Probióticos na UTI Neonatal : em que ponto estamos
Palestra administrada pelo Dr. Renato Gasperini (SP) no XII Encontro Internacional de Neonatologia da Santa Casa de São Paulo, 16-17 de maio de 2025.
Realizado por Paulo R. Margotto.
Existe diferença entre o conceito de MICROBIOTA INTESTINAL e MICROBIOMA INTESTINAL, muitas vezes utilizados como sinônimos, mas a microbiota vai ser constituída por todos os organismos vivos dentro do indivíduo, todas as bactérias, fungos, protozoários. Já o microbioma é um termo um pouco mais amplo e ele é o conjunto não só desses microrganismos da microbiota, mas também as estruturas microbianas, os seus metabólitos, que podem ser compostos bioativos e os elementos genéticos e que tudo isso convive de forma harmônica e equilibrada dentro do indivíduo. São 40 trilhões de células microbianas no nosso corpo, 3 milhões de genes microbianos, 95 habitam o trato gastrointestinal e 30% do peso seco das fezes são bactéria. No recém-nascido é muito importante saber que é justamente nesse momento que ocorre o início do desenvolvimento da microbiota, e, provavelmente com um impacto nos primeiros anos de vida e até pra vida adulta. Quando o bebê nasce prematuramente, é uma desvantagem, do ponto de vista de formação da microbiota, porque os bebês prematuros eles têm uma internação, prolongada na UTI Neonatal que já é um ambiente colonizado por bactérias possivelmente patológicas. Eles têm flutuações na duração e na intensidade da dieta enteral e muitas vezes com períodos de jejum prolongado, que é extremamente deletério para a microbiota, um menor consumo de leite materno comparado com bebês a termo e exposição frequente a antibióticos e a inibidor de bomba de prótons. Então, tudo isso vai levar a uma alteração da microbiota e muitas vezes a uma disbiose e com menor biodiversidade dessa microbiota. E não só isso, como também aumento na expressão dos genes ligados à resistência a antibióticos no trato gastrointestinal. Essa possível disbiose que o bebê prematuro vai desenvolver pode ter algumas consequências graves, para os bebês prematuros, como, por exemplo, o desfecho com enterocolite necrosante, que tem aí uma incidência de cerca de 7% em bebês prematuros abaixo de 32 semanas e com peso menor do que 1500g, com complicações muito importantes: mortalidade cerca de 25%, ressecções cirúrgicas do intestino, síndrome do intestino, curto, além de prejuízos no neurodesenvolvimento. A disbiose também pode predizer o desfecho para sepse neonatal. ?Então surge a pergunta: podemos modular essa microbiota dos prematuros através do uso dos probióticos que por definição são microrganismos vivos que quando consumidos em quantidades adequadas vão conferir um benefício à saúde do hospedeiro). . Na literatura, no período neonatal, são esses os probióticos mais estudados: Bidobacteria, Lactobacilli, Streptococcus thermophiluse entre as leveduras, Saccharomyces boulardii. Quando você vê a literatura de probióticos no período neonatal, você vê diversos estudos, alguns utilizando cepas únicas e outros estudos, usando formulações multicepas. Para o bebê recém-nascido ainda é incerto na literatura se a oferta de probióticos multicepas tem efeitos sinérgicos ou aditivos que vão superar os efeitos benéficos de ofertar apenas uma cepa única. Os resultados dos estudos na enterocolite necrosante, mostraram nível de evidência de baixa a moderada, não havendo evidência nos bebês <1000gramas (e são esses os mais importantes!!!!). Na mortalidade, a evidencia foi moderada e na intolerância alimentar, os resultados da literatura são hererogêneos. Nos EUA os probióticos são vendidos como suplementos alimentares e não são regulados pela FDA, além de falta de controle de segurança, de qualidade, de viabilidade (o que está no rótulo não confirma o que está no produto!) Há divergências de recomendações entre diversas Organizações com diferentes Guidelines. Academia Americana de Pediatria 2021 se posicionaram de forma mais conservadora e menos otimista em relação aos probióticos. Assim, eles se posicionam contra o uso na prática clínica, principalmente em prematuros abaixo de 1000 g por ter uma falta de regulamentação e testes de qualidade e ausência de estudos de segurança a longo prazo, heterogeneidade da população de prematuros dentro da UTI Neonatal, e falha dos estudos randomizados e controlados maiores e mais rigorosos em demonstrar redução de enterocolite e mortalidade. Você pode calcular o número de bebês que você precisar usar probióticos para evitar uma enterocolite necrosante (consulte nos complementos Ravi Patel). Não usamos probióticos na nossa Unidade.