Categoria: Distúrbios Respiratórios

O uso do modo SIMV deve ser abolido da Neonatologia ?

O uso do modo SIMV deve ser abolido da Neonatologia ?

Celso M. Rebello. Apresentado no XXXII  Encontro Internacional de Neonatologia  da Santa Casa de São Paulo (16-17 de maio de 2025) sob a Coordenação geral do Dr. Maurício Magalhães.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A SIMV (ventilação mandatória sincronizada) continua sendo utilizada, frequentemente com pressão de suporte, especialmente na fase de desmame. Existe uma lacuna entre a literatura e a prática, muitas vezes devido à inércia .A SIMV isolada (sem pressão de suporte) não tem justificativa na literatura, nem na fase aguda nem no desmame, particularmente pelo aumento do trabalho respiratório.  SIMV com pressão de suporte é equivalente a outros modos em termos de mortalidade e DBP (displasia broncopulmonar), mas os modos que suportam todas as respirações (assisto-controlado, NAVA, pressão de suporte) resultam em um desmame mais curto. O maior trabalho respiratório ocorre na SIMV, especialmente quando comparada à NAVA. A recomendação é que o uso da SIMV exige obrigatoriamente a associação de pressão de suporte. Para pacientes com maior gravidade, a SIMV pode não ser a melhor opção. O assisto-controlado, preferencialmente com volume alvo, é considerado a melhor forma inicial de ventilação para quadros respiratórios mais importantes. A SIMV com pressão de suporte pode ser reservada para crianças com pulmões “praticamente bons” (em desmame, pós-cirurgia abdominal com quadro respiratório estável) ou em situações onde o assisto-controlado com volume alvo leva à hipocapnia devido a problemas no sensor de fluxo. Em situações práticas, SMV com pressão de suporte é usado quando o ACV com volume alvo causa hipocapnia, indicando leituras imprecisas do sensor de fluxo, permitindo que o volume alvo seja aplicado apenas nos ciclos controlados.

A posição prona foi associada a menos eventos hipoxêmicos e melhor tolerância à alimentação em bebês prematuros

A posição prona foi associada a menos eventos hipoxêmicos e melhor tolerância à alimentação em bebês prematuros

Prone Positioning Was Associated With Less Hypoxemic Events and Improved Feeding Tolerance in Preterm Infants. Bohnhorst B, Lutz E, Pirr S, Peter C, Böhne C.Acta Paediatr. 2025 Oct;114(10):2643-2650. doi: 10.1111/apa.70153. Epub 2025 May 26.PMID: 40418109  Clinical Trial. Alemanha.

Realizado por Paulo R. Margotto

O estudo, conduzido na Alemanha entre 2016 e 2018, investigou os efeitos da posição prona versus supina em 48 bebês prematuros com idade gestacional < 32 semanas e idade pós-menstrual < 34 semanas, em um ensaio clínico randomizado e cruzado. O objetivo foi avaliar a frequência e gravidade de eventos cardiorrespiratórios (CRE), como hipoxemias, bradicardias e apneias, além da tolerância à alimentação, medida por resíduos gástricos. A frequência cumulativa de hipoxemias e bradicardias foi reduzida pela metade na posição prona (p = 0,03), especialmente para hipoxemias graves (SpO₂ < 80%). A duração total de hipoxemias também diminuiu significativamente (supina: 37,5 min; prona: 16,3 min; p = 0,005). A SpO₂ (Saturação de O2) basal mediana foi maior na posição prona (97,9% vs. 96,3%; p = 0,01). A proporção de resíduos gástricos foi significativamente menor na posição prona (p = 0,0002), sugerindo melhor tolerância à alimentação.A frequência de apneias (> 10 s) aumentou na posição prona (p = 0,01), mas sem relevância clínica, pois não foram acompanhadas de hipoxemias graves ou maior duração. O estudo sugere que o posicionamento prono pode ser benéfico durante a internação, mas a transição para a posição supina deve ocorrer a partir de 32 semanas de idade pós-menstrual, considerando as diretrizes de prevenção da síndrome da morte súbita infantil.

 

Administração menos invasiva de surfactante versus intubação-surfactante-extubação: associada à redução da ventilação mecânica em recém-nascidos extremamente prematuros

Administração menos invasiva de surfactante versus intubação-surfactante-extubação: associada à redução da ventilação mecânica em recém-nascidos extremamente prematuros

Less Invasive Surfactant Administration Versus IntubateSurfactantExtubate: Associated With Reduced Mechanical Ventilation in Extremely Preterm Infants. Heiring C, Hedegaard SS, Carlsen EM, Kristensen R, Breindahl N, Schmidt C, Bay ET, Nyegaard IML, Henriksen TB, Aunsholt L.Acta Paediatr. 2025 Aug;114(8):1868-1876. doi: 10.1111/apa.70041. Epub 2025 Feb 26.PMID: 40008543.

