Categoria: Distúrbios Hematológicos

Limiares de transfusão de hemácias para bebês prematuros: finalmente algumas respostas

Limiares de transfusão de hemácias para bebês prematuros: finalmente algumas respostas

Red cell transfusion thresholds for preterm infants: finally some answers.Bell EF.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2022 Mar;107(2):126-130. doi: 10.1136/archdischild-2020-320495. Epub 2021 Apr 27.PMID: 33906941 Review.

Realização: Paulo R. Margotto.

Quando devemos transfundir?

A partir de dados dos recentes estudos TOP (EUA) e ETTNO (Europa), publicados em 2022 com semanas de diferenças, os limiares de transfusão de hemoglobina não devem estar acima de 13 g% ou abaixo de 11 g% para bebês na primeira semana de vida que estão gravemente doentes  ou requerem suporte respiratório significativo e  não deve estar acima de 10 g% ou abaixo de 7 g% para lactentes mais velhos estáveis ​​que não estejam gravemente doentes ou necessitem de suporte respiratório significativo.

Pesquisa sobre práticas de transfusão em bebês prematuros na Europa

Pesquisa sobre práticas de transfusão em bebês prematuros na Europa

Survey of transfusion practices in preterm infants in Europe.Scrivens A, Reibel NJ, Heeger L, Stanworth S, Lopriore E, New HV, Dame C, Fijnvandraat K, Deschmann E, Aguar M, Brække K, Cardona FS, Cools F, Farrugia R, Ghirardello S, Lozar J, Matasova K, Muehlbacher T, Sankilampi U, Soares H, Szabo M, Szczapa T, Zaharie G, Roehr CC, Fustolo-Gunnink S; Neonatal Transfusion Network.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2023 Jul;108(4):360-366. doi: 10.1136/archdischild-2022-324619. Epub 2023 Jan 18.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Na Europa, as práticas de transfusão para bebês prematuros variam muito. Os limiares de transfusão tendem a ser mais liberais em comparação com dados de ensaios recentes que apoiam o uso de limiares mais restritivos

Exposição materna ao ácido acetilsalicílico e risco de eventos hemorrágicos em prematuros extremos

Exposição materna ao ácido acetilsalicílico e risco de eventos hemorrágicos em prematuros extremos

Exposure to maternal acetylsalicylic acid and the risk of bleeding events in extreme premature neonates. Morin J, Delaney J, Nunes GC, Simoneau J, Beltempo M, Goudie C, Malhamé I, Altit G.J Perinatol. 2023 Mar 13. doi: 10.1038/s41372-023-01644-1. Online ahead of print.PMID: 36914800 No abstract available.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Esse estudo (incluiu uma coorte retrospectiva de recém-nascidos extremamente prematuros nascidos com menos de 29 semanas e internados em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal nível 3 entre 2015 e 2019) mostrou que prematuros extremos expostos ao AAS materno não apresentaram eventos hemorrágicos (hemorragia intraventricular, hemorragia pulmonar) e taxas de mortalidade mais significativas quando comparados ao grupo não exposto.

Neonatologistas e a hesitação em Vitamina K

Neonatologistas e a hesitação em Vitamina K


Neonatologists and vitamin K hesitancy.
Rogers TP, Fathi O, Sánchez PJ. J Perinatol. 2023 Jan 27. doi: 10.1038/s41372-023-01611-w. Online ahead of print.PMID: 36707666 Review.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A vitamina K profilática administrada por via intramuscular logo após o nascimento eliminou a doença hemorrágica tardia pela deficiência da Vitamina K (VKDB tardia) nos Estados Unidos (uma doença potencialmente  fatal!) e tem sido recomendada pela Academia Americana de Pediatria (AAP) desde 1961. No entanto, um número crescente de pais está recusando essa terapia e  a recusa parental de sua administração parece estar aumentando nos Estados Unidos. Assim, o número de recém-nascidos e bebês sem proteção contra doenças hemorrágicas provavelmente está aumentando nos Estados Unidos! Os profissionais de saúde que cuidam de mães e recém-nascidos devem estar cientes das objeções comuns à profilaxia com vitamina K (risco de câncer, por exemplo) e estratégias para abordar o pai hesitante. Dado que muitas das atitudes em relação à hesitação em vitamina K são formadas bem antes do parto! Nos complementos, o resultado de dois casos cujos pais recusaram a Vitamina K IM ao nascer. A Vitamina K endovenosa na profilaxia não é recomendada e sim intramuscular.

