Categoria: Infecções Bacterianas e Fúngicas

Fatores associados à infecção persistente da corrente sanguínea na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Fatores associados à infecção persistente da corrente sanguínea na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Factors associated with persistent bloodstream infection in the Neonatal Intensive Care Unit. Lee H, Fleiss N, Bizzarro M, Feinn R, Rychalsky M, Puthawala C, Peaper DR, Murray TS.J Perinatol. 2025 Nov 7. doi: 10.1038/s41372-025-02460-5. Online ahead of print.PMID: 41203901.

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

. Estudo unicêntrico (UTI neonatal nível IV, 2016-2021) com 121 RNs e 138 hemoculturas positivas mostrou que a Taxa de bacteremia persistente (>48h mesmo organismo) foi  17% (24/138).Entre os fatores independentes de persistência da bacteremis (regressão multivariada):Staphylococcus aureus (OR 6,1; p<0,001) → 41% dos casos de S. aureus persistiram, Presença de cateter venoso central-CVC- (OR 3,7; p=0,02), Sexo masculino (OR 3,3; p=0,02) e Sepse de início tardio (LOS) (p<0,001). Entre os achados importantes: NENHUM caso de sepse precoce (EOS) ou bacteremia por Streptococcus sp. (incluindo EGB) foi persistente e Contaminantes prováveis (15%) todas as hemoculturas de acompanhamento negativas. Portanto, fazer hemocultura de acompanhamento tem alta utilidade em: S. aureus, presença de CVC, sexo masculino e sepse tardia. Pode ser dispensada com segurança em sepse precoce e em estreptococos (se confirmado em estudos maiores  em outros Centros e em coortes mais recentes, oferecem uma oportunidade para o gerenciamento diagnóstico.

Uso Racional de Antibióticos nas Unidades Neonatais

Uso Racional de Antibióticos nas Unidades Neonatais

Marta David Rocha de Moura

A resistência antimicrobiana é um desafio global que contribuiu para 5 milhões de mortes em 2019, sendo a sepse neonatal responsável por 25% das mortes de recém-nascidos (RN) mundialmente.O diagnóstico de sepse é difícil devido a sinais clínicos inespecíficos e baixa acurácia dos exames. A maior parte do uso de antibióticos na UTIN é EMPÍRICA, levando 83% a 94% dos RN tratados por suspeita de sepse em países de alta renda a terem hemoculturas negativas. A coleta de culturas (hemocultura, líquor, urina) deve preceder o início dos antibióticos. É crucial colher no mínimo 1 mL de sangue por amostra para a hemocultura.A terapia deve ser, individualizada, e é mandatório adequar o antibiótico conforme o microrganismo e o antibiograma após o resultado das culturas. A duração ideal da terapia empírica foi reduzida para 36 a 48 horas. O tratamento empírico prolongado (≥ 5 dias) em RN de extremo baixo peso associa-se ao aumento de enterocolite necrosante (ECN) e morte. A regra geral é dizer NÃO às cefalosporinas de terceira geração, carbapenêmicos (como meropenem) e glicopeptídeos (vancomicina). Cefalosporinas de 3ª Geração devem ser evitadas empiricamente, pois seu uso está ligado à emergência de enterobactérias produtoras de ESBL. Os carbapenêmicos são fortes indutores de resistência e alteram profundamente a microbiota dos RNs; devem ser restritos. A vancomicina empírica  se justifica somente em UTINs com alta prevalência de Staphylococcus aureus resistente à meticilina/oxacilina (MRSA). Deve ser suspensa se o microrganismo for sensível a outras drogas. O objetivo ideal é que somente bebês com infecção comprovada recebam antibióticos. Tratar colonização é a maior causa do excesso de uso de antimicrobianos (ex: tratar bacteremia, e não a cultura de ponta de cateter). A disbiose (alteração do microbioma) induzida por antibióticos está associada à consequências de curto e longo prazo, incluindo o aumento do risco de ECN e morte, redução do ganho de peso e estatura em meninos, aumento de Distúrbios Gastrointestinais Funcionais (FGIDs), e é um fator de risco independente para asma atópica aos 12 anos de idade. Eventuais erros estarão corrigidos na página neonatal  www.paulomargotto.com.br. Passe por lá, você também!

 

Uniformização na interpretação dos exames no rastreamento da Sepse Neonatal(Resumo)

Uniformização na interpretação dos exames no rastreamento da Sepse Neonatal(Resumo)

Paulo R. Margotto/ Marta David Rocha de Moura

 

O diagnóstico e tratamento de neonatos  com  suspeita de sepse de início precoce baseiam-se em princípios científicos modificados  pela “arte e experiência” do profissional, segundo Polin RA. Mais de 95% dos recém-nascidos tratados com antibióticos não apresentam nenhum infecção!!!

