Categoria: Infecções Bacterianas e Fúngicas

Efeito de antibióticos na primeira semana de vida no desenvolvimento da microbiota fecal

Efeito de antibióticos na primeira semana de vida no desenvolvimento da microbiota fecal

Effect of antibiotics in the first week of life on faecal microbiota development. Van Daele E, Kamphorst K, Vlieger AM, Hermes G, Milani C, Ventura M, Belzer C, Smidt H, van Elburg RM, Knol J.Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2022 May 9;107(6):603-10. doi: 10.1136/archdischild-2021-322861. Online ahead of print.PMID: 35534183 Free PMC article. Artigo Livre!

Realizado por Paulo R. Margotto

Em todo o mundo, até 20% de todos os recém-nascidos são prescritos antibióticos por causa da (suspeita) sepse neonatal precoce, embora na maioria dos casos a sepse não seja confirmada e os antibióticos possam ser descontinuados após 48–72 horas. Esse estudo foi realizado em RN a termo e mostra que  exposição a antibióticos na primeira semana de vida afeta o desenvolvimento da microbiota ao longo do primeiro ano de vida, com desvios mais profundos em bebês nascidos a termo expostos por 7 dias em comparação com apenas 2 a 3 dias. A exposição a antibióticos na primeira semana de vida resultou em desvios no desenvolvimento da microbiota fecal de bebês nascidos de parto vaginal, mas não de bebês nascidos por cesariana em comparação com seus respectivos controles. Isso pode ser atribuído à diferença causada pelo próprio modo de parto, com crianças nascidas por cesariana desviando-se dos controles vaginais até 1 mês de idade, independentemente da exposição a antibióticos. No 1o Congresso Internacional de Neonatologia do DF, Pablo Sanches (EUA) mostrou que na sepse precoce suspeita o antibiótico pode ser suspenso  com segurança em 24 horas, diminuindo assim a exposição aos antibióticos em bebês de alto risco na UTI Neonatal (média de positividade das culturas na sepse precoce: 13 horas, variando entre 9-21:Streptococus do Grupo B, E. coli, Klebiella (Palestra em reprodução).

A associação entre sepse precoce e encefalopatia neonatal (The association between early-onset sepsis and neonatal encephalopathy)

A associação entre sepse precoce e encefalopatia neonatal (The association between early-onset sepsis and neonatal encephalopathy)

The association between earlyonset sepsis and neonatal encephalopathy.Kathleen P. Car1, Firdose Nakwa1, Fatima Solomon2,3, Sithembiso C. Velaphi1, Cally J. Tann4,5,6, Alane Izu2,3, Sanjay G. Lala1,7, Shabir A. Madhi2,3,8 and Ziyaad Dangor 1,2,3,.J Perinatol. 2022 Mar;42(3):354-358. doi: 10.1038/s41372-021-01290-5. Epub 2022 Jan 10.PMID: 35001084.

Realizado por Paulo R. Margotto

 

Recém-nascidos com encefalopatia neonatal (EN) grave e sepse confirmada por cultura tiveram uma chance de morte aproximadamente sete vezes maior. E quanto ao uso da hipotermia nesses bebes com EN e sepse? Nesse estudo não foi identificada  nenhuma associação entre hipotermia terapêutica e morte em neonatos com sepse confirmada ou provável. A hipotermia terapêutica, no entanto, foi associada à neuroproteção em 60% dos recém-nascidos com asfixia perinatal associada à sepse na Bélgica, o que também foi observado em modelos murinos após infecções intrauterinas por gram-positivas. Nos complementos, informação preocupante: A proporção de bebês a termo com EN e infecção por GBS coexistente é >10 vezes maior que a observada entre bebês a termo sem EN. Um estudo recente, modelando infecção gram-positiva antes da lesão hipóxico-isquêmica, demonstrou sensibilização do cérebro à lesão hipóxico-isquêmica, mas também de forma encorajadora, neuroproteção com hipotermia da doença GBS para todos os nascidos vivos a termo. De forma tranquilizadora, o tratamento com hipotermia terapêutica não foi associado a um aumento na sepse com cultura positiva em uma grande metanálise da eficácia da hipotermia terapêutica, além de NÃO AUMENTAR A MORTE em estudo de coorte retrospectivo de bebês tratados com hipotermia terapêutica na Austrália e Nova Zelândia (2022).

Sepse neonatal e o microbioma da pele (Neonatal sepsis and the skin microbiome)

Sepse neonatal e o microbioma da pele (Neonatal sepsis and the skin microbiome)

Neonatal sepsis and the skin microbiomeHarrison IS1, Monir RL1, Neu J2, Schoch JJ1,2.J Perinatol. 2022 Nov;42(11):1429-1433. doi: 10.1038/s41372-022-01451-0. Epub 2022 Jul 11.PMID: 35817842 Review. 1Departments of Dermatology, University of Florida College of Medicine, Gainesville, USA. 2Departments of Pediatrics, University of Florida College of Medicine, Gainesville, USA.
✉email: jschoch@ufl.edu.

