Categoria: Distúrbios Neurológicos

Manuseio do Recém-Nascido na Sala De Parto

Manuseio do Recém-Nascido na Sala De Parto

Ola Didrik Saugstad , University of Oslo, Noruega, ocorrida no dia 27/3/2021 por ocasião do VI Encontro Internacional e Neonatologia, sob Coordenação Geral dos Drs. Rita Silveira e Renato Procianoy (RS), 100% online.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O que queremos  dizer com o Minuto de Ouro? Quando devemos começar o Minuto de Ouro? Quando os ombros saem?  Quando o cordão umbilical é cortado? Quando o bebê está na mesa de reanimação? Acho que temos que concordar  que devemos  começar o cronômetro quando o bebê saiu. O Minuto de Outro é dividido  em duas partes e cada uma delas com um tempo de 30 segundos (na primeira parte: secar o bebê,  mantê-lo quente e se < 28 semanas enrolar em plástico, estimular a respiração se necessário  e a via aérea deve ser posicionada  na posição correta;  devemos monitorar a frequência cardíaca (FC) e frequência respiratória (FR) e  nos próximos 30 segundos  devemos estabelecer  o suporte  respiratório se necessário  e colocar o oxímetro de pulso  se for necessário  e disponível. É possível conseguir isso  durante o Minuto de Ouro? É difícil estabelecer a primeira ventilação dentro  de um minuto, mas é possível fazer  isso em torno de 60 -70 segundos de vida! O Minuto de Ouro é influenciado pelo IMC da mãe (há um aumento linear com a morte perinatal),  uso do corticosteroide  pré-natal (mesmo que não haja tempo para um curso completo, mesmo assim o corticoide deve ser administrado e o tipo de parto (a taxa ótima de cesariana está entre 10-20%).Entre as novas recomendações: não indicado insuflação sustentada acima de 5 segundos, considere interromper a reanimação após 20 minutos do nascimento se não houver  nenhuma reação, batimento cardíaco (antes era 10 minutos!). Ao invés de contarmos  a FC só 6 segundos, conte por 10 segundos e essa falta de precisão  da avaliação da FC pela ausculta pode ser eliminada. A ausculta é o padrão ouro para  avaliar a FC ao nascimento, pelo menos inicialmente,  antes de estabelecer o ECG e a oximetria de pulso. Em relação ao clampeamento do cordão, em 60 segundos, 70% do sangue é transfundido da placenta para o bebê devendo o cordão umbilical ser clampeado depois de 1 minuto. Metanálise de 19 estudos mostrou benefício nos prematuros com o clampeamento tardio de 30 segundos. A ventilação  com o cordão intacto  é factível, mas  não levou  a nenhuma melhora  clínica imediatamente após o parto e nem  reduziu a morbidade neonatal subsequente. Quanto à ordenha do cordão: para os bebês d<27 semanas ocorreu  4 vezes mais  hemorragia intraventricular grave   no grupo da ordenha principalmente  7 dias após o (22% [20/93] vs 6% [5/89]-p=0,002). O benefício do clampeamento fisiológico, ou seja, começa a ventilar o bebê  e depois cortar o cordão,  foi demonstrado muito bem  no estudo animal de  Hooper S  em Melbourne há alguns anos. Se você cortar o cordão antes de ventilar, a pressão arterial aumenta muito e  também o fluxo carotídeo aumenta. Por outro lado se você clampeia  o cordão após a ventilação  não há aumento significativo da pressão arterial  ou no fluxo carotídeo. Quanto à oxigenação: o clampeamento tardio do cordão aumenta mais rapidamente a Saturação de O2,  os bebês < 32 semanas em CPAP chegam a uma saturação  de 80% em 1 minuto mais cedo do que se não estiver em CPAP, as meninas alcançam  Saturação de O2 de 80% 1 minuto antes dos meninos!  Iniciando com saturação alta e baixa, observou-se que ambos os grupos alcançaram saturação de 80% mais ou menos ao mesmo tempo. Isso ilustra que talvez não seja tão importante  quanto você começa. O mais importante  é como você ajusta a FiO2  para chegar a saturação de 80%. No entanto, devido a tantos riscos adversos potenciais começando com FiO2 alta, sugere  que ainda   comece  com FiO2 baixa  (30%). É importante manter os bebês em instabilidade térmica (envolver em sacos plásticos os <28 semanas).

