Categoria: Distúrbios Neurológicos

Uso do Levetiracetam endovenoso (EV) no controle da Convulsão Neonatal: por quê, quando e como?

Uso do Levetiracetam endovenoso (EV) no controle da Convulsão Neonatal: por quê, quando e como?

Paula Girotto (SP).XXXII Encontro Internacional de Neonatologia da Santa Casa de São Paulo, 16-17 de maio de 2025.

Realizado por Paulo R. Margotto.

As crises neonatais são muito prevalentes, ocorrendo em 35% dos pacientes com encefalopatia hipóxico-isquêmica e até 55% nos acidentes vasculares isquêmicos. A maioria dessas crises, especialmente em eventos hipóxico-isquêmicos, são subclínicas ou eletrográficas, exigindo monitorização para detecção.  O manejo adequado e a intervenção rápida e eficaz são cruciais para reduzir sequelas neurológicas e proteger o desenvolvimento cerebral. Administrar a medicação dentro da primeira hora da identificação da crise resulta em melhor controle nas 24 horas seguintes.  Atrasos (entre 1 e 2 horas, ou mais de 2 horas) levam a um aumento da carga de crises (“seizure burden”) nas próximas 24 horas, prejudicando a neuroproteção. O levetiracetam tem se mostrado     superioridade em relação à fenitoína na neonatologia ainda seja questionada por falta de estudos robustos, apesar de serem comparáveis na faixa etária pediátrica.  Sua rapidez intrínseca, bom perfil de efeitos colaterais, baixa toxicidade e mínimas interações medicamentosas o tornam uma excelente opção de segunda linha, especialmente para pacientes instáveis. Doses: Ataque: 40 mg/kg, com uma segunda dose de 20 mg/kg após 15 minutos se não houver controle da crise. Há uma tendência atual de uso de doses mais altas: 60 mg/kg, repetidas com 60 mg/kg, com perfil de segurança aceitável, mas aguardam resultados mais robustos. Dose de Manutenção: Varia de 40 a 60 mg/kg/dia, podendo chegar a 80 mg/kg/dia, dividida em três doses diárias.

Implementação de uma estratégia de intervenção precoce para dilatação ventricular pós-hemorrágica (PHVD) em bebês prematuros.

Implementação de uma estratégia de intervenção precoce para dilatação ventricular pós-hemorrágica (PHVD) em bebês prematuros.

Implementation of an early intervention strategy for post hemorrhagic ventricular dilatation in preterm infants.

Wilson D, Breitbart S, DiFonzo L, Kelly E, Diambomba Y, Kajal D, Raghuram K, Wong S, Ng E, Church P, Asztalos E, Glanc P, Cizmeci M, Pais R, Traubici J, Leijser LM., Miller SP, Kulkarni AV, Ly LG.J Perinatol. 2025 Jul 25. doi: 10.1038/s41372-025-02371-5. Online ahead of print.PMID: 4071573.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Um protocolo de intervenção precoce foi implementado em três UTINs em Toronto, Canadá. Bebês com hemorragia intraventricular grave (grau III ou superior) foram monitorados por ultrassonografias cranianas (cUS) para medir o índice ventricular (VI) e a largura do corno anterior (AHW). Dos 100 bebês, 70 sobreviveram, com 46% apresentando resolução espontânea da PHVD. Dos 38 que necessitaram de intervenção, 60% resolveram com punções lombares, 16% com dispositivo de acesso ventricular e 24% com derivação ventrículo-peritoneal. A intervenção precoce para PHVD foi viável e associada a melhores desfechos neurodesenvolvimentais em comparação com a abordagem tardia. A intervenção precoce para PHVD foi viável e associada a melhores desfechos neurodesenvolvimentais em comparação com a abordagem tardia.

