Nutrição enteral do pré-termo: incertezas e controvérsias (26º  Congresso de Perinatologia ocorrido em  Florianópolis (SC)  entre os dia 11-14 de outubro de 2023)

Nutrição enteral do pré-termo: incertezas e controvérsias (26º  Congresso de Perinatologia ocorrido em  Florianópolis (SC)  entre os dia 11-14 de outubro de 2023)

Palestra administrada por Neena Modi (Reino Unido) no 26º  Congresso de Perinatologia ocorrido em  Florianópolis (SC)  entre os dia 11-14 de outubro de 2023.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Entre as incertezas, o aporte proteico e o uso de leite pasteurizado de doadora. A ingesta proteica de 3,5 a 4,5 g/kg/dia é excessiva e perigosa para os prematuros. A própria fortificação do leite humano, em alguns  bebês pode excede 5g/kg/dia. A alta ingesta de proteína é muito perigosa. Quanto ao neurodesenvolvimento, comparando uma oferta proteica de 3,4 x 2,6 g/kg de proteína, o grupo com maior oferta proteica  teve, significativamente  mais neurodesabilidade moderada a severa (RR ajustado de 1,95), mais moderado a severo atraso cognitivo (RR ajustado de 3,81) e menor escore Bayley III de linguagem (89,4 versus 92,5). Esse estudo representa uma evidência mais recente de alta qualidade que nos sugere ter o cuidado de dar proteína extra aos bebês. Há evidência de que exceder um aporte proteico acima de 2,5g/kg/dia de aminoácidos na primeira semana de vida pós-natal coloca em risco o neurodesenvolvimento e deve ser provavelmente evitado. Ureia sanguínea abaixo de 2 mmol/L sugere aporte inadequado de proteína. Acima de 5,7mmol/L, na ausência de lesão renal ou hemorragia gastrointestinal sugere uma ingesta proteica muito alta. O segundo ponto polêmico: leite pasteurizado de doadoras: o leite da própria mãe é o melhor para os bebês, principalmente os prematuros mas frequentemente há um volume inadequado disponível. O aleitamento materno é a medicina personalizada. Há evidências de qualidade moderada de que a alimentação com fórmula, particularmente fórmula para prematuros, em comparação com leite materno de doadora aumenta as taxas de ganho de peso, crescimento linear e crescimento da cabeça em bebês prematuros ou com baixo peso ao nascer hospitalizados. No entanto, o risco de enterocolite necrosante é maior com fórmula (1,87, IC 95% 1,23 a 2,85). Quanto ao neurodesenvolvimento: mais crianças no grupo de leite doado (27,2%) apresentavam pontuações compostas cognitivas indicativas de neurocomprometimento (<85) em comparação com o grupo de fórmula (16,2%). Estudo a ser publicado mostrou chance de sobrevida a 34 semanas de idade gestacional pós menstrual foi maior naqueles que receberam leite  da própria mãe e/ou fórmula (n=7058) versos aqueles que receberam leite da própria mãe  e /leite pasteurizado de doadora (n=967). Ficamos muito surpresos com esses dados, mas não podemos ignorá-los. Também não houve diferença na composição corporal entre fortificantes do leite materno com a proteína do leite de vaca versus a proteína do leite humano. Termina a Palestra abordando a comercialização industrial de leite pasteurizado de doadoras (caríssimo). A comercialização do leite humano está perpetuando a diferenças socioeconômicas (mulheres ricas podem pagar por esse produto caro de mulheres que não se beneficiam desse produto para o crescimento de seus bebês!). Esses fatos não são nada edificantes e éticos! Na nossa Unidade priorizamos SEMPRE o leite da própria mãe e caso insuficiente, pelo menos inicialmente, usamos leite materno pasteurizado de doadoras. As fórmulas devem ser evitadas na UTI Neonatal por várias razões entre as quais o risco maior de abundância significativa de genes de resistência a antibióticos (aumento de 70% em relação aos bebês alimentados apenas com leite materno ou alimentados com leite  pasteurizado de doadoras suplementado com fortificante tanto com a proteína do leite humano como a proteína bovina). Nos casos em que os bebês precisam de nutrição suplementar, a adição de fortificante ao leite humano pasteurizado pode ter menos impacto no potencial de resistência a antibióticos do que a mudança para a fórmula.