Administração de Nutrição Parenteral durante a Hipotermia Terapêutica: um estudo observacional em nível populacional usando dados coletados rotineiramente no Banco de Dados Nacional de Pesquisa Neonatal

Administração de Nutrição Parenteral durante a Hipotermia Terapêutica: um estudo observacional em nível populacional usando dados coletados rotineiramente no Banco de Dados Nacional de Pesquisa Neonatal

Administration of parenteral nutrition during therapeutic hypothermia: a population level observational study using routinely collected data held in the National Neonatal Research Database. Gale C, Jeyakumaran D, Longford N, Battersby C, Ojha S, Oughham K, Dorling J.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2021 Nov;106(6):608-613. doi: 10.1136/archdischild-2020-321299. Epub 2021 May 5.PMID: 33952628 Free PMC article. Artigo Livre!

Este é um estudo do Reino Unido de coorte retrospectivo utilizando dados clínicos registrados no banco de dados nacional de pesquisa neonatal, aplicando a metodologia do escore de propensão para formar subgrupos pareados de bebês com encefalopatia hipóxico-isquêmica  com características semelhantes que receberam ou não nutrição parenteral (NP) durante hipotermia terapêutica. O emparelhamento de propensão foi usado para formar dois subgrupos de 1240 bebês com características de base  semelhantes para análises de comparação ( bebês >36 semanas que receberam hipotermia terapêutica (HT) por 3 dias ou que morreram 3 dias após a HT).Os autores mostraram que a infecção da corrente sanguínea confirmada por cultura e a sobrevivência foram ambas maiores em bebês que receberam NP. A incidência de enterocolite necrosante (ECN) foi  semelhante em bebês que receberam NP e aqueles que não receberam. Embora os benefícios da NP nessa população  sejam limitadas, um benefício é a melhora do crescimento cerebral, reparo e consequente neurodesenvolvimento (a nutrição suplementar após lesão cerebral mostra-se promissora, embora sejam necessários mais estudos nesse sentido). O uso de NP é relativamente comum em bebês que estão em hipotermia terapêutica e parece estar aumentando (no Reino Unido, 1 de 4 bebês). Nos complementos, quanto á nutrição enteral:o grande temor é o aumento ECN nesses bebês em HT. Os estudos mostram que a nutrição enteral durante a HT tiveram menor tempo de duração da NP, no tempo para receber dieta oral plena, menor hospitalização, SEM AUMENTO DE ECN (sabe-se que a hipotermia é protetora contra a lesão de reperfusão da isquemia intestinal!) e inclusive estudos recentes estão demonstrando benefícios do uso da hipotermia leve (35,5 graus até por 48 horas) no tratamento da ECN. A  hipotermia pode modular a inflamação! Mais da metade das Unidades Neonatais pesquisadas iniciam a alimentação enteral durante a TH. A nutrição enteral, principalmente com o leite materno, pode realmente desempenhar um papel benéfico, influenciando a integridade estrutural e funcional do intestino, reduzindo as respostas inflamatórias sistêmicas e promovendo a proliferação da diversidade microbiana intestinal. Dados disponíveis recentes indicam que a introdução incremental de leite, idealmente com leite materno, em neonatos em hipotermia terapêutica parece segura e pode ser benéfica para os resultados medidos até a alta da Unidade Neonatal (menos infecção tardia, maior sobrevida e maiores taxas de aleitamento materno). A falta de fornecimento imediato de nutrientes após eventos hipóxico-isquêmicos pode piorar ainda mais as lesões cerebrais progressivas. Mais tarde, os déficits de nutrientes também podem influenciar a fase terciária da lesão, durante a qual ocorrem a neurogênese e a angiogênese, e que é dependente do suporte trófico ideal. O fornecimento adequado de energia, por via enteral ou parenteral, é crucial durante um período de alta vulnerabilidade cerebral gerada pela falha secundária de energia. Na Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF  iniciamos  NP no 2º  dia de vida, após a estabilização de função renal e eletrólitos e Nutrição enteral com leite materno se RN clinicamente estável.