Categoria: Distúrbios Neurológicos

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÊMICO ARTERIAL PERINATAL

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÊMICO ARTERIAL PERINATAL

Paulo R. Margotto

São apresentados dois casos recentes na nossa prática clínica  com as principais características: principal causa de convulsões neonatais após as primeiras 24-72 h em RN a termo com Apgar normal, território mais comum: artéria cerebral média (ACM) – ramo principal ou ramos corticais/lentículo-estriados, Apresentação típica: convulsões focais (70-90%), hipotonia, apneia (pode ser convulsão subclínica) e Muitos casos só são reconhecidos tardiamente (após 4-6 meses) como hemiparesia (AVC isquêmico presumido).Achados de imagens:US craniano precoce (1-3 primeiros dias): detecta anormalidade em ~68% dos casos; após o 4º dia sobe para ~87%. Padrão típico na US: área hiperecogênica triangular (cunha) no território da ACM. Muitas lesões são focais/não típicas ou só nos gânglios da base → US pode ser normal inicialmente. RM com difusão (DWI) é o exame ouro – detecta quase 100% das lesões nas primeiras 72 h.Entre os fatores de risco (FIQUEM ATENTOS!):estudo caso-controle 2020: Corioamnionite (OR 9,89 – maior risco!), Parto múltiplo, PIG, Sexo masculino,Prematuridade. Toda convulsão neonatal de início após 24 h → US craniano urgente + aEEG/EEG.. Se US normal ou duvidoso → RM com sequência de difusão nas primeiras 72-96 h. D-dímero elevado sugere trombose ativa → avaliar anticoagulação (enoxaparina 1 mg/kg 12/12 h).Investigar trombofilia materna/paterna quando indicado.Prognóstico:Alta chance de hemiplegia unilateral, epilepsia e déficits cognitivos.Diagnóstico precoce + reabilitação intensiva melhora desfecho funcional.Conclusão: AVC isquêmico neonatal é subdiagnosticado. Toda convulsão focal em RN a termo com Apgar normal deve levantar suspeita – US ajuda, mas RM precoce é essencial (pode inclusive não diagnosticar inicialmente!).

Desenvolvimento de crianças de 7 a 8 anos após exposição intrauterina a inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) — resultados do estudo de coorte prospectivo holandês SMOK

Desenvolvimento de crianças de 7 a 8 anos após exposição intrauterina a inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) — resultados do estudo de coorte prospectivo holandês SMOK

Development of children at age 78 years after intrauterine exposure to selective serotonin reuptake inhibitors (SSRIs) – Results from the Dutch prospective cohort SMOK study.van der Veere CN, den Heijer AE, Bos AF.Early Hum Dev. 2025 Sep 26;211:106405. doi: 10.1016/j.earlhumdev.2025.106405. Online ahead of print.PMID: 41038152.

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

O presente  estudo de coorte prospectivo holandês que acompanhou crianças expostas in utero a ISRS- (n ≈ 40) e não expostas (n ≈ 39) até os 7-8 anos de idade, com avaliação detalhada de QI, funções executivas, atenção, comportamento, responsividade social, teoria da mente e desenvolvimento motor, controlando para psicopatologia materna (depressão e ansiedade) indica que meninos e meninas apresentam consequências diferentes em seus resultados aos 7-8 anos de idade após a exposição pré-natal aos ISRS. Os meninos parecem ser mais vulneráveis ​​à exposição a ISRSs durante a vida fetal, apresentando mais sinais de problemas comportamentais e comprometimento social associados a transtornos do espectro autista, enquanto o comportamento das meninas parece estar principalmente relacionado aos problemas de saúde mental de suas mães durante a gravidez e na idade da avaliação. Portanto, a exposição pré-natal a ISRSs está associada a um risco aumentado de problemas comportamentais e comprometimento social relacionados a transtornos do espectro autista apenas em meninos

 

Hipotermia terapêutica no mundo real para encefalopatia hipóxico isquêmica neonatal: resultados e preditores do neurodesenvolvimento

Hipotermia terapêutica no mundo real para encefalopatia hipóxico isquêmica neonatal: resultados e preditores do neurodesenvolvimento