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens: Hemorragia intraventricular, Hidrocefalia e Leucomalácia periventricular no recém-nascido a termo

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens: Hemorragia intraventricular, Hidrocefalia e Leucomalácia periventricular no recém-nascido a termo

Paulo R. Margotto.

Recém-nascido (RN) de 38 semanas, 2690g, cesariana (centralização fetal/sofrimento fetal, oligohidraminia, líquido amniótico meconial), Apgar de 7/8, Suporte respiratório consistiu de CPAP nasal.

Apresentou  HIPOGLICEMIA PERSISTENTE e REFRATÁRIA nos primeiro 7 dias de vida, havendo necessidade de uso de TIG de 12 mg/kg/min de glicose, hidrocortisona e octreotide (este por 9 dias), no entanto não se confirmando hiperinsulinismo (Insulina: 15,4 µmol/mL). Estudo genético não identificou possível  defeito de beta oxidação ou doença mitocondrial.

 

Exposição pré e pós-natal ao paracetamol em relação ao espectro do autismo e sintomas de déficit de atenção e hiperatividade na infância: metanálise em seis coortes populacionais europeias

Exposição pré e pós-natal ao paracetamol em relação ao espectro do autismo e sintomas de déficit de atenção e hiperatividade na infância: metanálise em seis coortes populacionais europeias

Prenatal and postnatal exposure to acetaminophen in relation to autism spectrum and attention-deficit and hyperactivity symptoms in childhood: Meta-analysis in six European population-based cohorts.Alemany S, Avella-García C, Liew Z, García-Esteban R, Inoue K, Cadman T, López-Vicente M, González L, Riaño Galán I, Andiarena A, Casas M, Margetaki K, Strandberg-Larsen K, Lawlor DA, El Marroun H, Tiemeier H, Iñiguez C, Tardón A, Santa-Marina L, Júlvez J, Porta D, Chatzi L, Sunyer J.Eur J Epidemiol. 2021 May 28. doi: 10.1007/s10654-021-00754-4. Online ahead of print.PMID: 34046850. Artigo Gratuito!

Realizado por Paulo R. Margotto

 

Os resultados da nossa metanálise representando mais de 70.000 crianças de seis coortes de nascimentos / crianças de base populacional europeia indicaram que as crianças expostas ao paracetamol no período pré-natal tinham 19% e 21% de probabilidade de apresentarem, subsequentemente, ASC e sintomas de TDAH dentro da faixa limítrofe / clínica, respectivamente, em comparação com crianças não expostas.

Ao estratificar por sexo, essas associações foram ligeiramente mais fortes entre os meninos em comparação com as meninas.

A exposição pós-natal ao paracetamol não foi associada a nenhum dos resultados, embora houvesse evidência de heterogeneidade entre os estudos para a associação com sintomas de ASC.

O padrão mais consistente de resultados foi observado para a associação entre exposição pré-natal ao paracetamol e sintomas de TDAH.

Caso clínico: Colestase Neonatal (e lesão dos núcleos da base pela Encefalopatia hipóxico-isquêmica)

Caso clínico: Colestase Neonatal (e lesão dos núcleos da base pela Encefalopatia hipóxico-isquêmica)

Apresentação: Jamille Coutinho Alves (R4 Neonatologia/HMIB/SES/DF). Coordenação: Miza Vidigal