Realizado por Paulo R. Margotto

Os patógenos causadores de muitas infecções invasivas em bebês prematuros são os mesmos organismos que residem na pele saudável. Diferenças inerentes (estrato córneo imaturo, sistema imunológico subdesenvolvido) e fatores externos (dispositivos médicos invasivos, exposição prolongada a antibióticos, hospitalização) alteram exclusivamente o microbioma da pele de bebês prematuros em relação a bebês a termo. A flora da pele de recém-nascidos prematuros, caracterizada pela baixa diversidade, pode permitir o supercrescimento de patógenos oportunistas.  A transformação de organismos comensais em patógenos virulentos induz infecção generalizada e sepse. Prebióticos e probióticos direcionados à pele e outras estratégias para modular a flora cutânea podem desencorajar essa transformação patogênica. O uso criterioso de antibióticos profiláticos na população neonatal pode ajudar a prevenir a disbiose e a doença resultante. Uma maior compreensão do papel do microbioma da pele na sepse neonatal pode orientar a prevenção e o tratamento dessa doença devastadora.

Monkeypox (Varíola dos Macacos): 1) Correspondence: Infecção neonatal pelo vírus Monkeypox 2) Monkeypox na gravidez: virologia, apresentação clínica e manejo obstétrico)

Monkeypox (Varíola dos Macacos): 1) Correspondence: Infecção neonatal pelo vírus Monkeypox 2) Monkeypox na gravidez: virologia, apresentação clínica e manejo obstétrico)

Neonatal Monkeypox Virus Infection. Ramnarayan P, Mitting R, Whittaker E, Marcolin M, O’Regan C, Sinha R, Bennett A, Moustafa M, Tickner N, Gilchrist M, Kershaw A, Rampling T.N Engl J Med. 2022 Oct 12. doi: 10.1056/NEJMc2210828. Online ahead of print.PMID: 36223535 No abstract available. Imperial College London, London, United Kingdom.                                                              e-mail: p.ramnarayan@imperial.ac.uk

A infecção pelo vírus Monkeypox deve ser considerado no diagnóstico diferencial de uma erupção vesicular neonatal. Nos complementos trouxe também o   artigo de Dashraath P et al (2022) que trás possíveis mecanismos e risco de transmissão in-utero da varíola dos macacos e Protocolo de parto para uma paciente grávida com varíola dos macacos. A doença será um desafio para as gestantes, que representam uma população vulnerável durante qualquer emergência de saúde pública de interesse internacional. Por enquanto, grande parte da gestão obstétrica será baseada em consenso e recomendações de melhores práticas.

Profilaxia oral com nistatina para prevenir infecção fúngica sistêmica em recém-nascidos prematuros de muito baixo peso: um estudo controlado randomizado / Profilaxia oral de nistatina para a prevenção da colonização fúngica em recém-nascidos de muito baixo peso: uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios controlados randomizados

Profilaxia oral com nistatina para prevenir infecção fúngica sistêmica em recém-nascidos prematuros de muito baixo peso: um estudo controlado randomizado / Profilaxia oral de nistatina para a prevenção da colonização fúngica em recém-nascidos de muito baixo peso: uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios controlados randomizados

Oral nystatin prophylaxis to prevent systemic fungal infection in very low birth weight preterm infants: a randomized controlled trial.Rundjan L, Wahyuningsih R, Oeswadi CA, Marsogi M, Purnamasari A.BMC Pediatr. 2020 Apr 17;20(1):170. doi: 10.1186/s12887-020-02074-0.PMID: 32303210 Free PMC article. Clinical Trial.

Apresentação: Lucas do Carmo, R4 em Neonatologia da Unidade de Neonatologia do HMIB/SES/DF. Coordenação: Nathalia Bardal.

Abdulrahman Al-MataryLina AlmahmoudRaneem MasmoumSultan AleneziSalem AldhafiriAbdullah AlmutairiHussain AlatramAthbi AlenziMohammed AlajmAli Artam AlajmiHadil AlkahmousFulwah A. AlangariAbdulrahman AlAnziSalihah GhazwaniAhmed Abu-Zaid. Oral Nystatin Prophylaxis for the Prevention of Fungal Colonization in Very Low Birth Weight Infants: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Cureus 14(8): e28345. doi:10.7759/cureus.28345. Published: August 24, 2022 Artigo Integral!

Realizado por Paulo R.Margotto.

