Encefalopatia Neonatal (EN)-controvérsias e atualização

Encefalopatia Neonatal (EN)-controvérsias e atualização

Palestra administrada pela Dra. Nikki Robertson (Reino Unido), no IX Encontro Internacional de Neonatologia, Gramado, 3-5 de abril de 2025.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A EN é uma função neurológica alterada em neonatos, frequentemente associada à encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI), mas também a infecções, AVC, e outras causas. Em países de alta renda, a hipotermia terapêutica (HT) é o padrão-ouro, reduzindo desfechos adversos em 45%. Ela age na neuroproteção ao reduzir inflamação, morte celular, taxa metabólica e radicais livres, promovendo o reparo endógeno. A lesão cerebral é um processo de três fases (primária, secundária e terciária), com a hipotermia atuando na fase secundária.    Em países de baixa e média renda, como Uganda e Sudeste Asiático, estudos sugerem que a hipotermia pode não ser benéfica, devido a fatores como infecção e inflamação.  Para neonatos prematuros (33-35 semanas), a hipotermia não mostrou reduzir mortalidade ou deficiência e pode até aumentar esses riscos, levando à suspensão da prática no Reino Unido para essa faixa etária. Para a EN leve, há controvérsia. Embora estudos iniciais a excluíssem, metanálises recentes indicam que até 25% dos bebês com EN leve podem ter desfechos adversos. No entanto, a tendência de benefício da hipotermia não é forte o suficiente para guiar a terapia, e a lesão em casos leves pode ter ocorrido muito antes do nascimento, tornando o resfriamento ineficaz.Estudos no Brasil mostraram que 62% dos centros usam hipotermia terapêutica. A telemedicina com neuromonitorização remota por eletroencefalograma (EEG) se mostrou eficaz na detecção e tratamento de crises em bebês com EN, garantindo protocolos consistentes e treinamento. Durante a hipotermia, é crucial prevenir lesões secundárias otimizando a ressuscitação, evitando hipertermia (especialmente no reaquecimento) e tratando convulsões. A manutenção de temperatura ótima é vital, e a disglicemia (flutuação de glicose) está associada a piores desfechos.   Melatonina: Um potente antioxidante e antiinflamatório, que em estudos pré-clínicos demonstrou reduzir a lesão cerebral. Um estudo de fase I (ACUMEN) está para começar no Reino Unido para testar uma formulação intravenosa em neonatos com EHI.   O Pós-condicionamento Isquêmico Remoto (RIPostC) é uma  técnica não invasiva de isquemia e reperfusão em um membro que ativa vias protetoras endógenas. Estudos em leitões e um estudo recente em 32 neonatos confirmaram sua segurança e viabilidade como terapia adjuvante.     Entre os biomarcadores, a espectroscopia por ressonância magnética (MRS), com a razão lactato/N-acetil aspartato (NAA), é um biomarcador crucial para monitorar a lesão cerebral e predizer desfechos. Em suma, a apresentação enfatiza a necessidade de adaptar as terapias neuroprotetoras, utilizando biomarcadores e novas abordagens diagnósticas e terapêuticas para otimizar os desfechos na encefalopatia neonatal.