Espectro de Kernicterus

Espectro de Kernicterus

Kernicterus on the Spectrum. Kasirer Y, Kaplan M, Hammerman C.Neoreviews. 2023 Jun 1;24(6):e329-e342. doi: 10.1542/neo.24-6-e329.PMID: 37258501 Review.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O kernicterus é a sequela tóxica da hiperbilirrubinemia neonatal extrema, onde o excesso de bilirrubina livre não conjugada (UCB) atravessa a barreira hematoencefálica, causando danos irreversíveis e seletivos a células cerebrais vulneráveis, como os gânglios da base, o cerebelo e o sistema auditivo. A bilirrubina livre (Bf) é a principal responsável pelo dano, embora o manejo clínico se baseie nos níveis de bilirrubina sérica total (TSB). Para clarificar a terminologia confusa e sobreposta usada historicamente, o artigo propõe o conceito de Transtorno do Espectro de Kernicterus (KSD). O KSD abrange a neurotoxicidade por bilirrubina como um contínuo, usando modificadores para especificar subtipos e graus de gravidade (ex: predominantemente auditivo ou motor, agudo ou crônico, grave ou leve) motor deficiente e movimentos anormais, perturbação do processamento auditivo. O artigo traz  Um sistema de pontuação numérica, a pontuação disfunção neurológica induzida por bilirrubina foi desenvolvida para quantificar a extensão a sua extensão. A pontuação consiste em uma escala de 9 pontos que avalia o estado mental, o tônus muscular e os padrões de choro.

Momento para a admissão escolar de crianças com deficiências

Momento para a admissão escolar de crianças com deficiências

Andrea Duncan (EUA).Palestra administrada pela Dra. Andrea Duncan, no IX Encontro Internacional de Neonatologia, Gramado, 3-5 de abril de 2025.

Realizado por Paulo R. Margotto

Nessa Palestra é abordada   a prontidão escolar para crianças com deficiências, com ênfase em prematuros, destacando sua importância para desfechos sociais, econômicos e de saúde, e a necessidade de intervenções precoces iniciadas na UTI neonatal (UTIN). A prontidão escolar é crucial para o sucesso de crianças com deficiências, reduzindo desigualdades precocemente e promovendo melhores resultados sociais, econômicos e de saúde .Intervenções na UTIN podem influenciar a prontidão, promovendo identificação precoce e sistemas educacionais inclusivos. A educação começa em casa e na comunidade, com experiências precoces moldando o desenvolvimento cerebral. A prontidão escolar para crianças com deficiências exige uma abordagem holística, iniciada na UTIN, envolvendo famílias, escolas e comunidades. Intervenções precoces, avaliações multidimensionais e ambientes inclusivos são essenciais para reduzir desigualdades e promover sucesso educacional. Profissionais de saúde têm papel crucial em monitoramento, educação parental e advocacia por políticas de apoio.

Neurodesenvolvimento na transição para a escola em crianças submetidas à hipotermia por encefalopatia hipóxico-isquêmica neonatal: um estudo prospectivo

Neurodesenvolvimento na transição para a escola em crianças submetidas à hipotermia por encefalopatia hipóxico-isquêmica neonatal: um estudo prospectivo

Neurodevelopment in the transition to school in children subjected to hypothermia due to neonatal hypoxic-ischemic encephalopathy: A prospective study.Vicente IN, Marques C, Pinto J, Castelo TM, Pereira C, Dinis A, Pinto CR, Oliveira G.Early Hum Dev. 2025 Aug;207:106305. doi: 10.1016/j.earlhumdev.2025.106305. Epub 2025 May 29.PMID: 40482578.

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

Crianças com encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) neonatal, mesmo submetidas à hipotermia terapêutica (HT), apresentam risco de comprometimentos neurodesenvolvimentais a longo prazo, como dificuldades cognitivas, de aprendizagem, comportamentais, paralisia cerebral (PC), epilepsia e déficits sensoriais. Embora a HT reduza morte e incapacidades graves, déficits cognitivos persistem, especialmente na transição para a escola, quando as exigências cognitivas aumentam. Esse estudo observacional prospectivo com 58 recém-nascidos (≥36 semanas) internados na UTIN de um hospital de referência em Portugal (2011-2019) para HT devido a EHI mostrou que o acompanhamento a longo prazo é essencial para crianças com EHI tratadas com HT, pois déficits cognitivos leves, muitas vezes associados a lesões na substância branca, podem surgir na idade escolar. A RM neonatal é um preditor robusto para incapacidades moderadas a graves, mas não para déficits leves. Programas de seguimento e intervenções precoces são cruciais para apoiar a transição escolar e minimizar impactos a longo prazo.

 

Hipertensão pulmonar aguda (HPA) em neonatos com encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI).

Hipertensão pulmonar aguda (HPA) em neonatos com encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI).

AsphyxiaTherapeutic Hypothermia, and Pulmonary HypertensionGeisinger R, Rios DR, McNamara PJ, Levy PT.Clin Perinatol. 2024 Mar;51(1):127-149. doi: 10.1016/j.clp.2023.11.007. Epub 2023 Dec 15.PMID: 38325938 Review

Apresentação: Amanda Lopes de Alencar- R4 Neonatologia HMIB/SES/DF. Coordenação: Carlos  Alberto Zaconeta.

Recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) devido a asfixia perinatal têm risco de desenvolver hipertensão pulmonar aguda (aPH), que agrava sequelas neurológicas e aumenta a mortalidade em comparação com aPH isolada. A hipotermia terapêutica (HT), padrão para EHI moderada a grave, pode exacerbar a aPH, exigindo avaliação hemodinâmica cuidadosa, com destaque para o papel do ecocardiograma. Neonatos com EHI e aPH apresentam riscos elevados devido a vasoconstrição pulmonar hipóxica e disfunção cardíaca. A HT, embora padrão, pode exacerbar a aPH, exigindo triagem com ecocardiogramas seriais para avaliar gravidade e resposta ao tratamento. A combinação de vasodilatadores pulmonares, inotrópicos e agentes vasoativos é essencial para otimizar a hemodinâmica, com ajustes cuidadosos durante resfriamento e reaquecimento. É crucial entender as etiologias subjacentes, os perfis hemodinâmicos únicos dos diferentes endotipos e as avaliações inovadoras para guiar um manejo direcionado e melhorar os resultados em neonatos após um evento hipóxico perinatal e com risco de HPA.

Hipertensão Pulmonar Aguda (HPA) em Neonatos com Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica (EHI)

Hipertensão Pulmonar Aguda (HPA) em Neonatos com Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica (EHI)


Asphyxia
Therapeutic Hypothermia, and Pulmonary Hypertension.

Geisinger R, Rios DR, McNamara PJ, Levy PT.Clin Perinatol. 2024 Mar;51(1):127-149. doi: 10.1016/j.clp.2023.11.007. Epub 2023 Dec 15.PMID: 38325938 Review.

Realizado por Paulo R. Margotto

Neonatos que experimentam um evento hipóxico perinatal e subsequente encefalopatia neonatal apresentam risco de desenvolver hipertensão pulmonar aguda (HPA) no período neonatal precoce. Esta condição pode exacerbar ainda mais o dano aos órgãos e contribuir para sequelas neurológicas de curto e longo prazo. A mortalidade é maior em bebês com características combinadas de encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) e HPA em comparação com aqueles apenas com HPA.

É crucial entender as etiologias subjacentes, os perfis hemodinâmicos únicos dos diferentes endotipos e as avaliações inovadoras para guiar um manejo direcionado e melhorar os resultados em neonatos após um evento hipóxico perinatal e com risco de HPA.

Hemorragia Intraventricular (HIV) no Pré-Termo-extremo: Podemos Prevenir!

Hemorragia Intraventricular (HIV) no Pré-Termo-extremo: Podemos Prevenir!

Paulo R. Margotto;

A incidência de HIV no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, é de 30%, com 32,4% de gravidade

  • No serviço em questão, um estudo de 2012 mostrou 20% de incidência em bebês abaixo de 28 semanas, e um estudo recente (Mayara) apontou 22,3% no geral.
  • O tempo de início da HIV mudou ao longo de 40 anos: antes ocorria nos primeiros 4 dias, agora começa a ocorrer após 6 dias.
  • O entendimento da HIV baseia-se em um “tripé”: a matriz germinativa (região com vasos muito imaturos que diminui com a idade gestacional, sendo maior com 24 semanas), a distribuição do fluxo sanguíneo, e a flutuação do fluxo sanguíneo.
  • A combinação de vasos imaturos, aumento e flutuação do fluxo sanguíneo à matriz germinativa aumenta o risco de rompimento e sangramento.
  • As consequências da HIV incluem comprometimento cortical (redução de 16%), complicações cerebelares, tetraplegia espástica e hidrocefalia pós-hemorrágica.
Detecção Precoce da Paralisia Cerebral. É Possível ?

Detecção Precoce da Paralisia Cerebral. É Possível ?

Palestra administrada pela Dra. Andrea Duncan, no IX Encontro Internacional de Neonatologia, Gramado, 3-5 de abril de 2025

Realizado por Paulo R. Margotto.

