Diagnóstico e tratamento das principais arritmias na criança
Jorge Yussef Afiune
Jorge Yussef Afiune
De Vanoni F et al, Suiça, 2017, Apresentado pelo Dr. Paulo Henrique P Monteiro, R2 em Pediatria do Hospital Universitário de Brasília, sob Coordenação da Prof. Dra. Márcia Pimentel de Castro. A incidência de lupus eritematoso neonatal nos filhos de mães com perfil sorológico é de aproximadamente 2%, com taxa de recorrência em gravidez subsequentes é em torno de 20%, afetando ambos os sexos (menos de 5% dos bebês com lupus eritematoso neonatal desenvolvem lupus sistêmico na adolescência ou na idade de adulto jovem).Importante: Se houver uma gestação prévia complicada com síndrome do lupus neonatal, esse risco aumenta em 10x (20%), na próxima gestação. O diagnóstico sindrômico ocorre quando:presença dos autoanticorpos maternos e recém-nascido com bloqueio atrioventricular, rash típico ou manifestações hepáticas ou hematológicas sem outra explicação (vejam as imagens da lesões no artigo, muitas vezes confundidas com eczema, tocotraumatismo e infecção!). O bloqueio atrioventricular congênito (com coração normal) é a manifestações cardíaca mais comum e comumente se desenvolve entre a 18a e 26a semana de idade gestacional, podendo ocorrer depois de 26/30 semanas. Em 5-10% destes pacientes podem desenvolver cardiomiopatia.O desenvolvimento do lupus neonatal é independente de amamentação.Logo, em mães com presença dos autoanticorpos ou cujos filhos são afetados com lupus neonatal, a amamentação não deve ser desencorajada. Na prevenção da doença cardíaca, a hidroxicloroquina que não tem toxicidade fetal, diminui o risco do desenvolvimento do lupus neonatal cardíaco quando se tem história prévia: 450mg/dia via oral. Deve ser iniciada entre a 6ª e a 10ª semana de gravidez em mulheres que ainda não fazem uso de tratamento prévio
Dra Alessandra de Cássia G. Moreira, Dra Fernanda Miranda de Oliveira e Dr Paulo Roberto Margotto
Jaques Belik (Canadá).
Professor of Pediatrics University of Toronto, Hospital for Sick Children, Division of Neonatology
XIX Congresso Brasileiro de Perinatologia, 25 a 28 de novembro de 2007, Fortaleza
Realizado por Paulo R. Margotto, Intensivista da UTI Neonatal do Hospital Planalto (Hospital Unimed-Brasília)
Autora: Beatriz Vasconcellos de Souza
Orientadora: Flávia de Assis Silva
Endocardite infecciosa (EI) é uma doença rara, porém grave, que apesar dos grandes avanços nos procedimentos diagnósticos e terapêuticos, ainda carrega um mau prognóstico e uma alta mortalidade. É uma doença que se apresenta de diferentes formas, variando de acordo com a manifestação clínica inicial, a doença cardíaca subjacente (se houver), do microorganismo envolvido, a presença ou ausência de complicações e as características do paciente. O objetivodeste trabalho foi avaliar os casos de EI internados no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) no período de cinco anos, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2017. No total foram 10 casos neste período, incluindo 4 recém-nascidos e foram analisados em cada caso, clínica, diagnóstico, tratamento, bem como suas etiologias e complicações. Por ser uma doença grave e potencialmente fatal, necessita de alta suspeição e início do tratamento o mais precocemente possível, para evitar complicações, sequelas e morte.
