Categoria: Distúrbios Respiratórios

Hérnia diafragmática congênita

Hérnia diafragmática congênita

Paulo R. Margotto, Geórgia Quintiliano C. da Silva, Evely Mirela F. França,  Samiro Assreuy,  Jefferson G. Resende, Martha G. Vieira. apítulo do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, 4a Edição, 2020, em Preparação.

A principal fisiopatologia subjacente da HDC parece ser uma combinação de imaturidade pulmonar e hipoplasia ipsilateral e contralateral, o que leva a hipertensão pulmonar. Isso pode ser ainda agravado pelo subdesenvolvimento ventricular esquerdo e hipertrofia ventricular direita, resultando em disfunção ventricular. Esta é a razão pela qual a ecocardiografia é de fundamental importância na condução racional da administração das drogas vasoativas e inclusiva na administração de prostaglandina E-1. A HDC não é uma emergência cirúrgica (como nos anos 80) e sim uma EMERGÊNCIA FISIOLÓGICA. Já na Sala de Parto, o clampeamento tardio do cordão é de fundamental importância (a pressão arterial pulmonar é 20 mmHg menor do que naqueles RN com hérnia diafragmática com clampeamento imediato do cordão umbilical, segundo  informação recente do australiano Stuart Hooper, apresentado no 7o Simpósio Internacional de Reanimação Neonatal em abril de 2018. O reparo cirúrgico do defeito diafragmático deve ser realizado após a estabilização  médica da hipertensão pulmonar, incluindo pressão arterial média para a idade gestacional, saturação pré-ductal de 85-95% com FiO2 abaixo de 50%, lactado abaixo de 3 mmol/L, débito urinário superior a 1 ml/Kg/hora.

Trajetória da cafeína na Neonatologia: 2006 a 2020

Trajetória da cafeína na Neonatologia: 2006 a 2020

Paulo R. Margotto

 

  • O principal estudo de Barbara Schmidt, em 2006 (1006 foram para o grupo da cafeína e 1000 para o grupo placebo), mostrou, como resultado inesperado, menor displasia broncopulmonar (DBP), além e menor incidência de canal arterial patente. O seguimento aos 18 a 21 meses (2007) melhorou a taxa de sobrevivência sem desabilidade neurocomportamental (reduziu a taxa de paralisia cerebral e atraso cognitivo), além de não aumentar o risco de morte ou incapacidade naqueles reanimados vigorosamente na Sala de Parto. Em 2010, foi evidenciado que a cafeína precoce diminui o tempo de ventilação mecânica, sendo cafeína considerada por Aranda, como a bala de prata da Neonatologia (umas das terapias mais seguras, mais custo-efetivas e eficazes no recém-nascido). Aos 5 anos (2012), houve evidência de diminuição significativa na função motora grossa e no distúrbio da coordenação no grupo da cafeína. Aos 11 anos do uso da cafeína (2007), não se mostrou efeitos na duração do sono ou apneia do sono (inclusive aos 5 anos de idade) e com diferença significativa para a menor deficiência motora no grupo da cafeína, sem diferenças na deficiência funcional e na performance acadêmica, demonstrando que nas doses, usadas neste ensaio, a cafeína neonatal é efetiva e segura na idade escolar média. Treze hospitais acadêmicos no Canadá, Austrália, Grã-Bretanha e Suécia (2018) demonstraram que aos 11 anos, a terapia com cafeína neonatal foi associada a melhor habilidades visuomotora, visuoperceptual e visuoespacial, nas crianças nascida com muito baixo peso. O uso precoce da cafeína (<3 dias) tem mostrado diminuição da DBP, apesar de estudo recente do grupo de Bancalari (2018) ter mostrado maior tendência à mortalidade no grupo da cafeína precoce, o que fez com que o estudo fosse interrompido e segundo os autores, é possível que o efeito da cafeína na mortalidade e nas morbidades neonatais possa ser superestimado devido à interrupção precoce do estudo (poder estatístico menor do que o planejado pelo término antecipado do estudo).  Quanto à dose de manutenção, manter > 5mg/Kg dia (devido a provavelmente insuficiência de concentrações de cafeína pelo aumento progressivo do metabolismo da cafeína após 36 semanas de idade gestacional pós-menstrual ( 6 mg / kg / dia na segunda semana, 7 mg / kg / dia na terceira à quarta semana e 8 mg / kg / dia na quinta à oitava semana, garante concentrações estáveis de cafeína com um concentração alvo mínima de 15 mg / L evitando assim  episódio de hipoxia intermitente (aumentar 1 mg/ kg a cada 1-2 semanas).Revisão Sistemática, Metanálise e Aplicação da  Classificação de Recomendações (2018) do grupo de Patel (Atlanta, EUA), englobando 39.549 RN paro o uso precoce versos tardio  da cafeína (estudos observacionais)  concluiu que  o início precoce da cafeína, em comparação com o início tardio, está associado a uma diminuição do risco de displasia broncopulmonar, tanto nas análises multivariadas  não ajustada (OR de 0,59; IC a 95%:0,39 a 0,90 [n= 63049 ])  como na análise ajustada (OR de  0,69; IC a 95%: 0,64-0,75), assim como com uma dose maior de cafeína (estamos evitando usar doses maiores devido a preocupações quanto a hemorragia cerebelar, convulsões, taquicardia). Interessante que uma análise post hoc de subgrupo do ensaio CAP também suporta o efeito benéfico do início precoce de cafeína no risco de DBP. No entanto, por tratar de estudos observacionais, poderiam ser influenciados pela confusão por indicação de tratamento precoce com cafeína. Na Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF temos usado precocemente a cafeína na dose habitual para um grupo selecionado de RN em ventilação não invasiva com grande chance de ventilação mecânica (RN≤1250g).
Cafeína é um fator de risco para a osteopenia da prematuridade nos pré-termo:estudo de coorte