Realizado por Paulo R Margotto.

 

O artigo aborda um estudo que comparou a Administração Menos Invasiva de Surfactante (LISA) com a Intubação-Surfactante-Extubação (INSURE) em recém-nascidos extremamente prematuros, com menos de 28 semanas de idade gestacional. O objetivo principal foi verificar se LISA estaria associada a uma menor necessidade de ventilação mecânica (VM) nas primeiras 72 horas após o procedimento. Os principais achados foram: o método LISA foi associado a uma necessidade reduzida de VM dentro de 72 horas e também durante toda a internação, em comparação com o INSURE.Não houve diferenças significativas entre os grupos em relação a outras morbidades neonatais, como hemorragia pulmonar, pneumotórax, enterocolite necrosante, persistência do canal arterial, hemorragia intraventricular, retinopatia da prematuridade, displasia broncopulmonar moderada a grave ou mortalidade. A duração da VM e de qualquer suporte respiratório foi semelhante em ambos os grupos.É importante notar que o método LISA foi implementado na Unidade sem treinamento formal prévio para a equipe, o que pode ter limitado sua eficácia plena. Além disso, o uso de altas doses de fentanil na pré-medicação do método LISA foi observado, o que pode refletir a falta de treinamento formal e potencialmente reduzir a eficácia do procedimento. O método LISA é vantajoso por permitir a manutenção da respiração espontânea, ao contrário do INSURE, que frequentemente requer ventilação com pressão positiva, que pode ser prejudicial.Um estudo relacionado, também mencionado, sugere que o uso de analgesia não farmacológica (posicionamento, “aconchego facilitado”, sucção não nutritiva e sacarose) durante LISA em bebês muito prematuros resultou em sinais vitais mais estáveis e menor incidência de dessaturação e bradicardia durante a laringoscopia, incentivando seu uso. Peter Dargaville, um especialista, desaconselha a sedação durante o uso de  LISA para otimizar a entrega do surfactante, pois é melhor que o bebê respire espontaneamente

Terapia profilática com surfactante na era da administração menos invasiva de surfactante

Terapia profilática com surfactante na era da administração menos invasiva de surfactante

Prophylactic surfactant therapy in the era of less invasive surfactant delivery.Kaluarachchi DC, Katheria A, Peebles PJ, Guthrie SO, Kakkilaya V, Dargaville PA.J Perinatol. 2025 Sep 23. doi: 10.1038/s41372-025-02420-z. Online ahead of print.PMID: 40987836 Review.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O estudo revisa a terapia profilática com surfactante em bebês prematuros com síndrome do desconforto respiratório (SDR), com foco em técnicas menos invasivas, como a administração via cateter fino (LISA). Tradicionalmente, o surfactante era administrado via intubação na Sala de Parto, mas a adoção de CPAP e esteroides antenatais reduziu a necessidade de intubação de rotina. Ensaios mostram que o CPAP inicial com surfactante seletivo diminui o risco de displasia broncopulmonar (DBP) ou morte, mas até 67% dos bebês extremamente prematuros apresentam falha de CPAP, exigindo ventilação mecânica. A técnica INSURE (intubação, surfactante, extubação) reduz DBP e vazamentos de ar, mas a extubação nem sempre é imediata. LISA, que administra surfactante sem ventilação invasiva, demonstra segurança e eficácia, com menor risco de morte ou DBP em comparação com INSURE. Dados da Rede Neonatal Alemã indicam que 83% dos procedimentos LISA em bebês <27 semanas são realizados na sala de parto, reduzindo complicações. Outros métodos, como surfactante orofaríngeo e aerossolizado, são menos eficazes, especialmente em prematuros extremos. Conclui-se que LISA profilática é promissora para bebês extremamente prematuros, mas é necessário determinar se deve ser rotineira ou direcionada. Ensaios clínicos futuros devem focar em bebês de 24-27 semanas, avaliando desfechos de curto e longo prazo.

