Categoria: Nutrição do Recém-nascido

DIRETO AO PONTO: SÍNDROME DE REALIMENTAÇÃO NEONATAL

DIRETO AO PONTO: SÍNDROME DE REALIMENTAÇÃO NEONATAL

Paulo R. Margotto.

Bebês com extremo baixo peso ao nascer  peso ao nascer < 1000 g) nascem com estoques muito baixos de nutrientes essenciais, como cálcio, fosfato, ferro, zinco e vitaminas, e pouca ou nenhuma gordura subcutânea e estoques de glicogênio porque os fetos depositam esses importantes estoques de nutrientes durante o terceiro trimestre da gravidez. Muitos desses bebês prematuros também apresentam restrição de crescimento em comparação com seus pares intrauterinos da mesma idade gestacional. O fornecimento imediato de nutrição intravenosa (IV) e enteral adequada é vital para prevenir maior depleção dos estoques de nutrientes e apoiar o rápido crescimento e desenvolvimento até que possam amamentar. Em bebês prematuros, propõe-se que esse conjunto de distúrbios eletrolíticos seja precipitado pelo fornecimento repentino de aminoácidos e glicose intravenosos após um período de baixa nutrição. O fornecimento de aminoácidos e glicose intravenosos estimula a secreção endógena de insulina e a demanda por eletrólitos.  A ingestão insuficiente de eletrólitos e vitaminas para suportar a demanda aumentada de fosfato, sódio, potássio, magnésio e tiamina em particular resulta nos distúrbios bioquímicos característicos da SR, geralmente dentro de 2 a 5 dias após a realimentação. Os distúrbios eletrolíticos são: hipofosfatemia, hipercalcemia, hipocalemia, hipomagnesemia, hiperglicemia e deficiência de tiamina. Diretrizes internacionais de consenso sobre nutrição pré-termo recomendaram o início precoce de altas ingestões intravenosas de aminoácidos e energia em combinação com pouco ou nenhum sódio, potássio, cálcio e fosfato nas primeiras 24 a 48 horas após o nascimento, UM CENÁRIO PERFEITO PARA A OCORRÊNCIA DA SÍNDROME DE REALIMENTAÇÃO. Os profissionais devem simplesmente equilibrar o aumento do fornecimento de aminoácidos com o fornecimento adequado de fosfato. A maioria dos autores usam a hipofostatemia (<4mg/dL) e hipofosfatemia  e grave <2,5mg/dL como definição da SR. A incidência está em 20 a 38% dos prematuros extremos, principalmente aqueles co restrição do crescimento. Esses bebês apresentam elevado risco de sepse, hemorragia intraventricular, -ventilação mecânica, -displasia broncopulmonar, mortalidade e deficiente neurodesenvolvimento. Alterações no protocolo nutricional para aumentar a ingestão precoce de fosfato foram feitas substituindo a solução nutricional intravenosa inicial padrão, contendo apenas eletrólitos de cálcio, 0,5 mmol kg/dia   por uma solução nutricional intravenosa padrão concentrada contendo fosfato, cálcio, sódio e potássio, usada desde o nascimento até o estabelecimento da alimentação enteral completa. O risco de SR reduziu em79%, sepse  tardia e sepse precoce em 78 e 68% respectivamente, Enquanto isso, os clínicos devem implementar uma abordagem padronizada na  UTIN, envolvendo uma equipe multidisciplinar para facilitar o seguinte: identificar os bebês de risco, desenvolver estratégias de  nutrição individualizada, estabelecer Diretrizes para a nutrição enteral precoce e criar um protocolo de monitoramento laboratorial.

MONOGRAFIA NEONATOLOGIA-HMIB-2025: Dificuldades maternas no processo de aleitamento materno de prematuros internados em uma UTI Neonatal do Distrito Fede

MONOGRAFIA NEONATOLOGIA-HMIB-2025: Dificuldades maternas no processo de aleitamento materno de prematuros internados em uma UTI Neonatal do Distrito Fede

Ana Luiza Espinoza Resende, Flávio Ramiro Espinoza Resende, Nathalia Falchano Bardal.

Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.18, n.2, p. 01-12, 2025

Características da UTIN do HMIB como a cesárea como via de parto mais prevalente e uma maior quantidade de prematuros entre 28 e 32 semanas de idade gestacional de nascimento, apresentam-se como dificultadores indiretos do aleitamento materno. Entretanto, por se tratar de uma unidade de referência no Distrito Federal, não há como alterar essas características de forma direta. Assim, é necessário adotar práticas que estimulem o aleitamento materno, como a prática da posição canguru, ou mesmo a colostroterapia. O estudo mostra que apesar de realizar o contato pele a pele na unidade, esta prática tem sido feita mais tardiamente. Torna-se necessário adaptar suas rotinas e implantar outras estratégias para possibilitar o contato entre mãe e filho o mais precoce possível para assim estimular a lactação e ordenha visando a manutenção do aleitamento materno. Por meio das respostas das participantes, o estudo mostra que a maior dificuldade materna no processo de aleitamento materno na UTIN do HMIB é a distância do hospital até a sua casa, bem como o custo com transporte até o hospital. Dessa forma torna-se necessário que a unidade disponha de infraestrutura para permitir que as mães estejam presentes o maior tempo possível na UTIN para amamentar e ordenhar.

Fornecer Alimentação Enteral Rápida a Recém-Nascidos de Muito Baixo Peso Reduziu o Tempo que Eles Precisaram de Um Cateter Venoso Central

Fornecer Alimentação Enteral Rápida a Recém-Nascidos de Muito Baixo Peso Reduziu o Tempo que Eles Precisaram de Um Cateter Venoso Central

Providing very low-birth-weight infants with fast enteral feeding reduced how long they needed a central venous catheter. Benguigui L, et al. Acta Paediatr. 2025. PMID: 39364673  Artigo Gratis!

Realizado por Paulo R. Margotto.

Nesse estudo, a progressão lenta usual da alimentação enteral foi alterada para uma progressão mais rápida, aumentando a taxa de 5 a 15 mL/kg/dia para 20 a 30 mL/kg/dia. Os resultados deste estudo mostraram que uma progressão mais rápida da alimentação enteral reduziu a duração inicial do uso do cateter venoso central (4 dias) e o tempo para atingir a alimentação enteral completa (4 dias) sem aumentar a incidência de enterocolite necrosante ou outras complicações importantes. Esses resultados confirmam e apoiam a viabilidade e a segurança da progressão diária mais rápida dos volumes de leite em bebês de muito baixo peso na prática clínica.

Colostroterapia, colostro e amamentação na UTI Neonatal : o que temos de novo (2º Congresso Internacional de Neonatologia do Distrito Federal de28-29 de novembro de 2024)

Colostroterapia, colostro e amamentação na UTI Neonatal : o que temos de novo (2º Congresso Internacional de Neonatologia do Distrito Federal de28-29 de novembro de 2024)

Ricardo Nunes (RJ). 2º Congresso Internacional de Neonatologia do Distrito Federal (28-29 de novembro de 2024)

Deve ser sempre priorizado o leite da própria mãe cru, combinando expressão manual + retirada por bomba [quanto mais esvazia o seio, mais leite vai ter]

Influência da alimentação enteral total precoce em recém-nascidos pré-termos com síndrome do desconforto respiratório.

Influência da alimentação enteral total precoce em recém-nascidos pré-termos com síndrome do desconforto respiratório.

Influence of Early Total Enteral Feeding in Preterm Infants with Respiratory Distress Syndrome. Anand R, Nangia S. Neonatology. 2024 Jul 17:1-7. doi: 10.1159/000539544. Online ahead of print.PMID: 39019022.

Realizado por Paulo R. Margotto

Já é do nosso conhecimento que o atraso na alimentação enteral leva a uma duração prolongada da nutrição parenteral que, em última análise, aumenta os riscos infecciosos e metabólicos, levando a um crescimento e neurodesenvolvimento subsequentes deficientes entre bebês prematuros. O presente estudo sugere que recém-nascidos prematuros hemodinamicamente estáveis ​​com Síndrome do Desconforto Respiratório em suporte respiratório podem ser alimentados com sucesso com alimentação enteral exclusiva iniciada imediatamente após o nascimento. A nutrição enteral total precoce resulta na obtenção precoce de alimentação completa e reduz a incidência de sepse e a duração da internação hospitalar sem aumentar o risco de enterocolite necrosante.

 

IMUNOTERAPIA PELO LEITE HUMANO: Colostroterapia expandida

IMUNOTERAPIA PELO LEITE HUMANO: Colostroterapia expandida

Apresentação: Nathalia Bardal, Realizado pelas Equipes do Banco de Leite, da Neonatologia e da Farmácia Clínica.