Andrea Duncan destaca a  importância do diagnóstico precoce da paralisia cerebral (PC), a disfunção física mais comum na infância, causada por lesões cerebrais não progressivas. Afeta domínios motores, sensoriais, cognitivos e comportamentais, com comorbidades como dor crônica (75%), epilepsia (35%) e deficiência intelectual (49%). A PC é estática na causa, mas dinâmica na expressão. É essencial para aproveitar a neuroplasticidade (0-3 anos), iniciar intervenções, prevenir complicações e apoiar a saúde mental dos pais. Pode ser feito antes dos 6 meses. A média nos EUA é 19-24 meses, prejudicial devido à abordagem “esperar para ver”. Antes de 5 meses, usam-se Ressonância Magnética (MRI), Avaliação de Movimentos Gerais (GMA) com 97% sensibilidade e Exame Neurológico de Hammersmith (HINE). Após 5 meses, inclui avaliação funcional motora. A Combinação é mais precisa. Sinais Clínicos: dificuldade de deglutição, mãos fechadas, incapacidade de sentar aos 9-12 meses, assimetrias. Comunicação com Pais: Começar perguntando se já ouviram falar de PC e o que pensam, para entender suas expectativas e medos. Sinais sugerem risco, não precisam esperar, ajuda está disponível, não estão sozinhos, há muito a ser feito. O que NÃO dizer: “Vamos esperar para ver”, “Cedo demais”, “Não se preocupe” ou usar terminologia médica vaga. Explicar claramente o que é e o que não é PC, focar em pontos fortes e progresso, reconhecer que é um espectro. Encaminhar para intervenção precoce (fisioterapia, TO), coordenar alimentação, sono, e trabalho social. Realizar consultas estruturadas e, se possível, obter RM e exame genético (se não houver histórico clínico claro). O atraso no diagnóstico pode ser por desconhecimento dos profissionais, desconforto em dar o diagnóstico ou falha em identificar sinais precoces sutis. Em locais com poucos recursos, os pais são os primeiros professores e devem ser capacitados a apoiar o desenvolvimento da criança com os recursos disponíveis. Mensagem Final: Diagnóstico precoce da PC, com ferramentas como GMA, HINE e MRI, melhora desfechos, aproveita a plasticidade cerebral e apoia famílias, sendo viável com diretrizes baseadas em evidências.

Melhorando os resultados dos desfechos de recém-nascidos de alto risco (especialmente prematuros extremos, com foco em neurodesenvolvimento, intervenções precoces e sistemas de acompanhamento)

Melhorando os resultados dos desfechos de recém-nascidos de alto risco (especialmente prematuros extremos, com foco em neurodesenvolvimento, intervenções precoces e sistemas de acompanhamento)

Palestra administrada por Andrea Duncan (EUA) no IX  Encontro Internacional de  Neonatologia, Gramado, RS, 3-5 de abril de 2025.

Realizado por Paulo R. .

Apesar da maior sobrevida, déficits a longo prazo persistem devido a lesões na substância branca. Além de NDI grave (paralisia cerebral, cegueira, surdez), déficits sutis (comportamentais, motores finos, cognitivos) afetam até 35% dos prematuros extremos aos 2 anos, impactando desempenho escolar e socioemocional.25-50% das mães de prematuros apresentam depressão pós-parto ou estresse pós-traumático, afetando o vínculo com o bebê. A parentalidade responsiva (“servir e retornar”) melhora cognição e regulação emocional, enquanto comportamentos intrusivos ou retraídos pioram os desfechos. A neuroplasticidade nos primeiros 2-3 anos permite intervenções eficazes. Programas como Método Canguru, NIDCAP, alimentação baseada em sinais e massagem materna promovem vínculo, regulação fisiológica e desenvolvimento cerebral. Acompanhamento Contínuo (“Follow-through”): Apenas 50% dos bebês elegíveis participam de clínicas de acompanhamento nos EUA, com perdas significativas na transição da alta. Um sistema integrado, com planejamento multidisciplinar e apoio comunitário, melhora adesão e equidade. Práticas na UTIN: Neuroproteção (prevenção de pneumotórax, posicionamento neutro), envolvimento parental (massagem, rounds diários) e programas como SENS (exposição sensorial estruturada) apoiam o desenvolvimento precoce. Determinantes Sociais: Insegurança alimentar e habitacional impacta desfechos. Triagem e suporte às famílias são essenciais. Inteligência Artificial e ressonância magnética auxiliam na detecção precoce de paralisia cerebral e avaliação da substância branca, respectivamente. Colocar sempre a Familia no Centro. Intervenções precoces, acompanhamento contínuo e sistemas integrados que priorizem a família são cruciais para maximizar o potencial de bebês de alto risco, aproveitando a neuroplasticidade e abordando fatores biomédicos e sociais.