Categoria: Nutrição do Recém-nascido

Eixo intestino-pulmão-cérebro: detalhes que mudam o prognóstico

Eixo intestino-pulmão-cérebro: detalhes que mudam o prognóstico

Palestra apresentada pelo Dr. Mauricio Magalhães no XXXII Encontro Internacional de Neonatologia do Hospital Santa Casa de São Paulo, 16-17/6/2025.

Realizado por Paulo R. Margotto

A Palestra destaca a comunicação bidirecional e complexa entre intestino, pulmão e cérebro em neonatos, que é crucial para o sistema imunológico, maturação de órgãos e bem-estar, mediada por vias neurais, hormonais e imunológicas. O desenvolvimento da microbiota intestinal é um evento chave na vida neonatal, influenciado por bactérias maternas, tipo de parto e, principalmente, pela alimentação (leite materno ou fórmula). A disbiose (desequilíbrio da microbiota) tem graves consequências, como displasia broncopulmonar (DBP) e enterocolite necrosante (ECN) em prematuros, e impacta negativamente o neurodesenvolvimento, associando-se a sepse neonatal, déficits cognitivos e comportamentais, ansiedade, depressão e Transtornos do Espectro Autista (TEA). A falta de nutrição enteral precoce pode levar a um “intestino permeável”, que induz inflamação sistêmica afetando todos os órgãos, incluindo o cérebro. Metabólitos produzidos pela microbiota, como ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e metabólitos do triptofano, influenciam positivamente o desenvolvimento e a função cerebral. O leite materno (da própria mãe) é o padrão ouro da nutrição, rico em IgA, bactérias probióticas e oligossacarídeos (HMOs), que reduzem a incidência de ECN, sepse, retinopatia da prematuridade (ROP) e DBP, além de promoverem maior volume cerebral e melhor conectividade. A colostroterapia (0,2 ml a cada 3 horas) é uma prática importante, estimulando bifidobactérias e fortalecendo a barreira intestinal. O leite humano doado pasteurizado (DHM) é a melhor alternativa ao leite da própria mãe, pois favorece um microbioma intestinal mais semelhante ao leite materno do que a fórmula, apesar de algumas perdas no processo de pasteurização. O uso de antibióticos em neonatos, mesmo necessário para prevenir sepse, pode ser prejudicial à microbiota, alterando sua diversidade e impactando o neurodesenvolvimento. Estudos mostraram que o uso de antibióticos por mais de 5 dias em prematuros extremos aumenta a incidência de ECN e mortalidade. Pesquisas com camundongos indicam que a exposição precoce à penicilina altera substancialmente a microbiota intestinal e a expressão gênica em áreas cerebrais cruciais para o neurodesenvolvimento, com efeitos de longo prazo no microbioma. A cafeína, usada para apneia da prematuridade, melhora o prognóstico pulmonar e influencia positivamente o neurodesenvolvimento. O rápido crescimento cerebral requer alta demanda nutricional, sendo o DHA e ARA importantes para a inteligência e redução de ROP.

Auxílio simplificado à decisão do paciente sobre cirurgia de língua presa em bebês amamentados

Auxílio simplificado à decisão do paciente sobre cirurgia de língua presa em bebês amamentados

Simplified patient decision-aid for tongue-tie surgery for breast-fed infants
S M Hashim Nainar, BDS, MDSc Paediatrics & Child Health, pxaf061, july, 2025. https://doi.org/10.1093/pch/pxaf061
Oxford Academic https://academic.oup.com › pch

Realizado por Paulo R. Margotto,

O número de cirurgias para anquiloglossia (língua presa)recentemente, impulsionado, em parte, pela desinformação disponível nas redes sociais. É crucial uma avaliação multidisciplinar (pediatras, especialistas em lactação, terapeutas de alimentação, cirurgiões) antes de decidir por uma intervenção cirúrgica, uma vez que a amamentação subótima é uma questão complexa. A maioria dos bebês com anquiloglossia é assintomática e não apresenta problemas de alimentação. Além disso, não há uma conexão clara entre anquiloglossia e distúrbios da fala. Estudos e revisões sistemáticas não encontraram um efeito positivo consistente da cirurgia na amamentação infantil. O apoio à lactação, focado na otimização da pega, deve ser a estratégia primária para bebês com dificuldades de amamentação. Embora a cirurgia possa reduzir a dor no mamilo materno a curto prazo, o benefício definitivo não está comprovado e é baseado em estudos de baixa qualidade. Estratégias simples como modificar a pega ou usar protetores de mamilo também podem aliviar a dor. A cirurgia de anquiloglossia é geralmente segura, mas existem riscos de complicações, incluindo má alimentação, perda de peso, dor, infecção, sangramento, cicatrizes, e, em casos raros, complicações mais graves como edema submandibular, choque hipovolêmico, obstrução aguda das vias aéreas e, em notícias, até fatalidade. Um estudo na Nova Zelândia relatou uma incidência anual de 13,9 complicações por 100.000 bebês após a frenotomia.

