Autor: Paulo Margotto

Este site tem por objetivo a divulgação do que há mais de novo na Medicina Neonatal através de Artigos (Resumidos, Apresentados, Discutidos e Originais), Monografias das Residências Médicas, principalmente do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB/SES/DF), Apresentações de Congresso e Simpósios (aulas liberadas para divulgação, aulas reproduzidas). Também estamos disponibilizando dois livros da nossa autoria (Assistência ao Recém-Nascido de Risco, 3a Edição, 2013 e Neurossonografia Neonatal, 2013) em forma de links que podem ser baixados para os diferentes Smartphone de forma inteiramente gratuita. A nossa página está disponível para você também que tenha interesse em compartilhar com todos nós os seus conhecimentos. Basta nos enviar que após análise, disponibilizaremos. O nome NEONATOLOGIA EM AÇÃO nasceu de uma idéia que talvez venha se concretizar num futuro não distante de lançarmos um pequeno livro (ou mesmo um aplicativo chamado Neonatologia em Ação) para rápida consulta à beira do leito. No momento estamos arduamente trabalhando com uma excelente Equipe na elaboração da 4a Edição do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, que conterá em torno de mais 100 capítulos, abordando diferentes temas do dia a dia da Neonatologia Intensiva, com lançamento a partir do segundo semestre de 2018. O site também contempla fotos dos nossos momentos na Unidade (Staffs, Residentes, Internos). Todo esforço está sendo realizado para que transportemos para esta nova página os 6000 artigos do domínio www.paulomargotto.com.br, aqui publicados ao longo de 13 anos.Todas as publicações da página são na língua portuguesa. Quando completamos 30 anos do nosso Boletim Informativo Pediátrico com Enfoque Perinatal (1981- 2011), o berço do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, escrevemos e que resumo todo este empenho no engrandecimento da Neonatologia brasileira: nestes 30 anos, com certeza, foram várias as razões que nos impulsionam seguir adiante, na conquista do ideal de ser sempre útil, uma doação constante, na esperança do desabrochar de uma vida sadia, que começa em nossas mãos. Este mágico momento não pode admitir erro, sob o risco de uma cicatriz perene. É certamente emocionante fazer parte desta peça há tantos anos! "Não importa o quanto fazemos, mas quanto amor colocamos naquilo que fazemos"
Prematuros extremos: o manejo que faz toda a diferença

Prematuros extremos: o manejo que faz toda a diferença

Profa. Walusa Assad Gonçalves Ferri. Live ocorrida no dia 10 de junho de 2025, sob a Coordenação da Dr. Marta David Rocha e Moura

Realizado por Paulo R. Margotto.

O manejo de prematuros extremos exige abordagem multidisciplinar, com foco na prevenção da falência energética, monitoramento hemodinâmico preciso, suporte para infecções suaves e nutrição otimizada. A ecocardiografia funcional e biomarcadores são ferramentas essenciais para personalizar o tratamento, enquanto a prevenção de lesões oxidativas e complicações neurológicas, como a leucomalácia, é fundamental para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida.

Hot points da Terapia Nutricional no recém-nascido pré-termo

Hot points da Terapia Nutricional no recém-nascido pré-termo

Apresentação de Rubens Feferbaum no XXXII Encontro Internacional de Neonatologia da Santa Casa de São Paulo, 12-17/5/2025

Realizado por Paulo R. Margotto.