Capítulo de autoria dos Drs.Paulo R. Margotto/ Viviana I. Sampietro Serafin, da 4a Edição do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, Hospital de Ensino Materno Infantil de Brasília, SES/DF, 2018 (em preparação)
O canal arterial é uma questão de desenvolvimento. Intraútero, o canal arterial tem que estar aberto. O fechamento funcional do canal arterial do recém-nascido (RN) de termo ocorre em 48 horas após o nascimento e em até 72 horas em 90% dos recém-nascidos com mais de 30 semanas de idade gestacional. Quando o ducto permanece aberto após 72 horas podemos considerar a Persistência do Canal Arterial (PCA). A PCA ocorre em cerca de 2/3 das crianças que nasceram com extremo baixo peso e, 75% dessas, nasceram antes de 28 semanas de gestação. Em 80% dos RN pré-termo extremo (<28 semanas), o canal está aberto no 4o dia de vida.
Na Unidade de Neonatologia do HRAS/HMIB (Hospital Regional da Asa Sul, /Hospital Materno Infantil de Brasília), o diagnóstico de PCA ocorreu em 44% dos RN pré-termo extremos (entre 25 semanas e 27sem 6 dias), de acordo com o estudo de Castro MP et al.
As morbidades associadas ao canal arterial, como hemorragia pulmonar, hipotensão arterial refratária, hemorragia intraventricular, displasia broncopulmonar, enterocolite necrosante levar-nos-iam a conduta simplicista de fechar todos os canais. No entanto, as evidências mostram que os resultados desta conduta podem ser piores com o tratamento agressivo, principalmente com o tratamento cirúrgico precoce, levando ao aumento de enterocolite necrosante, displasia broncopulmonar, além de outras complicações relacionadas ao neurodesenvolvimento. A identificação precoce de canais arteriais hemodinamicamente significativos em recém-nascidos pré-termos extremos (RN<28 semanas), associados a achados clínicos relevantes, possibilita selecionar os recém-nascidos com maior possibilidade de tratamento e com menor risco de morbidades, principalmente, com menores taxas de hemorragia pulmonar e possivelmente, menor incidência de displasia broncopulmonar. No tratamento farmacológico, surge nova opção quando não é possível o uso de antiinflamatórios não-esteroidais (indometacina, ibuprofeno), como o paracetamol, que atua inibindo o sítio da peroxidase do complexo prostaglandina H2 sintetase, sem os efeitos adversos daqueles. No pós-operatório da ligação cirúrgica do canal arterial, o neonatologista deve estar atento às complicações hemodinâmicas associadas a síndrome cardíaca pós-ligação, conhecendo a fisiopatologia para a melhor opção terapêutica.
Richard A. Polin. . 21o Simpósio Internacional de Neonatologia do (Grupo Santa Joana, São Paulo, 14-16 de setembro de 2017
“The lung of the fetus does not require the same arrangements of a perfected lung endowed with motion. Nature has therefore anastomosed the pulmonary artery with the aorta” ( Galen 130-200 AD):”O pulmão do feto não requer os mesmos arranjos de um pulmão aperfeiçoado dotado de movimento. A natureza, portanto, tem anastomosado a artéria pulmonar com a aorta ”
“The canal shrinks after birth and after time becomes withered” ( William Harvey -1558-1657): O canal encolhe após o nascimento e depois de um tempo torna-se murcho).
Conclusions & Recommendations
★ Ductal ligation is rarely required in preterm infants who are not ventilated (e.g., NPCPAP): (ligaçao do ducrus raramente é necessária em pre-termo que não estão em ventilação (como por exemplo em CPAP)
★ Indomethacin or ibuprofen should be reserved for the ventilated, symptomatic infants (cardiopulmonary compromise) with a PDA; however empiric data to inform decisions are lacking:(Indometacina ou ibuprofeno deveriam ser reservados para os ventilados, sintomáticos (compromeimento cardiopulmonar) com PCA; no entanto faltam dados empíricos para infrmar decisões)
★ Surgical ligation should be avoided if possible: (Ligação cirúrgica deveria ser evitada se possível)
Augusto Sola. 7o Simpósio Internacional de Neonatologia do Rio de Janeiro, 24 a 26/6/2010. Realizado por Paulo R. Margotto
O furosemide aumenta a prevalência do canal arterial pérvio, pois aumenta a prostaglandina renal e inibe o efeito da indometacina. Anos atrás se usou clorotiazida ou furosemide de forma aleatória e se observou que com o furosemide havia menor resposta à indometacina. Aumenta o risco para hipocalemia, hipercalciúria, alcalose metabólica. Nos RN recebendo gentamicina com furosemide, há aumento de hipoacusia. O furosemide não é benéfico nos prematuros com PCA (quem diz que produzir urina é benéfico para a saúde?). Não há qualquer benefício do furosemide nos prematuros com canal arterial, até onde pesquisei na literatura nos últimos dias.