RealWorld Therapeutic Hypothermia for Neonatal HIE: Neurodevelopmental Outcomes and Predictors. Bedetti L, Lugli L, Guidotti I, Roversi MF, Muttini EDC, Pugliese M, Bertoncelli N, Spaggiari E, Todeschini A, Ancora G, Grandi S, Gargano G, Gallo C, Motta M, Catenazzi P, Corvaglia LT, Paoletti V, Solinas A, Ballardini E, Perrone S, Moretti S, Stella M, Berardi A, Ferrari F.Acta Paediatr. 2025 Nov;114(11):2874-2884. doi: 10.1111/apa.70186. Epub 2025 Jun 18.PMID: 40533883. Itália.

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

Este estudo observacional prospectivo italiano (Rede Neuronat, 2016–2021: oito UTINs italianas), avaliou os resultados do neurodesenvolvimento de dois anos e os preditores de desfechos desfavoráveis em neonatos com encefalopatia hipóxico-isquêmica(EHI) de qualquer grau tratados com hipotermia terapêutica (HT) fora de ensaios clínicos randomizados (ECRs). As taxas de mortalidade geral (3,8%) e de Incapacidade Funcional Grave (IFG/SFD) (11,6%) foram significativamente menores do que as relatadas em Ensaios Clínicos Randomizados (ECRs) e na maioria dos estudos de coorte anteriores. Preditores de Desfecho Desfavorável: Os fatores mais fortes associados à IFG foram:  Convulsões confirmadas por cEEG/aEEG durante a HT (OR = 12,9)  e   Anomalias graves na Ressonância Magnética (RM) cerebral. Quanto à EHI Leve: nenhuma criança (12,9% da coorte) com EHI leve que recebeu HT desenvolveu desabilidade funcional severa. O estudo destaca a tendência clínica de expandir o uso da HT para casos leves, mas ressalta que o benefício da HT nessa população de baixo risco permanece questionável na ausência de um grupo de controle.  Os achados reforçam a eficácia da HT no atendimento de rotina e a importância da monitorização (cEEG/aEEG) e da RM como ferramentas cruciais para o prognóstico.NO ENTANTO… Embora a HT reduza morte e incapacidades graves, déficits cognitivos persistem, especialmente na transição para a escola, quando as exigências cognitivas aumentam. Estudo observacional prospectivo de Vincent IN et al  com 58 recém-nascidos (≥36 semanas) internados na UTIN de um hospital de referência em Portugal (2011-2019) para HT devido a EHI mostrou que o acompanhamento a longo prazo é essencial para crianças com EHI tratadas com HT, pois déficits cognitivos leves, muitas vezes associados a lesões na substância branca, podem surgir na idade escolar. A RM neonatal é um preditor robusto para incapacidades moderadas a graves, mas não para déficits leves. Programas de seguimento e intervenções precoces são cruciais para apoiar a transição escolar e minimizar impactos a longo prazo.

ÁUDIO: USO DA ULTRASSONOGRAFIA DOPPLER CEREBRAL EM NEONATOLOGIA

ÁUDIO: USO DA ULTRASSONOGRAFIA DOPPLER CEREBRAL EM NEONATOLOGIA

Margotto PR, Moura MDR. Uso  de ultrassonografia craniana com Doppler em Neonatologia. In.Sociedade Brasileira de Pediatria, Procianoy RS, Leone CR, organizadores. PRORN .Ciclo 21, 2024,p.87-139