 

 

Trombose sinovenosa cerebral em recém-nascido com mutação de MTHFR C677T tratado com enoxaparina

Trombose sinovenosa cerebral em recém-nascido com mutação de MTHFR C677T tratado com enoxaparina

[Cerebral sinovenous thrombosis in a newborn with mutation of MTHFR C677T treated with enoxaparin].Fasce J, Calbacho M, Oyarzun M, Reinbach K, Daza A, García-Alix A.Rev Chil Pediatr. 2020 Jun;91(3):417-423. doi: 10.32641/rchped.v91i3.1270.PMID: 32730524 Free article. Spanish. Artigo Livre!

Apresentação: Lucas do Carmo e Gabrielly (R4). Coordenação: Nathalia Bardal e Paulo R. Margotto. Unidade de Neonatologia  do HMIB/SES/DF.

  • Apesar de ser uma patologia rara, a trombose do seio venoso cerebral neonatal costuma ser grave, exigindo diagnóstico precoce e plano de manejo adequado.
  • No caso de um recém nascido a termo com convulsões e sem causa clara, devemos completar o estudo de imagem por meio de ultrassonografia cerebral e ressonância magnética.
  • Se houver hemorragia intraventricular ou talâmica, devemos descartar trombose sinovenosa cerebral neonatal.
  • Embora controverso em neonatos, o tratamento anticoagulante tem se mostrado seguro e na prevenção da disseminação da trombose.
O fornecimento de sódio a partir de produtos sanguíneos administrados foi associado a hemorragia intraventricular grave em recém-nascidos extremamente prematuros

O fornecimento de sódio a partir de produtos sanguíneos administrados foi associado a hemorragia intraventricular grave em recém-nascidos extremamente prematuros

Sodium supply from administered blood products was associated with severe intraventricular haemorrhage in extremely preterm infants. Späth C, Stoltz Sjöström E, Ågren J, Ahlsson F, Domellöf M.Acta Paediatr. 2022 Sep;111(9):1701-1708. doi: 10.1111/apa.16423. Epub 2022 Jun 10.PMID: 35615868. Artigo Livre!

Realizado por Paulo R. Margotto

O presente estudo teve como objetivo investigar as associações entre hemorragia intraventricular (HIV) grave e desequilíbrios de sódio, bem como oferta de sódio e volume de líquidos em lactentes de extremo baixo peso. Para esse estudo foram usados dados da coorte EXtremely PREterm in Sweden Study (EXPRESS), composta por todos os bebês nascidos de 22 a 26 semanas gestacionais de 2004 a 2007 (n=707), sendo realizado um estudo de caso-controle aninhado para minimizar a confusão (533 lactentes com média ± SD IG de 25,3 ± 1,1 semanas e PN de 763 ± 169 g). A análise foi realizada em 70 pares caso-controle. Os produtos sanguíneos transfundidos incluíram eritrócitos, plasma, trombócitos e albumina. Dos 533 lactentes de extremo baixo peso, 72 lactentes (13,5%) desenvolveram HIV grave (HIV grau III e infarto hemorrágico periventricular, ou seja, hemorragia parenquimatosa combinada com hemorragia intraventricular – entenda melhor a seguir). Quantidades crescentes de sódio e fluido de produtos sanguíneos transfundidos, bem como o aumento do volume de transfusão per se, foram associados a um risco aumentado de HIV grave (bebês com HIV grave receberam 45% de sua ingestão total de sódio de transfusões, principalmente eritrócitos e plasma). Interessante que o hospital com as diretrizes de transfusão mais rígidas teve uma incidência limítrofe menor de HIV grave em comparação com os outros hospitais, corroborando a associação entre o fator transfusão e o risco de HIV nessa coorte.