FUROSEMIDE FOR PREVENTION OF MORBIDITY IN INDOMETHACIN-TREATED INFANTS WITH PATENT DUCTUS ARTERIOSUS. Brion LP,Campbell DE.
Martin Kluckow (Austrália).IX Congresso Iberoamericano de Neonatologia-SIBEN, 20 a 23 de junho de 2012, Belo Horizonte, MG. Realizado por Paulo R. Margotto
A literatura nos tem recheado de informações (controversas) a respeito da melhor conduta na persistência do canal arterial (PCA), a começar pela definição do que é uma PCA hemodinamicamente significativa (PCAhs). A combinação de dados clínicos (dificuldade de desmame de suporte ventilatório, hipotensão arterial refratária, sinais de insuficiência respiratória) e com os dados ecocardiográficos fluxo reverso na aorta descendente ao nível do diafragma e padrão de shunt pulsátil, medidas do volume ventricular esquerdo e da pressão de enchimento, diâmetro do canal arterial – um diâmetro acima de 2,2mm no terceiro dia de vida, associado a sinais clínicos prediz ausência de fechamento espontâneo, segundo estudo de Afiune et al ([Echocardiographic post-neonatal progress of preterm neonates with patent ductus arteriosus]. Afiune JY, Singer JM, Leone CR. J Pediatr (Rio J). 2005 Nov-Dec;81(6):454-60. Portuguese.Artigo Integral) tem sido usado em 66% dos ensaios clínicos avaliados para esta definição. Estamos na fase do desenho de estudo prospectivo envolvendo recém-nascidos abaixo de 30 semanas de idade gestacional que apresentam escape diastólico cerebral detectado na ultrassonografia transfontanela Doppler, com o objetivo de detectar se há associação entre dados clínicos e ecocardiográficos de PCAhs com este achado. Outros autores utilizam somente sinais clínicos, como a presença de hemorragia pulmonar (secreção sanguinolenta persistente no tubo endotraqueal) isoladamente ou sinais de PCA com cardiomegalia e edema pulmonar evidenciado ao Rx de tórax com um dos seguintes: hipotensão necessitando de vasopressor numa dose acima de 10ug/kg/min ou insuficiência respiratória não identificada por outra causa que não a PCA, com parâmetros elevados no respirador).