A USD-c é um procedimento médico não invasivo que utiliza ondas sonoras de alta frequência para examinar o cérebro do recém-nascido (RN). Ela se estabelece como uma valiosa ferramenta de triagem no diagnóstico e manejo de neonatos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. A beleza e o benefício do ultrassom craniano residem em ser seguro, econômico e portátil, podendo ser realizado sequencialmente e em tempo real na beira do leito, o que é crucial para a tomada de decisões clínicas. Os avanços em equipamentos e técnicas melhoraram significativamente sua capacidade de detecção. A USD-c deve fazer parte da avaliação da Assistência aos RNs nas Unidades Neonatais, especialmente naqueles com extremo baixo peso ou idade gestacional menor ou igual a 34 semanas. Principais Indicações e Achados A USD-c é essencial para: 1. PREMATURIDADE: Diagnóstico e monitoramento de lesões hemorrágicas e isquêmicas, sendo a hemorragia peri/intraventricular (HP/HIV) o foco nos primeiros 3–4 dias de vida, e a leucomalácia periventricular (LPV) (necrose da substância branca cerebral) uma lesão simétrica importante. O monitoramento sequencial é feito, por exemplo, a cada 7 dias se houver HP/HIV. 2. ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA (EHI): A USD-c é fundamental para analisar a hemodinâmica cerebral, já que distúrbios hemodinâmicos são o principal fator fisiopatológico da EHI.3. DOPPLERFLUXOMETRIA (ÍNDICE DE RESISTÊNCIA – IR): A determinação do IR (Valor normal: 0,73 ± 0,08) é uma ferramenta acessível para medir a dinâmica vascular cerebral e a autorregulação do fluxo.     ◦ Baixo IR (≤0,55) sugere diminuição da resistência/alta velocidade de fluxo (típico de EHI grave ou pós-operatório de cardiopatia congênita crítica) e está associado a resultados adversos (paralisia, atraso no desenvolvimento).     ◦ Alto IR (≥0,85) sugere aumento da resistência/baixa velocidade de fluxo (visto em HIV e LPV, secundário à vasoconstrição). 4. INFECÇÕES CONGÊNITAS: Ajuda a identificar malformações e achados específicos como calcificações periventriculares (principal achado do Citomegalovírus), ventriculomegalia (comum em Citomegalovírus, Parvovirose e ZIKV), microcefalia (ZIKV, Toxoplasmose), e abscessos e debris intraventriculares (meningite). 5. MALFORMAÇÕES E OUTRAS LESÕES: Inclui o auxílio diagnóstico para hidrocefalia, malformações congênitas, Acidente Vascular Cerebral (AVC) neonatal isquêmico e hemorrágico, e a Malformação Arteriovenosa da Veia de Galeno. Além do diagnóstico técnico, o uso da USD-c capacita a equipe a fornecer explicações embasadas aos pais sobre as perspectivas futuras e a importância da intervenção precoce, garantindo um cuidado que visa vidas com qualidade.

Lesão cerebral e comprometimento do neurodesenvolvimento a longo prazo em crianças após Transfusão Feto-Materna grave: um estudo de coorte retrospectivo

Lesão cerebral e comprometimento do neurodesenvolvimento a longo prazo em crianças após Transfusão Feto-Materna grave: um estudo de coorte retrospectivo

Cerebral injury and longterm neurodevelopment impairment in children following severe fetomaternal transfusion: a retrospective cohort study. El Emrani S, van der Hoorn ML, Tan RNGB, Steggerda SJ, de Vries LS, Haak MC, van Klink JMM, de Haas M, van der Meeren LE, Lopriore E.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2025 Aug 19;110(5):473-478. doi: 10.1136/archdischild-2024-328135.PMID: 39870509.Holanda.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A Transfusão Feto-Materna (FMT) é a passagem de células sanguíneas fetais para a circulação materna. Uma FMT é definida como grave quando há detecção de ≥ 30 mL de hemácias fetais (RBCs) na circulação materna. Os achados deste estudo retrospectivo com neonatos em uma UTI Neonatal terciária holandesa destacam a gravidade da FMT:• Desfecho Adverso (Composto): A mortalidade neonatal ou morbidade neurológica de longo prazo (incluindo lesão cerebral grave e/ou comprometimento do neurodesenvolvimento – NDI) ocorreu em 38% a 50% das crianças com FMT grave. • NDI de Longo Prazo: Até um em cada cinco sobreviventes (22%) após FMT grave pode sofrer de Comprometimento do Neurodesenvolvimento (NDI) de longo prazo. • Asfixia Perinatal: A asfixia perinatal foi diagnosticada em 25% dos neonatos com FMT grave, em comparação com 6% no grupo FMT leve. Em suma, o estudo enfatiza que a FMT grave está associada a um risco aumentado de mortalidade neonatal e sequelas neurológicas de curto e longo prazo, justificando a necessidade urgente de acompanhamento de rotina de longo prazo em todos os recém-nascidos afetados. Além disso, é necessário um consenso internacional sobre o valor de corte clinicamente significativo para FMT grave.

