menstrual entre bebês randomizados para hidrocortisona em comparação com aqueles randomizados para placebo em 7 a 14 dias; os resultados do presente estudo sugerem que a hidrocortisona facilita a extubação, mas, em contraste com a dexametasona, não reduz DBP; esse achado não apoia o uso de hidrocortisona para esta indicação; o único efeito adverso atribuído especificamente ao tratamento com hidrocortisona foi a hiperglicemia requerendo insulina

 

 

 

 

Uso racional de esteróide pós-natal (Rational Use of Postnatal Steroids)

Uso racional de esteróide pós-natal (Rational Use of Postnatal Steroids)

Alan Jobe

11o Simpósio Internacional de Neonatologia do Rio de Janeiro, 20-23 de junho de 2018

Minha visão do futuro: nos precisamos de

-Resolver o debate sobre o uso de dexametasona versos hidrocortisona para o tratamento tardio da displasia broncopulmonar (DBP)

-Decidir sobre uma opção de tratamento precoce

-Testar se surfactante + budesonida tardia é efetivo para o tratamento da DBP

-Aprender se antiinflamatórios específicos são benéficos

-Estar alerta a respeito dos efeitos colaterais

Diurético e Displasia broncopulmonar (uma droga off label) Análise usando Grandes Bases de Dados

Diurético e Displasia broncopulmonar (uma droga off label) Análise usando Grandes Bases de Dados

Off-Label Drugs in Neonatology: Analyses Using Large Data Bases.Jobe AH. J Pediatr. 2019 Feb 26. pii: S0022-3476(19)30126-X. doi: 10.1016/j.jpeds.2019.01.038. [Epub ahead of print] No abstract available. PMID: 30824166. Similar articles.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Alan Jobe faz análise de um estudo  recente sobre o uso frequente, mas não aprovado, de furosemida para displasia broncopulmonar (BPD) que identificou que o uso prolongado pode diminuir a DBP, incluindo 37.000 bebês. Segundo Alan Jobe assim que o tamanho dos conjuntos de dados e o número de variáveis ​​aumentam, o potencial para significância estatística aumenta, mas relevância biológica é questionável. Claramente, não há consenso na comunidade neonatal sobre a eficácia ou segurança da furosemida para curto intervalo ou longo intervalo de uso e nenhuma boa informação sobre dose. Segundo Tin W, Wiswell T, de todas as terapias adjuntas no prematuro com DBP, a terapia diurética é uma das mais abusadas, sem evidência de benefícios substanciais

Nos complementos….

Quando há ampla variabilidade na prática clínica do uso de diurético na DBP e não existe um padrão verdadeiro é uma declaração sobre a falta de profundidade do nosso conhecimento nessa aplicação.

Antes do uso rotineiro de diuréticos sistêmicos na DBP recomendam-se estudos que demonstram efeitos a longo prazo, como sobrevivência, duração da oxigenação, dependência do ventilador e duração da internação, além do estudo das complicações (nefrocalcinose, persistência do canal arterial e alcalose metabólica).

Portanto:Á luz das evidências disponíveis, não há espaço para o seu uso na DBP, principalmente o uso de espironolactona como “poupadora de potássio” (ora se o néfron não responde à aldosterona, também não vai responder ao seu inibidor)