Importância da nutrição adequada para prematuros e nas ferramentas para avaliar seu estado nutricional (buscando um equilíbrio entre o neurodesenvolvimento e a saúde cardiometabólica)

Importância da nutrição adequada para prematuros e nas ferramentas para avaliar seu estado nutricional (buscando um equilíbrio entre o neurodesenvolvimento e a saúde cardiometabólica)

Palestra administrada por Mandy Belfort no IX  Encontro Internacional de  Neonatologia, Gramado, RS, 3-5 de abril de 2025.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A palestra aborda a relevância da nutrição na UTI neonatal (UTIN) para prematuros, equilibrando neurodesenvolvimento e saúde cardiometabólica, e as ferramentas para avaliação nutricional. A dieta fornecida na UTIN influencia a saúde ao longo da vida, especialmente o desenvolvimento cerebral e de outros órgãos. A fortificação da dieta está associada a melhores desfechos de crescimento e neurodesenvolvimento, conforme evidências de estudos observacionais e clínicos. Prematuros apresentam maior risco de doenças cardiovasculares na vida adulta, como hipertensão, diabetes, distúrbios lipídicos e apneia do sono, conforme estudos epidemiológicos. Ganho de peso rápido nos primeiros meses está ligado a maior QI, mas também a pressão arterial elevada na idade escolar, sugerindo a necessidade de equilibrar neurodesenvolvimento e riscos cardiometabólicos. Prematuros na idade equivalente a termo têm menos massa magra e mais gordura que bebês a termo. A massa magra está associada a maiores volumes cerebrais. A nutrição na UTIN deve otimizar o crescimento da massa magra, apoiar o neurodesenvolvimento e minimizar riscos cardiometabólicos.Assim, Além da antropometria (peso, comprimento, perímetro cefálico, curva de crescimento) e importante que se avalie a COMPOSIÇÃO CORPORTAL através da Air Displacement Plethysmography [ADP] (Técnica precisa, mas cara, não portátil e limitada a bebês estáveis e Bioimpedância elétrica [BIA] (Promissora, acessível, portátil e aplicável à beira do leito). O leite materno é ideal, apesar de potencialmente levar a menor ganho de massa magra em comparação com fórmula. Prioriza-se seu uso por benefícios como prevenção de infecções e enterocolite. Leite de banco de doadoras é uma “ponte” valiosa, mas o foco é apoiar a produção de leite materno.

Ausência de evidências de efeitos benéficos de fortificantes à base de leite materno: uma metanálise com média de Modelo Bayesiano

Ausência de evidências de efeitos benéficos de fortificantes à base de leite materno: uma metanálise com média de Modelo Bayesiano

Absence of Evidence of Beneficial Effects of Human MilkBased Fortifier: A Bayesian Model-Averaged Meta-Analysis.Huizing MJ, Vizzari G, Bartoš F, Cavallaro G, Gianni ML, Villamor E.Acta Paediatr. 2025 Jul 29. doi: 10.1111/apa.70260. Online ahead of print.PMID: 40729426.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O leite materno é a primeira escolha para prematuros, mas requer fortificação para atender às necessidades nutricionais de bebês muito prematuros (<32 semanas) ou de muito baixo peso (<1500 g), prevenindo restrição de crescimento pós-natal associado a comprometimento neurocognitivo, retinopatia da prematuridade e displasia broncopulmonar. Fortificantes à base de leite humano (MBF humano) são usados, apesar do alto custo e evidências limitadas de eficácia, em comparação com fortificantes à base de leite bovino (MBF bovino). A metanálise bayesiana de três estudos controlados e randomizados  não encontrou evidências conclusivas de benefícios do MBF humano em comparação com o MBF bovino para NEC, mortalidade, sepse tardia, displasia broncopulmonar ou retinopatia da prematuridade. A ausência de evidências, devido a amostras pequenas, destaca a necessidade de estudos maiores para avaliar a eficácia e custo-efetividade do MBF humano.

 

Nutrição Parenteral em Prematuros Extremos

Nutrição Parenteral em Prematuros Extremos

Marta David Rocha de Moura.

A nutrição parenteral (NP) é fundamental para apoiar o crescimento e desenvolvimento normais dos prematuros, prevenindo a restrição do crescimento e seus efeitos adversos. Recém-nascidos pré-termo possuem estoques limitados de nutrientes e podem desenvolver deficiência de energia, proteínas e ácidos graxos essenciais em apenas dois dias se não receberem nutrição adequada, especialmente aqueles com peso de nascimento inferior a 1000 gramas.

Nutrição Enteral em Prematuros Extremos

Nutrição Enteral em Prematuros Extremos

Alessandra de Cássia Gonçalves Moreira.

O nascimento prematuro é uma emergência nutricional. A nutrição adequada combate diversas complicações a longo prazo, como alterações renais e cardiovasculares, elevação da pressão arterial, adiposidade desfavorável, e riscos aumentados de enterocolite necrosante (ECN), sepse tardia e atrasos no neurodesenvolvimento.

