Categoria: Distúrbios Respiratórios

Vasopressina como terapia adjuvante na hipertensão pulmonar associada à hipotensão sistêmica refratária em recém-nascidos termo

Vasopressina como terapia adjuvante na hipertensão pulmonar associada à hipotensão sistêmica refratária em recém-nascidos termo

 

Vasopressin as adjunctive therapy in pulmonary hypertension associated with refratory      systemic hypotension in term newborns.Santelices F, Masoli D, Kattan J, Toso A, Luco M. J Perinatol. 2024 Jul 4. doi:

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A Hipertensão pulmonar persistente neonatal (HPPN) é caracterizada por resistência vascular pulmonar elevada, desvio da direita para a esquerda através do ducto arterioso ou forame oval patente e exposição prolongada do ventrículo direito a uma pós-carga aumentada, levando a hipoxemia grave ocorrendo em um momento crucial do desenvolvimento no período de transição circulatória perinatal. Até 30% dos pacientes com HPPN não respondem ao óxido nítrico (iNO), necessitando de opções alternativas. Diferentes vasodilatadores têm sido utilizados, incluindo a via do óxido nítrico com sildenafil e a milrinona, que é um inibidor da fosfodiesterase que atua na via da prostaciclina; assim como as vias da endotelina e prostaciclina. Nos casos mais graves, o uso de suporte inotrópico e vasoconstritores que não comprometam os vasos do território pulmonar tornam-se obrigatórios para garantir a perfusão sistêmica adequada e são frequentemente utilizados para garantir o fluxo sanguíneo pulmonar, aumentando a pressão arterial sistêmica e diminuindo o shunt da artéria pulmonar para a aorta. Nesse contexto, entra a VASOPRESSINA (VP), uma terapia adjuvante atraente no tratamento de neonatos com HPPN refratária nos últimos anos! Causa vasodilatação dos leitos vasculares coronarianos, pulmonares e renais, liberando óxido nítrico. O importante: Não aumenta a resistência vascular pulmonar até que níveis muito altos de VP plasmática sejam atingidos, o que ocorre em doses maiores que 2 mu/kg/min. A VP é  uma terapia fisiologicamente atraente em neonatos com hipotensão sistêmica e falha de oxigenação devido à HPPN grave. A VP em baixas doses pode reverter a hipotensão sistêmica resistente à catecolamina e melhorar a oxigenação em neonatos a termo com HPPN Monitora o sódio. A VP pode causar hiponatremia por meio da inibição da reabsorção de sódio distal aos túbulos proximais.

Cânula nasal de alto fluxo para desmame da pressão positiva contínua nasal nas vias aéreas em recém-nascidos prematuros: uma revisão sistemática e metanálise

Cânula nasal de alto fluxo para desmame da pressão positiva contínua nasal nas vias aéreas em recém-nascidos prematuros: uma revisão sistemática e metanálise

High Flow Nasal Cannula for Weaning Nasal Continuous Positive Airway Pressure in Preterm Infants: A Systematic Review and MetaAnalysis.Balhareth Y, Razak A.Neonatology. 2024;121(3):359-369. doi: 10.1159/000536464. Epub 2024 Feb 27.PMID: 38412846. Arábia Saudita, Canadá e Austrália Artigo Gratis!

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Há um debate em andamento e evidências limitadas sobre as estratégias ideais de desmame para CPAP em bebês prematuros. Tradicionalmente, o desmame de CPAP envolve uma redução gradual na pressão até atingir um limite mínimo, geralmente em torno de 4 ou 5 cm H2O , antes da descontinuação completa. No entanto, certas abordagens envolvem uma redução mais gradual na pressão de CPAP, diminuindo para 3 ou 4 cm H2O antes da descontinuação. Outros mantém esses valores até 32 semanas (uso de CPAP em bebês pode promover o crescimento pulmonar, conforme destacado por estudos que demonstram um maior aumento na capacidade residual funcional em bebês submetidos a CPAP prolongado, um efeito que pode não ocorrer com a CAF. Poucos ensaios clínicos randomizados (RCTs) mostraram resultados encorajadores, indicando que CAF é eficaz e comparável a CPAP. No entanto, outros levantaram preocupações sobre possível desrrecrutamento pulmonar, fornecimento de pressão inconsistente e duração prolongada do suporte respiratório associado a CAF. A intervenção envolveu o uso de CAF para desmame de CPAP, com fluxo mínimo de 1 L por minuto, enquanto o comparador consistiu no desmame direto do CPAP, independentemente do plano de desmame em qualquer um dos grupos (RN<37 semanas). A metanálise não encontrou nenhuma diferença estatisticamente significativa na duração do suporte respiratório ao usar a CAF para desmame em comparação ao desmame com CPAP sozinho e nem nos resultados secundários, a não ser na menor ocorrência de trauma nasal. Inclusive com a CAF o suporte respiratório aumento 3,5 dias a mais. Os médicos devem ter cautela ao considerar CAF para desmame de CPAP até que evidências adicionais de suporte sobre sua segurança estejam disponíveis.