Na avaliação do tratamento levar em consideração a idade gestacional (75% das PCA na idade gestacional >29 semanas fecham espontaneamente). Na avaliação do tratamento profilático, levar em consideração, no seu Serviço, a presença de cardiologista, as incidências de hemorragia intraventricular severa e hemorragia pulmonar (em estudo recentemente publicado, a incidência destas duas morbidades foi, respectivamente de 32,2% e 20% (grupo de 25 semanas-27sem6dias), 20,9% e 11,1% (28 semanas a 29sem6dias) e 7,3% e 1,3% (30semanas a 31sem6dias). A PCA ocorreu em 44%,20% e 19,8%, respectivamente em cada grupo de idade gestacional (Survival and morbidity of premature babies with less than 32 weeks of gestation in the central region of Brazil]. de Castro MP, Rugolo LM, Margotto PR. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012 May;34(5):235-42. Português). Artigo Integral. Como se refere o Dr. Martin Kluckow, seria simplicista demais dizer para tratar todos ou não tratar ninguém. Aceitar a hipótese nula implica que não seja necessário o fechamento de todas as PCA, principalmente em RN > 1000g, além da falta de benefício do fechamento profilático, à luz das evidências. A medicina tornar-se uma arte quando a exercemos combinando a evidência com a experiência; não podemos deixar nossas práticas serem tiranizadas somente com a evidência, pois muitas vezes a “ausência de evidência não é a evidência da ausência”. Nos RN com PCA hemodinamicamente significativa (sinais clínico = ecocardiográficos), principalmente nos RN <1000g nos primeiros dias de vida em suporte ventilatório a opção pelo seu fechamento farmacológico (e não cirúrgico!) pode resultar em diminuição de repercussões adversas. A opção pelo ibuprofeno oral advém da dificuldade de se obter ibuprofeno venoso no nosso meio, associado com evidências de melhor benefício do oral sobre o venoso, inclusive em recém-nascidos pré-termos extremos, além de não expor estes RN ao risco de hipertensão pulmonar ocasionada pelo ibuprofeno venoso, inclusive o ibuprofeno lisina. Também não dispomos de indometacina endovenosa. Devemos lembrar sempre: Na UTI, identificar subgrupos de neonatos com maior risco para resultados adversos (e nestes, somente nestes atuar!). Esta é a orientação que temos seguido na abordagem da persistência do canal arterial no nosso Serviço.
Eduardo Bancalari (EUA)
220 Congresso Brasileiro de Perinatologia, 19 a 22 de novembro de 2014, Brasília
Realizado por Paulo R. Margotto
É um dilema fechar ou deixar o canal arterial aberto. Ainda não se sabe como fazer com o canal arterial ao nascer (o canal arterial é uma questão de desenvolvimento). Devido a várias controvérsias na melhor abordagem da PCA na literatura, a Equipe do Dr. Bancalari realizou estudo com RN com peso de 500 a 1250g com PCA não hemodinamicamente significativa, randomizando um grupo para o tratamento precoce e outro, mais tardiamente. Surpreendentemente, houve mais displasia broncopulmonar no grupo de tratamento precoce, não havendo diferenças entre os grupos quanto à ocorrência de hemorragia pulmonar, mortalidade, hemorragia intraventricular e óbito. Além do mais a taxa de fechamento espontâneo neste estudo foi de 49%. Estes resultados provocaram mudanças radicais na Equipe quanto á abordagem da PCA (passaram a ser mais conservadores, tratando aqueles canais arteriais com evidências hemodinâmicas significativas). Assim, houve uma redução de 55% do tratamento da PCA (versos 92% antes). Concomitantemente, na Austrália, Kluckow et al randomizaram recém-nascidos (RN) com PCA hemodinamicamente significativa para tratamento mais precoce e outro grupo, tratamento mais conservador. Sem diferenças entre os grupos quanto à displasia broncopulmonar e óbito. No entanto, houve significativamente mais hemorragia pulmonar no grupo conservador nos primeiros 3 dias de vida. Nos links citamos estudo de janeiro de 2015, mostrando taxa de fechamento espontâneo, nos RN entre 24-27 semanas de 73%, além de que manuseio expectante não aumenta o risco de DBP. Portanto, esperar não produz efeitos deletérios, mas para os RN com PCA hemodinamicamente significativa está indicado o seu tratamento, pois diminui significativamente a hemorragia pulmonar e possivelmente a DBP; evitar a ligação cirúrgica precoce, devido as suas complicações. Segundo Kaemp (2011) “os neonatologistas tem a obrigação ética de conduta adequada com critérios objetivos para a terapia de fechamento da PCA”.Devemos lembrar sempre: Na UTI, identificar subgrupos de neonatos com maior risco para resultados adversos (e nestes, somente nestes atuar!).