 

A terapia antimicrobiana deve ser descontinuada em 48 horas (36 horas!!!) em situações clínica em que a probabilidade de sepse é baixa

  • Lembrar que após 36 horas, 99% das hemoculturas para bactérias tornam-se positivas; culturas crescendo epidermidis foram virtualmente todas positivas após 36-48 horas de incubação

É importante ressaltar que o fator mais  importante no desenvolvimento da resistência antimicrobiana é o uso do antimicrobiano

Há um alarmante aumento  das infecções causadas pelas superbactérias

SEPSE NEONATAL: uniformização na interpretação dos exames no rastreamento

SEPSE NEONATAL: uniformização na interpretação dos exames no rastreamento

 Paulo R. Margotto e Marta David Rocha de Moura

O diagnóstico e tratamento de neonatos com  suspeita de sepse de início precoce baseiam-se em princípios científicos modificados  pela “arte e experiência” do profissional, segundo Polin RA. Mais de 95% dos recém-nascidos tratados com antibióticos não apresentam nenhum infecção. Contagem de leucócitos e contagem diferencial: realizamos com 12 horas de vida a contagem de leucócitos e contagem diferencial (se realizada logo após o nascimento, frequentemente é normal). Consideramos Leucopenia < 5000/mm3, Leucocitose >25000/mm3, Relação neutrófilos imaturos/ segmentos (razão  I/T > 0,2), Contagem de plaquetas:<150.000mm3 e Neutropenia (dados de Mouzinho e Manroe). A utilidade dessa contagem leucócitos para avaliar a sepse é extremamente limitada. Propomos a utilização da Relação Neutrófilo/Linfócito (N/L): > 1,2, como marcador de respostas imunes inatas e adaptativas. O aumento da relação N/L é devido a um desequilíbrio na contagem geral de neutrófilos e ao aumento da apoptose de linfócitos. Quando ocorre sepse, o sistema imunológico inato desencadeia a granulopoiese, que aumenta a produção e diminui a apoptose de neutrófilos para combater a infecção bacteriana. O uso combinado de neutrófilo-linfócito (N/L) e PCR melhora a precisão do diagnóstico de sepse precoce (área sob a curva de 0,78). Para a relação Plaqueta/Linfócito (P/L), a área sob a curva foi de  foi de 0,833, com um ponto de corte ótimo de 57,86. A combinação de biomarcadores (relações N/L, P/L e a PCR) mostrou uma área sob a curva aumentou para 0,942, com sensibilidade de 90,8% e especificidade de 86,0%.Quanto à PCR, há pouca utilidade na obtenção dos níveis precoces de PCR ao decidir sobre antibióticos para sepse precoce (aumentar 6 a 8 horas após o início da doença [outros: 24 a 48 horas]). E quanto a Procalcitonina (PCT): O nível de PCT aumenta rapidamente dentro de 2-4 h após a exposição à endotoxina bacteriana, Constitui um marcador precoce e confiável de sepse neonatal precoce, além de ser superior ao método convencional na suspensão do antibiótico. A terapia antimicrobiana deve ser descontinuada em 48 horas (de preferência 36 horas!!!) em situações clínica em que a probabilidade de sepse é baixa. 98% das culturas para gram-negativos, ,com exceção de uma espécie de Stenotrophomonas , foram positivas em 24 h e 94% das culturas para gram-positivos foram positivas em 36 h (para S. epidermidis entre 36-48 horas) (Willey E, 2025) e Sempre considerar o estado clínico do paciente ao determinar a duração dos antibióticos em caso de hemoculturas negativas em 36 horas. É importante ressaltar que o fator mais importante no desenvolvimento da resistência antimicrobiana é o uso do antimicrobiano. Há um alarmante aumento  das infecções causadas pelas superbactérias (BACTÉRIAS DO PESADELO!)

Aumento alarmante das infecções causadas pelas superbactérias (Relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doença dos Estados Unidos)

Aumento alarmante das infecções causadas pelas superbactérias (Relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doença dos Estados Unidos)

Changes in CarbapenemaseProducing CarbapenemResistant Enterobacterales, 2019 to 2023. Rankin DA, Stahl A, Sabour S, Khan MA, Armstrong T, Huang JY, Baggs J, Walters MS.Ann Intern Med. 2025 Sep 23. doi: 10.7326/ANNALS-25-02404. Online ahead of print.PMID: 40982973 No abstract available.