Administração menos invasiva de surfactante em comparação com método de intubação, surfactante e extubação rápida em neonatos prematuros: uma revisão abrangente

Administração menos invasiva de surfactante em comparação com método de intubação, surfactante e extubação rápida em neonatos prematuros: uma revisão abrangente

Less Invasive Surfactant Administration Compared to IntubationSurfactant, Rapid Extubation Method in Preterm Neonates: An Umbrella Review.Kuitunen I, Räsänen K.Neonatology. 2024 Mar 19:1-9. doi: 10.1159/000537903. Online ahead of print.PMID: 38503270.

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Esta revisão abrangente de nove metanálises concluiu que o método  LISA (less invasive surfactant administration) é mais eficaz do que o INSURE na redução da necessidade de ventilação mecânica, diagnósticos de displasia broncopulmonar  e/ou mortalidade em bebês prematuros que necessitam de surfactante para síndrome do desconforto respiratório e portanto, deve ser a escolha de primeira linha para administração de surfactante em neonatos com respiração espontânea. Atualmente há um ensaio em andamento INREC-LISA que compara a intubação, recrutamento, surfactante e extubação rápida ao método LISA em neonatos extremamente prematuros (NCT05711966), que fornecerá informações importantes para futuros ensaios e prática clínica.

Elegibilidade LISA e Sucesso LISA em Bebês Extremamente Prematuros: Uma Experiência em um Único Centro

Elegibilidade LISA e Sucesso LISA em Bebês Extremamente Prematuros: Uma Experiência em um Único Centro

LISA Eligibility and LISA Success in Extremely Preterm Infants: A Single-Center Experience. Klein R, Fastnacht L, Kribs A, Kuehne B, Mehler K.Neonatology. 2024 Apr 10:1-6. doi: 10.1159/000537904. Online ahead of print.PMID: 38599191.

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A maioria dos bebês com menos de 28 semanas de gestação são considerados inelegíveis para o procedimento LISA e são regularmente intubados na Sala de Parto. Nesse estudo, todos os bebês com idade gestacional entre 22 0/7 e 27 6/7 (67 bebês e 65 [97%] receberam o surfactante na Sala de Parto!) que foram tratados ativamente em 2018 foram incluídos na análise retrospectiva. Olhando apenas para dados de bebês prematuros muito imaturos com IG <28 semanas, LISA foi associado a um risco reduzido de morte por todas as causas, displasia broncopulmonar (DBP) e DBP ou morte. A redução da hemorragia intraventricular (HIV) grave foi  observada predominantemente em bebês extremamente imaturos. A falha do método LISA foi definida como intubação dentro de 72 horas após o nascimento. No entanto a FALHA do método LISA aumenta o risco de resultados adversos em curto prazo (HIV grave-16 vezes mais). No entanto, não foi possível confirmar uma associação de falha no método LISA com menor IG. Isso justifica considerar LISA como modo de aplicação de surfactante em prematuros, independentemente da IG. LISA não é uma intervenção isolada, mas integrada num conjunto complexo de cuidados

A Influência da Corioamnionite no Impulso Respiratório e na Respiração Espontânea de Prematuros ao Nascer: uma Revisão Narrativa

A Influência da Corioamnionite no Impulso Respiratório e na Respiração Espontânea de Prematuros ao Nascer: uma Revisão Narrativa

The influence of chorioamnionitis on respiratory drive and spontaneous breathing of premature infants at birth: a narrative review. Panneflek TJR, Kuypers KLAM, Polglase GR, Derleth DP, Dekker J, Hooper SB, van den Akker T, Pas ABT.Eur J Pediatr.     20 24Jun;183(6):2539-2547. doi: 10.1007/s00431-024-05508-4. Epub 2024 Apr 1.PMID: 38558311 Artigo    Gratis!Review.