DIRETO AO PONTO – Respostas a questionamentos: USO DE PASMA FRESCO CONGELADO E CRIOPRECIPTADO

DIRETO AO PONTO – Respostas a questionamentos: USO DE PASMA FRESCO CONGELADO E CRIOPRECIPTADO

Fresh frozen plasma and cryoprecipitate: Can we safely reduce their use in the NICU? Sarkar S, Brimacombe M, Herson V.J Perinatol. 2022 Jul 4. doi: 10.1038/s41372-022-01438-x. Online ahead of print.PMID: 35789197.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A porcentagem significativa de transfusões de plasma fresco congelado (PFC) e crioprecipitado (CRIO) não apoiada pela literatura sugere que existem oportunidades de melhoria. O uso de normas específicas de idade gestacional para resultados de testes de coagulação e evitar a correção de resultados anormais de testes na ausência de sangramento clínico provavelmente reduziria o uso desses produtos sem aumentar o risco de sangramento clínico.

           Aproximadamente 41% das transfusões de PFC caíram na categoria “sem suporte”, sendo o maior grupo aqueles tratados profilaticamente para coagulopatia laboratorial sem sangramento clínico. Tal prática é contrária às evidências existentes que não mostram nenhum benefício para esses pacientes.

Além disso, um número surpreendente de transfusões de PFC foi dado como reposição de volume e/ou fator imunológico para quilotórax, apesar de alto nível de evidência disponível em contrário

          No presente estudo, 40% das transfusões de CRIO foram no “grupo sem suporte” onde foram administradas para níveis de fibrinogênio > 100 mg/dl em pacientes sem CIVD

 Além disso, seria útil incorporar uma lista de condições “suportadas” vinculadas à entrada de pedidos no Prontuário Médico Eletrônico. Estudos prospectivos ou projetos de melhoria de qualidade de longo prazo são necessários para confirmar essas especulações.

ANEMIA GRAVE AO NASCIMENTO-Incidência e Implicações (Severe Anemia at Birth-Incidence and Implications)

ANEMIA GRAVE AO NASCIMENTO-Incidência e Implicações (Severe Anemia at Birth-Incidence and Implications)

Severe Anemia at BirthIncidence and Implications. Bahr TM, Lawrence SM, Henry E, Ohls RK, Li S, Christensen RD.J Pediatr. 2022 Jun 1:S0022-3476(22)00516-9. doi: 10.1016/j.jpeds.2022.05.045. Online ahead of print.PMID: 35660494

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

É importante que a anemia neonatal seja diagnosticada de acordo com os intervalos de referência da idade gestacional e pós-natal, pois os valores de hemoglobina e hematócrito aumentam quase linearmente de 22 a 40 semanas de gestação. O reconhecimento para o tratamento da anemia grave pode restaurar a perfusão necessária para a função adequada do órgão. Utilizando o gráfico com os intervalos de referência 5º, mediana e 95º para hemoglobina e hematócrito no dia do nascimento (publicado anteriormente) os autores calcularam, no presente estudo, valor de hemoglobina ou hematócrito medido nas primeiras 6 horas após o nascimento abaixo do 1º percentil de intervalo de referência de acordo com a idade gestacional como meio de definição de anemia grave ao nascer (hematócrito ∼35% em recém-nascidos a termo ou próximo ao termo). A anemia era mais provável de ser registrada como um problema (85%) se a hemoglobina estivesse ≤2 g/dL abaixo do 1º percentil inferior do intervalo de referência (P < 0,001). A partir desses resultados atuais, os autores concluem que usar valores de hemoglobina/hematócrito abaixo do 1º percentil é uma opção viável como meio de identificar anemia grave ao nascimento e que múltiplas causas de anemia – particularmente a combinação de anemia hemorrágica e hemolítica – são mais comuns neste grupo do que anteriormente apreciado (45,5% dos bebês dessa coorte estudada [344 RN] não foram identificados como tendo anemia grave ao nascer até por 24 horas de vida!). Se médicos tivessem um nomograma do 1º percentil prontamente disponível, talvez como parte do Prontuário Eletrônico ou um alerta da secção do laboratório do Prontuário Eletrônico, eles teriam prontamente reconhecido esses 344 pacientes como anêmicos ao nascimento.