O objetivo foi determinar a eficácia da nistatina oral como agente alternativo para a profilaxia antifúngica entre prematuros de muito baixo peso (MBP) na UTI Neonatal nas primeiras 72 horas de vida que tinham idade gestacional ente 28 a 32 semanas e/ou peso ao nascer inferior a 1500 g. Os critérios de elegibilidade foram preenchidos em 95 bebês: grupo nistatina (n=47) ou grupo controle (n= 48).  Taxas significativamente mais baixas de colonização fúngica foram observadas após 14 dias de intervenção (Hazard ratio [taxa de risco] = 0,475; IC 95% 0,249-0,909, valor p = 0,006) com um número necessário para tratar de 4. Sem diferenças de óbitos ente os grupos (nenhum bebê morreu por infecção fúngica). Não houve relatos de reação adversa a Nistatina oral durante o período do estudo. A ocorrência de Candida não albicans vem crescendo nos últimos anos no Hospital avaliado, provavelmente pelo uso crescente de fluconazol e por falta de Anfotericina B durante alguns períodos. Isso pode ser um determinante na escolha de antifúngico no futuro, pois algumas espécimes são resistentes ao fluconazol. Nos complementos, metanálise (2022) da profilaxia oral com nistatina mostrou significativa diminuição da taxa e colonização fúngica, taxa de infecção fúngica invasiva e menor duração média do uso de antibiótico. Antes de seu uso, são recomendados ensaios randomizados controlados adicionais, de grande porte e de alta qualidade para validar essas conclusões.

Resultados da gravidez após a infecção por SARS-CoV-2 por trimestre: um grande estudo de coorte de base populacional

Resultados da gravidez após a infecção por SARS-CoV-2 por trimestre: um grande estudo de coorte de base populacional

Pregnancy outcomes after SARS-CoV-2 infection by trimester: A large, population-based cohort study. Fallach N, et al. PLoS One. 2022. PMID: 35857758 Free PMC article. Artigo Livre! Sackler Faculty of Medicine, Tel Aviv University, Tel Aviv, Israel.

Realizado por Paulo R. Margotto

Metanálises dos resultados da gravidez em mulheres positivas para SARS-CoV-2 relataram que parto prematuro (PP) e baixo peso ao nascer (BPN) eram mais prováveis ​​em mulheres grávidas com COVID-19 do que em mulheres grávidas sem COVID-19, no entanto, pouco se sabia sobre a extensão em que essas associações variam de acordo com o momento da infecção durante a gravidez. O presente estudo israelense de Fallach N et al, do Sackler Faculty of Medicine, Te Aviv, trouxe à luz essa importante informação a respeito dessas associações de acordo com o trimestre da gravidez. Cada mulher infectada foi pareada com uma gestante não infectada por idade, data da última menstruação, setor e nível socioeconômico. Os autores evidenciaram taxa significativamente maior de PP em mulheres infectadas durante o terceiro trimestre (N = 51, 5,8%) em comparação com as mulheres não infectadas (N = 20, 2,3%) com razão de chances ajustada de 2,76 (IC 95% 1,63 –4,67), especificamente em mulheres infectadas após 34 semanas de gestação (OR 7,10, IC 95% 2,44–20,61). No entanto, nenhuma diferença entre os grupos foi observada nas taxas de PIG na coorte geral (OR 0,98, IC 95% 0,78–1,24) ou para mulheres infectadas em trimestres específicos. Assim, Os presentes resultados indicam que a idade gestacional na infecção por SARS-CoV-2 desempenha um papel significativo no resultado da gravidez. As mulheres durante o terceiro trimestre, especificamente após 34 semanas de gestação, devem praticar distanciamento social e proteção respiratória para reduzir o risco de resultados adversos da gravidez com ênfase no PP durante 35-37 semanas de gestação. Essa é uma das primeiras pesquisas a analisar os impactos da COVID- em gestantes por trimestre. As infectadas após a 34ª semana de gravidez tiveram o risco de ter parto prematuro de 7 vezes maior

Exposição precoce a antibióticos e desfechos adversos em bebês muito prematuros com baixo risco de sepse de início precoce: O estudo de coorte EPIPAGE-2

Exposição precoce a antibióticos e desfechos adversos em bebês muito prematuros com baixo risco de sepse de início precoce: O estudo de coorte EPIPAGE-2

Early Antibiotic Exposure and Adverse Outcomes in Very Preterm Infants at Low Risk of Early-Onset Sepsis: The EPIPAGE-2 Cohort Study. Letouzey M, Lorthe E, Marchand-Martin L, Kayem G, Charlier C, Butin M, Mitha A, Kaminski M, Benhammou V, Ancel PY, Boileau P, Foix-L’Hélias L; EPIPAGE-2 Infectious Diseases Working Group.J Pediatr. 2022 Apr;243:91-98.e4. doi: 10.1016/j.jpeds.2021.11.075. Epub 2021 Dec 21.PMID: 34942178

Realizado por Paulo R. Margotto.