Recém-nascido de mãe usuária de drogas / Síndrome de Abstinência Neonatal

Recém-nascido de mãe usuária de drogas / Síndrome de Abstinência Neonatal

Apresentação: Paulo R. Margotto/Sérgio Veiga/Joseleide de Castro.

A Apresentação  fornece uma visão abrangente sobre o tema do Recém-Nascido de mãe usuária de drogas e a Síndrome de Abstinência Neonatal (SAN), apresentados por profissionais da Unidade de Neonatologia do HMIB em Brasília. O material detalha os tipos de drogas (estimulantes, depressoras e perturbadoras) e seus efeitos específicos sobre o feto e o recém-nascido, com foco na maconha e na cocaína/crack. Uma parte significativa aborda a Síndrome de Abstinência Neonatal, definindo seus sinais clínicos e sintomas, bem como a prevalência em recém-nascidos expostos a opioides. O texto também explora a avaliação da severidade da SAN, incluindo o uso dos escores de Lipsitz e o modelo mais recente de COMER, DORMIR E SER CONSOLADO (Eat -Sleep-Console – ESC). Finalmente, são apresentadas as abordagens de tratamento, priorizando terapias não farmacológicas, o alojamento conjunto e, quando necessário, o uso de medicamentos como morfina e metadona, além de tocar em recomendações de alta hospitalar e atualizações em suporte neonatal à vida.

Atualização em Neonatologia: avanços em monitoramento e terapias: Uso da Ultrassonografia Doppler Cerebral em Neonatologia

Atualização em Neonatologia: avanços em monitoramento e terapias: Uso da Ultrassonografia Doppler Cerebral em Neonatologia

Paulo R. Margotto. Live do artigo publicado no PRORN 21, 2024. Disponível em 3 de novembro as 14 horas  por 3 dias!

A Utrassonografia Doppler cerebral (USD-c)é um procedimento médico não invasivo que utiliza ondas sonoras de alta frequência para examinar o cérebro do recém-nascido (RN). Ela se estabelece como uma valiosa ferramenta de triagem no diagnóstico e manejo de neonatos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. A beleza e o benefício do ultrassom craniano residem em ser seguro, econômico e portátil, podendo ser realizado sequencialmente e em tempo real na beira do leito, o que é crucial para a tomada de decisões clínicas. Os avanços em equipamentos e técnicas melhoraram significativamente sua capacidade de detecção. A USD-c deve fazer parte da avaliação da Assistência aos RNs nas Unidades Neonatais, especialmente naqueles com extremo baixo peso ou idade gestacional menor ou igual a 34 semanas. Principais Indicações e Achados A USD-c é essencial para: 1. PREMATURIDADE: Diagnóstico e monitoramento de lesões hemorrágicas e isquêmicas, sendo a hemorragia peri/intraventricular (HP/HIV) o foco nos primeiros 3–4 dias de vida, e a leucomalácia periventricular (LPV) (necrose da substância branca cerebral) uma lesão simétrica importante. O monitoramento sequencial é feito, por exemplo, a cada 7 dias se houver HP/HIV. 2. ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA (EHI): A USD-c é fundamental para analisar a hemodinâmica cerebral, já que distúrbios hemodinâmicos são o principal fator fisiopatológico da EHI.3. DOPPLERFLUXOMETRIA (ÍNDICE DE RESISTÊNCIA – IR): A determinação do IR (Valor normal: 0,73 ± 0,08) é uma ferramenta acessível para medir a dinâmica vascular cerebral e a autorregulação do fluxo.     ◦ Baixo IR (≤0,55) sugere diminuição da resistência/alta velocidade de fluxo (típico de EHI grave ou pós-operatório de cardiopatia congênita crítica) e está associado a resultados adversos (paralisia, atraso no desenvolvimento).     ◦ Alto IR (≥0,85) sugere aumento da resistência/baixa velocidade de fluxo (visto em HIV e LPV, secundário à vasoconstrição). 4. INFECÇÕES CONGÊNITAS: Ajuda a identificar malformações e achados específicos como calcificações periventriculares (principal achado do Citomegalovírus), ventriculomegalia (comum em Citomegalovírus, Parvovirose e ZIKV), microcefalia (ZIKV, Toxoplasmose), e abscessos e debris intraventriculares (meningite). 5. MALFORMAÇÕES E OUTRAS LESÕES: Inclui o auxílio diagnóstico para hidrocefalia, malformações congênitas, Acidente Vascular Cerebral (AVC) neonatal isquêmico e hemorrágico, e a Malformação Arteriovenosa da Veia de Galeno. Além do diagnóstico técnico, o uso da USD-c capacita a equipe a fornecer explicações embasadas aos pais sobre as perspectivas futuras e a importância da intervenção precoce, garantindo um cuidado que visa vidas com qualidade.