 

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL HEMORRÁGICO

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL HEMORRÁGICO

Paulo R. Margotto.

São 2 casos, sendo um de Divinópolis enviado pelo Dr. Júlio César Veloso. Em ambos os casos, recém-nascidos a termo, convulsões nas primeiras 24 horas de vida, sem histórias perinatais de risco para sangramento. Foram submetidas, além da ultrassonografia transfontanelar, à tomografia de crânio e ressonância magnética, não sendo demonstradas malformações vasculares (pode estar presente na metade dos casos relatados!) pela angiotomografia e angiorressonância magnética de crânio tanto arterial como venosa. Também não identificadas alterações laboratoriais hematológicas, incluindo estudo genético em um dos casos. O AVC Hemorrágico Neonatal é diagnosticado em um recém-nascido com acúmulo focal de sangue no parênquima cerebral (confirmado por autópsia ou imagem) com ou sem sangue intraventricular ou subaracnoide. O lobo temporal é a localização mais comum para o AVC Hemorrágico Neonatal idiopático A literatura tem demonstrado que a maioria ocorre em RN a termo, 65% cursam com convulsões 67 a 75% são idiopáticos. Segunda Donna Ferriero, a apneia pode ser um sinal de convulsão subclínica. É importante que se tenha pelo menos um ultrassom craniano e se os achados do ultrassom estiverem confusos, faça ressonância magnética. Está indicado também  fazer o EEG de amplitude integrada para documentar a convulsão. A boa notícia, melhor de todas que podemos dar aos pais: a taxa de recorrência em crianças com AVC neonatal é de <1% comparado com taxa de AVC na infância que é 25 a 30%. Mais promissoras são as novas abordagens pelas quais a Plasticidade potente do cérebro em desenvolvimento pode ser aproveitada para melhorar o neurodesenvolvimento

Trombocitopenia Neonatal: Revisão II. Trombocitopenias não imunes; Transfusão de plaquetas

Trombocitopenia Neonatal: Revisão II. Trombocitopenias não imunes; Transfusão de plaquetas

Neonatal thrombocytopenia: A review. II. Non-immune thrombocytopenia; platelet transfusion.Donato H.Arch Argent Pediatr. 2021 Aug;119(4):e303-e314. doi: 10.5546/aap.2021.eng.e303.PMID: 34309308 Free article. Review. English, Spanish. Artigo Livre!

Apresentação:Helena de Oliveira Melo.

Coordenação: Miza Vidigal.

  • Em conclusão, os dados fornecidos nos últimos anos têm mostrado que muitas das transfusões indicadas não fornecem qualquer benefício, são desnecessárias e trazem riscos, o que gera uma mudança drástica de paradigma em relação ao comportamento transfusional e apoia a decisão de adotar um limite de 25 mil plaquetas para profilaxia. Da mesma forma, no futuro, a decisão de transfundir plaquetas profilaticamente deve ser baseado em uma decisão personalizada, que avalia os diferentes fatores de risco, em vez de em um limite arbitrário das plaquetas
  • Para fazer isso, seria necessário ter um algoritmo baseado em uma pontuação que quantifica o risco de sangramento, assim como existe no adulto.