Exposição ao mecônio e risco de autismo

Exposição ao mecônio e risco de autismo

Meconium exposure and autism riskMiller KM, Xing G, Walker CK. J Perinatol. 2017 Feb;37(2):203-207. doi: 10.1038/jp.2016.200. Epub 2016 Nov 3. PMID: 7809298. Free PMC Article. Similar articles

Apresentação:  Bárbara Stephane de Medeiros Jerônimo, Marine Gontijo Freitas, Henrique Freitas Araújo, Paulo R. Margotto.

O distúrbio do espectro autista (DEA) é um conjunto de condições neurológicas crônicas caracterizadas por déficits persistentes na comunicação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades que se manifestam na primeira infância e prejudicam a função. Nas últimas três décadas, a incidência de autismo aumentou mais de 10 vezes  e os estudos mais recentes mostram um aumento de 30% nos últimos 2 anos, com uma incidência atual de 1 em 68. Os presentes autores analisaram 9.945.896 crianças nascidas na Califórnia entre 1991e 2008, das quais 47277 foram diagnosticadas com autismo.Nesta análise, a variável preditora foi a exposição meconial com dois níveis de gravidade, Síndrome de Aspiração Meconial (SAM) e Líquido amniótico tinto de mecônio (LATM). A exposição fetal ao LATM foi associada a um risco aumentado de 18% de ser diagnosticado com autismo em análises de regressão logística controlando  os confundidores (risco relativo ajustado [aRR] 1,18, intervalo de confiança de 95% [IC] 1,12 a 1,25), com  ligeiro aumento no risco de autismo que não conseguiu alcançar significância entre as crianças diagnosticadas com SAM (aRR 1. 08, IC 95%: 0,98 a 1,20). Em conjunto, houve um risco aumentado de 16% de ser diagnosticado com autismo em crianças com LATM ou SAM (aRR 1,16, IC 95% 1,10 a 1,22). Este estudo é único ao focar apenas na relação da exposição meconial e do autismo e em seus confundidores. A falta de relação entre  dose resposta em SAM e LATM e autismo suscitam hipóteses que não é o mecônio que leva ao dano neurológico, mas algum estressor que também leva a eliminação de mecônio (insultos sutis, hipoxia leve intermitente, podem levar ao trauma celular e a liberação de mecônio, sendo difíceis de serem detectados e tratados, podendo levar à consequências no neurodesenvolvimento). A hipoxia, dependente da dose e duração,  retarda a maturação dos neurônios GABAérgicos do córtex cerebral, levando à desrregulação neuronal(crianças com DEA possuem crescimento neuronal desorganizado, com muitas ou poucas conexões entre as diversas regiões do cérebro). Os presentes resultados atribuem o  papel do mecônio como uma sentinela, tanto para adversidade in útero como para o aumento do risco de autismo (este pequeno risco, quando ampliado em toda a população, pode ter um impacto substancial e justificar a revisão dos esforços de prevenção originalmente concebidos para limitar os efeitos adversos evidentes a curto prazo. Com certeza a elucidação dos mecanismos moleculares subjacentes a estressores clínicos específicos que promovem a passagem de mecônio no útero servirá para focalizar as estratégias de prevenção primária. Nos links, entre os fatores associados com screening positivo para autismo em pré-termos extremos, chama a atenção a corioamnionite (16 vezes mais!)