Resultados do neurodesenvolvimento em bebês com encefalopatia neonatal recebendo hidrocortisona durante hipotermia terapêutica: acompanhamento do estudo CORTISoL estendido

Resultados do neurodesenvolvimento em bebês com encefalopatia neonatal recebendo hidrocortisona durante hipotermia terapêutica: acompanhamento do estudo CORTISoL estendido

Neurodevelopmental outcome in infants with neonatal encephalopathy receiving hydrocortisone during therapeutic hypothermia: follow-up of the extended-CORTISoL trial. Kovacs K, Szakmar E, Dobi M, Varga Z, Meder U, Szabo AJ, McNamara PJ, Szabo M, Jermendy A.J Perinatol. 2025 Sep 22. doi: 10.1038/s41372-025-02428-5. Online ahead of print.PMID: 40983658.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Este estudo de acompanhamento do ensaio CORTISoL investigou o impacto da hidrocortisona (HC) em 55 bebês ≥36 semanas com encefalopatia neonatal (EN) e hipotensão durante hipotermia. Randomizados para HC (0,5 mg/kg/6h) ou placebo + dopamina, os bebês foram avaliados aos 2 anos via Bayley-II. Morte ou comprometimento grave ocorreu em 40% no grupo HC vs. 18% no placebo (p=0,13). A dose cumulativa de HC associou-se a pior resultado cognitivo (aumento de 16% nas chances por 1 mg/kg; IC95% 1,01–1,37; p=0,04), independente da gravidade da EN. que a dose cumulativa de HC associou-se   adversos  resultados cognitivos. Ensaios maiores são necessários para esclarecer efeitos de longo prazo.

 

Eixo intestino-pulmão-cérebro: detalhes que mudam o prognóstico

Eixo intestino-pulmão-cérebro: detalhes que mudam o prognóstico

Palestra apresentada pelo Dr. Mauricio Magalhães no XXXII Encontro Internacional de Neonatologia do Hospital Santa Casa de São Paulo, 16-17/6/2025.

Realizado por Paulo R. Margotto

A Palestra destaca a comunicação bidirecional e complexa entre intestino, pulmão e cérebro em neonatos, que é crucial para o sistema imunológico, maturação de órgãos e bem-estar, mediada por vias neurais, hormonais e imunológicas. O desenvolvimento da microbiota intestinal é um evento chave na vida neonatal, influenciado por bactérias maternas, tipo de parto e, principalmente, pela alimentação (leite materno ou fórmula). A disbiose (desequilíbrio da microbiota) tem graves consequências, como displasia broncopulmonar (DBP) e enterocolite necrosante (ECN) em prematuros, e impacta negativamente o neurodesenvolvimento, associando-se a sepse neonatal, déficits cognitivos e comportamentais, ansiedade, depressão e Transtornos do Espectro Autista (TEA). A falta de nutrição enteral precoce pode levar a um “intestino permeável”, que induz inflamação sistêmica afetando todos os órgãos, incluindo o cérebro. Metabólitos produzidos pela microbiota, como ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e metabólitos do triptofano, influenciam positivamente o desenvolvimento e a função cerebral. O leite materno (da própria mãe) é o padrão ouro da nutrição, rico em IgA, bactérias probióticas e oligossacarídeos (HMOs), que reduzem a incidência de ECN, sepse, retinopatia da prematuridade (ROP) e DBP, além de promoverem maior volume cerebral e melhor conectividade. A colostroterapia (0,2 ml a cada 3 horas) é uma prática importante, estimulando bifidobactérias e fortalecendo a barreira intestinal. O leite humano doado pasteurizado (DHM) é a melhor alternativa ao leite da própria mãe, pois favorece um microbioma intestinal mais semelhante ao leite materno do que a fórmula, apesar de algumas perdas no processo de pasteurização. O uso de antibióticos em neonatos, mesmo necessário para prevenir sepse, pode ser prejudicial à microbiota, alterando sua diversidade e impactando o neurodesenvolvimento. Estudos mostraram que o uso de antibióticos por mais de 5 dias em prematuros extremos aumenta a incidência de ECN e mortalidade. Pesquisas com camundongos indicam que a exposição precoce à penicilina altera substancialmente a microbiota intestinal e a expressão gênica em áreas cerebrais cruciais para o neurodesenvolvimento, com efeitos de longo prazo no microbioma. A cafeína, usada para apneia da prematuridade, melhora o prognóstico pulmonar e influencia positivamente o neurodesenvolvimento. O rápido crescimento cerebral requer alta demanda nutricional, sendo o DHA e ARA importantes para a inteligência e redução de ROP.