Importância: melhoria da resposta imune, modulação da microbiota intestinal, proteção contra infecções (enterocolite, sepse tardia e  pneumonia associada à ventilação mecânica), melhora da progressão da dieta enteral.  Quando realizar? Iniciar dentro das primeiras 24 horas de vida, 3/3 hs, mesmo em dieta zero e realizar até que o bebê esteja mamando ao seio materno (<1500g: 0,1 ml-1gota em casa bochecha e ≥1550g0,2 ml-2gotas em cada bochecha. Utilizar seringa de 1 ml. Realizar pelo Profissional de Enfermagem  que está cuidando do bebê. Qual leite? SEMPRE que possível leite cru da própria mãe ordenhado a beira do leito (colostro, leite de transição ou leite maduro) INDEPENDENTE do status do CMV (já na dieta nos menores <28 semanas, segue a Norma já estabelecida). Na ausência do leite cru, exceções devem ser discutidas com a Equipe (exemplo, mãe usuária de droga).

Transição da Nutrição Parenteral para Enteral em Prematuros

Transição da Nutrição Parenteral para Enteral em Prematuros

Alessandra de Cássia Gonçalves Moreira. Médica Assistente UTI Neonatal – HMIB. Docente Adjunta do Curso de Medicina – ESCS e CEUB. Jornada de Terapia Nutricional Enteral e Parenteral em Pediatria (20/9 a 21/9/2024) no Hospital Materno Infantil de Brasília.

O nascimento prematuro é uma emergência nutricional! No desmame da NP sem aumento rápido o suficiente da dieta enteral para manter a oferta total de proteínas durante a transição da nutrição parenteral para enteral, a desnutrição pode se desenvolver rapidamente! Promover o fornecimento de proteína enteral em vez de parenteral pode melhorar o crescimento cerebral e somático em bebês de muito baixo peso.

Efeitos das proporções precoces de proteína enteral para parenteral no volume cerebral e no crescimento somático em recém-nascidos de muito baixo peso

Efeitos das proporções precoces de proteína enteral para parenteral no volume cerebral e no crescimento somático em recém-nascidos de muito baixo peso

Effects of Early Enteral to Parenteral Protein Ratios on Brain Volume and Somatic Growth in Very Low Birth Weight Infants. Henkel RD, Fu TT, Barnes-Davis ME, Sahay RD, Liu C, Hill CD, Ehrlich SR, Parikh NA.J Pediatr. 2024 Aug 22;275:114253. doi: 10.1016/j.jpeds.2024.114253. Online ahead of print.PMID: 39181317.

Realizado por Paulo R. Margotto.

A otimização da nutrição precoce surgiu como um fator potencialmente modificável nos esforços para minimizar o deficiente neurodesenvolvimento (NDI).O aumento da ingestão precoce de nutrientes está associado a um QI mais elevado na infância, melhores pontuações nas avaliações de desenvolvimento, e marcadores de ressonância magnética (RM) aprimorados do resultado do desenvolvimento cerebral, como a maturação da substância branca, maiores volumes totais de tecido cerebral e regional, e redução de lesões cerebrais. Pode ser que a proteína parenteral tenha menos efeitos benéficos no resultado do neurodesenvolvimento do que a proteína enteral em recém-nascidos prematuros de muito baixo peso ao nascer (MBPN; peso ao nascer <1500). Esse é um estudo retrospectivo de uma subcoorte de 269 bebês prematuros MBPN  O número médio de dias de nutrição parenteral total (NPT) foi de 14 dias. Uma relação E:P (Enteral : Parenteral) mais alta nos primeiros 28 dias após o nascimento foi associada a um maior volume total de tecido cerebral na ressonância magnética do cérebro na idade gestacional equivalente a termo. Uma relação E:P mais alta também foi associada à velocidade de ganho de peso melhorada. Otimizar a nutrição precoce é uma estratégia importante para minimizar o NDI em bebês prematuros de baixo peso ao nascer, com a ingestão precoce de proteínas apontada como particularmente importante para o crescimento e desenvolvimento do cérebro. A MAIOR DURAÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL também foi associada a MENOR VOLUME CEREBRAL TOTAL, VOLUME CEREBELAR E VOLUME DE SUBSTÂNCIA CINZENTA CORTICAL na ressonância magnética do cérebro na idade gestacional pós-menstrual. Aí está a importância de fornecer nutrição por via enteral e facilitar a transição mais precoce da nutrição parenteral. Esta pode ser uma estratégia importante para neonatologistas que visam reduzir o NDI em bebês prematuros de muito baixo peso.

A terapia com colostro orofaríngeo reduz a incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica em recém-nascidos de muito baixo peso: uma revisão sistemática e meta-análise

A terapia com colostro orofaríngeo reduz a incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica em recém-nascidos de muito baixo peso: uma revisão sistemática e meta-análise

Oropharyngeal colostrum therapy reduces the incidence of ventilatorassociated pneumonia in very low birth weight infants: a systematic review and meta-analysis.Ma A, Yang J, Li Y, Zhang X, Kang Y.Pediatr Res. 2021 Jan;89(1):54-62. doi: 10.1038/s41390-020-0854-1. Epub 2020 Mar 30.PMID: 32225172  Artigo Grátis! China.