ONG DA PREMATURIDADE 10 ANOS! COORDENAÇÃO GERAL: Denise Suguitani: 1o ENCONTRO NACIONAL DA PREMATURIDADE (São Paulo, 15/6/2025): Nutrição e Desenvolvimento do Prematuro Pós-Alta

ONG DA PREMATURIDADE 10 ANOS! COORDENAÇÃO GERAL: Denise Suguitani: 1o ENCONTRO NACIONAL DA PREMATURIDADE (São Paulo, 15/6/2025): Nutrição e Desenvolvimento do Prematuro Pós-Alta

Viviane Matos.

Realizado por Paulo R. Margotto

O acompanhamento pós-alta deve ser holístico, promovendo crescimento e desenvolvimento sem deficiências nutricionais, com foco no aleitamento materno, introdução alimentar adequada e suplementação estratégica, sempre considerando o contexto familiar e as particularidades do prematuro.

ONG DA PREMATURIDADE 10 ANOS! COORDENAÇÃO GERAL: Denise Suguitani: 1o ENCONTRO NACIONAL DA PREMATURIDADE (São Paulo, 15/6/2025):O papel da amamentação e as estratégias para a sua continuidade

ONG DA PREMATURIDADE 10 ANOS! COORDENAÇÃO GERAL: Denise Suguitani: 1o ENCONTRO NACIONAL DA PREMATURIDADE (São Paulo, 15/6/2025):O papel da amamentação e as estratégias para a sua continuidade

Marcus Renato de Carvalho.

Realizado por Paulo R. Margotto

O sucesso da amamentação em prematuros depende de uma abordagem interdisciplinar, com suporte contínuo à lactante e manejo educacional, garantindo os benefícios imunológicos e nutricionais do leite humano. O envolvimento da família é crucial!

ONG DA PREMATURIDADE 10 ANOS! COORDENAÇÃO GERAL: Denise Suguitani: 1o ENCONTRO NACIONAL DA PREMATURIDADE (São Paulo, 15/6/2025):Alimentação de Prematuros: Desafios e Prontidão

ONG DA PREMATURIDADE 10 ANOS! COORDENAÇÃO GERAL: Denise Suguitani: 1o ENCONTRO NACIONAL DA PREMATURIDADE (São Paulo, 15/6/2025):Alimentação de Prematuros: Desafios e Prontidão

Patrícia Junqueira.

Realizado por Paulo R. Margotto.

“Será que sabemos o que significa na essência um bebê ser totalmente funcional nas suas habilidades para ser alimentado/comer?”A alimentação de prematuros deve ser holística, respeitando o desenvolvimento global, experiências do bebê e contexto familiar, promovendo um aprendizado alimentar saudável, prazeroso e sem estresse

Buscando a Nutrição Ideal dos Recém-Nascidos Prematuros: Estratégias Para Melhorar os Resultados a Curto e Longo Prazo

Buscando a Nutrição Ideal dos Recém-Nascidos Prematuros: Estratégias Para Melhorar os Resultados a Curto e Longo Prazo

Palestra administrada por Mandy Belfort no IX  Encontro Internacional de  Neonatologia, Gramado, RS, 3-5 de abril de 2025.

Realizado por Paulo R. Margotto

Bebês muito prematuros (<1500 g) têm alta vulnerabilidade nutricional devido à perda de nutrientes do terceiro trimestre, imaturidade digestiva e doenças críticas. O leite materno fortificado é ideal, reduzindo o risco de enterocolite necrosante (15-20% a cada 10% adicional na dieta) e promovendo melhor neurodesenvolvimento (maior QI, menos TDAH). Leite de doadora também é protetor. Sem fortificação, o leite humano não supre necessidades de proteína, cálcio e outros nutrientes. Fortificação do leite  humano pode ser:  Padrão (dose fixa para bebês <1500-1800 g,), Ajustável (adapta proteína/gordura conforme crescimento:o conteúdo proteico do leite biologicamente muda ao longo do tempo. Os prematuros tem 2.2/g/dL de proteína e depois cai para <1 g/dL na semana 10 – 12. Então, talvez o leite que o bebê receba de sua mãe na semana 2 é bem diferente em conteúdo proteico do que o leite que receberá uns dois, uns meses depois. Não levamos isso em conta quando fazemos a fortificação) e Direcionada ( personaliza com análise diária do leite, mas ainda não é rotineira devido a custos e complexidade. Os impactos são: Crescimento: melhora do  peso, comprimento e crescimento cefálico. Estudos recentes com fortificação universal nos EUA mostram crescimento semelhante entre leite humano fortificado e fórmula. Neurodesenvolvimento: está associado a melhor volume cerebral, mielinização e organização microestrutural, além de menor risco de comprometimento motor aos 3 anos. Componentes como DHA, lactoferrina e mio-inositol são cruciais).