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A respiração espontânea adequada é, portanto, fundamental para uma ventilação não invasiva eficaz. Bebês prematuros afetados por qualquer tipo de corioamnionite necessitam de reanimação com mais frequência e mais extensivamente ao nascer (esses bebês apresentaram redução do esforço respiratório e da oxigenação). Tal fato ocorre devido a elevada concentração de inibidores da respiração, como adenosina, prostaglandina E2 (PGE2) mediada pela inflamação. Os médicos devem estar cientes de que os bebês prematuros afetados por corioamnionite podem, portanto, necessitar de reanimação com mais frequência e mais extensivamente ao nascer. Como os bebês prematuros já têm dificuldade em respirar espontânea e eficazmente ao nascer, estimular e apoiar a respiração espontânea nestes bebês com uma gestão ótima da oxigenação e possíveis agentes farmacêuticos (como cafeína, um antagonista não seletivo do receptor de adenosina ) pode reduzir a necessidade de ventilação invasiva.

Síndrome de aspiração de mecônio: uma revisão abrangente

Síndrome de aspiração de mecônio: uma revisão abrangente

Meconium aspiration syndrome: a comprehensive reviewOsman A, Halling C, Crume M, Al Tabosh H, Odackal N, Ball MK.J Perinatol. 2023 Oct;43(10):1211-1221. doi: 10.1038/s41372-023-01708-2. Epub 2023 Aug 5.PMID: 37543651 Review.

Realizado por Paulo R. Margotto

Excelente e completa revisão sobre  SAM. O manejo dos pacientes que necessitam de ventilação mecânica invasiva pode ser desafiador devido à combinação de atelectasia e aprisionamento aéreo. Embora os estudos tenham explorado várias modalidades ventilatórias, as evidências até o momento não apóiam claramente nenhuma modalidade singular como superior. A fisiopatologia do paciente, a gravidade dos sintomas e a experiência do médico/unidade devem orientar o manejo respiratório. A identificação precoce e o manejo concomitante da HPPN são extremamente importantes, pois contribuem significativamente para a mortalidade e morbidades.

Ventilação de alta frequência em bebês prematuros e neonatos

Ventilação de alta frequência em bebês prematuros e neonatos

Highfrequency ventilation in preterm infants and neonates.Ackermann BW, Klotz D, Hentschel R, Thome UH, van Kaam AH.Pediatr Res. 2023 Jun;93(7):1810-1818. doi: 10.1038/s41390-021-01639-8.Epub 2022 Feb 8.PMID: 35136198 Free PMC article. Review.

Apresentação: Gabriela Muniz Taham Carvelo (R5). Coordenação: Diogo Pedroso.

É um modo de ventilação mecânica invasiva, caracterizado pela entrega de volumes correntes muito pequenos em frequências suprafisiológicas (evita a hiperinsuflação inspiratória e o colapso pulmonar expiratório), sendo considerada um modo de ventilação que protege os pulmões. O conhecimento de como funciona a ventilação de alta frequência, como influencia a fisiologia cardiorrespiratória e como aplicá-la na prática clínica diária tem se mostrado essencial para seu uso ideal e seguro. Esse é o objetivo desse estudo e nos complementos, apresentamos, como fazemos.

AVANÇOS RECENTES NA FISIOPATOLOGIA E TRATAMENTO DA TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA EM RECÉM-NASCIDOS (TTRN).

AVANÇOS RECENTES NA FISIOPATOLOGIA E TRATAMENTO DA TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA EM RECÉM-NASCIDOS (TTRN).

Recent Advances in Pathophysiology and Management of Transient Tachypnea of NewbornAlhassen Z, Vali P, Guglani L, Lakshminrusimha S, Ryan RM.J Perinatol. 2021 Jan;41(1):6-16. doi: 10.1038/s41372-020-0757-3. Epub 2020 Aug 4.PMID: 32753712 Review.

Apresentação: Amanda Batista Alves. R5 Neonatologia do HMIB/SES/DF. Coordenação: Carlos A. M  Zaconeta.

