Uso Racional de Antibióticos nas Unidades Neonatais
Marta David Rocha de Moura
A resistência antimicrobiana é um desafio global que contribuiu para 5 milhões de mortes em 2019, sendo a sepse neonatal responsável por 25% das mortes de recém-nascidos (RN) mundialmente.O diagnóstico de sepse é difícil devido a sinais clínicos inespecíficos e baixa acurácia dos exames. A maior parte do uso de antibióticos na UTIN é EMPÍRICA, levando 83% a 94% dos RN tratados por suspeita de sepse em países de alta renda a terem hemoculturas negativas. A coleta de culturas (hemocultura, líquor, urina) deve preceder o início dos antibióticos. É crucial colher no mínimo 1 mL de sangue por amostra para a hemocultura.A terapia deve ser, individualizada, e é mandatório adequar o antibiótico conforme o microrganismo e o antibiograma após o resultado das culturas. A duração ideal da terapia empírica foi reduzida para 36 a 48 horas. O tratamento empírico prolongado (≥ 5 dias) em RN de extremo baixo peso associa-se ao aumento de enterocolite necrosante (ECN) e morte. A regra geral é dizer NÃO às cefalosporinas de terceira geração, carbapenêmicos (como meropenem) e glicopeptídeos (vancomicina). Cefalosporinas de 3ª Geração devem ser evitadas empiricamente, pois seu uso está ligado à emergência de enterobactérias produtoras de ESBL. Os carbapenêmicos são fortes indutores de resistência e alteram profundamente a microbiota dos RNs; devem ser restritos. A vancomicina empírica se justifica somente em UTINs com alta prevalência de Staphylococcus aureus resistente à meticilina/oxacilina (MRSA). Deve ser suspensa se o microrganismo for sensível a outras drogas. O objetivo ideal é que somente bebês com infecção comprovada recebam antibióticos. Tratar colonização é a maior causa do excesso de uso de antimicrobianos (ex: tratar bacteremia, e não a cultura de ponta de cateter). A disbiose (alteração do microbioma) induzida por antibióticos está associada à consequências de curto e longo prazo, incluindo o aumento do risco de ECN e morte, redução do ganho de peso e estatura em meninos, aumento de Distúrbios Gastrointestinais Funcionais (FGIDs), e é um fator de risco independente para asma atópica aos 12 anos de idade. Eventuais erros estarão corrigidos na página neonatal www.paulomargotto.com.br. Passe por lá, você também!