         COLESTASE

  • Nos recém-nascidos, especialmente nos prematuros, que requerem nutrição parenteral prolongada, a alteração hepática que cursa com colestase representa um importante problema, tão cedo como duas semanas.
  • Uma complicação da nutrição parenteral é a lesão hepática, principalmente nas crianças com exigência de longo tempo de nutrição parenteral total devido a enterocolite necrosante, cirurgia gastrintestinal, síndrome do intestino, condições que levam a problemas inflamatórios, profilaxia com fluconazol, dificuldade de nutrição enteral (cada 10 mL/kg de aumento na dieta significa uma redução de risco de 34% de colestase associada a nutrição parenteral), dismotilidade intestinal, maior ingesta de carboidratos e lipídios (pelo maior risco de esteatose hepática), efeitos tóxicos dos componentes da nutrição parenteral ou falta de nutrientes específicos e os relacionados à doença do paciente.
  • Nos recém-nascidos, especialmente nos prematuros, que requerem nutrição parenteral prolongada, a alteração hepática que cursa com colestase representa um importante problema, tão cedo como duas semanas.
  • Uma complicação da nutrição parenteral é a lesão hepática, principalmente nas crianças com exigência de longo tempo de nutrição parenteral total devido a enterocolite necrosante, cirurgia gastrintestinal, síndrome do intestino, condições que levam a problemas inflamatórios, profilaxia com fluconazol, dificuldade de nutrição enteral (cada 10 mL/kg de aumento na dieta significa uma redução de risco de 34% de colestase associada a nutrição parenteral), dismotilidade intestinal, maior ingesta de carboidratos e lipídios (pelo maior risco de esteatose hepática), efeitos tóxicos dos componentes da nutrição parenteral ou falta de nutrientes específicos e os relacionados à doença do paciente       NECROSE NEURONAL SELETIVA
    • gânglia basal: muito vulnerável a hipoperfusão. Os núcleos mais consistentemente e severamente envolvidos são o putamen, o globus pallidus e o tálamo. A lesão neuronal a gânglia basal resulta em uma lesão característica, que é o status marmoratus. A patogênese parece agora estar relacionada primariamente com a morte neuronal glutamato-induzida.
    • Esta lesão afeta mais RN a termo (em RN prematuro ocorre em menos de 5%). A hipermielinização, que é característico da lesão, confere o aspecto marmoráceo da gânglia basal e daí vem o termo status marmoratus ou état marbré. Os núcleos mais severamente envolvidos no status marmoratus são o putamen, particularmente a sua porção dorsal, o globus pallidus e o tálamo (esta distribuição é diferente do padrão de lesão da gânglia basal que ocorre no kernicterus, no qual predomina a lesão no globus pallidus e núcleos subtalâmicos). Grandes alterações ocorrem no tálamo em 80-90% dos casos, ocorrendo o envolvimento do córtex em aproximadamente 60% dos casos.
Usos Práticos da Espectroscopia Infravermelha Próximo (NIRS) na UTI Neonatal: A Experiência de Stanford

Usos Práticos da Espectroscopia Infravermelha Próximo (NIRS) na UTI Neonatal: A Experiência de Stanford

Krisa van Meurs (EUA).

Conferência ocorrida no dia  27/3/2021 por ocasião do VI Encontro Internacional e Neonatologia, sob Coordenação Geral dos Drs. Rita Silveira e Renato Procianoy (RS), 100% online.

Realizado por Paulo R. Margotto.

O NIRS é uma monitorização da oxigenação tecidual regional contínua em tempo real não invasiva (dá a medida não invasiva da relação oxigenação e perfusão dos órgãos). É mais usada para cérebro (rScO2), rim (rSO2) e tecidos esplâncnicos.  Assim, com bases nessas informações, a zona segura é saturação cerebral entre 55 e 85% e a área de cautela, quando a saturação cerebral estiver está entre 45-55% e a zona de perigo, quando a saturação está <45%. Quais bebês podem se beneficiar da monitorização do NIRS: prematuros abaixo de 29 semanas de gestação, bebês com suspeita de PCA hemodinamicamente significativo, encefalopatia hipóxico-isquêmica, hemorragia intraventricular grau  III/IV, cardiopatia congênita complexa, hérnia diafragmática congênita, recém-nascidos criticamente doentes com instabilidade hemodinâmica (pré-ECMO ou ECMO), gastrosquise com silo em redução. Na hipocapnia, há baixa da rScO2 (vasoconstrição cerebral. Na persistência do canal arterial (PCA) hemodinamicamente significativa, baixa rScO2 e alta extração cerebral de oxigênio (devido a um escape ductal e isto altera a perfusão do cérebro e demais órgãos). Na encefalopatia hipóxico-isquêmica, a saturação cerebral alta e a extração cerebral de oxigênio baixa, reflexo da falha secundária de energia com redução do consumo de oxigênio pelo cérebro muito lesado. alta saturação de oxigênio cerebral por 24 horas associa-se desfecho do neurodesenvolvimento ruim. A saturação de oxigênio cerebral  acima de 90% nesse bebe com severa encefalopatia hipóxico-isquêmica é devida à diminuição da extração de oxigênio pelo cérebro severamente lesado. Valores baixos de saturação cerebral no NIRS pode estar relacionados a  excesso de sangue  venoso  na área da hemorragia  ou a diminuição da circulação. A correlação do EEG (anormal) com o NIRS pode ser útil.

