Categoria: Farmacologia Neonatal

Editorial Convulsões neonatais. Tratar! Mas quando, com o quê e por quanto tempo?

Editorial Convulsões neonatais. Tratar! Mas quando, com o quê e por quanto tempo?

Neonatal seizures. Treat! But when, with what and for how long? Hunt RW. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2023. PMID: 37527943 No abstract available.

Realizado por Paulo R. Margotto

Claramente, o uso de ASMs após a alta hospitalar requer uma forte justificativa. O caminho para o desenvolvimento de novos medicamentos também é longo e desafiador, mas existem recomendações recentes para o fenobarbital como terapia de primeira linha, em parte porque faltam evidências de algo mais seguro e eficaz. Sewell et al 1 concluem que ‘são necessários mais estudos sobre a eficácia e os efeitos a longo prazo do tratamento de ASM’… eles são absolutamente. No tratamento das convulsões neonatais, temos que continuar nos esforçando para melhorar.

Medicação anticonvulsivante na alta de lactentes com encefalopatia hipóxico-isquêmica: um estudo observacional

Medicação anticonvulsivante na alta de lactentes com encefalopatia hipóxico-isquêmica: um estudo observacional

Antiseizure medication at discharge in infants with hypoxicischaemic encephalopathy: an observational studySewell EK, Shankaran S, McDonald SA, Hamrick S, Wusthoff CJ, Adams-Chapman I, Chalak LF, Davis AS, Van Meurs K, Das A, Maitre N, Laptook A, Patel RM; National Institute of Child Health and Human Development Neonatal Research Network.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2023 Jul;108(4):421-428. doi: 10.1136/archdischild-2022-324612. Epub 2023 Feb 2.PMID: 36732048.

Correspondência para Dra. Elizabeth K Sewell, Pediatria, Escola de Medicina da Universidade Emory, Atlanta, GA 30306, EUA; elizabeth.sewell@emory.edu

Realizado por Paulo R. Margotto

O QUE JÁ SE SABE SOBRE ESSE TÓPICO

  • A medicação anticonvulsivante (ASM) pode ser neurotóxica, e a duração do tratamento com ASM para convulsões sintomáticas agudas em recém-nascidos varia entre os centros.
  • A descontinuação de ASM antes da alta em neonatos com convulsões resolvidas não aumenta o risco de epilepsia.
  • Um estudo anterior em recém-nascidos com convulsões sintomáticas agudas sugere que a interrupção antes da alta não aumentou o risco de incapacidade funcional.

O QUE ESTE ESTUDO ACRESCENTA

  • Entre as crianças com encefalopatia hipóxico-isquêmica (HIE) e convulsões tratadas com ASM, a alta em ASM pode estar associada a um maior risco de morte ou incapacidade.

COMO ESTE ESTUDO PODE AFETAR PESQUISAS, PRÁTICAS OU POLÍTICAS

  • Dado o baixo risco de epilepsia nessa população em comparação com outras causas de convulsões sintomáticas agudas em neonatos, nossos dados sugerem que algumas crianças com convulsões resolvidas associadas à EHI podem não justificar os riscos potenciais de ASM continuada na alta.
  • Mais estudos são necessários para identificar bebês com alto risco de epilepsia que podem ter um maior benefício do tratamento continuado com ASM após a alta.
Lesão Renal Aguda Neonatal em 2023 – o que sabemos, o que precisamos aprender?

Lesão Renal Aguda Neonatal em 2023 – o que sabemos, o que precisamos aprender?

Palestra proferida pelo David J Askenazi (EUA) no III Encontro Internacional de Neonatologia realizado em Gramado (RS), entre os dias 13 e 15 de abril de 2023. Coordenação Geral: Drs. Renato Procianoy e Rita Silveira (RS).

Realizado por Paulo R. Margotto.

 

