Categoria: Distúrbios Neurológicos

Espectro de encefalopatia hipóxico-isquêmica neonatal: análise estratificada por gravidade de modalidades de neuroimagem e associação com resultados de neurodesenvolvimento

Espectro de encefalopatia hipóxico-isquêmica neonatal: análise estratificada por gravidade de modalidades de neuroimagem e associação com resultados de neurodesenvolvimento

Neonatal HypoxicIschemic Encephalopathy SpectrumSeverity-Stratified Analysis of Neuroimaging Modalities and Association with Neurodevelopmental Outcomes.

Cizmeci MN, Wilson D, Singhal M, El Shahed A, Kalish B, Tam E, Chau V, Ly L, Kazazian V, Hahn C, Branson H, Miller SP.J Pediatr. 2024 Mar;266:113866. doi: 10.1016/j.jpeds.2023.113866. Epub 2023 Dec 5.PMID: 38061422.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A neuroimagem é o tratamento padrão em recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) para confirmar o diagnóstico e determinar o momento e a natureza da lesão. Atualmente, a ressonância magnética cerebral (RM), durante a primeira semana pós-natal, é reconhecida como o padrão ouro para imagens de bebês com EHI. No entanto, a ultrassonografia craniana (USc) também é amplamente utilizada nesta população. A USc tem alta sensibilidade na detecção de lesão hemorrágica que pode acompanhar lesão hipóxico-isquêmica e também pode demonstrar causas de encefalopatia neonatal mimetizando EHI e inclusive já detecta alterações da EHI nas primeiras 48 horas de vida. Portanto, foi sugerido que a USc precoce deveria ser obtida em bebês que apresentam EHI. É digno de nota que nenhum bebê com EHI leve apresentou USc gravemente anormal e nenhum bebê com EHI grave apresentou USc normal. Interessante: Em neonatos com USc normais ou levemente anormais, quase todos (95% e 96%, respectivamente) tiveram ressonância magnética cerebral normal ou levemente anormal, enquanto em neonatos com USC gravemente anormal, a maioria (83%) teve ressonância magnética cerebral gravemente anormal. a USc e a ressonância magnética são modalidades complementares em bebês com EHI. Os achados desses estudo canadense sugerem  que a USc precoce pode ajudar a identificar neonatos com alto risco de lesão cerebral grave. Notavelmente, todos os bebês que apresentaram lesão na substância branca cinzenta profunda na USc também apresentaram extensa lesão da substância branca cinzenta profunda na ressonância magnética cerebral. Na maioria das Unidades Neonatais públicas, sabemos a dificuldade da realização da RM, sendo muitas vezes o ultrassom cerebral o único dispositivo de imagem do cérebro.

Mecanismos de neuroinflamação na hidrocefalia após hemorragia intraventricular: uma revisão

Mecanismos de neuroinflamação na hidrocefalia após hemorragia intraventricular: uma revisão

Mechanisms of neuroinflammation in hydrocephalus after intraventricular hemorrhage: a review.Holste KG, Xia F, Ye F, Keep RF, Xi G.Fluids Barriers CNS. 2022 Apr 1;19(1):28. doi: 10.1186/s12987-022-00324-0.PMID: 35365172 . Review. ARTIGO GRATIS!

A obstrução das granulações aracnóides como a única causa da hidrocefalia pós-hemorrágica (HPH) está caindo em desuso à medida que o papel emergente de outros contribuintes importantes, como a absorção linfática/glinfática e a neuroinflamação, vem à tona. Inflamação mediada por ferro, peroxiredorina, trombina, ativação de macrófagos, citocinas, e complemento parecem contribuir para lesões cerebrais subsequentes, edema e, em última instância, HPH. À medida que melhora a compreensão da inflamação após HIV, novos alvos terapêuticos interessantes serão obtidos. Ilustramos essa informação com um caso nosso de leve hemorragia intraventricular que evoluiu para grave hidrocéfalo pós-hemorrágico e paralisia cerebral.