NIRS é uma medida útil não invasiva de oxigenação e perfusão de órgãos  que dá informações importantes  sobre o equilíbrio  do aporte  e consumo de oxigênio. Nos complementos, os bebês prematuros com hipotensão tratados com altas doses de dopamina, aqueles nos quais  a saturação cerebral ficou  abaixo de 50% por mais de 10% do tempo, associou-se a um pior desfecho do neurodesenvolvimento e desses mesmos atores, saturação cerebral abaixo de 55% ou menor do que 1,5 desvio padrão nos prematuros estava associado com pior desfecho após 24 meses. Foi calculado que para cada 1% do tempo gasto abaixo do limiar houve um aumento de 2% na chance de resultado cognitivo adverso ou morte.

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens: Lesões ultrassonográficas na Infecção por Herpes simples

NEUROSSONOGRAFIA NEONATAL- Compartilhando imagens: Lesões ultrassonográficas na Infecção por Herpes simples

Paulo R. Margotto.

Recém-nascido (RN) do dia 1/4/2021, cesariana (DPP e suspeita de corioamnionite), sem rotura prematura de membranas, 30 sem 1 dia, 1215g, Apgar 8/9, microcefalia. Não foi solicitado exame histológico da placenta. Ao nascer, lesões erosivas e bolhosas, com suspeita de epidermólise, mas não se confirmou, pois as lesões evoluíram para a melhora completa. A sorologia para toxoplasmose mostrou IgM positiva e iniciado o tratamento específico, fundo de olho evidenciou corrioretinite. A tomografia de crânio mostrou calcificações difusas e atrofia cerebral. As sorologias posteriormente repetidas excluíram toxoplasmose congênita. Assim, outras sorologias foram realizadas mostrando não reagentes para CMV, Zika vírus, Chikungua, Rubéola e Dengue. Aos 6 dias de vida apareceram lesões vesiculares na mão direita, similares a de herpes (foto) Aos 23 dias de vida a sorologia para Herpes 1 e 2 e tanto o RN quanto a mãe tiveram resultados reagentes (IgM e IgG). LCR (hemorrágico-1007 hemácias). Com isso, iniciado tratamento com Aciclovir aos 26 dias de vida. Quanto à lesão ocular, RN fez uso 7 dias de Prednisolona, evoluindo com sinais de coriorretinite cicatrizada. E para o olho com lesão de córnea, foi utilizado Vigamox por 7 dias, Regencel por 14 dias e Aciclovir por 5 dias. Segue em acompanhamento com a oftalmologia. No teste do pezinho evidenciou hipotireoidismo congênito e erro inato do metabolismo (em investigação, a pesquisa de ácidos orgânicos). O TSH foi repetido por duas vezes com valores altos e T4 livre baixo, sendo assim iniciado levotiroxina. Em uso de megavitaminas.

A maioria dos bebês prematuros com mudanças císticas no cérebro vistas no nascimento ou mais tarde, durante as primeiras semanas de vida, a conhecida leucomalácia periventricular é devido a um insulto cerebral isquêmico, mas a infecção intrauterina também deve ser considerada como uma possível causa. A possibilidade de um processo infeccioso estar presente em uma criança com encefalomalácia seria sustentada pelo achado de calcificação intracraniana e, no caso de infecção por Herpes Vírus Simples, pela presença de lesões cutâneas.

 

Resultados em idade escolar após hemorragia intraventricular em bebês nascidos extremamente prematuros

Resultados em idade escolar após hemorragia intraventricular em bebês nascidos extremamente prematuros


Schoolage outcomes following intraventricular haemorrhage in infants born extremely preterm.