Matéria veiculada pelo  Jornal da TV Cultura em 24 de setembro de 2025

Realizado por Paulo R. Margotto.

O resultado não é motivo de pânico, segundo infectologistas, mas serve de alerta. A resistência pode ter sido acelerada com o uso indiscriminado e cada vez mais frequente de antibióticos, mesmo sem a confirmação de uma infecção bacteriana.

O aumento gerou um alerta da ONU. Até 2050, infecções causadas por superbactérias podem provocar 10 milhões de mortes por ano no planeta, superando o número de vítimas de câncer. Existe o risco, se o mundo não se organizar para conter o problema, de em algumas situações, nós voltarmos à era pré-antibiótica. E voltar à era pré-antibiótica é um problema, é como se a gente não existisse mais antibiótico para tratar infecções que antes eram corriqueiras.

 

Pneumonia Associada à Ventilação (PAV)

Pneumonia Associada à Ventilação (PAV)

Paulo Mansoni (Itália).

Palestra administrada pelo Dr. Paolo Mansoni (Itália), no IX Encontro Internacional de Neonatologia, Gramado, 3-5 de abril de 2025.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O meu alerta é que essa entidade não há concordância total em termos dela existir nos recém-nascidos. Eu vou passar pelas evidências, pelas definições, estratégias para evitar, mas o meu alerta é que é difícil falar claramente sobre uma questão que, de uma certa forma é meio incerta. PAV é pneumonia adquirida no hospital, comum em UTIs de adultos, e ocorre em pacientes sob ventilação mecânica por pelo menos 48 horas, com evidência radiográfica nova e persistente de lesão, e isolamento de um patógeno (na UTI Neonatal ocorre , principalmente em prematuros devido ao diâmetro alveolar 20% menor, bronquíolos estreitos que dificultam a limpeza de muco e patógenos). Outros fatores incluem intubação, aspirações frequentes, permanência em UTI, nutrição parenteral total, e infecção prévia da corrente sanguínea. prevenção se beneficia mais de pacotes de intervenções (“bundles”) do que de estratégias isoladas, com a enfermagem desempenhando um papel central. A ultrassonografia pulmonar à beira do leito é uma ferramenta promissora para avaliação dinâmica e não invasiva. Não há indicação clara na literatura para troca rotineira de circuitos do ventilador: apenas quando visivelmente sujos ou quando há piora clínica suspeita.

Aspectos ultrassonográficos das infecções perinatais crônicas

Aspectos ultrassonográficos das infecções perinatais crônicas

Paulo R. Margotto (Curso Avança do Ultrassonografia Pediátrica-NEXUS, Brasília).

Nessa apresentação destacamos  os achados ultrassonográficos (de infecções perinatais crônicas, que causam neuropatias por inflamação, infiltração meníngea/vascular, necrose cerebral e proliferação microglial/astroglial. As infecções abordadas incluem citomegalovírus (CMV), toxoplasmose, parvovírus, zika vírus (ZKV), incluindo meningite e candidíase. A ultrassonografia cerebral é essencial para detectar alterações cerebrais em infecções perinatais crônicas, como calcificações, ventriculomegalia e lesões destrutivas, orientando diagnóstico diferencial e acompanhamento. Achados como hidrocefalia e abscessos indicam prognóstico reservado, exigindo seguimento com TC ou RM.

Sepse neonatal precoce (primeiros 3 dias de vida): epidemiologia, microbiologia e controvérsias na prática

Sepse neonatal precoce (primeiros 3 dias de vida): epidemiologia, microbiologia e controvérsias na prática

Neonatal EarlyOnset SepsisEpidemiologyMicrobiology, and Controversies in Practice.Flannery DD a,b,*, Ramachandran Vc, Schrag SJc.Clin Perinatol. 2025 Mar;52(1):15-31. doi: 10.1016/j.clp.2024.10.002. Epub 2024 Dec 21.PMID: 39892950 Review.

Apresentação: Julia Obliziner e Laís Vieira e  Laís Vieira ((R4 de Neonatologia no HMIB). Coordenação: Diogo Pedroso.