A exposição precoce aos antibióticos em bebês prematuros de baixo risco para sepse de início precoce (aqueles que nasceram após complicações da gravidez mediadas por placenta [distúrbios hipertensivos durante a gravidez ou restrição do crescimento fetal]. Na presente coorte  de estudo compreendeu 648 bebês muito prematuros com baixo risco para EOS, dos quais 173 (26,2%) receberam tratamento antibiótico precoce a partir do dia 0 ou dia 1 da vida, com idade gestacional mediana de 30 semanas e peso médio de 1040g. Lesões cerebrais graves, isoladas ou combinadas com o óbito, foram mais frequentes no grupo de exposição a antibióticos precoces (9,1% vs 4,5% e 16,6% vs 9,9%, respectivamente). Foram encontradas associações associação entre lesões cerebrais graves e exposição precoce a antibióticos (OR, 2,71; IC 95%, 1,25-5,86). A displasia broncopulmonar moderada-grave também foi mais frequente no grupo de exposição a antibióticos precoces, isolado e em combinação com a morte (19,7% vs 10,2% e 28,6% vs 15,4%, respectivamente).  Esses achados foram semelhantes aos do estudo conduzido por Puopolo et  al. Sem associação com morte com morte, sepse tardia e enterocolite necrosante. Os mecanismos fisiológicos subjacentes dessa associação permanecem incertos. Assim, esses resultados questionam se o tratamento precoce com antibióticos é justificado, dado o maior risco associado de lesões cerebrais graves e DBP moderadamente grave

A alimentação com fórmula no início da vida está associada a alterações na microbiota intestinal infantil e a um aumento da carga de resistência a antibióticos

A alimentação com fórmula no início da vida está associada a alterações na microbiota intestinal infantil e a um aumento da carga de resistência a antibióticos

Earlylife formula feeding is associated with infant gut microbiota alterations and an increased antibiotic resistance load.Pärnänen KMM, Hultman J, Markkanen M, Satokari R, Rautava S, Lamendella R, Wright J, McLimans CJ, Kelleher SL, Virta MP.Am J Clin Nutr. 2022 Feb 9;115(2):407-421. doi: 10.1093/ajcn/nqab353.PMID: 34677583 Free PMC article. Artigo Livre!

Realizado por Paulo R. Margotto.

Já é do nosso conhecimento que o uso de antibióticos tem um papel bem estabelecido na formação do resistoma dos bebês e que  o número e a extensão dos tratamentos com antibióticos na infância afetam a abundância dos genes de resistência a antibióticos. No entanto, há conhecimento limitado sobre outros fatores que afetam a carga de resistência aos antibióticos do intestino infantil e entre esses, a alimentação com fórmulas no início da vida, que foi o objetivo desse estudo. O presente estudo  foi desenhado para eliminar o efeito do uso de antibióticos Foram coletados dados metagenômicos de amostras fecais transversais colhidas na idade de 7 a 36 dias de 46 bebês nascidos prematuros entre 27 e 37 semanas de gestação (21 lactentes foram alimentados com fórmula infantil comercial (Neosure), 20 foram alimentados com leite materno com fortificante de leite humano (Similac) e 5 foram alimentados apenas com leite humano (mãe ou doadora). Os bebês alimentados com qualquer fórmula tiveram abundâncias de genes de resistência a antibióticos significativamente aumento de 70%!) em relação aos bebês alimentados apenas com leite materno ou alimentados com leite suplementado com fortificante. Nesse contexto  não foram observadas  diferenças entre bebês alimentados com fortificante em comparação com bebês alimentados apenas com leite materno.  Além disso, não houve diferenças entre fortificantes derivados de leite humano ou derivados de leite bovino. Assim, esses resultados sugerem que, nos casos em que os bebês precisam de nutrição suplementar, a adição de fortificante ao leite humano pode ter menos impacto no potencial de resistência a antibióticos do que a mudança para a fórmula. Enterobacteriaceae (abrigam vários genes de resistência aos antibióticos, incluindo genes SHV que codificam o fenótipo betalactamase de espectro estendido [ESBL] em Klebsiella) foram mais abundantes em bebês alimentados com qualquer fórmula (3 vezes mais) do que em bebês alimentados com leite humano. Em conclusão, esses dados sugerem que uma dieta contendo apenas leite humano nos primeiros meses de vida reduz a carga de genes resistência aos antibióticos ao modular a comunidade microbiana para favorecer bactérias não portadoras de genes de resistência aos antibióticos.