Hollebrandse NL, Spittle AJ, Burnett AC, Anderson PJ, Roberts G, Doyle LW, Cheong JLY.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2021 Jan;106(1):4-8. doi: 10.1136/archdischild-2020-318989. Epub 2020 Jul 30.PMID: 32732377. Australia.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Crianças nascidas extremamente prematuras (EP; <28 semanas de idade gestacional (IG)) estão em risco de hemorragia intraventricular (HIV). HIV grau 3 ou 4 reflete patologia mais grave e está associado a deficiências de neurodesenvolvimento subsequentes. O neurodesenvolvimento de longo prazo de bebês com HIV grau 1 ou 2 é menos claro, com resultados conflitantes relatados até o momento. No entanto, a maioria dos estudos tem associado apenas a HIV com resultados iniciais nos primeiros anos de vida, uma idade quando não é possível medir resultados como funcionamento executivo (FE) ou habilidades acadêmicas, que surgem durante a infância. A partir de um estudo de coorte de base populacional no Estado de Victoria, Austrália, envolvendo recém-nascidos sobreviventes com <28 semanas de idade gestacional (n = 546) e recém-nascidos controles a termo (n = 679) de três eras distintas, a saber, aqueles nascidos em 1991-1992, 1997 e 2005 (foi considerado o pior grau de HIV detectado no ultrassom craniano seriado) mostrou, aos 8 anos de idade: as crianças que apresentaram  com HIV grau 1 ou 2 estavam em maior risco de desenvolvimento de paralisia cerebral do que aqueles sem HIV (OR 2,24, IC 95% 1,21 a 4,16). Esse estudo contribui para uma compreensão crescente do impacto negativo da HIV de baixo grau no desenvolvimento motor. Isso enfatiza a importância do acompanhamento de longo prazo e intervenção precoce em crianças com HIV, bem como aconselhamento aos pais Recentes evidências sugerem uma ligação entre HIV graus 2-3 e lesões na substância branca identificadas na ressonância magnética. Se a ligação entre leve HIV e função motora na infância é mediada, mesmo em parte, pela lesão na substância branca neonatal, pode abrir outras oportunidades para minimizar a consequência dessas hemorragias mais brandas. Juntas, essas observações abrem novos caminhos para investigar se baixos graus de HIV também podem ser candidatos para intervenções de reabilitação precoce para melhorar os resultados em longo prazo.

Intervenções nutricionais para melhorar os resultados cerebrais em bebês prematuros (Nutrition interventions to improve brain outcomes in preterm infants)

Intervenções nutricionais para melhorar os resultados cerebrais em bebês prematuros (Nutrition interventions to improve brain outcomes in preterm infants)

Nicholas Embleton,  Newcastle, University, United Kingdon

VI Encontro Internacional e Neonatologia, sob Coordenação Geral dos Drs. Rita Silveira e Renato Procianoy (RS), 100% online em 27 de março de 2021

Realizado por Paulo R. Margotto

A nutrição é mais do que nutriente! Os humanos têm cérebro muito grande e tem alta demanda, razão pela qual vejam como é fácil nutrir mal os nossos bebes!

O ambiente da UTI é complexo e o deficiente status nutricional é comum.

Precisamos enfocar muito na questão do cérebro ao nutrir o nosso bebê. Temos apenas um cérebro na vida que tem rápido crescimento. Para cada 10 calorias/kg/dia  a mais  de ingesta energética  na primeira semana de vida  houve  aumento de 4,6 do índice de desenvolvimento mental  de 8,2 para cada  grama extra de proteína. Para cada  10 cal/kg/ dia a mais, 24% a menos de retinopatia da prematuridade.

Uma nutrição fortificada associa-se a melhor maturação da substância branca, em especial o fascículo  longitudinal superior que é importante  para o controle motor, percepção e linguagem.

O leite materno, de preferência, o da própria mãe, tem papel transcendental no desenvolvimento cerebral (maior desenvolvimento da substancia branca, em especial do núcleo caudado, resultando em maior QI aos 16 anos de idade).

Portanto uma nutrição melhor é a chave para a sobrevida e a medida que mais bebês sobrevivem vamos ter que ter cuidado com o cérebro e para isso maximizar o leite própria da mãe, adequada ingesta proteica e de  energia, além da  certeza da oferta dos micronutrientes.

A complexidade do leite humano é impressionante! O leite humano contém leucotrienos, prostaciclinas, tromboxane, muitos aminoácidos e outros elementos, como diferentes fosfolipídios, esfingolipídios, ácidos graxos, nucleotídeos, IGF-1. Nada disso tem na fórmula. Tem mais de 200 tipos diferentes de oligossacarídeos, fatores que de crescimento que podem modular as atividades das bactérias no intestino, além de citocinas.

Todos vocês sabem como é complexa a Assistência Neonatal e todos os dias discutimos temas como  temperatura, antibiótico, CPAP, alto fluxo, ventilação, gases sanguíneos   e a nutrição, muitas vezes acaba sendo esquecida. O foco  é na  assistência cardiorrespiratória.