Cafeína é um fator de risco para a osteopenia da prematuridade nos pré-termo:estudo de coorte

Caffeine is a risk factor for osteopenia of prematurity in preterm infants: a cohort study.

Ali E, Rockman-Greenberg C, Moffatt M, Narvey M, Reed M, Jiang D.BMC Pediatr. 2018 Jan 22;18(1):9. doi: Apresentação: Mateus Chadud de Pádua Resende, Pedro Henrique de Souza Tavares, Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Brasília. Coordenador:Paulo Roberto Margotto

A partir de resultados em estudos animais (ratos) sugerindo que a cafeína reduz a densidade óssea através do aumento da osteoclastogênese e seu efeito calciúrico, foi conduzido um estudo piloto nos RN recebendo cafeína, avaliando a dose cumulativa ou a duração,  para a possibilidade de associação entre cafeína e doença metabólica óssea da prematuridade [DMO] (n-109 RN<32 semanas e peso ao nascer< 1500g). Não houve grupo controle pois todos recebiam cafeína, no entanto foram controlados fatores de risco, como diurético, nutrição parenteral, esteróide, ingesta de Vitamina D, paridade, fosfato sérico, idade gestacional e gênero. Diferente do estudo de Viswanathan et al (2014), os presente autores relataram significativa associação do uso de cafeína (dose acumulativa e duração) e DMO, principalmente nos menores prematuros, assim como com a dose acumulativa de esteróides, sem diferença entre os sexos. Concluem os autores que estudos adicionais são necessários para determinar menores doses efetivas de cafeína, diferentes estratégias de ventilação, ingestão adequada de vitamina D. Enquanto seria prudente triar estes bebês para DMO com intervalo menor (cada 2 semanas ao invés de cada 21 dias!). Quanto à trajetória da cafeína na Neonatologia: o principal estudo de Barbara Schmidt, em 2006 (1006 foram para o grupo da cafeína e 1000 para o grupo placebo), mostrou, como resultado inesperado, menor displasia broncopulmonar (DBP), além e menor incidência de canal arterial patente. O seguimento aos 18 a 21 meses (2007) melhorou a taxa de sobrevivência sem desabilidade neurocomportamental (reduziu a taxa de paralisia cerebral e atraso cognitivo), além de não aumentar o risco  de morte ou incapacidade naqueles reanimados vigorosamente na Sala de Parto. Em 2010, foi evidenciado que a cafeína precoce diminui o tempo de ventilação mecânica, sendo cafeína considerada por Aranda, como a bala de prata da Neonatologia (umas das terapias mais seguras, mais custo-efetivo e eficazes no recém-nascido). Aos 5 anos (2012), houve evidência de diminuição significativa na função motora grossa e no distúrbio da coordenação no grupo da cafeína. Aos 11 anos do uso da cafeína (2007), não se mostrou efeitos na duração do sono ou apneia do sono (inclusive aos 5 anos de idade) e com diferença significativa para a menor deficiência motora no grupo da cafeína, sem diferenças na  deficiência funcional e na performance acadêmica, demonstrando que nas doses, usadas neste ensaio, a cafeína neonatal é efetiva e segura na idade escolar média. Treze hospitais acadêmicos no Canadá, Austrália, Grã-Bretanha e Suécia (2018) demonstraram que aos 11 anos, a terapia com cafeína neonatal foi associada a melhor habilidades visuomotora, visuoperceptual e visuoespacial, nas crianças nascida com muito baixo peso. O uso precoce da cafeína (<3 dias) tem