São abordados  os Desafios e Diretrizes da Terapia Nutricional em recém-nascidos pré-termos, com foco em nutrição parenteral (NP), enteral (NE), transição entre elas, colostroterapia e prevenção de complicações. Objetivos da Terapia Nutricional: promover crescimento semelhante ao intrauterino (15 g/kg/dia); garantir desenvolvimento neurológico adequado; prevenir doenças crônicas não transmissíveis a longo prazo; evitar subnutrição e catabolismo proteico; proteger o sistema nervoso central e reduzir inflamação, considerando eixos como intestino-cérebro e intestino-pulmão. Recomenda-se iniciar NP imediatamente após o nascimento com acesso vascular, fornecendo 1,5 g/kg/dia de aminoácidos (AA) no 1º dia, progredindo para 2,5–3,5 g/kg/dia (máximo 3 g/kg/dia para evitar sepse). Evidência: baixa, recomendação forte (ASPEN). Aminoácidos: Cisteína (antioxidante), taurina (desenvolvimento retinal) e arginina (óxido nítrico, insulina) são cruciais. Estabilizam glicemia e reduzem catabolismo. Lipídios: Iniciar com 1–2 g/kg/dia, progredindo para 3–4 g/kg/dia. Emulsões multicompartimentadas (óleo de peixe, ômega-3) reduzem inflamação e melhoram capacidade antioxidante. NICE (2020) recomenda início precoce. Eletrólitos: Suplementar sódio, potássio, cálcio e fósforo desde o 1º dia para evitar Síndrome de Realimentação (SR), caracterizada por hipofosfatemia (<4 mg/dL, grave <2,5 mg/dL), hipocalemia (<3 mEq/L) e hipomagnesemia (<1,5 mEq/L). Fósforo é crítico devido à depleção placentária. Micronutrientes: Zinco, selênio e outros são essenciais, mas há limitações no Brasil. Deficiência de selênio agrava displasia broncopulmonar e retinopatia. Colostroterapia: Modula microbiota intestinal, reduzindo enterocolite necrosante. Na ausência do colostro da própria mãe, pode ser usado o colostro pasteurizado (contém pré-bióticos,  oligossacarídeos [HMOs]  que são resistentes à pasteurização e promovem Lactobacillus e Bifidobacterium. Progressão: Avanço de 18–30 mL/kg/dia com leite humano não aumenta riscos (sepse, enterocolite). Não medir resíduo gástrico rotineiramente, salvo se colorido. Fortificação: Essencial para prematuros de muito baixo peso, garantindo crescimento e mineralização óssea. Transição NP/NE: Fase crítica para evitar déficits nutricionais. Manter NP até NE atingir 135 mL/kg/dia (leite fortificado) ou 110 kcal/kg/dia. Aporte proteico mínimo: 4 g/kg/dia. Complicações: Síndrome de Realimentação: Risco em 20–38% dos prematuros extremos, associada a hipofosfatemia e sepse. Prevenir com suplementação precoce de fósforo e monitoramento de eletrólitos. Colestase Associada à NP: Reduzida com NE precoce, ciclagem de NP (a cada 12 horas) e emulsões multicompartimentadas (óleo de peixe, vitamina E). Evitar jejum prolongado

 

 

Limiar para iniciar compressões torácicas para bradicardia ao nascimento.

Limiar para iniciar compressões torácicas para bradicardia ao nascimento.

Threshold to initiate chest compressions for bradycardia at birth: A narrative review. Binkhorst M, van Elsäcker E, Matthijsse RP, Antonius T, Timmermans NA, Te Pas AB, de Boode WP, Hogeveen M. J Perinatol. 2025 May 13. doi: 10.1038/s41372-025-02320-2. Online ahead of print.PMID: 40360699 Review.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A ressuscitação neonatal foca na ventilação eficaz devido à hipóxia/asfixia como principal causa de bradicardia ao nascimento, diferentemente de adultos, onde eventos cardiovasculares predominam. Diretrizes globais, como as do Conselho Europeu de Ressuscitação (ERC) e da American Heart Association (AHA), recomendam iniciar compressões torácicas (CC) se a frequência cardíaca (FC) permanecer <60 bpm após 30 segundos de ventilação de pressão positiva (VPP) adequada. Este limiar, baseado em consenso de especialistas e dados limitados de animais, é considerado pragmático, mas carece de evidências robustas. Estudos indicam que a ventilação eficaz pode restaurar a FC em muitos casos, reduzindo a necessidade de CC, que são raras (0,03-0,3% dos recém-nascidos). Pesquisas observacionais sugerem que CC são frequentemente iniciadas prematuramente, antes de otimizar a ventilação, o que pode ser ineficaz ou prejudicial. Modelos animais mostram que a bradicardia (30-60 bpm) pode ser um mecanismo de defesa (reflexo de mergulho), preservando perfusão coronária e cerebral, e que CC podem interferir no enchimento ventricular e na ventilação, além de causar traumas físicos e hipotermia. Uma revisão narrativa, atualizada até março de 2024, não encontrou estudos comparando limiares de FC para CC. Um modelo matemático sugere que CC são benéficas apenas em assistolia ou bradicardia grave (<30 bpm). Uma pesquisa com 183 neonatologistas revelou que 74,9% apoiariam adiar CC por até 120 segundos em bradicardia moderada (30-60 bpm) para priorizar ventilação eficaz. Portanto,  a evidência clínica é escassa, mas dados de animais, modelos matemáticos e opiniões de especialistas sugerem reconsiderar o limiar de <60 bpm para CC, priorizando ventilação adequada. Ensaios clínicos randomizados são necessários para definir limiares ideais.