É comentado o estudo AWAKEN (Assessment, Worldwide, Acute, Kidney, Epidemiology Neonates – Avaliação Mundial da Epidemiologia da Lesão Renal Aguda em Neonatos): Trata-se de um estudo multicêntrico retrospectivo envolvendo 24 UTIs Neonatais de nível 2-4, que compõem o Neonatal Kidney Collaborative (NKC), envolvendo 4 países com 2022   bebês estudados.A incidência de LRA foi em torno de 30%, com importante impacto na idade gestacional e mortalidade de 9,7% (  4,6 vezes mais em relação aos que não apresentaram LRA) prolongamento da internação hospitalar ( em torno de 9 dias a  mais). Usando dados da coorte do estudo PENUT(Preterm Erythropoietin Neuroprotection Trial), os bebês<28 semanas aos 2 anos, 18% dos RN tiverem doença renal crônica, 36% tiveram albuminúria, 22% tiveram elevada pressão sistólica e 44% elevada pressão diastólica. Outros relataram que 65% dos bebes com LRA apresentaram disfunção renal aos 5 meses. É recomendado que pacientes com história de LRA tenham uma avaliação de DRC três meses após o evento de LRA. A prematuridade e baixo peso ao nascer impactaram na lesão renal aguda quando inclusive nas idades de  50-60-80 anos de idade (baixo peso ao nascer é um fator de risco para toda a vida para doença renal crônica-eles têm número inferior de néfrons). A sobrecarga hídrica é a razão pela qual muitos pacientes neonatais e pediátricos recebem Terapia de Suporte Renal. O balanço hídrico positivo tem sido associado a desfechos ruins (4,95 vezes maior de mortalidade).Interessante: a creatinina sérica não é uma medida de lesão e sim de função. Pode ter um paciente com uma lesão renal e não ter mudança na função e ao contrário também, mudança na função renal sem lesão. Então os biomarcadores vão nos permitir fazer o diagnóstico de LRA de forma melhor. Quanto às xantinas: a adenosina atua como metabólito que causa vasoconstricção no rim após hipoxia causando queda na filtração glomerular e fator de filtração. As metilxantinas o são antagonistas não específicos do receptor de adenosina. Os bebês que receberam cafeína foram menos propensos a desenvolver LRA em estágio 2 ou 3 (odds ratio ajustado, 0,20; IC 95%, 0,12-0,34). Na Encefalopatia hipóxico isquêmica, a teofilina reduziu a LRA em 60% (RR: 0.40 (0,30-0,54), estudo feito sem hipotermia terapêutica (HT). Devemos usar xantina nesses bebês em HT? Ainda faltam estudos. Quanto a Enterocolite necrosante (ECN): A severa LRA ocorreu em 32,6% (66/202) após o diagnóstico de ECN e em 58% (61/104) da ECN com diagnóstico cirúrgico. A avaliação do débito urinário é importante para pacientes com ECN. Sem ela, 11% daqueles com LRA grave teriam sido diagnosticados erroneamente usando apenas creatinina sérica. Nos complementos, o maior risco de hemorragia intraventricular grave nos bebês com LRA

Paracetamol profilático de baixa dose para fechamento ductal e resultado do neurodesenvolvimento em bebês muito prematuros

Paracetamol profilático de baixa dose para fechamento ductal e resultado do neurodesenvolvimento em bebês muito prematuros

Prophylactic lowdose paracetamol for ductal closure and neurodevelopmental outcome in very preterm infants. Höck M, Sappler M, Hammerl M, Griesmaier E, Ndayisaba JP, Schreiner C, Pupp-Peglow U, Kiechl-Kohlendorfer U, Neubauer V.Acta Paediatr. 2023 Aug;112(8):1706-1714. doi: 10.1111/apa.16806. Epub 2023 May 12.PMID: 37103481. Áustria.

Realizado por Paulo R. Margotto.

249 lactentes Bebês <32 semanas de gestação que receberam paracetamol endovenoso (10mg/kg a cada 8 horas) no período neonatal  versos controle (292 que não receberam), não apresentaram, na idade corrigida de 24 meses, diferença significativa na taxa de atraso no neurodesenvolvimento (desenvolvimento psicomotor e mental. Inclusive Na idade corrigida de 12 meses, a taxa de atraso psicomotor foi menor no grupo do paracetamol (OR 2,22, IC 95% 1,28–3,94, p  = 0,004).

Nebulização profilática de surfactante para aeração precoce do pulmão prematuro: ensaio clínico randomizado

Nebulização profilática de surfactante para aeração precoce do pulmão prematuro: ensaio clínico randomizado

Prophylactic surfactant nebulisation for the early aeration of the preterm lung: a randomised clinical trial. Gaertner VD, Minocchieri S, Waldmann AD, Mühlbacher T, Bassler D, Rüegger CM; SUNSET study group.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2023 May;108(3):217-223. doi: 10.1136/archdischild-2022-324519. Epub 2022 Nov 24.PMID: 36424125 Clinical Trial.