A TTRN é um distúrbio respiratório que se acredita ser devido à depuração inadequada ou retardada do fluido pulmonar fetal após o nascimento. A falha na eliminação desse líquido resulta em uma síndrome clínica de desconforto respiratório com amplo diagnóstico diferencial. O volume de líquido pulmonar presente nas vias aéreas ao nascimento pode exacerbar os sintomas, pois parte do líquido do tecido pulmonar intersticial pode reentrar nos alvéolos no final da expiração. Evidências recentes também sugerem que a TTRN pode estar associada a síndromes de sibilância mais tarde na infância. mecanismos direcionados para prevenir a reentrada de fluido no pulmão, como o CPAP, provavelmente melhorarão a função respiratória e prevenirão o agravamento do TTRN. Nos complementos, excelente discussão de como passar de um pulmão cheio de líquido para um pulmão cheio de ar (“A sombra do vale do nascimento” como chamou Clement Smith em 1951)  pelo Dr. Kirpalani (EUA) e o papel do uso da pressão positiva nesses bebês por  Stuart Hoope (Austrália).

A CAFEÍNA E O CÉREBRO

A CAFEÍNA E O CÉREBRO

Palestra realizada pelo Dr. Maurício Magalhães (SP) no NEOBRAIN BRASIL 2024 entre os dia 8/3-9/3/2024 em São Paulo.

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A cafeína bloqueia o receptor da adenosina (principal efeito), inibe a fosfodiesterase, mobiliza a cálcio intracelular (sabemos na asfixia da importância da lesão celular quando há um influxo de cálcio intracelular) e interfere com o receptor GABA. A adenosina é produzida principalmente por neurônios e desempenha um importante papel no desenvolvimento da lesão  cerebral nos lactentes imaturos, como lesão da substancia branca. A cafeína promove a diferenciação e maturação de oligodendrócitos hipóxicos por regular o equilíbrio do Ca2+, exercendo assim um efeito protetor na lesão hipóxica neonatal. No prematuro isso é muito importante! Estudos de ressonância magnética (RM)  mostraram que   a exposição à cafeína estava relacionada à melhora induzida no desenvolvimento da microestrutura da substância branca em prematuros. A administração de cafeína dentro de 48-72 horas após o nascimento reduz a ocorrência de  persistência do canal arterial, normalizando o fluxo sanguíneo cerebral, estabilizando a flutuação da pressão arterial  sistêmica conferindo efeito neuroprotetor no prematuro, desempenhando papel  indireto na neuroproteção. Usando o NIRS demonstrou-se que com a dose de ataque de cafeína houve uma capacidade aguda aumentada de autorregulação cerebral, além de redistribuição  hemodinâmica preferência cerebral e esplâncnica, controlando assim o hiperfluxo sanguíneo cerebral  redistribuindo para órgãos periféricos. Efeito hemodinâmico importante no SNC. Cuidar do cérebro do prematuro  é evitar lesão cerebral (hemorragia cerebral, leucomalácia periventricular ) e esse é cuidar da hemodinâmica cerebral. Assim, estamos estimulando a plasticidade/desenvolvimento cerebral. Em comparação com grupo controle (aminofilina) a cafeína pode melhorar o desenvolvimento cerebral de bebês de baixo peso com apneia melhorando atividade elétrica cerebral e promovendo o desenvolvimento da função e maturidade cerebral.

Tumores do Sistema Nervoso Central em Neonatos: O Que o Neonatologista Precisa Saber?

Tumores do Sistema Nervoso Central em Neonatos: O Que o Neonatologista Precisa Saber?

Central nervous system tumours in neonates: what should the neonatologist know? Toniutti M, et al. Eur J Pediatr. 2024. PMID: 38206395 Review.

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A maioria dos autores define as neoplasias como definitivamente congênitas se os sintomas aparecerem no período pré-natal ou no nascimento, provavelmente congênitas se os sintomas aparecerem na primeira semana de vida, e possivelmente congênitas se os sintomas aparecerem dentro de seis meses após o nascimento. O primeiro sinal de um tumor congênito com início pré-natal é geralmente polidrâmnio, mais comumente no segundo e terceiro trimestre, secundário à disfunção hipotalâmica e ao alto débito cardíaco. Mesmo no início neonatal, o principal sinal de um tumor cerebral neonatal é a macrocefalia (50-60%). No período neonatal, a ultrassonografia transfontanelar costuma ser a principal etapa diagnóstica. a ultrassonografia pode observar diretamente massas intracranianas ou indicar sua presença por meio de sinais indiretos, como a hidrocefalia. No entanto, o padrão-ouro diagnóstico continua sendo a ressonância magnética. O prognostico dos tumores neonatais do SNC costuma ser ruim, sobretudo devido às opções terapêuticas limitadas. .  Os neonatologistas desempenham um papel fundamental na detecção precoce, avaliação diagnóstica, manejo e cuidados de suporte desses neonatos.