mostrado diminuição da DBP, apesar de estudo recente do grupo de Bancalari (2018) ter mostrado maior tendência à mortalidade no grupo da cafeína precoce, o que fez com que o estudo fosse interrompido e segundo os autores, é possível que o efeito da cafeína na mortalidade e nas morbidades neonatais possa ser superestimado devido à interrupção precoce do estudo (poder estatístico menor do que o planejado pelo término antecipado do estudo). Concluindo, Revisão Sistemática, Metanálise e Aplicação da  Classificação de Recomendações (2018) do grupo de Patel (Atlanta, EUA), englobando 39.549 RN paro o uso precoce versos tardio  da cafeína (estudos observacionais)  concluiu que  o início precoce da cafeína, em comparação com o início tardio, está associado a uma diminuição do risco de displasia broncopulmonar, tanto nas análises multivariadas  não ajustada (OR de 0,59; IC a 95%:0,39 a 0,90 [n= 63049 ])  como na análise ajustada (OR de  0,69; IC a 95%: 0,64-0,75), assim como com uma dose maior de cafeína (estamos evitando usar doses maiores devido a preocupações quanto a hemorragia cerebelar, convulsões, taquicardia). Interessante que uma análise post hoc de subgrupo do ensaio CAP também suporta o efeito benéfico do início precoce de cafeína no risco de DBP. No entanto, por tratar de estudos observacionais, poderiam ser influenciados pela confusão por indicação de tratamento precoce com cafeína. Na Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF temos usado precocemente a cafeína na dose habitual para um grupo selecionado de RN em ventilação não invasiva com grande chance de ventilação mecânica (RN≤1250g).

Apneia Neonatal-2021

Apneia Neonatal-2021

Adriana Kawaguchi, Paulo R. Margotto

Capítulo do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, Hospital de Ensino Materno Infantil de Brasília, 4a Edição, 2021

Apneia é definida como uma interrupção do fluxo de ar nas vias respiratórias por um período igual ou superior a 20 segundos, ou por período de menor duração, se acompanhado de bradicardia, cianose ou palidez. apneia da prematuridade reflete imaturidade do controle respiratório. Ela geralmente se resolve com idade gestacional pós-concepção 36 a 37 semanas em recém nascidos ≥ 28 semanas de gestação. Os recém-nascidos em < 28 semanas de gestação podem ter apneia que persiste até ou além da gravidez a termo.

É necessária a diferenciação entre apneia e respiração periódica. Esta última é caracterizada pela presença de movimentos respiratórios por um período de 10 a 15 segundos, intercalados por pausa respiratória de 5 a 10 segundos, sem cianose ou bradicardia. A respiração periódica ocorre em cerca de 25% dos recém-nascidos prematuros e em 2 a 6% dos bebês a termo. Tem bom prognóstico e não necessita de tratamento específico.

Não há dados que sugerem que o diagnóstico de apneia da prematuridade seja  associada a um risco aumentado de síndrome da morte súbita infantil (SMSI) ou que a monitorização domiciliar pode evitar SMSI em “ex-prematuros”. Apesar de recém-nascidos prematuros terem maior risco de SMSI, dados epidemiológicos e fisiológicas não suportam um nexo de causalidade com apneia da prematuridade. Dessa forma, o monitoramento domiciliar de rotina para recém-nascidos prematuros com apneia da prematuridade resolvida não é recomendado.