Realizado por Paulo R. Margotto

Nesse estudo randomizado e controlado, com bebês de 26 sem a 31 sem 6 dias. no grupo de intervenção foi nebulizado  200 mg/kg de surfactante por meio de um nebulizador de membrana vibratória personalizado. Não foi encontrado  efeito significativo do surfactante nebulizado  profilático na SDR na impedância pulmonar expiratória final 30 minutos após o nascimento, quando comparado com o tratamento padrão. A deposição pulmonar de nebulizadores de membrana vibratória é estimada em apenas 5% a 20% em situações ideais. Diferentes interfaces, tipos de nebulizador e, mais importante, concentrações de surfactante devem ser pesquisados ​​antes da implementação em futuros estudos clínicos.

Respostas pulmonares e cerebrais do pré-termo à ventilação mecânica e corticosteróides

Respostas pulmonares e cerebrais do pré-termo à ventilação mecânica e corticosteróides

Preterm lung and brain responses to mechanical ventilation and corticosteroids.Hillman NH, Jobe AH.J Perinatol. 2023 May 11. doi: 10.1038/s41372-023-01692-7. Online ahead of print.PMID: 37169913 Review. Realizado por Paulo R. Margotto.

Artigo de profunda reflexão sobre a ventilação mecânica (VM) e o impacto no cérebro. A VM, embora necessária em muitos bebês prematuros, causa alterações nas vias aéreas e no parênquima pulmonar observadas em bebês sobreviventes com DBP. A ventilação mecânica também causa danos ao cérebro por meio de flutuações no fluxo sanguíneo cerebral e neuroinflamação de citocinas liberadas sistemicamente. Evitar a ventilação mecânica ou limitar o período de ventilação provavelmente tem o maior efeito tanto na DBP quanto nos desfechos neurológicos. A extensão da lesão foi proporcional ao tempo de ventilação mecânica. AO INTUBAR: PROGRAME JÁ A SUA EXTUBAÇÃO! Quanto aos esteroides: um curso curto de dexametasona o entre 8 a 14 dias em lactentes com alto risco de DBP moderada a grave pode fornecer a maior redução na DBP sem comprometimento neurológico. Dados promissores em animais e humanos para o uso de budesonida e surfactante sugerem que esse regime pode diminuir a DBP, e grandes estudos randomizados estão quase completos.

Terapia com propranolol para quilotórax congênito

Terapia com propranolol para quilotórax congênito

Propranolol Therapy for Congenital ChylothoraxHandal-Orefice R, Midura D, Wu JK, Parravicini E, Miller RS, Shawber CJ.Pediatrics. 2023 Feb 1;151(2):e2022058555. doi: 10.1542/peds.2022-058555.PMID: 36651059.

Apresentação: Karoline Silva de Araujo. R4 Neonatologia/ HMIB/ SES/DF. Coordenação: Paulo R.  Margotto

O estudo mostra o uso off label de propranolol em fetos e recém-nascidos com quilotórax congênito  refratário e então descreve 4 casos de com diagnóstico pré-natal tratados com propranolol pré-natal (n = 2) ou pós-natal (n = 2). A presente  série de casos sugere que o tratamento com propranolol pré-natal ou pós natal foi benéfico para o quilotórax congênito refratário grave. Grandes derrames pleurais diagnosticados no pré-natal que necessitam de toracocentese transuterina podem se beneficiar de um curso de propranolol pré-natal administrado à mãe, com uma dose máxima de 40 mg 4x/dia. Os 2 casos apresentou resolução em 30 a 40 dias. A  dose para recém-nascido foi de 0,3 mg/kg/dia com aumento  para 1 a 2 mg/kg/dia. Não houve complicações maternas ou neonatais significativas decorrentes do uso de propranolol pré-natal ou pós-natal. O propranolol pode ser eficaz no tratamento de quilotórax fetal congênito grave.

 

Exposição materna ao ácido acetilsalicílico e risco de eventos hemorrágicos em prematuros extremos

Exposição materna ao ácido acetilsalicílico e risco de eventos hemorrágicos em prematuros extremos

Exposure to maternal acetylsalicylic acid and the risk of bleeding events in extreme premature neonates. Morin J, Delaney J, Nunes GC, Simoneau J, Beltempo M, Goudie C, Malhamé I, Altit G.J Perinatol. 2023 Mar 13. doi: 10.1038/s41372-023-01644-1. Online ahead of print.PMID: 36914800 No abstract available.

Realizado por Paulo R. Margotto.

Esse estudo (incluiu uma coorte retrospectiva de recém-nascidos extremamente prematuros nascidos com menos de 29 semanas e internados em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal nível 3 entre 2015 e 2019) mostrou que prematuros extremos expostos ao AAS materno não apresentaram eventos hemorrágicos (hemorragia intraventricular, hemorragia pulmonar) e taxas de mortalidade mais significativas quando comparados ao grupo não exposto.