 

DIRETO AO PONTO- Respostas a questionamentos: SEQUÊNCIA RÁPIDA DE INTUBAÇÃO

DIRETO AO PONTO- Respostas a questionamentos: SEQUÊNCIA RÁPIDA DE INTUBAÇÃO

Paulo R. Margotto, Marta David Rocha de Moura, Fabiano C unha Gonçalves , Joseleide de Castro e Priscila Guimarães

A intubação é um procedimento potencialmente doloroso, estressante e é associado com efeitos fisiológicos adversos, devendo sempre ser precedido de analgesia  nas INTUBAÇÕES ELETIVAS (obstrução do tubo, piora do desconforto respiratório, extubação acidental, ou antes, de um procedimento cirúrgico), pois muito desses bebês já tem acesso venoso. É inapropriada e inaceitável   a intubação de neonato em estado de vigília (a dor é intensa!). Há na literatura um “coquetel” de diferentes drogas usadas na intubação desses bebês (fentanil, remifentanil, ketamina, propofol, Midazolam, rocurônio, dexmedetomedina, atropina (vagolítico), isoladas ou em combinação, com grande diferença entre os Centros, razão pela qual, na busca de uma padronização da SRI para a nossa Unidade, realizamos essa revisão que será discutida com toda a Equipe na elaboração de um Protocolo (breve disponível em www.paulomargotto.com.br). Na administração minimamente invasiva do surfactante propomos medidas não farmacológicas (o uso de analgesia pode comprometer o impulso respiratório do bebê, que é crucial para o sucesso do uso dessa técnica; dado que a depressão respiratória é uma indicação para a ventilação mecânica, o uso de analgesia pode parecer contraproducente). As alternativas não farmacológicas, como enfaixar, sucção não nutritiva e uso de sacarose, podem ser utilizadas isoladamente ou em combinação com outras intervenções para aliviar a dor leve a moderada e diminuir o sofrimento neonatal durante a LISA. Essas técnicas são seguras e eficazes, e não apresentam os mesmos riscos que os medicamentos.

BEBÊS PRETERMOS PRECISAM DE SONO, ESPECIALMENTE SONO ATIVO (REM)

BEBÊS PRETERMOS PRECISAM DE SONO, ESPECIALMENTE SONO ATIVO (REM)

NEUROLOGIA NEONATAL: COMENTÁRIOS DE JOSEPH  J. VOLPE (Newborn Brain Society):

Realizado por Paulo R. Margotto.

Uma maior porcentagem de sono ativo foi significativamente associada a um maior volume de substância branca a termo após ajuste para possíveis covariáveis de confusão. O sono ativo, de alguma forma, leve a um melhor desenvolvimento axonal, sendo  importante no desenvolvimento e manutenção sináptica. A minha opinião é que uma melhor gestão do sono, cuidadosamente concebida, poderia revelar-se uma abordagem de gestão segura, prontamente aplicável e benéfica.

 

Propofol para Intubação Endotraqueal em Neonatos: um estudo para determinação da dose

Propofol para Intubação Endotraqueal em Neonatos: um estudo para determinação da dose

Propofol for endotracheal intubation in neonates: a dosefinding trial.

de Kort EHM, Prins SA, Reiss IKM, Willemsen SP, Andriessen P, van Weissenbruch MM, Simons SHP.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2020 Sep;105(5):489-495. doi: 10.1136/archdischild-2019-318474. Epub 2020 Jan 13.PMID: 31932363 . Clinical Trial. Artigo Livre! Holanda.

Realizado por Paulo R. Margotto

 

Após a inclusão de 91 pacientes, o estudo foi encerrado prematuramente porque o desfecho primário só foi alcançado em  12 paciente (13% dos pacientes. Nenhuma dose ideal de propofol foi encontrada. Hipotensão arterial  induzida por propofol ocorreu em 59% dos pacientes (estado hemodinâmico do paciente deve ser cuidadosamente avaliado antes da administração de propofol). O uso do propofol na população neonatal deve ser realizada com muita cautela!

Diferenças na oxigenação do tecido cerebral em neonatos prematuros que recebem transfusões de glóbulos vermelhos de adultos ou do sangue do cordão umbilical

Diferenças na oxigenação do tecido cerebral em neonatos prematuros que recebem transfusões de glóbulos vermelhos de adultos ou do sangue do cordão umbilical

Differences in Cerebral Tissue Oxygenation in Preterm Neonates Receiving Adult or Cord Blood Red Blood Cell Transfusions. Pellegrino C, Papacci P, Beccia F, Serrao F, Cantone GV, Cannetti G, Giannantonio C, Vento G, Teofili L.JAMA Netw Open. 2023 Nov 1;6(11):e2341643. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2023.41643.PMID: 37934499  Clinical Trial. Artigo Gratis!

Realizado por Paulo R. Margotto.