Embolia aérea vascular em neonatos: uma revisão da literatura

Embolia aérea vascular em neonatos: uma revisão da literatura

Vascular Air Embolism in Neonates: A Literature Review.Zhou Q, Lee SK.Am J Perinatol. 2025 Oct;42(14):1819-1824. doi: 10.1055/a-2508-2733. Epub 2024 Dec 27.PMID: 39730132  Review.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Esta revisão sistemática analisa 117 casos de embolia aérea vascular neonatal (rara e frequentemente fatal), com idade gestacional média de 30,4 semanas (23-40), peso ao nascer de 1.422 g (250-3.400 g) e ocorrência mediana aos 2 dias de vida. Predomina em prematuros (75,2%), do sexo masculino (62,7%), sob ventilação mecânica (90,5%) e com síndromes de vazamento de ar (52,9%), como enfisema intersticial pulmonar e pneumotórax. Causas principais: lesão pulmonar/ventilação (70%), procedimentos cirúrgicos (17,9%) e injeção IV acidental (8,5%). Apresentações: deterioração aguda (dessaturação, bradicardia, hipotensão), descoloração cutânea e redução de EtCO₂. Patogênese envolve barotrauma pulmonar ou introdução iatrogênica de ar, levando a oclusão vascular e isquemia. Mortalidade geral: 73,9%, maior em prematuros (81,8%) e menor em cirúrgicos (23,8%); sequelas neurológicas em 16,6% dos sobreviventes. Diagnóstico: alta suspeita, imagens (RX, US, TC). Prevenção: protocolos IV seguros, minimizar barotrauma; tratamento: suporte (reanimação cardiopulmonar, aspiração de ar, posição Trendelenburg, O₂ 100%). O prognóstico é  pobre, enfatizando prevenção.

CPAP no prematuro: Até quando e como retirar?

CPAP no prematuro: Até quando e como retirar?

Douglas da Luz (SP). XXXII Encontro Internacional de Neonatologia da Santa Casa de São Paulo (16 a 17/5/2025).

Realizado por Paulo R. Margotto.

O uso de CPAP nasal em prematuros é crucial para otimizar o desenvolvimento pulmonar, que ocorre em cinco estágios (embrionário, pseudoglandular, canalicular, sacular e alveolar). O ALONGAMENTO MECÂNICO INTRAUTERINO ESTIMULA O CRESCIMENTO PULMONAR E A PRODUÇÃO DE SURFACTANTE, ESSENCIAIS PARA A FUNÇÃO RESPIRATÓRIA PÓS-NATAL. Bebês prematuros têm menor pico de fluxo respiratório na vida adulta, mas CPAP precoce e estendido (após estabilidade clínica) aumenta a capacidade residual funcional (CRF), volume alveolar e difusão pulmonar, conforme estudos randomizados. Assim, uso de CPAP estendido pode ser uma abordagem terapêutica em um bebê prematuro estável para estimular o crescimento e o desenvolvimento pulmonar, melhorando a função pulmonar ao longo da vida desse indivíduo. Interfaces como prong nasal, máscara nasal e cânula RAM são usadas, com cuidados para evitar lesões de septo, distensão abdominal e intolerância alimentar. O desmame de CPAP, baseado na estabilidade clínica (CPAP < 5 cmH2O, FiO2 < 0,30, sem apneia ou dificuldade respiratória), ocorre idealmente entre 32-33 semanas de idade gestacional pós-menstrua e peso > 1600g. A individualização do tratamento e monitorização contínua são essenciais para evitar hipoxemia transitória. Futuros estudos multicêntricos são necessários para otimizar a duração do uso de  CPAP e avaliar impactos a longo prazo na função pulmonar e neurodesenvolvimento.

Pressão positiva continua nas vias aéreas (CPAP) Prolongada em bebês prematuros aumenta o crescimento pulmonar aos 6 meses um ensaio clínico randomizado

Pressão positiva continua nas vias aéreas (CPAP) Prolongada em bebês prematuros aumenta o crescimento pulmonar aos 6 meses um ensaio clínico randomizado

Extended Continuous Positive Airway Pressure in Preterm Infants Increases Lung Growth at 6 Months: A Randomized Controlled Trial.McEvoy CT, MacDonald KD, Go MA, Milner K, Harris J, Schilling D, Olson M, Tiller C, Slaven JE, Bjerregaard J, Vu A, Martin A, Mamidi R, Schelonka RL, Morris CD, Tepper RS.Am J Respir Crit Care Med. 2025 Apr;211(4):610-618. doi: 10.1164/rccm.202411-2169OC.PMID: 39977011 Artigo Gratis!Clinical Trial.