Mudanças Climáticas e o Impacto na Saúde Perinatal

Mudanças Climáticas e o Impacto na Saúde Perinatal

Palestra Apresentada por Clery B. Gallacci no XXXII Encontro Internacional de Neonatologia da Santa Casa de São Paulo 12-17/5/2025).   

Realizado por Paulo R.Margotto.

As mudanças climáticas estão alterando o perfil dos pacientes em UTIs neonatais, com impactos significativos na saúde perinatal. Dados da OMS e UNICEF (2020) indicam um óbito de gestante a cada 2 minutos e 2 milhões de mortes de recém-nascidos no primeiro mês de vida globalmente. A cada 1°C acima de 23,9°C, a mortalidade pode aumentar 22,4%. Projeções para 2030-2050 estimam 250.000 mortes adicionais por ano devido à crise climática. Secas, altas temperaturas, umidade (micropartículas PM2,5, ozônio) e outras substâncias nocivas aumentam a prematuridade em 5% por 1°C de aumento e 16% em ondas de calor, além de causarem restrição de crescimento intrauterino e pré-eclâmpsia. Poluentes comprometem a vascularização placentária, aumentam níveis pressóricos e causam inflamação, afetando a saúde materna e fetal. Tabaco, álcool e cigarros eletrônicos agravam esses efeitos. A exposição a substâncias no intraútero e no primeiro ano de vida causa alterações estruturais e funcionais nos pulmões, agravando condições em prematuros e aumentando casos de asma, alergias e enfisema em crianças mais velhas. Altas temperaturas (3-8 semanas de gestação) e substâncias prejudiciais causam estresse oxidativo, umidade e deposição de metais (ferro, cobre, carbono negro) nos tecidos fetais, levando a afilamento do córtex cerebral, comprometimento cognitivo, autismo e alterações metabólicas a longo prazo. Impacto no coração: Calor extremo está associado a danos de septo (risco relativo de 1,3 a 3,24 após exposições prolongadas) e malformações como coartação da aorta e transposição de grandes vasos, devido a interrupções na visão proteica e alterações epigenéticas. Calor extremo está associado a danos de septo (risco relativo de 1,3 a 3,24 após exposições prolongadas) e malformações como coarctação da aorta e transposição de grandes vasos, devido a interrupções na visão proteica e alterações epigenéticas. Soluções: Reduzir poluição: usar carros elétricos, bicicletas, árvores plantares. Evite expor a incensos e lareiras durante a gravidez. Conscientização: levantar a bandeira sobre os climas, respaldados por evidências científicas. Preparação clínica: uso de ecocardiograma à beira-leito e manejo de malformações cardíacas. Ações individuais e coletivas são essenciais para mitigar esses efeitos e proteger gestantes e fetos.

Tempo para hemoculturas positivas em avaliações de sepse neonatal

Tempo para hemoculturas positivas em avaliações de sepse neonatal


Time to positive blood cultures in neonatal sepsis evaluations.
Willey E, Mitchell M, Ehlert C, Swoveland J, Zembles T.J Perinatol. 2025 May 17. doi: 10.1038/s41372-025-02323-z. Online ahead of print.PMID: 40382485.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O objetivo do estudo foi avaliar o tempo até a positividade de hemoculturas (TTP) em neonatos internados em UTIN para sepse de início precoce (EOS, <72h de vida) ou tardia (LOS, ≥72h), visando determinar quando os antibióticos podem ser descontinuados com segurança. Trata-se de um estudo retrospectivo de coorte em uma UTIN nível IV (maio/2016 a junho/2023) com 151 neonatos com hemoculturas positivas tratados com antibióticos por ≥5 dias. TTP mediano geral: 17h (IQR 12–23),84% das culturas positivas em 24h; 96% em 36h.EOS: todas (100%) positivas em 24h (mediana 12h).LOS: 83% positivas em 24h; 96% em 36h (mediana 18h).Gram-negativas: 98% positivas em 24h (mediana 11h).Gram-positivas: 94% positivas em 36h (mediana 21h).Organismos comuns: Staphylococcus coagulase-negativo e Escherichia coli. Subanálise sem contaminantes: TTP mediano de 13h; 93% positivas em 24h, 98% em 36h. Os autores concluem que  em neonatos com culturas negativas e boa aparência clínica, sem fonte infecciosa identificada, os antibióticos podem ser descontinuados com segurança em 36h, ou até 24h para cobertura de Gram-negativas. O estado clínico deve guiar a decisão. A redução da antibioticoterapia empírica minimiza riscos como alterações no microbioma, resistência bacteriana e morbidades neonatais.