O artigo responde a pergunta:  A hemoglobina fetal e adulta está diferentemente associada à cinética de oxigenação do tecido cerebral de neonatos prematuros com anemia da prematuridade? Neste estudo de coorte de 23 neonatos randomizados, a espectroscopia cerebral no infravermelho próximo foi monitorada antes e depois de 42 transfusões de concentrados de glóbulos vermelhos (PRBC) em 17 neonatos prematuros, dos quais 22 unidades eram hemácias padrão de doadores adultos e 20 eram hemácias PRBC obtidas do sangue do cordão umbilical alogênico. Uma maior saturação regional de oxigênio e uma menor fração de extração de oxigênio foram registradas após transfusões de adultos em comparação com transfusões de sangue do cordão umbilical, sugerindo que a hemoglobina adulta estava associada a uma superexposição ao oxigênio no tecido cerebral. Qual é o significado desse conhecimento? Neste estudo de coorte de 23 neonatos randomizados, a espectroscopia cerebral no infravermelho próximo foi monitorada antes e depois de 42 transfusões de concentrados de glóbulos vermelhos (PRBC) em 17 neonatos prematuros, dos quais 22 unidades eram hemácias padrão de doadores adultos e 20 eram hemácias PRBC obtidas do sangue do cordão umbilical alogênico. Uma maior saturação regional de oxigênio e uma menor fração de extração de oxigênio foram registradas após transfusões de adultos em comparação com transfusões de sangue do cordão umbilical, sugerindo que a hemoglobina adulta estava associada a uma superexposição ao oxigênio no tecido cerebral. Os resultados sugerem que as transfusões de sangue do cordão umbilical em recém-nascidos com anemia da prematuridade podem ajudar a prevenir a exposição inadequada do tecido cerebral ao oxigênio. Os achados do presente estudo poderiam apoiar ainda mais a estratégia de transfundir neonatos prematuros com eritrócitos alogênicos do sangue do cordão umbilical para MINIMIZAR a gravidade da RETINOPATIA DA PREMATURIDADEP, uma vez que esta estratégia se mostrou eficaz na manutenção do nível fisiológico de Hemoglobina Fetal!

 

A Associação de Dexametasona e Hidrocortisona com Crescimento Cerebelar em Bebês Prematuros

A Associação de Dexametasona e Hidrocortisona com Crescimento Cerebelar em Bebês Prematuros


The Association of Dexamethasone and Hydrocortisone with Cerebellar Growth in Premature Infants.
v/Warmerdam LA, van Wezel-Meijler G, de Vries LS, Groenendaal F, Steggerda SJ.Neonatology. 2023;120(5):615-623. doi: 10.1159/000531075. Epub 2023 Jun 28.PMID: 37379806 Artigo Gratis!

Realizado por Paulo R Margotto

Esse estudo mostrou uma relação estatisticamente significativa entre o diâmetro transcerebelar (TCD) e o tratamento com dexametasona e hidrocortisona. Durante a segunda metade da gestação, o cerebelo cresce mais rapidamente do que qualquer outra estrutura cerebral. Também contém o maior número de receptores de glicocorticoides no cérebro em desenvolvimento, localizados na camada granular externa. Estudos pré-clínicos mostraram que tratamento sistêmico com glicocorticoides resultou na diminuição da proliferação e aumento da apoptose das células granulares da camada granular externa e isso pode impactar negativamente o crescimento cerebelar.  No entanto, o crescimento cerebral não foi afetado. Portanto, as políticas restritivas relativas à administração de corticosteroides parecem apropriadas. Além disso, os efeitos dose-dependentes merecem atenção.

NIRS CEREBRAL: Bebês Prematuros Sem Suporte Respiratório com Pressão Positiva Apresentam Maior Incidência de Hipóxia Cerebral Oculta

NIRS CEREBRAL: Bebês Prematuros Sem Suporte Respiratório com Pressão Positiva Apresentam Maior Incidência de Hipóxia Cerebral Oculta


Preterm Infants off Positive Pressure Respiratory Support Have a Higher Incidence of Occult Cerebral Hypoxia. 
Noroozi-Clever MB, Liao SM, Whitehead HV, Vesoulis ZA.J Pediatr. 2023 Nov;262:113648. doi: 10.1016/j.jpeds.2023.113648. Epub 2023 Jul 28.PMID: 37517651.

Realizado por Paulo R. Margotto

O uso da  espectroscopia cerebral no infravermelho próximo (NIRS) para quantificar a hipóxia cerebral oculta nos modos de suporte respiratório em bebês prematuros, mostrou que Bebês prematuros com níveis mais elevados de suporte respiratório apresentam menos hipóxia cerebral do que aqueles com suporte respiratório inferior. A hipóxia cerebral oculta durante períodos de menor ou nenhum suporte respiratório pode servir como um segundo golpe e aumentar ainda mais o risco de lesão evidente ou microestrutural na forma de lesão da substância branca ou diminuição do crescimento cerebral. Os bebês perto do final da hospitalização na UTIN recebem pouco ou nenhum suporte respiratório, têm comparativamente menos monitorização dos sinais vitais e testes laboratoriais de rotina mínimos.