Realizado por Paulo R Margotto.

O leite (cru) da própria mãe é a forma mais pura da MEDICINA PERSONALIZADA porque provê à criança que o recebe nutrição individualizada e componente imunomodulatórios de tal modo que, mesmo o leite da mesma espécie (Leite materno de  doadora) pode não prover os mesmos resultados benéficos.

O leite humano, especialmente o colostro, é o melhor primeiro estimulador imunológico em bebês. A presente metanálise incluiu 8 estudos controlados randomizados, englobando 682 RN<32 semanas de idade gestacional  no total (grupo colostroterapia: 332; grupo não colostroterapia: 350). Bebês de baixo peso ao nascer EM colostroterapia apresentaram uma redução notável na incidência de pneumonia associada a ventilação mecânica (OR = 0,39, IC de 95%: 0,17–0,88, P  = 0,02), diminuição do tempo para atingir a nutrição enteral completa, com uma significância potencial de redução da incidência de enterocolite necrosante e uma tendência de regulação negativa da mortalidade na UTI e da incidência de sepse comprovada. Um dos fatores importante na pneumonia associada a ventilação é a duração da ventilação mecânica. O estudo de Abd-Elgawad et al mostrou que o colostro poderia encurtar significativamente a duração da ventilação mecânica. Nos complementos, estudos recentes sugerem potenciais associações protetoras de maior contribuição de leite humano fresco e e leite da própria mãe (MOM) para as mamadas gerais durante a hospitalização contra o desenvolvimento de DBP. Nossos resultados destacam a importância do MOM como uma fonte ideal de nutrição durante a primeira infância.

O Enigma da Lesão Intestinal em Bebês Prematuros que Recebem Leite da Própria Mãe.

O Enigma da Lesão Intestinal em Bebês Prematuros que Recebem Leite da Própria Mãe.

The conundrum of intestinal injury in preterm infants receiving mother’s own milk.Malamitsi-Puchner A, Briana DD, Neu J.J Perinatol. 2024 Sep 19. doi: 10.1038/s41372-024-02125-9. Online ahead of print.PMID: 39300239 Review. Estados Unidos.

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

O estágio I não é mais considerado por alguns como enterocolite necrosante (NEC), e nem todas as condições que chamamos de “NEC” podem ter um quadro necrótico completo. Especificamente, mudanças microbianas deletérias, documentadas usando técnicas de sequenciamento de 16S rRNA e metagenômica, revelaram diminuição de Firmicutes e Bacteroidetes e aumento de filos de Proteobacteria nas fezes de bebês prematuros, ocorrendo antes do início da “NEC. O receptor Toll-like 4 (TLR4) é considerado um fator importante responsável, por vários mecanismos, por uma barreira intestinal lesionada resultando em necrose intestinal em humanos e modelos animais de lesão intestinal. O leite humano contem numerosos agentes bioativos protetores para o desenvolvimento do intestino do vulnerável bebê prematuro (imunoglobulinas, predominantemente imunoglobulina A secretora sIgA, oligosacarpideos [Os], lactoferrina, lisozima, citocinas, fatores de crescimento, vesículas extracelulares e micro-RNAs). A sIgA materna é crucial, dada sua afinidade para se ligar a bactérias nocivas que causam inflamação, como Enterobacteriaceae , e promover o crescimento de anaeróbios obrigatórios, como Bacteroides e Firmicutes (pasteurização do leite de doadoras humanas não apenas reduz a quantidade de IgA, mas também sua capacidade de se ligar a bactérias e assim, o intestino também pode se tornar mais propenso a lesões com uma quantidade maior de bactérias não ligadas à IgA). Esses componentes que oferecem proteção mostram heterogeneidade de mãe para mãe e, em alguns casos, podem não estar presentes em quantidades protetoras. Os HMOs estão implicados no crescimento de Bifidobacteriaceae , que convertem HMOs em ácidos graxos de cadeia curta (AGCC e esses  servem como fonte de energia para o epitélio intestinal, atuado como imunorreguladores e inibem a adesão bacteriana ao epitélio intestinal. Vale a pena perguntar por que alguns bebês prematuros que recebem exclusivamente leite humano desenvolvem lesões intestinais? Estudos mostraram  que a concentração de HMO disialil-lacto-N-tetraose (DSLNT) foi significativamente menor em leite da própria mãe em casos de bebês prematuros desenvolvendo “NEC”, em comparação com os controles. A presente perspectiva elucida algumas razões pelas quais o leite materno nem sempre protege contra a “NEC”.