Aumento do risco de autismo em crianças extremamente prematuras com retinopatia da prematuridade

Aumento do risco de autismo em crianças extremamente prematuras com retinopatia da prematuridade

Increased risk of autism in extremely preterm children with a history of retinopathy of prematurity. Lundgren P, Olsson HBK, Pivodic A, Jacobson L, Vallin L, Smith LE, Sävman K, Hellström A.Acta Paediatr. 2025 Jun;114(6):1161-1168. doi: 10.1111/apa.17539. Epub 2024 Dec 19.PMID: 39698790 Artigo Gratis!

Realizado por Paul R. Margotto.

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental caracterizada por déficits na interação social e comportamentos repetitivos. Crianças extremamente prematuras (<28 semanas de idade gestacional) apresentam risco elevado de TEA (6-20%), especialmente aquelas com retinopatia da prematuridade (ROP), uma doença neurovascular que afeta a retina de prematuros. O TEA está ligado a danos cerebrais estruturais macroscópicos e microscópicos, e outras comorbidades neuropsiquiátricas, como deficiência intelectual e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), são comuns, particularmente em bebês prematuros. O mundo todo, cerca de 1% das crianças são diagnosticadas com TEA, e algumas pesquisas sugerem que a prevalência está aumentando.Este estudo mostrou a associação entre ROP e TEA em crianças <28 sem lesões cerebrais ou distúrbios genéticos: ROP moderada a grave (estágio ≥2) foi associada a uma probabilidade triplicada de TEA (aOR 3,76; IC 95% 1,36–10,40; p=0,011) após ajustes. A retina, uma extensão do sistema nervoso central, compartilha origem neuroectodérmica com o cérebro, sugerindo que alterações na ROP podem refletir problemas neurais. Astrócitos e neuroinflamação são fatores comuns na ROP e no TEA, indicando possíveis mecanismos compartilhados, como hipóxia e estresse oxidativo. A alta prevalência de TEA (cerca de 20%) reforça a necessidade de rastreamento e avaliação precoce do neurodesenvolvimento nessas crianças, especialmente com histórico de ROP, para melhorar desfechos e qualidade de vida. Metanálise de seis coortes europeias indica que a exposição pré-natal ao paracetamol aumenta o risco de TEA (19%) e TDAH (21%), especialmente em meninos, possivelmente por estresse oxidativo e alterações no BDNF (Fator Neurotrófico derivado do cérebro). Quanto ao ácido fólico: Revisões sistemáticas mostram resultados inconsistentes. A suplementação pré-natal pode reduzir o risco de TEA (OR 0,57), mas doses elevadas ou autoanticorpos contra receptores de folato podem aumentar o risco, São recomendados rastreamento precoce de TEA em prematuros com ROP e Uso cauteloso de paracetamol na gravidez, apenas quando necessário.

DEFICIÊNCIA VISUAL CEREBRAL (DVC): importante desafio para a Neonatologia

DEFICIÊNCIA VISUAL CEREBRAL (DVC): importante desafio para a Neonatologia

Joseph J. Volpe

MDCEREBRAL VISUAL IMPAIRMENT (CVI): IMPORTANT CHALLENGE FOR NEONATOLOGY (Newborn Brain Society).

Realizado por Paulo R. Margotto,

 

A DVC é a principal causa de deficiência visual pediátrica, frequentemente associada a eventos neonatais como prematuridade extrema ou encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI). A DVC afeta a visão funcional, não necessariamente a acuidade visual, dificultando a triagem convencional. Características incluem dificuldade em focar objetos, processar cenas complexas, reconhecer rostos ou objetos, e problemas com atenção visoespacial. Esses déficits impactam o desenvolvimento cognitivo, social e educacional, tornando o diagnóstico precoce e intervenções direcionadas essenciais. Nos prematuros a lesão da substância branca, como leucomalácia periventricular (LPV), é a principal causa. Estudos mostram que 33-43% dos prematuros apresentam DVC, com disfunções relacionadas ao fluxo dorsal. Nos RN a termo com encefalopatia hipóxico-isquêmica, lesões parassagitais ou puntiformes da substância branca, predominantes no cérebro posterior, são prováveis causas de DVC, afetando 35-50% dos casos. O desafio para os neonatologistas: identificar neonatos em risco de DVC no período neonatal é crucial, utilizando ressonância magnética e tractografia para detectar lesões da substância branca. A detecção precoce permite monitoramento direcionado e intervenções durante o período de alta plasticidade cerebral (primeiros dois anos), promovendo melhorias no desenvolvimento visual, cognitivo e social.