Novos Resultados de Pesquisas no Cuidado de Recém-Nascidos com Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica

Novos Resultados de Pesquisas no Cuidado de Recém-Nascidos com Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica

Palestra administrada por Krisa Van Meurs (EUA) no 26º  Congresso de Perinatologia ocorrido em  Florianópolis (SC)  entre os dias 11-14 de outubro de 2023.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Novas pesquisas mostraram  a) A hipotermia terapêutica (HT) não reduz a morte ou a desabilidade moderada/severa nos bebês nascidos a 33+0 a 35+6 de idade gestacional como moderada a severa EHI, podendo aumentar a probabilidade de morte em 77% b) o uso de eritropoietina (EPO) em recém-nascidos em hipotermia terapêutica não reduz morte ou neurodesenvolvimento deficiente e foi associado com pequeno mais significante aumento do número de eventos adversos sérios, não sendo recomendado EPO+HP, no entanto, fica em aberto o uso da EPO como monoterapia em países de média a baixa renda, uma vez que a  HT nesses países aumentou a mortalidade (estudo HELIX) e que a EPO mostrou-se eficaz em modelos animais c) a maior mortalidade no grupo da HT nos países de media e baixa renda se deveu a ocorrência lesão cerebral provavelmente durante o período intraparto e assim, o estudos nessa região devem ser focados na prevenção, melhorando então o cuidado pré-natal  e intraparto d) convulsões durante o reaquecimento: há aumento de morte ou desabilidade  aos 18-22 meses de 7 vezes maior e o aumento da HT de 72 horas para 120 horas, aumentou de 2,7 vezes para os resfriado  por 72 horas  para  3,3 vezes  para aqueles resfriado por 120 horas  e) Wu et al (2023) mostraram que neonatos com ressonância magnética (RM) com nenhuma ou leve a moderada anormalidades tem resultados de neurodesenvolvimento semelhantes, enquanto aqueles com RM com severos achados têm consistentemente resultados adversos. Assim, você deve aconselhar as famílias que mesmo a RM normal, o bebê pode  ter problemas neurológicos no futuro. Os bebês que necessitam de um resfriamento após 6 horas de vida, o fazemos, na Stanford University,  por 96 horas e não 72 horas.

 

Correlatos do neurodesenvolvimento de anormalidades na ressonância magnética cerebral em bebês com peso extremamente baixo ao nascer

Correlatos do neurodesenvolvimento de anormalidades na ressonância magnética cerebral em bebês com peso extremamente baixo ao nascer

Neurodevelopmental Correlates of Brain Magnetic Resonance Imaging Abnormalities in Extremely Lowbirthweight Infants.Martini S, Lenzi J, Paoletti V, Maffei M, Toni F, Fetta A, Aceti A, Cordelli DM, Zuccarini M, Guarini A, Sansavini A, Corvaglia L.J Pediatr. 2023 Nov;262:113646. doi: 10.1016/j.jpeds.2023.113646. Epub 2023 Jul 28.PMID: 37516269. Artigo Livre!

Realizado por Paulo R. Margotto.

A ressonância magnética (RM) cerebral em idade equivalente a termo (TEA-MRI) permite a identificação de anormalidades típicas relacionadas à prematuridade, como volumes cerebrais reduzidos, microestrutura alterada da substância branca e conectividade anormal, podendo ajudar na previsão de quais áreas funcionais poderiam ser particularmente afetadas para ajudar a otimizar abordagens de habilitação direcionadas para bebês prematuros em risco. Foram incluídos 109 prematuros com extremo baixo peso. A redução do volume da substância branca e a mielinização retardada foram associadas a pior desenvolvimento geral, habilidades sociais e coordenação olho-mão.  Lesões císticas da substância branca foram associadas a piores resultados motores, enquanto anormalidades de sinal da substância branca e adelgaçamento do corpo caloso foram associados a piores desempenhos cognitivos não-verbais. A redução do volume de substância cinzenta profunda correlacionou-se com piores trajetórias de desenvolvimento. Assim, a TEA-MRI poderia ajudar a identificar bebês que podem se beneficiar de estratégias de reabilitação precoce que, de outra forma, talvez não estivessem disponíveis nos primeiros meses, que são uma janela crítica de oportunidade para o neurodesenvolvimento.