Este artigo fornece uma análise abrangente sobre a sepse neonatal de início precoce , abordando sua epidemiologia, microbiologia e as principais controvérsias na prática clínica.  O Streptococcus do grupo B (GBS) é  responsável por 33,4% dos casos, mais comum em recém-nascidos a termo e a Escherichia coli representa 27,7% dos casos, predominante em prematuros, com 80% das cepas resistentes à ampicilina. Em países de baixa/média renda, as bactérias gram-negativas (como E. coli, Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter spp.) e gram-positivas (como CONS e S. aureus) são predominantes. A  Profilaxia Antimicrobiana Intraparto (PAI), introduzida nos EUA em 1996, reduziu a incidência de GBS na sepse precoce  em aproximadamente 90%. No entanto há preocupações com o aumento da resistência antimicrobiana (especialmente em E. coli) e alterações no microbioma neonatal, potencialmente associadas a maior índice de massa corporal na infância. Vacinas contra GBS estão em fase de  desenvolvimento e contra E. coli em fase de pesquisa. No tratamento da sepse precoce: ampicilina é eficaz contra GBS, mas enfrenta resistência em 80% das cepas de E. coli e a gentamicina cobre 80-90% das cepas de E. coli e tem efeito sinérgico com ampicilina, alcançando eficácia em 92% dos casos de sepse de início precoce. Sepse clínica (sintomas sem confirmação microbiológica) pode refletir limitações diagnósticas ou respostas fisiológicas transitórias do neonato. Bebês de mães negras têm maior taxa de mortalidade (10,52 por 1.000) em comparação com brancas (4,42) ou asiáticas (3,40).A profilaxia antibiótica intraparto não previne a EOS causada por organismos que não sejam GBS, especialmente bactérias gram-negativas, nem a doença de GBS de início tardio.

ONG DA PREMATURIDADE 10 ANOS! COORDENAÇÃO GERAL: Denise Suguitani: 1o ENCONTRO NACIONAL DA PREMATURIDADE (São Paulo, 15/6/2025):A Luta Contra o Vírus Sincicial Respiratório

ONG DA PREMATURIDADE 10 ANOS! COORDENAÇÃO GERAL: Denise Suguitani: 1o ENCONTRO NACIONAL DA PREMATURIDADE (São Paulo, 15/6/2025):A Luta Contra o Vírus Sincicial Respiratório

Lilian Sadeck.ONG DA PREMATURIDADE 10 ANOS! COORDENAÇÃO GERAL: Denise Suguitani: 1o ENCONTRO NACIONAL DA PREMATURIDADE (São Paulo, 15/6/2025)

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

É  discutida a importância do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), especialmente durante a sazonalidade de outono-inverno, que na região norte do Brasil vai de fevereiro a julho e nas demais regiões de março a julho.

Apesar dos avanços, é crucial incentivar as gestantes a receberem as vacinas, não apenas a do VSR, mas todas as outras. Há uma preocupação, pois dados mostram que apenas 11% das gestantes estão preocupadas em tomar vacinas, e os obstetras também precisam reforçar essa importância.

A vacinação da gestante protege não só a mãe, mas também o filho, representando uma “economia” ao proteger múltiplas pessoas com uma única vacina.

 

Mortalidade por todas as causas e resultados relacionados à infecção do Tratamento Canguru iniciado no hospital versus Tratamento Neonatal Convencional para bebês de baixo peso ao nascer: uma revisão sistemática e metanálise

Mortalidade por todas as causas e resultados relacionados à infecção do Tratamento Canguru iniciado no hospital versus Tratamento Neonatal Convencional para bebês de baixo peso ao nascer: uma revisão sistemática e metanálise

All-cause mortality and infectionrelated outcomes of hospitalinitiated kangaroo care versus conventional neonatal care for low-birthweight infants: a systematic review and meta-analysis. Minotti C, Jost K, Aghlmandi S, Schlaeppi C, Sieswerda E, van Werkhoven CH, Schulzke SM, Bielicki JA.Lancet Child Adolesc Health. 2025 May 26:S2352-4642(25)00130-0. doi: 10.1016/S2352-4642(25)00130-0. Online ahead of print.PMID: 40441171.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Revisão sistemática e metanálise de ensaios clínicos randomizados publicados entre 2013 e 2025, incluindo 30 relatos de 29 ensaios com 17.513 bebês de baixo peso, comparando Método Canguru com cuidados convencionais mostrou redução significativa  da mortalidade, sepse, infecção invasiva, mortalidade por sepse/infecção invasiva, hipotermia e apneia.  Deve ser integrado às práticas de prevenção e controle de infecções neonatais globalmente, conforme recomendações da OMS. Os benefícios incluem  menor exposição a patógenos hospitalares, promoção do aleitamento materno e possível transferência de microbioma protetor via contato pele a pele. Interessante: o Método Canguru associou-se a uma maior descolonização das narinas de bebês prematuros por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) e Staphylococcus epidermidis (MRSE). Nenhum dos estudos relatou o risco de aquisição de colonização bacteriana (resistente).