Apresentação: Nathália Aragão (R5) e Júlia Obliziner (R4) na Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF

Coordenação: Carlos Alberto Moreno Zaconeta

A prematuridade é a principal causa de alterações no desenvolvimento pulmonar, aumentando o risco de sibilância, asma e doenças pulmonares crônicas na infância e idade adulta. O uso de CPAP nasal é padrão para manejo respiratório agudo em prematuros, evitando ventilação mecânica invasiva e reduzindo lesões pulmonares e displasia broncopulmonar (DBP). Um ensaio clínico randomizado com 100 prematuros (24 a <32 semanas de gestação) comparou 2 semanas de CPAP estendido (eCPAP) versus descontinuação (dCPAP) em bebês estáveis. Resultados aos 6 meses de idade corrigida mostraram que o grupo eCPAP teve maior volume alveolar (VA: 500,2 vs. 418,1 ml, p=0,033), capacidade de difusão (DLCO: 3,4 vs. 2,8 ml/min/mm Hg, p=0,018) e fluxos expiratórios forçados (FEF50: 501 vs. 438 ml/s, p=0,039; FEF25–75: 452 vs. 394 ml/s, p=0,046). A CRF na UTIN também aumentou mais no grupo eCPAP. A intervenção foi segura, com menos falhas respiratórias, apesar de irritação nasal leve. O uso de eCPAP promove crescimento pulmonar e vascular, sendo uma estratégia não farmacológica promissora, mas requer ensaios multicêntricos e seguimento a longo prazo para avaliar impactos no neurodesenvolvimento e em prematuros de maior risco.

Aproveitando a inteligência artificial para prever hemorragia pulmonar em bebês prematuros

Aproveitando a inteligência artificial para prever hemorragia pulmonar em bebês prematuros

Leveraging artificial intelligence for prediction of pulmonary hemorrhage in preterm infants. Aly H, et al. J Perinatol. 2025. PMID: 40836119

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

Este estudo de caso-controle incluiu recém-nascidos com menos de 32 semanas. Os dados foram coletados em períodos de 12 horas, desde o nascimento até o início da hemorragia, ou até 72 horas para os controles. O aprendizado de máquina utilizou o algoritmo Random Forest. Entre 1.133 bebês triados, 35 apresentaram hemorragia. A idade gestacional média foi de 25,6 ± 1,6 semanas, o peso ao nascer foi de 753 ± 224 g e a mediana do início da hemorragia foi de 44,5 horas. Os bebês afetados necessitaram com mais frequência de compressões torácicas e ventilação invasiva. O aprendizado de máquina (precisão = 83%, AUC = 90%) identificou a dosagem repetida de surfactante e a hipotensão pós-natal nas primeiras 12 horas de vida como os principais preditores, juntamente com a idade materna e gestacional. PORTANTO: dosagem repetida de surfactante e hipotensão pós-natal precoce são preditores importantes de hemorragia pulmonar em bebês prematuros. Dosagem repetida de surfactante e hipotensão pós-natal precoce são preditores importantes de hemorragia pulmonar em bebês prematuros.

 

Pneumonia Associada à Ventilação (PAV)

Pneumonia Associada à Ventilação (PAV)

Paulo Mansoni (Itália).

Palestra administrada pelo Dr. Paolo Mansoni (Itália), no IX Encontro Internacional de Neonatologia, Gramado, 3-5 de abril de 2025.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O meu alerta é que essa entidade não há concordância total em termos dela existir nos recém-nascidos. Eu vou passar pelas evidências, pelas definições, estratégias para evitar, mas o meu alerta é que é difícil falar claramente sobre uma questão que, de uma certa forma é meio incerta. PAV é pneumonia adquirida no hospital, comum em UTIs de adultos, e ocorre em pacientes sob ventilação mecânica por pelo menos 48 horas, com evidência radiográfica nova e persistente de lesão, e isolamento de um patógeno (na UTI Neonatal ocorre , principalmente em prematuros devido ao diâmetro alveolar 20% menor, bronquíolos estreitos que dificultam a limpeza de muco e patógenos). Outros fatores incluem intubação, aspirações frequentes, permanência em UTI, nutrição parenteral total, e infecção prévia da corrente sanguínea. prevenção se beneficia mais de pacotes de intervenções (“bundles”) do que de estratégias isoladas, com a enfermagem desempenhando um papel central. A ultrassonografia pulmonar à beira do leito é uma ferramenta promissora para avaliação dinâmica e não invasiva. Não há indicação clara na literatura para troca rotineira de circuitos do ventilador: apenas quando visivelmente sujos ou quando há piora clínica suspeita.

Recepção na UTI Neonatal do Prematuro Extremo ao chegar na UTI Neonatal

Recepção na UTI Neonatal do Prematuro Extremo ao chegar na UTI Neonatal

Carlos Alberto Moreno Zaconeta.

Além de manter a normotermia, a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) nasal é a melhor evidência disponível para dar ao recém-nascido prematuro, especialmente os menores de 28 semanas, a melhor chance de sobreviver livre de displasia broncopulmonar.  CPAP deve ser oferecido imediatamente após o nascimento e mantido como terapêutica ventilatória preferencial.