Temos sim que discutir a nutrição dos nossos prematuros nas nossas visitas. Na UTI não temos monitores que nos dizem  quanto estamos acertando   em dar energia  e proteína e outros nutrientes, ou seja, a  MÁ NUTRIÇÃO É INVISÍVEL

Dieta exclusiva com leite humano reduz a incidência de grave hemorragia intraventricular em bebês com peso extremamente baixo

Dieta exclusiva com leite humano reduz a incidência de grave hemorragia intraventricular em bebês com peso extremamente baixo

Exclusive human milk diet reduces incidence of severe intraventricular hemorrhage in extremely low birth weight infants. Carome K, Rahman A, Parvez B.J Perinatol. 2021 Mar;41(3):535-543. doi: 10.1038/s41372-020-00834-5. Epub 2020 Sep 30.PMID: 32999446. Estados Unidos.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Os autores relataram  uma incidência significativamente menor de hemorragia intraventricular/leucomalácia periventricular (HIV / LPV) graves combinados no grupo leite humano exclusivo em comparação com o grupo não leite humano exclusivo (7 vs. 18%, p = 0,006). Uma subanálise foi feita dentro do grupo leite humano exclusivo para avaliou se o tipo de leite (da própria mãe exclusivo ou leite humano pasteurizado, teve um impacto diferente no resultado primário, sendo evidenciado que a incidência de HIV / LPV grave foi semelhante e independente tipo de leite recebido. Esse achado sugere que  fatores do leite humano com a hipótese de serem protetores contra HIV / LPV graves não foram perdidos no processo de pasteurização. As citocinas presentes no colostro e no leite materno cruzam a barreira intestinal e desempenham um importante papel imunológico e antiinflamatório. O fator transformador de crescimento β (TGF-β) é a família de citocinas mais abundante encontrada no leite materno desempenha um papel importante na estabilização da barreira hematoencefálica e o rompimento da via do TGF-β em modelos de camundongo induz a HIV. Tanto o colostro quanto o leite materno também contêm fatores de crescimento que estimulam a proliferação e maturação celular, incluindo o fator de crescimento epidérmico (EGF). Foi demonstrado que o EGF entra na circulação em bebês prematuros, liga-se aos receptores do EGF (EGFR) no cérebro e desempenha um papel na diferenciação dos astrócitos. Essas células fornecem força e estabilidade para a barreira hematoencefálica,  do EGF promover a proliferação das células progenitoras dos oligodendrócitos, aumentando a mielinização após a HIV. Mais evidência da importância a nutrição no cuidado dos prematuros extremos e a necessidade do apoio contínuo  ao aleitamento materno, maior acesso ao leite humano pasteurizado de mães doadoras se o leite da própria mãe não estiver disponível e em algum momento, fortificá-lo em todas as UTI Neonatais que cuidam de bebês de extremo baixo peso. São indivíduos que viverão 80-90 anos  e que passam pelas nossas mãos!

Resultados em idade escolar após hemorragia intraventricular em bebês nascidos extremamente prematuros

Resultados em idade escolar após hemorragia intraventricular em bebês nascidos extremamente prematuros


School
age outcomes following intraventricular haemorrhage in infants born extremely preterm.

Hollebrandse NL, Spittle AJ, Burnett AC, Anderson PJ, Roberts G, Doyle LW, Cheong JLY.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2021 Jan;106(1):4-8. doi: 10.1136/archdischild-2020-318989. Epub 2020 Jul 30.PMID: 32732377. Australia. 

Realizado por Paulo R. Margotto.

Os pacientes envolvidos foram recém-nascidos sobreviventes com <28 semanas de idade gestacional (n = 546) e recém-nascidos controles a termo (n = 679) de três eras distintas, a saber, aqueles nascidos em 1991-1992, 1997 e 2005. Nessa coorte, 27,7% das crianças que sobreviveram até a idade de 8 anos, 33,7% dos avaliados dos avaliados foram diagnosticados com HIV. Crianças com grau 1 ou 2 de HIV estavam em maior risco de desenvolvimento de paralisia cerebral do que aqueles sem HIV (OR 2,24, IC 95% 1,21 a 4,16) aos 8 anos de idade, achado esse já relatado por outros autores. Esse achado enfatiza a importância do acompanhamento de longo prazo e intervenção precoce nos prematuros extremos com HIV leve, bem como aconselhamento aos pais. E as possíveis causas: a) destruição da matriz germinativa, ocasionando deficiente desenvolvimento cortical (entre 10-24 semanas de gestação, a migração neuronal se completou, mas a matriz germinativa provê precursores gliais que se tornarão oligodendrócitos e astrócitos) b) prejuízo cerebelar semelhante a HIV grave, além de comprometimento microestrutural severo em regiões periventriculares, como evidenciado pelo estudo por tratografia.