Farmacologia do Canal arterial hemodinamicamente significativo: Ibuprofeno oral em alta dose x ibuprofeno oral dose padrão

Farmacologia do Canal arterial hemodinamicamente significativo: Ibuprofeno oral em alta dose x ibuprofeno oral dose padrão

Paulo R. Margotto.

O ibuprofeno oral é mais efetivo  do que o ibuprofeno venoso (devido à absorção mais lenta do ibuprofeno oral que permitiu maior tempo de meia vida, prolongando o contato com o ducto, propiciando maior resposta no seu fechamento). O mesmo com o paracetamol: a taxa de fechamento foi maior no grupo oral. Tanto o ibuprofeno oral quanto ao paracetamol oral tem equivalente eficácia. A combinação de ibuprofeno + paracetamol não mostrou evidências de superioridade sobre o ibuprofeno. QUANTO A ALTAS DOSES DE IBUPROFENO os autores concluem que o tratamento precoce da persistência do canal arterial (PCA) com altas doses de ibuprofeno (20-10-10 mg/kg/dia) é mais eficaz do que o atual esquema posológico (10-5-5 mg/kg/dia) no fechamento da PCA em prematuros <29 semanas de gestação, sem aumentar a taxa de efeitos adversos, como  enterocolite necrosante, uma grande preocupação dos médicos (quando a idade pós-natal aumenta de 1 para 8 dias, a depuração plasmática do ibuprofeno também aumenta, levando a uma diminuição de sua meia-vida (42,2 h em 3 dias vs. 19,7 h em 5 dias).  Isso provavelmente decorre da maturação pós-natal do complexo citocromo P450 e, mais especificamente, da subfamília CYP2C9 e CYP2C8 que metaboliza o ibuprofeno.  Eles sugeriram, portanto, aumentar a dose durante o período pós-natal. A dose de ibuprofeno que é tradicionalmente usada (10 mg/kg, 5 mg/kg e 5 mg/kg, cada uma administrada em intervalos de 24 horas) é baseada em dados farmacocinéticos antigos obtidos das experiências de bebês prematuros. Portanto, outros autores sugerem que se o bebê não responde ao primeiro esquema convencional, um segundo esquema de dose elevada estaria indicada.  Alta dose de ibuprofeno diminuiu significativamente as taxas de ligadura da PCA em comparação com a dose padrão (RR 0,33, 95% CI 0,16 -0,70, 5 estudos, N = 309).

DIRETO AO PONTO: Dipirona na Neonatologia

DIRETO AO PONTO: Dipirona na Neonatologia

Paulo R. Margotto.

O mecanismo do efeito analgésico da dipirona  não é exatamente conhecido. A dipirona é um inibidor da ciclooxigenase, tanto COX-1 quanto COX-2. Acredita-se que a inibição da biossíntese de prostaglandinas contribua para a atividade analgésica. Em contraste, seu uso em muitos outros países foi proibido devido ao possível risco de agranulocitose (contagem de neutrófilos ˂500/μL ). A agranulocitose é uma condição de saúde potencialmente fatal. Esse risco de agranulocitose parece aumentar com o tempo de uso, embora desapareça 10 dias após a última dose. Devido ao risco de agranulocitose, não é mais utilizado nos Estados Unidos desde o início da década de 1970, quando foi retirado do mercado farmacêutico. Na Alemanha, o seu uso é liberado a partir de 3 meses.  Outras complicações: hipotensão arterial, sudorese excessiva, hipotermia  e edema. Documento Científico elaborado pelos Departamentos Científicos de Pediatria Ambulatorial e de Infectologia sobre a dipirona alerta o uso de dipirona 1gta/kg (1 gota contém 25 mg de dipirona!!!!). Documento Científico desse Departamento   cita o  paracetamol  como  o único antitérmico recomendado para febre em menores de 1 mês, sendo sua dose ajustada segundo a idade  gestacional. A literatura não respalda usar a combinação de dois deles (paracetamol, ibuprofeno, dipirona), intercalando-os para melhor efeito terapêutico (baixar a temperatura), pois o risco de eventos adversos. Todos os antitérmicos têm o mesmo mecanismo de ação (inibição da PgE2). O paracetamol pode ter efeitos centrais, mediados através de vias serotoninérgicas e tem uma influência metabólica ativa nos receptores canabinóides. Já disponível no Brasil o paracetamol endovenoso.