Tese de Mestrado em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília: O cuidador e a Constituição Psíquica

Tese de Mestrado em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília: O cuidador e a Constituição Psíquica

Raulê de Almeida.

Texto apresentado para o exame de qualificação do curso de Mestrado em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre; Orientadora: Professora Dra. Daniela Scheinkman Chatelard.

Este trabalho procura demonstrar, a importância da participação do cuidador na constituição psíquica. Para isto foi feita a releitura da prática clínica pediátrica através do histórico de casos atendidos (sem identidades pessoais), revisão bibliográfica sobre concepção biológica segundo Moore e Persaud; sobre constituição psíquica segundo Freud, Klein, Lacan e Winnicott e outros autores que abordaram a importância do cuidador na constituição psíquica. Os autores estudados atribuem o termo cuidadores, não dirigido aos genitores, mas a todo aquele que cuida com o olhar para além do biológico, exercendo a função primordial, cuidando do corpo como
um todo. Que é pela falta sentida por não ter um bebê que surge o desejo em tê-lo, e uma vez nascendo do desejo do outro, o psiquismo no bebê já existe em constituição ao nascimento e através da linguagem e cuidados a ele dirigidos, se torna capaz de se perceber, perceber o outro, perceber que percebe e passa de desejado a também desejante, dando lugar às constituições do sujeito e psíquica. Na releitura da prática clínica pediátrica, observou-se que nem sempre o que é dito em palavras pela criança ou por seus acompanhantes, é o que está no inconsciente de ambos, o que se alcança com a escuta além da ausculta. Pela revisão bibliográfica e das histórias
dos pacientes demonstrou-se que a temporalidade na constituição psíquica nem sempre é a do agora e muito embora caminhe adiante não é linear e fatos ocorridos em gerações passadas, devem ser ditas aos descendentes e com eles trabalhados, sob pena de influenciarem negativamente em suas constituições psíquicas. Concluiu-se que o cuidador, aquele que exerce a função primordial e a escuta como meio de alcançar no inconsciente da criança, o sujeito em constituição, tem seu valor marcado na psicologia, na psicanálise e na medicina.