Probióticos na UTI Neonatal : em que ponto estamos

Probióticos na UTI Neonatal : em que ponto estamos

Palestra administrada pelo Dr. Renato Gasperini (SP) no XII Encontro Internacional de  Neonatologia da Santa Casa de São Paulo, 16-17 de maio de 2025.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Existe diferença entre o conceito de MICROBIOTA INTESTINAL e MICROBIOMA INTESTINAL, muitas vezes utilizados como sinônimos, mas a microbiota vai ser constituída por todos os organismos vivos  dentro do indivíduo,  todas as bactérias, fungos, protozoários. Já o microbioma é um termo um pouco mais amplo e ele é o conjunto não só desses microrganismos da microbiota, mas também as estruturas microbianas, os seus metabólitos, que podem ser compostos bioativos e os elementos genéticos e que tudo isso  convive de forma harmônica e equilibrada dentro do indivíduo. São 40 trilhões de células microbianas no nosso corpo, 3 milhões de genes microbianos, 95 habitam o trato gastrointestinal e 30% do peso seco das fezes são bactéria. No  recém-nascido é muito importante saber  que é justamente nesse momento que ocorre o  início do desenvolvimento da microbiota, e, provavelmente com um impacto nos  primeiros anos de vida e até pra vida adulta. Quando o bebê nasce  prematuramente, é uma desvantagem,  do ponto de vista de formação da microbiota, porque os bebês prematuros eles têm uma internação, prolongada na UTI Neonatal  que já é um ambiente colonizado por bactérias possivelmente patológicas. Eles têm flutuações na duração e na intensidade da dieta enteral e  muitas vezes com períodos de jejum prolongado, que é extremamente deletério para a microbiota, um menor consumo de leite materno comparado com bebês a termo e exposição frequente a antibióticos  e a inibidor de bomba de prótons. Então, tudo isso vai levar a uma alteração da microbiota e muitas vezes a uma disbiose e com menor biodiversidade dessa microbiota. E não só isso, como também aumento na expressão dos genes ligados à resistência a antibióticos no trato gastrointestinal. Essa possível disbiose que o bebê prematuro vai desenvolver pode ter algumas consequências graves, para os bebês prematuros, como, por exemplo, o desfecho com enterocolite necrosante, que tem aí uma incidência de cerca de 7% em bebês prematuros abaixo de 32 semanas e com peso menor do que 1500g, com complicações muito importantes: mortalidade cerca de 25%, ressecções cirúrgicas do intestino, síndrome do intestino, curto, além de prejuízos no neurodesenvolvimento. A disbiose também pode predizer o desfecho para sepse neonatal. ?Então surge a pergunta: podemos modular essa microbiota dos prematuros  através do uso dos probióticos  que por definição são  microrganismos vivos que quando consumidos em quantidades adequadas vão conferir um benefício à saúde do hospedeiro). . Na literatura, no período neonatal, são esses os probióticos mais estudados: Bidobacteria, Lactobacilli, Streptococcus thermophiluse entre as leveduras, Saccharomyces boulardii. Quando você vê a literatura de probióticos no período neonatal, você vê diversos estudos, alguns utilizando cepas únicas e outros estudos, usando formulações multicepas. Para o bebê recém-nascido ainda é incerto na literatura se a oferta de probióticos multicepas tem efeitos sinérgicos ou aditivos que vão superar os efeitos benéficos de ofertar apenas uma cepa única. Os resultados dos estudos  na enterocolite necrosante, mostraram nível de evidência de baixa a moderada, não havendo evidência nos bebês <1000gramas (e são esses os mais importantes!!!!). Na mortalidade,  a evidencia foi moderada e na intolerância alimentar, os resultados da literatura são hererogêneos. Nos EUA os probióticos são vendidos como suplementos alimentares e não são regulados pela FDA, além de falta de controle de segurança, de qualidade, de viabilidade (o que está no rótulo não confirma o que está no produto!) Há divergências de recomendações entre diversas Organizações  com diferentes Guidelines. Academia Americana de Pediatria 2021 se posicionaram de forma mais conservadora e menos otimista em relação aos probióticos. Assim, eles se posicionam contra o uso na prática clínica, principalmente em prematuros abaixo de 1000 g por ter uma falta de regulamentação e testes de qualidade e ausência de estudos de segurança a longo prazo, heterogeneidade da população de prematuros dentro da UTI Neonatal, e falha dos estudos randomizados e controlados maiores e mais rigorosos em demonstrar redução de enterocolite e mortalidade. Você pode calcular o número de bebês que você precisar usar probióticos para evitar uma enterocolite necrosante (consulte nos complementos Ravi Patel). Não usamos probióticos na nossa Unidade.