Quando iniciar a cafeína: 

Recentemente (2019) Lodha A et al estudaram  2018 crianças com menos de 29 semanas de gestação nascidas entre abril de 2009 e setembro de 2011 e internados em Unidades da Rede Neonatal Canadense (Canadian Neonatal Network-CNN) e, em seguida, avaliados na Rede Canadense de Follow-Up (Neonatal Follow-up Network-CNFUN). Os neonatos que receberam cafeína foram divididos em dois grupos: precoce (nos primeiros 2 dias do nascimento) e tardio (após 2 dias de nascimento). As taxas de displasia broncopulmonar (aOR 0.61; 95% CI 0.45–0.81), canal arterial  patente (aOR 0.46; 95% CI 0.34–0.62)  e lesão neurológica grave (aOR 0.66; 95% CI 0.45–0.97)  foram  significativamente menores no grupo de cafeína precoce do que no grupo de cafeína tardia (observem as odds ratio ajustadas, incluindo a idade gestacional, corticosteroide pré-natal, pontuação do SNAP-II, sexo e Centro). Não houve diferenças nas taxas de retinopatia da prematuridade, enterocolite necrosante estágio ≥2 ou sepse tardia entre os dois grupos. O comprometimento significativo do neurodesenvolvimento (odds ratio ajustada foi de  0,68 com intervalo de confiança de 95%  de 0,50-0,94 e as probabilidades de pontuação cognitiva <85 (odds ratio ajustada foi de  0,67 com intervalo de confiança de 95% 0,47-0,95), foram menores no grupo de cafeína precoce do que no grupo de cafeína tardia.  Análises pareada com base na pontuação de propensão revelaram menores chances de paralisia cerebral e deficiência auditiva

Gerenciamento de bebês extremamente baixo peso ao nascer na Sala de Parto

Gerenciamento de bebês extremamente baixo peso ao nascer na Sala de Parto

Management of Extremely Low Birth Weight Infants in Delivery Room.Nosherwan A, Cheung PY, Schmölzer GM.Clin Perinatol. 2017 Jun;44(2):361-375. doi: 10.1016/j.clp.2017.01.004. Epub 2017 Mar 9. Review.PMID: 28477666.Similar articles.

APRESENTAÇÃO: PATRÍCIA TEODORO DE QUEIROZ

R4 NEONATOLOGIA – HMIB/SES/DF

UNIDADE DE NEONATOLOGIA

COORDENAÇÃO: DIOGO PEDROSO

Prematuros extremos enfrentam grandes desafios no nascimento devido à sua fisiologia imatura levando a transição complicada. As morbidades multifatoriais e a falta de resultados robustos de desenvolvimento neurológico a longo prazo continuam sendo as principais barreiras no estabelecimento de diretrizes claras e bem definidas para a ressuscitação neonatal para essa população vulnerável.

 

Asssociação entre níveis de hemoglobina nos primeiros 3 dias de vida e displasia broncopulmonar nos recém-nascidos pré-termos

Asssociação entre níveis de hemoglobina nos primeiros 3 dias de vida e displasia broncopulmonar nos recém-nascidos pré-termos

Association between Hemoglobin Levels in the First 3 Days of Life and Bronchopulmonary Dysplasia in Preterm Infants.  Jun Duan, Xiangyong Kong, Qiuping Li, Shaodong Hua, Sheng Zhang, Zhichun Feng, Xiaoying Zhang. Am J Perinatol. 2016 Apr 27. [Epub ahead of print]
Unidade de Neonatologia do HRAS/HMIB/SES/DF. Apresentação: Laura Haydée Silva Teixeira.
Coordenação: Eveylin Mirela.

As crianças que apresentaram menores níveis de hemoglobina nos primeiros 3 dias de vida tiveram maior risco de desenvolvimento de DBP (Odds ratio de   20,9 com IC a  95% de 4,18-96,5-p<0,001!); baixos  níveis de hemoglobina podem afetar a resposta imune, impedir a oxigenação tecidual podendo promover metabolismo anaeróbico e aumentar níveis de ácido lático, além de importante papel na adaptação pulmonar na vida extrauterina. Assim, deveríamos prevenir níveis baixos de hemoglobina nos primeiros 3 dias nestes pré-termos.