Manejo de recém-nascidos em risco de síndrome de abstinência neonatal (NAS)/síndrome de abstinência de opioides neonatais (NOWS): atualizações e melhores práticas emergentes Livre

Manejo de recém-nascidos em risco de síndrome de abstinência neonatal (NAS)/síndrome de abstinência de opioides neonatais (NOWS): atualizações e melhores práticas emergentes Livre

Managing newborns at risk for neonatal abstinence syndrome (NAS)/neonatal opioid withdrawal syndrome (NOWS): Updates and emerging best practices. Michael Narvey, MD , Danica Hamilton, RN MN MBA , Vanessa Paquette,BSc(Pharm) ACPR PharmD. Paediatrics & Child Health, pxaf013, https://doi.org/10.1093/pch/pxaf013

Managing newborns at risk for neonatal abstinence syndrome …

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

A Síndrome de Abstinência Neonatal (NAS) ou Síndrome de Abstinência de Opioides Neonatais (NOWS) é uma condição que afeta recém-nascidos expostos a substâncias, especialmente opioides, durante a gestação. A incidência de NAS tem aumentado significativamente, com o Canadá relatando um aumento de 3,5 para 6,3 por 1.000 nascidos vivos de 2010 a 2020. Os sintomas da NAS/NOWS podem afetar múltiplos sistemas do recém-nascido, incluindo o nervoso central, gastrointestinal, respiratório e musculoesquelético, e sua apresentação varia conforme a substância, frequência e dose de uso. Bebês prematuros tendem a ter menor risco e sintomas menos aparentes. A avaliação dos recém-nascidos em risco é crucial. Ferramentas como a pontuação de Finnegan são amplamente utilizadas, mas o modelo “Eat Sleep Console” (ESC) é uma alternativa emergente e baseada em evidências, focada na capacidade do recém-nascido de comer, dormir e ser consolado, e tem demonstrado diminuir o tempo de internação e a necessidade de tratamento farmacológico. O manejo inicial é primariamente de suporte não farmacológico, incluindo cuidados pele a pele, ambiente tranquilo, amamentação direta ou com leite humano e alojamento conjunto. A manutenção da díade mãe/pai-bebê no alojamento conjunto é fundamental, associada a menores internações em UTIN e menor necessidade de farmacoterapia. Se os sintomas persistirem ou forem graves, a intervenção farmacológica pode ser necessária. Opioides como morfina e metadona são os medicamentos de primeira linha mais comuns, e sedativos não opioides como fenobarbital e clonidina podem ser adicionados como adjuvantes. É crucial não administrar naloxona em recém-nascidos com NAS/NOWS, pois pode exacerbar a síndrome de abstinência. A acupuntura tem sido proposta como intervenção, mas as evidências atuais são limitadas e insuficientes para apoiar seu uso rotineiro. O planejamento da alta e a continuidade do cuidado na comunidade são essenciais, podendo incluir o desmame da medicação em casa, o que tem ostrado benefícios como menor tempo de internação e menos visitas de retorno ao hospital.