Hiperglicemia e infecção em prematuros extremos

Hiperglicemia e infecção em prematuros extremos

Palestra Proferida pelo Dr. Paolo Manzoni (Itália) no IX Encontro Internacional de Neonatologia ocorrido em Gramado (3 a 5/4/2025).

Realizado por Paulo R. Margotto

A hiperglicemia se relaciona com a infecção através do aumento da adesão dos patógenos, aumento da formação de biofilmes (há um substancial aumento do biofilme com concentrações de glicose entre 200 a 240mg%), promoção da inflamação através da glicólise e pode estar relacionada com  baixa IGf-1. A oferta parenteral alta de glicose a recém-nascidos infectados acelera glicólise celular imune, levando a um excesso de inflamação e sepse. Hiperglicemia (180mg%) é um potente, independente fator de risco para mortalidade na sepse neonatal tardia (OR; 2,6 com IC a 95% de 1,1-6,1 –p=0,021). A hiperglicemia  associou-se também com  a ocorrência de  infecções fúngicas sistêmicas  com risco extremamente alto (4 vezes: OR=3,95-IC de 1,188+6,892- P=0,002)   em relação à hiperglicemia no grupo com sepse tardia bacteriana. Todo esse processo é mediada pelo aumento do biofilme através do ambiente hiperglicêmico, NÃO SENDO VERDADEIRO PARA GRAM NEGATIVOS). A hiperglicemia também se associa a severa retinopatia da prematuridade (6,44 vezes!). A estabilidade glicêmica nos primeiro 3-5 dias de vida  na UTI nos  recém-nascido prematuros de muito baixo peso deve ser mantida, devido ao aumento do risco de infecção e outras morbimortalidades. Evitar a infecção nesses bebês é fundamental.

Um estudo prospectivo descrevendo NIRS esplâncnico e resultados clínicos em neonatos com encefalopatia recebendo nutrição enteral mínima durante hipotermia terapêutica (HT)

Um estudo prospectivo descrevendo NIRS esplâncnico e resultados clínicos em neonatos com encefalopatia recebendo nutrição enteral mínima durante hipotermia terapêutica (HT)

Nuzum TA, Bailey SM, Caprio M, Wachtel EV.J Perinatol. 2025 Apr 10. doi: 10.1038/s41372-025-02270-9. Online ahead of print.PMID: 40210989. Estados Unidos

Realizado por Paulo R. Margotto.

Nos últimos anos, houve um aumento no número de bebês que recebem alguma alimentação durante a HT, no entanto, muitos médicos ainda retêm essa intervenção devido a preocupações sobre a perfusão esplâncnica e enterocolite necrosante. Isso pode ser amplamente baseado na prática histórica em vez de um forte corpo de evidências. Utilizando a NIRS esplâncnica   em dois grupos em HTum  alimentado (iniciando em torno de 24 horas) e outro “nada pela boca”, os autores mostraram não haver alteração da NIRS esplâncnica entre os dois grupos e ainda mais, Demonstramos uma série de benefícios clínicos na administração de nutrição enteral mínima (NEM) durante a HT, incluindo menos dias de cateter central, menor tempo para atingir a alimentação oral completa e maiores taxas de alimentação com leite materno no momento da alta da UTIN, o que é consistente com estudos anteriores. Com base nesses benefícios clínicos promissores, além da descrição da perfusão esplâncnica e oxigenação normais, os profissionais de saúde devem ser encorajados a administrar nutrição enteral mínima (10-15mg/kg) durante a HT em bebês hemodinamicamente estáveis.